fora e é bastante abstracto e pode coincidir com os nossos
desejos, conceitos, etc., só por acaso («o amado superior»);
no segundo grupo de contra-senhas realizamos uma adop-
ção mais individual e autónoma que está ao nosso alcance
e é compreensível. Noutras palavras, na contraposição ofi-
cial, aconselhado-não oficial, livre, ou abstrato-concreto
preferimos o segundo membro «.
c) Quantidade de participantes da SE
Numa situação podem tomar parte um ou vários (A)
e (a).
1) A & a
2) A & E a
3) E A & a
4) E A & ~ a
Segundo a quantidade, a saudação e a despedida po-
dem ser individuais (por exemplo, no primeiro caso, quando
A se dirige sozinho e precisamente a a); comuns (como no
segundo caso, quando A se dirige ao grupo a: como, por
exemplo, o professor quando cumprimenta os seus alu-
nos); colectivos como no terceiro e quarto casos, quando
o grupo A se dirige a a - os estudantes respondem ao pro-
fessor - ou ao grupo a - a troca de cumprimentos entre
duas equipas desportivas); os cumprimentos-despedidas
colectivos e comuns e as suas respostas não incluem os
individuais, que, em geral, se seguem aos primeiros (mas
também podem antecedê-los).
210 Ensaios de Semiótica Soviética
d) Característica da SE
l. O género de SE: encontro (premeditado ou for-
tuito), visita, apresentação, conhecimento, reunião oficial,
meeting, pequeno almoço, almoço, jantar, cocktail-party,
picnic, velório, baile, casamento, baptismo, aniversário, fu-
neral, banquete fúnebre, celebração de acontecimentos im-
portantes e, em particular, festas nacionais, cerimónias,
como, por exemplo, festas diplomáticas, inaugurações, etc.
Naturalmente, para uma análise posterior, as SE classifi-
cam-se e descrevem-se de forma pormenorizada; em rela-
ção a isto pode propor-se, por exemplo, a sua divisão em
oficiais-não oficiais, gerais-individuais (segundo a quanti-
dade de participantes), etc. Repetimos aqui que no nosso
caso apenas nos interessam os cumprimentos e as despe-
didas, quer dizer, apenas os fragmentos das situações antes
referidas ou em geral de todas as situações possíveis, no
início das quais nos cumprimentamos e em cujo final nos
despedimos.
2. O tempo da SE: aqui se consideram: a) o tempo
absoluto, quer dizer, a divisão do dia: manhâ, dia, tarde,
noite; b) a data: dia, mês, ano; c) o tempo relativo que se
calcula a partir dum determinado acontecimento que com-
porta um fim indicado, uma SE determinada (como, por
exemplo, o banquete fúnebre aos quarenta dias da morte);
c~ a duração da SE, quer dizer, os seus limites temporais.
3. O lugar da SE: visto que nos referimos à saudação-
-despedida, o mais conveniente é dividir as SE nas que
se realizam em lugar aberto (rua, parque, bosque, praia,
estádio, etc.) e f echado (casa particular/alheia, escritório
próprio ou alheio, teatro, cinema, restaurante, loja, etc.).
Está claro que um estádio pode ser coberto e que um tea-
tro pode ser ao ar livre, portanto estes exemplos terão um
significado ad hoc. Também podem propor-se outras clas-
sificações, como, por exemplo, no âmbito das contraposi-
ções próprio-estranho (em parte sublinhadas por nós), ofi-
cial-não oficial, etc. Neste caso, a contraposição aberto-fe-
chado considera-se porque influencia de maneira parti-
cular a escolha do comportamento nas SE que nós analisá-
mos (chapéu, kinemas particulares, voz alta, etc.). Segundo
as tarefas da investigação haverá que estabelecer o que há
Prática de Análise: Leituras Semióticas 211
que assumir como ponto de referência. Por exemplo, a casa,
isto é, o ambiente doméstico, onde, em geral, o conjunto
de comportamentos de etiqueta é extremamente reduzido,
ou, pelo contrário, uma cerimónia com um conjunto má-
ximo de comportamentos de etiqueta e com a sua exe-
cução mais minuciosa.
Para uma completa caracterização da SE precisa-se de
informação sobre os três tipos de contra-senhas, quer di-
zer, sobre o género, o tempo e o lugar do desenvolvimento
da SE. Na maioria dos casos estas contra-senhas estão li-
gadas entre si por relações de implicação, mas o género
das SE é determinante (por exemplo, o protocolo diplo-
mático onde as exigências de interdependência se cum-
prem com especial rigidez). Talvez apenas um encontro
casual (embora, nalguns casos, previsto) não dependa nem
do tempo nem do lugar.
