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MARIA HELENA ANÇÃ E TATIANA GUZEVA, UNIVERSIDADE DE AVEIRO



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MARIA HELENA ANÇÃ E TATIANA GUZEVA, UNIVERSIDADE DE AVEIRO




 TEMA 1.6. LÍNGUA PORTUGUESA E LUSOFONIA: NA VOZ DE UNIVERSITÁRIOS PORTUGUESES E BRASILEIROS, MARIA HELENA ANÇÃ, TATIANA GUZEVA, BELINDA GOMES, MARIA JOÃO MACÁRIO, CENTRO DE INVESTIGAÇÃO DIDÁTICA E TECNOLOGIA NA FORMAÇÃO DE FORMADORES, UNIVERSIDADE DE AVEIRO (PORTUGAL). ZILDA PAIVA, MÁRCIA OHUSCHI - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – CASTANHAL (BRASIL).



Resumo
Num mundo globalizado, a difusão e a Internacionalização da língua portuguesa (LP) surgem como objetivos prioritários, quer para as sociedades/países que a falam,e aqui se inserem as políticas da língua , quer em termos mais individuais/corporativos, na convicção de que a atitude (positiva) dos falantes para com a língua pode ser um contributo determinante. No caso dos (futuros) professores de Português é fundamental conhecer o seu posicionamento face à LP e as dimensões a ela atribuídas.

Com a finalidade de identificar a perceção de dois grupos de estudantes universitários, finalistas, e futuros professores de Português, sobre a LP (conhecimentos e atitudes), foi disponibilizado um inquérito por questionário, em Portugal e no Brasil.


Os resultados obtidos apontam: i) em ambos os grupos, um certo desconhecimento sobre o mundo lusófono em geral; ii) no grupo brasileiro, alguns indícios de uma certa ‘descrença’ na LP, enquanto língua de comunicação internacional.
Estes resultados levam-nos a questionar o ensino da língua, tal como ele se apresenta: muito centrado localmente, sem considerar outros espaços geoculturais onde a LP também é falada, vivida e aprendida, sendo necessário ainda fomentar e valorizar esta língua e reconhecer as suas potencialidades.


  1. Contextualização

Num mundo tendencialmente globalizado e competitivo, as línguas apresentam-se como produtos a avaliar, não sendo, contudo, os seus valores constantes, mas variando em função de determinações económicas e políticas e não tanto em função das suas dimensões sociais e culturais. Nas instituições de ensino genericamente são focalizadas estas últimas dimensões, em detrimento de uma visão mais abrangente. A Universidade desempenha, então, um papel decisivo, no contexto da mudança e da inovação, devendo a formação de professores de Português considerar estas questões em prol da difusão e da Internacionalização da LP (Ançã et al.,no prelo).


