Por que uma idéia de dois mil e quinhentos anos atrás pareceria hoje mais relevante do que nunca? Como os ensinamentos do Buda podem nos ajudar a resolver muitos problemas do mundo



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O autor com um grupo de Novos, ou Ambedkar, budistas em Deeksha Bhoomi ("local de conversão") em Nagpur, índia. A stupa gigantesca e moderna fica no lugar em que o dr. B. R. Ambedkar converteu meio milhão de hindus intocáveis para o budismo em 1956.

rosto de tristeza. - Meditação - disse ela simplesmente. - Adquiro força da meditação.

De lá nós fomos para Deeksha Bhoomi ("local da conversão"), onde aconteceu a conversão. No centro de um grande terreno deserto, agora considerado local sagrado de peregrinação para aqueles dalits, há um edifício monstruosamente grande, moderno e circular que levou vinte anos e cerca de 50 milhões de rúpias para construir (1,1 milhão de dólares). Eu tinha lido que é a maior stupa na índia. Consagrada em 2002, feita de granito, mármore e arenito, a cúpula tem 36,5 metros de altura e de diâmetro. Cinco mil fiéis podem sentar e meditar em cada um dos dois andares. Dentro de uma caixa ornamentada no terceiro andar sob a abóbada, num salão tão grande que o eco da minha voz reverberou por trinta segundos inteiros, estão as cinzas do dr. Ambedkar.

Ainda encontrei outro grupo animado em Deeksha Bhoomi, e me convidaram para meditar e cantar as Três Jóias do Buda com

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eles dentro do templo. Sentamos de pernas cruzadas e avistei uma mulher trabalhadora com um sari bem surrado, de cócoras, daquele jeito que os asiáticos ficam com a maior facilidade, com as nádegas quase encostando no chão, aos pés de uma estátua gigante de Buda no centro de um enorme salão. Ela fazia seu trabalho em silêncio enquanto as pessoas passavam por ela, sem cumprimentá-la, sem contato visual, tornando-a quase invisível. Mesmo numa revolução social inspirada no budismo, pensei, alguns são deixados para trás. Mesmo naquela classe, havia uma classe ainda mais baixa.



Na saída eles nos cumprimentaram com uma mesura e desejaram aJai Bhim" novamente. Neha, por força do hábito, respondeu para eles: "Namasté", que é a saudação hindu e que significa algo parecido com "Eu saúdo o Deus dentro de você". O dr. Gajbhiye e os amigos dele lembraram para Neha que aquela palavra dava força aos valores hinduístas entranhados e que eles não queriam isso agora, nem mesmo como um gesto bondoso. Neha, uma alma realmente gentil, respondeu indignada, observando que Ambedkar podia ser o líder deles, mas não era o dela, então por que ela tinha de dizer "jai" para ele?

- Namaste é uma saudação universal na índia - disse ela.

Eles concordaram que discordavam quando entramos na van. Foi o único momento tenso da viagem a Nagpur, mas serviu para demonstrar para nós dois com que afinco eles se agarravam à própria crença, e compreendi com isso quanto trabalho ainda teriam para "converter" os hinduístas de modo que aceitassem esses budistas Ambedkar nos termos deles e vice-versa.

Alguns dias depois em Mumbai conheci outro dalit convertido que também me fez lembrar da diferença de classe mesmo dentro da classe. A vida do dr. Narenda Jadhav está tão além dos sonhos mais loucos dos dalits que embora deva ser uma inspiração para muitos, ele atrai inveja e certo desdém. Consultor principal do Departamento de Análise Econômica e Política para o Reserve Bank of índia, ele mora com a mulher num apartamento grande, num bairro de Mumbai que ele mesmo descreveu como sendo "chique". Alto e erudito, usa uma barba curta e grisalha do tipo usado entre os acadêmicos, ele é mais conhecido entre os

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indianos como escritor de dois livros de sucesso e polêmicos sobre ser um dalit, Our Father and Us, publicado em 1993, e Outcaste, publicado na índia em 2003 e nos Estados Unidos em 2005 com o título Untouchables (Intocáveis).



Não faltava a ele nem um pingo de autoconfiança e, quando tomávamos o café da manhã no apartamento dele, contou novamente a história que começa com seu pai, que morava num antigo campo de trabalho municipal que eu havia visitado, coincidentemente, mais cedo aquele dia. Continua como no tempo do seu pai. Filas de barracões de madeira e cada dormitório consiste em uma pequena saleta na entrada e uma cozinha minúscula. Banheiros coletivos atrás de cada barracão.

- Era uma pobreza absoluta - disse o dr. Jadhav. - Antes disso meu pai dormia em estações de trem.

"Eu ainda carrego essa marca comigo - confidenciou. - Não era só o desprezo dos outros por centenas de anos, éramos nós mesmos que nos desprezávamos."

Admirando os prêmios do dr. Narenda Jadhav em seu apartamento em Mumbai. Nascido numa família pobre de intocáveis que se converteu ao budismo, ele hoje é o consultor principal do Reserve Bank ofíndia e autor do livro autobiográfico Untouchables.

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A mulher dele preparou a nossa refeição na cozinha. Implorei para ela sentar à mesa conosco e participar da conversa, mas ela não quis.

- Para mim - continuou ele - a conversão significa o direito de viver como um ser humano, a conversão nos deu essa oportunidade. No que diz respeito à prática do budismo, essa é a coisa mais importante que tenho para dizer: o significado da religião para mim não reside nos rituais que seguimos, é a mudança de mentalidade.

Ele me deu um exemplo muito claro.

- Antes da conversão as crianças dalits recebiam nomes como Dagdoo e Kacharu - disse ele, citando os nomes hindus. - Sabe o que significam? Pedra. Terra. Estou dizendo literalmente, pedra, terra. - Ele praticamente cuspiu as palavras. - Agora lhes damos nomes como Siddharth, que significa "aquele que atingiu a realização", e Pradnya, que quer dizer "intelecto", e Neha, que significa "amor".

Eu conhecia bem o significado dos nomes das crianças e do impacto que podem representar. íris e eu escolhemos o nome Ariana para a nossa filha em 1976 porque gostávamos da associação com a deusa mitológica grega e princesa Ariadne, que significa "santíssima" no inglês arcaico. E de fato Ariana correspondeu ao nome para aqueles que a conhecem e a amam.

Para os dalits, compreendi que a nova nomenclatura revelava demais aquela nova auto-estima que o dr. Jadhav e todos os outros dalits convertidos atribuíam àquele outro Siddharth e ao dr. Ambedkar, o Siddharth deles.

Houve um período de 24 horas na índia em que testemunhei a prova mais impactante da adaptabilidade da vipassana, uma técnica de meditação praticada na tradição Theradava do budismo e a qual venho praticando desde meados da década de 1970.

O dia começou em Nova Deli - na cadeia.

- Não estou cumprindo pena, estou fazendo vipassana — disse-me um prisioneiro chamado Hyginus Udegbe.

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