A estratégia do comportamento dos participantes na
SE está determinada fundamentalmente por quatro condi-
ções: o eCD dos participantes, as suas características com-
plementares, a quantidade dos participantes e a caracterís-
tica de SE (é suposto que os participantes dominam o con-
junto de comportamentos de etiqueta que lhes foi pres-
crito). Se se obtém uma informação suficiente segundo os
quatro pontos, então a escolha dos comportamentos é rela-
tivamente simples e pode supor-se que as tarefas da SE se
realizarão de maneira correcta e satisfatória. De qualquer
modo, os participantes na SE podem ou não saber alguma
coisa sobre o partner ou possuir informações incompletas
e disparatadas (isto pode suceder, por exemplo, se alguém
vai ter com um grupo desconhecido, onde também nin-
guém o conhece; evidentemente, no eCD apenas o sexo é
facilmente determinável, mas, devido às características da
moda actual, também aqui se podem dar algumas compli-
cações). Quando se conhece o eCD, o que determina a es-
tratégia do comportamento são, automaticamente, as ca-
racterísticas complementares e, antes de mais, o que se
pode extrair da impressão exterior, que se produz pelo
aspecto, as maneiras, o vestir, etc. Segundo o espírito de
observação ou as faculdades analíticas do participante, as
características complementares podem garantir-lhe uma es-
colha acertada (por exemplo, a identificação da pessoa
desE;jada), mas também podem confundi-lo e, portanto, pô~
212 Ensaios de Semiótica Soviética
-lo numa situação embaraçosa ou ridícula (no melhor dos
casos)... Vejam-se, por exemplo, os numerosos contos hu-
morísticos onde A põe o impressionante porteiro de libré
com galões antes do dono de aspecto modesto; veja-se tam-
bém a situação inversa num conto de G. Chesterton, onde
os donos se vêem obrigados a mudar a cor do seu fraque
para não serem confundidos com os criados. A incapaci-
dade para alguém se orientar numa determinada situação
conduz com frequência a erros de «incorrecção»: vejam-se,
por exemplo, as diferentes versões da fábula de Ivanuchka
o tonto, que chora nos casamentos e dança nos funerais ~a>.
A ignorância do participante torna tanto mais difícil
a sua escolha quanto a ausência de conhecimento ou o
conhecimento equivocado do eCD do partner pode fazer
que a sua própria posição social resulte indetermi-
nada ou até falsa (nisto baseia-se o efeito cómico de The
Prince and the Pauper, de Mark Twain, quer dizer, a in-
crível violação da etiqueta da corte: prestar honras ao po-
bre e humilhar o príncipe).
A escolha equivocada dos comportamentos de etiqueta
pode explicar-se por uma informação insuficiente recebida
pelos participantes, com a sua incapacidade para extrair
de tal informação as notícias essenciais (quer dizer, pela
incapacidade de escolher uma estratégia de comportamento
que permita durante o maior tempo possível não cometer
um erro de CE nas condições criadas por uma informa-
ção incompleta ou então - e esta é uma outra possibili-
dade - uma estratégia que obrigue o nosso interlocutor a
«descobrir-se» o mais rapidamente possível) e, por último,
pela incapacidade de traduzir correctamente a linguagem
dos factos para a linguagem de etiqueta (consequência
disto é, por exemplo, a adulação, quer dizer, a sobresti-
mação do eCD do interlocutor ou a subestimação do eCD
próprio ou então a falsa familiaridade, quer dizer, a subes-
timação do eCD do interlocutor ou a sobrestimação do
eCD próprio). Para sair desta situação resta a possibili-
dade de utilizar um conjunto estandardizado de compor-
tamentos neutrais (por exemplo, fórmulas verbais como
bom dia, adeus, obrigado, de nada, desculpe, etc.) com um
amplo raio de aplicação. A utilização destas fórmulas neu-
trais em qualquer SE não será um erro, mas pode carac-
terizar distintamente o participante que as utilize: nalguns
Prática de Análise: Leituras Scmióticas 213
casos será considerado como «demasiado cortês» (numa
sociedade onde não se costume dizer obrigado ou pedir
desculpas), noutras como ademasiado seco» (por exemplo,
na sociedade das damas que nos mostrava Gogol, «amá-
veis segundo qualquer perspectiva»).