A LP é atualmente falada por 250 milhões de pessoas, como LM e L2, ocupando 10,8 milhões de quilómetros quadrados da superfície da Terra, o que representa 3,7 % da população mundial e 4% da riqueza total (Reto et al., 2012).
Neste cenário, a LP tem um potencial considerável, beneficiando “de três grandes fontes de influência de que muito poucas línguas dispõem” (Reto et al., 2012: 25): i) países que a falam e o poder económico associado, como é o caso atualmente do Brasil, de Angola, e ainda de Moçambique, com dimensões populacionais assinaláveis e com uma tendência acentuada para o seu crescimento; ii) o facto de a LP estar presente em todos os continentes, em particular em África; iii) baixa entropia134, o que vai facilitar a manutenção da sua identidade e unidade, por ser falada por um pequeno conjunto de países.
A situação da LP apresenta, por conseguinte, um potencial inigualável, relativamente a outros idiomas. Por este facto, todas as suas potencialidades deveriam ser rentabilizadas, quer pelas sociedades/países que a falam, – instituições, entidades, pessoas coletivas –, quer em termos mais individuais/corporativos, na convicção de que a atitude (positiva) dos falantes para com a língua pode ser um contributo determinante para a sua difusão e internacionalização.
O desconhecimento, o desinteresse e o ceticismo dos locutores, face à LP, podem constituir obstáculos a esses desígnios. Como nos questiona Galito (2006: 99): “[…] Resta saber se os seus falantes já tomaram consciência do impacto económico que esse instrumento [LP], tão à sua disposição, lhes pode oferecer”. Ainda aspetos como a falta de “autoestima crónica” são levantados por Castilho (2013), a propósito da internacionalização da LP e, no caso específico, do papel das Universidades (brasileiras) e do conhecimento sólido sobre a língua a difundir.
A atitude dos falantes para com a língua é, sem dúvida, um fator determinante, nomeadamente quando se trata de (futuros) professores de Português.
Como têm demonstrado vários autores, no âmbito da Didática das Línguas, as conceções, imagens, atitudes135 que o sujeito tem sobre a(s) língua(s) influenciam os processos de aprendizagem, o seu uso e as suas práticas de ensino (Castellotti e Moore, 2002; Dabène, 1997; Lasagabaster, 2006; Moore, 2001).
Revisitando, em particular, Dabène (1997), as imagens sobre as línguas podem ser influenciadas por diversos fatores, identificando a autora o fator económico (“le critère économique”, 1997: 21), como sendo um dos principais responsáveis pela valorização da língua, especificamente pelo acesso que proporciona ao mercado de trabalho. A difusão da língua está, pois, estreitamente ligada ao poder económico que esta confere aos seus falantes. De algum modo cruzado com este fator, encontra-se o fator epistémico: a língua é um objeto de saber, cujo domínio comporta um determinado valor educativo, avaliado em função das exigências cognitivas da sua aprendizagem. No nosso ponto de vista, línguas mais “poderosas” (o Chinês, o Russo…) ‘exigirão’ maior esforço de aprendizagem, não tanto por questões linguísticas, mas pelo poder conferido pelas economias dos países onde essas línguas são faladas. Outras dimensões se juntam: social, cultural e afetiva, apresentando, em suma, as imagens e atitudes origens bastante diversas e constituindo um campo algo complexo.
2. O estudo piloto
O estudo que se apresenta integra-se num projeto a decorrer no Laboratório de Investigação em Educação em Português/LEIP, do Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores, da Universidade de Aveiro. Este estudo piloto elegeu como participantes dois grupos de estudantes, finalistas e futuros professores de língua portuguesa (LP) em duas Universidades, uma portuguesa, localizada no centro-norte de Portugal, e outra brasileira, localizada no interior do Brasil, na região norte. Foi utilizado um inquérito por questionário que foi aplicado em cada um dos países pelas docentes dos respetivos grupos. Neste texto são apenas analisados alguns itens do questionário136.
Caraterizando os participantes: o grupo em Portugal é composto por 14 alunas/finalistas de um Mestrado profissionalizante, 13 de naturalidade portuguesa e uma natural da Venezuelana, esta última com o Castelhano como LM. A maioria (71,4%) insere-se na faixa etária dos 20-25 anos, havendo, ainda, a considerar a faixa dos 30 (21,4%). No grupo brasileiro, participaram 12 estudantes em final da Licenciatura, e com habilitação própria para o ensino da LP, logo após a conclusão do curso (11 do género feminino, um do género masculino). Todos consideram a LP como LM, havendo, no entanto, uma aluna que, para além da LP, considera também o Espanhol sua LM. A idade deste grupo varia dos 20 aos 35 anos, concentrando-se a maioria (58,3%) na faixa dos 20-25 anos. Por conseguinte, ambos os grupos apresentam traços muito semelhantes quer etários, quer no que diz respeito às línguas.
Passemos, então, às questões em foco: no que respeita à tipologia de perguntas, e referindo-nos às selecionadas para este estudo, as perguntas são sobretudo de tipo aberto, sendo unicamente a primeira (ver Tabela 1) uma pergunta de escolha múltipla, de leque aberto (na aceção de Pardal e Lopes, 2011137)138.