Até agora falou-se do CE que podemos chamar «objec-
tivamente equivocado», isto é, dum CE com desvios ca-
suais e involuntários. De qualquer modo, uma escolha de
procedimentos de etiqueta de igual maneira e frequente-
mente equivocada, quer dizer, que não corresponda às
contra-senhas enumeradas, pode ser voluntária e intencio-
nal. Ao perseguir os seus próprios fins (que podem ser
práticos, emocionais, etc.) os participantes na SE atribuem-
-se reciprocamente e a si mesmos lugares mais baixos ou
mais altos na sociedade do que na realidade possuem (e
sabem-no) e podem executar o comportamento de maneira
acentuada, expressando simpatia, antipatia, mofa, etc. Tra-
ta-se, por exemplo, dos casos em que por cortesia se dimi-
nui a idade e se exageram os valores externos, se aumenta
a graduação do polícia que nos aplicou uma multa (ou en-
tão chama-se-lhe simplesmente «chefe»), dá-se um trata-
mento superior ao colega para «o pôr no seu lugar», um
lugar que, naturalmente, está por baixo daquele que ele
espera (vejam-se os inumeráveis exemplos deste tipo que
há nas obras de Tolstói). Em geral, é muito fácil a pessoa
equivocar-se num sentido ou noutro e, com frequência, isto
depende de circunstâncias externas casuais que influenciam
de maneira psicológica o homem, desmoralizando-o ou,
pelo contrário, levando-o a um estado de euforia (por
exemplo, é difícil esperar um SE correcto dum homem que
durante uma festa solene confunde o nome do homena-
geado, etc.; é difícil encontrar alguém que tenha o autodo-
mínio do célebre tio do Gore ot uma [O engenho, que des-
graça! ] de Griboedov, que cai «pela segunda vez, mas de
propósito», o que, como mais tarde fica claro, não é mais
do que uma brilhante ideia estratégica), e é por isto que
se aprecia tanto a capacidade de uma pessoa se subtrair
à influência das circunstâncias externas ~9~. Como ilustração
pode apontar-se a seguinte matriz, que reflecte a recíproca
214 Ensaios de Semiótica Soviética
estima dos partners (= significa «valoração exacta», +
+ «exagero», - «diminuição»):
1) A/=/, a/=/
2) A/=/, a/+/
3) A/=/, a/-/
4) A/ + /, a/ = /
5) A/-f-/, a/-~/
6) A/+/, a/-/
7) A/-/, a/=/
8) A/ - /, a/ + /
9) A/-/, a/-/
Portanto, a escolha do comportamento de etiqueta é
bastante complexa e depende de muitos factores que po-
dem entrar em contradição entre si (frequentemente, o di-
lema «sentimento-dever» exprime-se justamente num nível
de CE). De qualquer modo, o homem tem de elaborar a
informação no menor tempo possível e sobre esta base há
que seleccionar o bom caminho (que não raramente é
único: nalguns casos não tem outra possibilidade para
variar a sua estratégia, de maneira que a primeira nota,
embora sendo equivocada, determina toda a sinfonia).
Para as situações de cumprimento-despedida fixaram-
-se os seguintes meios de expressão:
Fórmulas verbais. Segundo a função na SE dividem-se
em:
a) Fórmulas de cumprimento
b) Fórmulas de despedida
c) Fórmulas introdutórias ou divisórias.
A função principal destas últimas é a de indicar os
limites (princípio e fim) das SE e/ou permitir passar ao
seu fragmento seguinte. I~Ieste sentido se parecem com o
Grenzsignale da linguagem natural (depois deles a entropia
aumenta, noutras palavras, a possibilidade de predizer o
que acontecerá a seguir é mínima).
Segundo a importância dos participantes dividem-se
em:
a) Fórmulas para se dirigirem a superiores
b) Fórmulas para se dirigirem a inferiores
c) Fórmulas para se dirigirem a iguais.
Os limites das secções podem praticamente confun-
dir-se e apagar-se, sobretudo pela sinonímia e homonímia
Prática de Análise: Leituras Semióticas 215
muito desenvolvidas dos comportamentos; com frequência,
para diferenciá-los aplicam-se a meios particulares, que po-
dem considerar-se supersegmentais (aliás a homonímia
pode ser superada graças à introdução na SE e à actuali-
zação dum contexto mais comprido e mais rico em infor-
mação; por exemplo, após ter notado o erro cometido pelo
partner, que superou erroneamente a homonímia da in-
formação que lhe foi proporcionada, o outro participante
na SE supera inadvertidamente tal homonímia duma ma-
neira correcta). O cumprimento e a despedida podem ser
particularmente expressos por uma mesma fórmula: olá,
adeus, cumprimentos, etc.; também as fórmulas introdutó-
rias podem cumprir uma função de cumprimento e de
despedida ~'°l: olha quem está aqui, que é que te traz por
cá, em vez de bom dia; vou-me que são horas, em vez de
adeus; etc. ~ também difícil atribuir às fórmulas uma cor-
respondência constante com as importâncias. Talvez isto
deva ser dito com cuidado: em geral, um cumprimento
dirigido a um superior exprime-se com a fórmula bom dia,
f ulano, ou então, camarada tal ou camarada director, etc.,
com cuidadosa execução ortoépica; a um inferior (tam-
bém desconhecido) pode-se tratá-lo por tu no momento de
o cumprimentar; como estás, meu caro, saúde, etc. Aqui
as diferenças dão-se num nível estilístico mais agudo, e o
executante supera com frequência os limites das fórmulas
fixadas, criando na sua base variantes individuais «adapta-
das às circunstâncias» [pomos como exemplo duas varian-
tes de pedido duma audiência: 1) gostaria de jalar, se f osse
possível, com o músico Sovastianovitch Ruceikov, e 2)
quero ver o f erreiro Nikolai].