Questões

1

Número aproximado de falantes de PLM139

2

Países de língua oficial portuguesa

3

Lusofonia

4

CPLP

5

Personalidades do espaço lusófono

6

Para mim a LP é…

Tabela 1- Questões analisadas
Analisando agora as respostas às questões solicitadas, e tendo em conta a primeira questão (“Número aproximado de falantes de PLM”), o panorama apresenta-se um tanto dúbio, dado representar algumas hesitações e escassos conhecimentos: no grupo português, 50% das alunas escolheu a hipótese mais aproximada, ou seja, 230 milhões, imediatamente seguida de 1 bilião (28,6%), de 140 milhões (14,3 %) e, por fim, 10 milhões, com uma única resposta (7,1%). O grupo brasileiro incide nos 140 milhões e 230 milhões, com uma percentagem de 33,3 cada, e ainda, 1 bilião (16,7%), havendo uma não resposta e outra resposta selecionando 10 milhões. De facto, lemos estes resultados com uma certa estranheza, visto tratar-se de futuros professores ou professoras estagiárias (caso do grupo português). Tanto no grupo de Portugal como no do Brasil, – embora neste país seja um pouco mais notório –, as respostas tendem a centrar-se na dimensão demográfica e nacional de cada um dos países, esquecendo os restantes países/locais onde a LP possa ser LM.
A segunda questão diz respeito à identificação dos países que têm a LP como língua oficial (Gráfico 1).
Assim, Brasil e Portugal são identificados por ambos os grupos, seguindo-se Angola, com percentagens importantes (78,5 para as estudantes portuguesas e 66,7 para os brasileiros). Moçambique e Cabo Verde são ainda assinalados por ambos os grupos, mas com um desnível de percentagens, apresentando as estudantes portuguesas melhores resultados do que os brasileiros.

Os restantes países (Guiné-Bissau/GB, São Tomé e Príncipe/STP e Timor-Leste/TL) são apenas referidos pelo grupo de Portugal.

Talvez a situação geográfica de Portugal, entre a América e África, tenha sido propícia à curiosidade e a algum conhecimento sobre estes países. Igualmente é de ter em conta as viagens, o turismo e a emigração portuguesa, que intensificam os contactos entre estes países.

Mais recentemente, é de salientar o fator imigração, sendo as comunidades estrangeiras mais representativa na sociedade portuguesa as provenientes dos países lusófonos (SEF, 2013).

Da parte dos universitários brasileiros, cuja cidade se localiza no interior norte do Brasil, como já referido, nota-se uma reduzida informação sobre os países de língua oficial portuguesa.

No entanto, é de considerar a existência de uma cooperação forte entre o Brasil e vários destes países, nomeadamente a nível da Educação e da Cultura (com Cabo Verde, Angola, Moçambique, Timor-Leste) e também a nível económico (com os PALOP140 em geral), entre outros aspetos, mas, porventura não tão presente na região de origem destes estudantes.