Em geral, a classificação estilística das fórmulas ver-
bais (e de resto dos comportamentos formais do CE) tem
um significado extremamente importante. O facto é que
apesar de fazermos uma subdivisão satisfatória das fórmu-
las segundo os critérios indicados, ainda não poderemos
realizar uma escolha justa por causa da sinonímia muito
ramificada dos comportamentos; por exemplo, se temos de
escolher uma fórmula de cumprimento para a SE «encon-
tro na rua>,, e por importância A = a, aqui é possível o
seguinte conjunto: olá, bom dia (boa noite), saúde, os meus
respeitos, que tal vai a vida?, cumprimento-o respeitosa-
n2ente, se não me engano já nos conhecemos (encontrámos,
cumprimentámos), bonjour, guten Morgen, venga esa
216 Ensaios de Semiótica Soviética
mano, etc.; há variantes que admitem apenas o uso de tu,
outras apenas você/ o senhor e tu e você/ o senhor; têm
de ser tema duma investigação semiótica especial as fór-
mulas que aqui, infelizmente, podemos apenas dar como
exemplos: nome e patronímico, nome, diminutivo, apelido,
camarada, cidadão, tia, tio, avozinho, avozinha, rapaz, ra-
pariga, menina, rapazito, amigo, irmão, querido, senhor,
mestre, che f e, colega, os divertidos desavergonhado, ban-
dido, etc. A sua escolha em cada caso concreto virá, entre
outras coisas, determinada por algumas características so-
ciais especiais, e precisamente pela pertença a uma célula
social determinada, constituída, por exemplo, com base no
princípio da idade (teen-agers), e profissional (estudantes),
de parentesco (família), ideológico (partido), confessional,
etc. As exigências postas por estas gírias sociais ~I'~ podem
ser muito rígidas e exigir uma solução unívoca muito mais
do que outros critérios obrigam. Apesar de as característi-
cas sociais coincidirem em parte com o eCD e com as carac-
terísticas complementares dos participantes, trata-se aqui
de duas coisas diferentes. IvIo primeiro caso, supõem-se as
características individuais, combinadas pelos participante~
concretos com as SE concretas, enquanto aqui se referen
a grupos sociais bastante estáveis que impõem a sua pre
pria gíria e ó seu próprio estilo.
Também é importante o significado da análise estrit
mente linguística das fórmulas, o que permite estabelec
as suas regras de geração. Isto é de grande importânc
porque com frequência uma insignificante variação lexic
gramatical ou ortofónica da fórmula pode servir cov
expressão das mudanças radicais de SE (born dia, f ul~
de tal, bom dia, olá, oh, olá, ah, és tu, ah, chegaste, f i
mente estás aqui, já está aqui, etc.; as expressões dec
cem gradualmente em sentido estilístico até chegare
familiaridade).
A análise estilística ajudará a manifestar o det~
nado nível idiomático no qual, entre outras coisas, c~
as fórmulas jocosas como (beijo as suas mãos, sal
f igli maschi), citações tiradas de obras celebérrimas e
tanto, já comuns.
Parece que dum ponto de vista semiótico as fó~
introdutórias (e não de cumprimento-despedida)
grande interesse. São menos fixas e, portanto, é n
fícil descrevê-las. A função principal, ou, em todo
Prática de Análise: Leituras Semióticas 217
sempre presente, das fórmulas introdutórias é a de servir
de sinal de partida da SE, e do seu fim absoluto ou da pas-
sagem a um outro fragmento do texto de etiqueta; noutras
palavras, as unidades do CE, das quais já falámos no iní-
cio deste artigo, em geral, ou pelo menos frequentemente,
desligam-se uma da outra com comportamentos especiais,
e aqui chamámos-lhes fórmulas introdutórias. Cumprindo
o papel de tais comportamentos podem apresentar-se não
apenas (e melhor, não sobretudo) construções verbais, mas
também outros sinais sonoros: o bater, por exemplo, a
uma porta, a campainha, o gongo, o dar as horas («Até que
o relógio ao meio-dia / não deu a hora do almoço»), mono-
gramas musicais, o repicar da sineta, o grito, etc.; mesmo
a aparição duma pessoa determinada pode testemunhar o
limite da SE (a aparição da professora na aula é o sinal
para que os alunos se levantem) e, naturalmente, também
se usam outros signos visuais (uma bandeira hasteada ou
arriada, luz e escuridão alternativamente, etc.); não é me-
nos importante a função que cumprem os gestos e os aces-
sórios. As fórmulas introdutórias podem conter a petição
ou a espera duma (resposta). Por exemplo, quando se bate
a uma porta pressupõe-se a seguinte reacção: entre, sim,
sim, está aberta, quem é?, a quem procura?, espere, um
n2omento, não pode, não está ninguém, etc. Por outra
parte, as fórmulas introdutórias podem ser auto-suficientes
de maneira que as precisões sobre as situações nelas conti-
das não exigem uma resposta suplementar ou uma reacção
particular por parte do interlocutor: meus Senhores, reu-
ni-vos aqui, para vos comunicar uma notícia desagradabi-
líssima: vai visitar-nos um cobrador; os interlocutores já
reagem então ao conteúdo imediato da comunicação: um
cobrador?: pertencem a este tipo numerosas fórmulas,
como, por exemplo: poderia dizer-me?, diga-me, por favor,
gostaria de lhe pedir um favor, gostaria... taZ cozsa, permi-
ta-me que Zhe apresente, etc. ~t2> Também podem fazer
parte das fórmulas introdutórias (geralmente finais ou de
transição), do nosso ponto de vista, as fórmulas de agra-
decimento: obrigado, agradeço-Zhe, estou-Zhe muito agra-
decido, obrigado pela sua atenção (fórmula usada no final
dum discurso oficial), mil vezes obrigado, que Deus lhe
pague (agradecimento estabelecido após receber uma es-
mola), etc.; também formam parte delas as fórmulas de
perdão: desculpe, desculpe-me, mil desculpas, perdão,
218 Ensaios de Semiótica Soviética
peço perdão, pelo amor de Deus, etc. Não é porque o con-
sideremos não essencial que não falamos aqui da função
continuísta destas fórmulas: estamos longe de pensar que
uma pessoa, quando pisa o pé do vizinho e lhe pede per-
dão, pense apenas em realizar a SE correspondente; natu-
ralmente, o conteúdo está presente em cada comporta-
mento humano, mesmo quando se cumprem automatica-
mente os comportamentos de etiqueta; de todos os modos
num caso determinado interessa-nos apenas o aspecto se-
miótico do CE, e conscientemente prescindimos de todos
os outros aspectos. Há que dizer que a função de conteúdo
está expressa duma maneira muito clara justamente nas
fórmulas introdutórias, que são as mais variadas, relativa-
mente pouco fixas, e dispõem duma grande quantidade de
variantes estilísticas e amiúde podem substituir as fórmu-
las de cumprimento estabelecidas (por exemplo, a expres-
são de brincadeira usada pelos hóspedes inesperados, f ize-
mos-vos uma boa surpresa, ou que é o que os traz por
aqui, etc. ~13~ Infelizmente, aqui não podemos senão que
aflorar os diferentes apectos do «problema da fórmula».
Ivíaturalmente, uma análise particularizada exige que se
introduza um vocabulário completo e comentado, o que
não é possível neste caso por falta de espaço.
Vemo-nos obrigados a tocar de forma igualmente breve
os outros comportamentos de etiqueta: os kinemas e os
acessórios.
IvIa sociedade contemporânea os gestos especiais
- kinemas - aplicam-se, sobretudo, na SE de cumpri-
mento ou despedida: o roçar o chapéu com a mão, o tirar
o chapéu, o tirar ou não tirar as luvas, o apertar a mão
(onde é primordial a ordem de sequência ao estendê-la), o
beijar (a mão), o abraçar, o beijar à distância, o estreitar
a mão (as mãos) contra o coração, o juntar as duas mãos
e agitá-las levantadas, dar palmadas nas costas, ou no om-
bro, o empurrar (na brincadeira), o fazer um gesto de
cumprimento com a cabeça, com o corpo, o inclinar-se
arrastando os pés, o fazer uma reverência, o juntar os cal-
canhares (nos militares), o levantar-se, o ir ao encontro
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