Gráfico 1- Países de língua oficial portuguesa
Para a definição do conceito ‘Lusofonia’, questão 3, são consideradas corretas as respostas que recorrem a dois semas: ‘espaço geográfico da LP’ (exemplo retirado do grupo português: “espaço onde se fala a LP”, 42,9%); ‘falantes’ (exemplo de outra mestranda portuguesa: “A lusofonia relacionada com o conjunto de pessoas (no mundo) que falam o português, 28,8%); e concluindo as respostas do grupo em Portugal, 28,8% de respostas inválidas. De uma forma geral, trata-se de definições parcelares, mas privilegiando dois aspetos importantes que concorrem para uma definição mais precisa de Lusofonia: os falantes culturalmente diversos e o espaço geolinguístico da LP. Quanto ao grupo brasileiro, só um estudante (8,1%) apresenta uma resposta aceitável: “Lusofonia é um termo utilizado para referir a falantes portugueses, mas pode ser estendido a todos os falantes de LP ….”, resposta, aliás, muito objetiva, se tivermos em conta a formação da palavra (luso + fonia)141.
Sobre a CPLP, as estudantes portuguesas apresentam 64,3% de respostas corretas, contudo, ter-se-ia esperado um valor mais elevado, visto estas estudantes se encontrarem no 5º ano da Universidade 142 e em conclusão do Estágio Pedagógico em LP. Para além disso, têm decorrido na referida Universidade, inúmeras atividades culturais dinamizadas por colegas da CPLP, amplamente divulgadas. No público brasileiro, encontramos um desconhecimento absoluto sobre a sigla: 83,3% de não respostas e o restante com respostas não válidas. Talvez se explique por não ter sido um tema de grande discussão na formação inicial destes sujeitos, não constando da ‘grade curricular’ a realidade da LP fora do Brasil.
A questão seguinte diz respeito à identificação de personalidades do espaço lusófono nas seguintes áreas: Política, Literatura, Música e Desporto, e nos países à escolha de cada estudante. Tanto no grupo português como no brasileiro, apenas as personalidades do próprio país adquirem uma dimensão considerável, sendo esquecidas ou confundidas outras, sobretudo nos restantes países.
O grupo de Portugal identifica as seguintes personalidades nos campos pedidos:

- personalidades portuguesas: Política – Durão Barroso (51,1%); Literatura – Saramago (50%); Música – Mariza (35,7%) e Amália (28,6%); Desporto – Rosa Mota (42,8%). Com efeito, estas individualidades têm em comum o facto de terem tido, em momentos diferentes, protagonismo a nível mundial.

- personalidade brasileiras: Política – Lula da Silva (35,7%), na Literatura – Paulo Coelho (que aparece também como escritor português), Jorge Amado, Paulo Freire (14,3% cada); na Música – Caetano Veloso e Carmen Miranda (14,3%) e no Desporto – Pelé (28,6%). As respostas são poucas e imprecisas, como constatamos.

Quando entramos nos restantes países, o cenário é bastante mais inquietante.

Para Cabo Verde, as participantes portuguesas identificam apenas duas personalidades na área da música: Cesária Évora (14,3%) e Sara Tavares (7,1%).

Em Moçambique, na Literatura, é mencionado Mia Couto (28,6%) e na política, Nélson Mandela, – confusão geográfica? –.

Para Angola, só são apresentadas duas respostas, na área da política: Jonas Savimbi e Xanana Gusmão (?).

Para as personalidades de Timor-Leste, há uma referência a Xanana Gusmão.

São deixados ainda dois nomes de escritores ‘perdidos’, sem identificação de país: Pepetela e Agualusa. Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe foram completamente esquecidos.

O grupo do Brasil investiu também, como já frisado, nas personalidades do seu país:

- personalidades brasileiras: Política – Lula da Silva (25%) e Getúlio Vargas (16,7%); Literatura – Machado de Assis (16,7%); Música – Carmen Miranda, Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto, Tom Jobim (8,3%); Desporto: Pelé, Daiane dos Santos e Ronaldinho, apenas com um registo cada (8,3%).

- personalidades portuguesas: Política – Prado (?), com 1 registo (8,3%); na Literatura – Camões (25%) e Saramago (8,3%); na Música – Ricardo Azevedo (8,3 %); Desporto – Cristiano Ronaldo (8,3 %).


Quanto aos restantes países, não houve qualquer referência, o que vai ao encontro do desconhecimento manifestado aquando da questão sobre os países de língua oficial portuguesa.
Comparando os resultados do estudo de Reto et al. (2012), das “Referências a personalidades de língua portuguesa (inquiridos de países não-lusófonos) ”, com os nossos resultados, verifica-se que as primeiras 10 personalidades são coincidentes com as que os sujeitos do nosso estudo convocam: Lula da Silva, Ronaldinho, Cristiano Ronaldo, Figo143, Fernando Pessoa, José Saramago, Paulo Coelho, Amália Rodrigues e Luís de Camões.
Curiosamente, comparando ainda com as personalidades de LP referidas no estudo de Reto et al. (2012), pelos inquiridos dos países lusófonos, não se encontram tantas semelhanças, surgindo ainda outros nomes: Lurdes Matola, Malangatana, Bonga, Roberto Carlos…

Quanto à última questão (“Para mim a LP é…”), obtivemos os resultados visualizados no Gráfico 2, tendo por temas estruturadores os seguintes: identidade (Ident.), peso histórico e cultural (H-Cultural), aprendizagem (Aprend.), características estéticas e linguísticas (Caract.), comunicação (Comun.) e relevância (Relevân.).



No caso português, metade das estudantes destaca, em primeiro plano: os valores identitários, – com recurso sistemático aos possessivos ‘meu’ e ‘minha’, e de comunicação, referindo respetivamente que se trata da LM da grande maioria e da língua de trabalho de todas.
Num segundo plano, referem os valores de caráter profissional (42,8%), ou seja, a língua como objeto didático, o peso histórico e cultural da LP, assim como as características da língua (aspetos estéticos e linguísticos: romântica, doce, bonita; “rica aos níveis semântico, lexical, morfológico”); por último, com 14,3%, a aprendizagem (“difícil de aprender”, “gostava de a conhecer melhor”) (Ançã et al.,2013, no prelo).

Gráfico 2 - Valores pessoais atribuídos à LP
Contrariamente, o grupo brasileiro destaca os seguintes valores, com 41,7%: i) relevância (“Enfim, uma língua de futuro” ou “uma língua em ascensão económica e social”); ii) peso histórico e cultural (“por meio dela consigo expressar a cultura do meu país” ou “o caminho […] para o conhecimento a respeito da cultura e muito mais do meu144 país”); iii) características da língua, bastante subjetivas (“uma das línguas admiráveis do mundo. Ao passo que é complexa, estimula o interesse pelo aprofundamento dos seus aspetos”, “rica”,“uma língua que apresenta diversidade linguística”.
O destaque dado ao reconhecimento social e económico, e, por estas vias, o cultural, reflete o atual momento social e económico do Brasil, com uma valorização deste país, a nível mundial, com fronteiras que se abrem através desta ascensão. A importância da aprendizagem surge com uma percentagem superior à do grupo precedente, com 33,3 (ex: “tão importante e deve ser aprendida e difundida como qualquer outra língua”) e, por fim a identidade, com 8,3% (“é uma estrutura de desenvolvimento que faz parte da minha vida desde que nasci”). Embora a identidade aparentemente surja com o valor menos presente, ele deve ser lido também noutros registos, sobretudo quando há recurso ao possessivo (‘meu’, ‘minha’). É curiosa a omissão do valor comunicativo da língua, não assinalado por estes sujeitos, tendo sido para o grupo de Portugal, como vimos, o mais destacado, a par do identitário. Provavelmente os estudantes brasileiros, usando no quotidiano uma variedade de LP, de algum modo afastada da variedade considerada padrão, não sentirão tão fortemente a LP como língua de comunicação internacional, ou a sua “função de passaporte’’145 (termo emprestado a Laborinho, 2010).
3. Concluindo
Nas sociedades atuais, globais e competitivas, a difusão e a internacionalização das línguas são objetivos prioritários, aplicando-se o mesmo objetivo à LP e aos países que a falam.
Neste texto pretendemos identificar o posicionamento de universitários portugueses e brasileiros / (futuros) professores de Português, nomeadamente no que toca aos conhecimentos sobre o mundo lusófono (países, personalidades…) e atitudes face à LP, como sejam, por um lado, a convicção do poder da LP, por outro, as dimensões a ela atribuídas, i.e., enquanto língua de comunicação internacional, ou somente nas suas dimensões ‘clássicas’, afetivo-identitária e cultural.
Os resultados obtidos apontam, em ambos os grupos, para um certo desconhecimento sobre o mundo lusófono em geral (o conceito de Lusofonia e a sigla CPLP são praticamente desconhecidos para o grupo brasileiro e o grupo de Portugal não apresenta muita informação sobre estas questões). São privilegiados os conhecimentos relativos aos países de origem, notando-se, contudo, entre Portugal e Brasil e vice-versa, algumas ‘pontes’, sobretudo a nível cultural (na literatura e na música). No entanto, as lacunas dizendo respeito à geografia e demografia da LP são inquietantes no público em questão146.
Ambos os grupos fazem sobressair sobretudo as dimensões ‘clássicas’ da língua, havendo, por parte do grupo português alguma sensibilidade para uma abordagem mais abrangente, com a inclusão da dimensão de comunicação internacional. No grupo brasileiro parece existir alguma ‘descrença’ no valor de comunicação internacional, embora os estudantes demonstrem confiança no país, enquanto potência forte em termos económicos. No entanto, não têm consciência de que o domínio económico vai beneficiar a procura do ensino da língua, a sua difusão e internacionalização, tanto a nível de negócios e comércio, como ainda vai dar visibilidade à cultura e às indústrias da língua em geral.147 Com eleito, estes jovens, falantes nativos de Português, não estão suficientemente sensibilizados para o poder da LP e do seu crescimento nestes últimos anos.
Resultados deste teor levam-nos a questionar o ensino da língua, tal como ele se apresenta: muito centrado localmente, sem considerar outros espaços geoculturais onde a LP também é falada, vivida e aprendida. Existe, por conseguinte, uma necessidade premente de consciencializar estes futuros profissionais de Educação para esta dimensão importantíssima da LP, que é o seu poder no mundo, nos mais diversos contextos.
Referências Bibliográficas

Ançã, Maria Helena et al., (no prelo). “O papel da Educação em Português na promoção e difusão da língua – um estudo com um grupo de estagiárias” in Revista Lusófona de Educação.

Calvet, Alain e Calvet, Louis-Jean (2012). Baromètre Calvet des langues du monde. Consultado em 03 de dezembro de 2012, http://wikilf.culture.fr/barometre2012/

Castellotti, Véronique e Moore, Danièle (2002). Représentations sociales des langues et enseignements. Guide pour l’élaboration des politiques linguistiques éducatives en Europe – De la diversité linguistique à l’éducation plurilingue. Strasbourg: Conseil de l’Europe.

Castilho, Ataliba de (2013). “Desafios para a promoção e a internacionalização da língua portuguesa” in ANPOLL/ILLP (Ed.), Colóquio sobre A internacionalização da língua portuguesa, Santa Catarina: UFSC, 6-8 de março, pp. 1-17.

Dabène, Louise (1997). “L’image des langues et de leur apprentissage” in Mariette Matthey (Org.), Les langues et leurs images. Neuchâtel: IRDP, 19-23.

Galito, Maria S. (2006). "Impacto Económico da Língua Portuguesa Enquanto Língua de Trabalho" in CI-CPRI, AGL 1, 1–97.

Laborinho, Ana Paula (2010). “Para uma política de internacionalização da língua” in União Latina (Org.), Actas do Encontro Internacional Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas num Universo Globalizado. Lisboa: União Latina/Fundação Calouste Gulbenkian, 53-62.

Lasagabaster, David (2006). “Les attitudes linguistiques: un débat des lieux” in Etudes de Linguistique Appliquée, 144, 393-406.

Moore, Danièle (Coord.) (2001). Les représentations des langues et de leur apprentissage. Paris: Didier.

Reto, Luís et al. (2012). Potencial económico da língua portuguesa. Alfragide: Texto Editores.

RIFA (2013). Relatório de Imigração Fronteiras e Asilo. Serviço de Estrangeiros e Fronteiras/SEF, consultado em 28 de junho 2013, www.sefsat.pt/Docs/Rifa_2012.pdf.


Publicado em CD-ROM (2013) ISBN 978 989 8607 027



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