Português: contexto, interlocução e sentido


Exposição de um ponto de vista: produção de texto dissertativo-argumentativo



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Exposição de um ponto de vista: produção de
texto dissertativo-argumentativo
336

Seção especial: A introdução e a conclusão 339
Enem e vestibulares
344
Bibliografia 347
Página 9

LITERATURA

Unidade 1 - O Modernismo

O Modernismo representou uma ruptura profunda com os padrões artísticos que vigoraram até o final do século XIX. Inspirado pelas vanguardas que irromperam no cenário europeu no início do século XX, o Modernismo no Brasil inovou os temas e a linguagem das obras ao mesmo tempo em que afirmou nossa identidade. Sem idealizações, valorizou nossa cultura e denunciou nossas mazelas de modo contundente.

Em suas diversas gerações, o Modernismo criou novas perguntas e novas respostas para as grandes questões humanas. E produziu algumas das melhores obras da literatura em língua portuguesa. Acompanhe esse movimento nesta unidade.

Capítulos

1. Pré-Modernismo, 12

2. Vanguardas culturais europeias. Modernismo em Portugal, 24

3. Modernismo no Brasil. Primeira geração: ousadia e inovação, 44

4. Segunda geração: misticismo e consciência social, 60

5. O romance de 1930, 74

0009_001.jpg

BRAQUE, G. Violino e jarro. 1909-1910. Óleo sobre tela, 117 × 73,5 cm.

© BRAQUE, GEORGES/AUTVIS, BRASIL, 2016 - MUSEU DAS BELAS ARTES DE BASEL, SUÍÇA


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Diálogos literários: presente e passado

A reflexão crítica sobre o Brasil é uma questão de permanente interesse. Na produção literária contemporânea, textos de diversos autores revelam um olhar cortante sobre nossa realidade e levam os leitores a perceber os contrastes que marcam o país e sua sociedade.

Como você viu ao estudar a obra de Machado de Assis, a preocupação em apresentar um olhar crítico para a realidade brasileira surgiu no século XIX, durante o Realismo e o Naturalismo. Aluísio Azevedo foi outro autor que, em obras como O mulato, expôs a mentalidade provinciana e preconceituosa da sociedade do período.

No próximo capítulo, você verá como essa preocupação literária com o país se intensifica nas obras de autores pré-modernistas, que, vivendo no conturbado momento inicial da República, se esforçam por desnudar a dimensão real dos problemas do Brasil e do seu povo.

Algumas décadas mais tarde, o desejo de retratar a alma verdadeiramente nacional é revisitado pela primeira geração modernista, em textos marcados pela consciência crítica e bem-humorada do nosso passado colonial, retratado em especial por Oswald de Andrade. Já os romancistas da década de 1930 privilegiam as questões relacionadas ao Nordeste do país, maltratado pela seca e pela miséria de seus habitantes.

Antes, porém, de conhecer a diversidade da produção pré-modernista e a imagem de Brasil revelada nas obras dos autores desse período, veja algumas das abordagens contemporâneas das diferenças que marcam o nosso país.



Affonso Romano de Sant’anna e o questionamento da pátria

Que país é este?

1
Uma coisa é um país,


outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,


outra um regimento.

Uma coisa é um país,


outra o confinamento.

[...]
Uma coisa é um país,


outra um fingimento.

Uma coisa é um país,


outra um monumento.

Uma coisa é um país,


outra o aviltamento.
[...]

2
[...]

Há 500 anos somos pretos de alma branca,
não somos nada violentos,
quem espera sempre alcança
e quem não chora não mama
ou quem tem padrinho vivo
não morre nunca pagão.

Há 500 anos propalamos:


este é o país do futuro,
antes tarde do que nunca,
mais vale quem deus ajuda
e a Europa ainda se curva.

[...]


SANT’ANNA, Affonso Romano de. Poesia contemporânea. Cadernos de Poesia Brasileira. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1997. p. 22-23. (Fragmento).

Aviltamento: desvalorização, humilhação.
Propalamos: divulgamos, propagamos.
Página 11

Paulo Lins e o olhar do marginalizado para o Brasil

Fui feto feio feito no ventre-brasil


estou pronto para matar
já que sempre estive para morrer
Sou eu o bicho iluminado apenas
pela luz das ruas
que rouba para matar o que sou
e mato para roubar o que quero
Já que nasci feio, sou temido
Já que nasci pobre, quero ser rico
e assim o meu corpo oculta outros
que ao me verem se despiram da voz
Voz indo até o grito
Grito e tiro disputando intensidade

[...]


Sou eu assim herói do nada
De vez em quando revelo o vazio
de ser irmão de tudo e todos contra mim
Sou eu a bomba que cresceu
na flor do cerne da miséria,
entre becos e vielas
onde sempre uma loucura está para acontecer

Sou teu inimigo


Coração de bandido é batido na sola do pé
Enquanto eu estiver vivo,
todos estão para morrer
Sou eu que roubo o teu amanhecer
por um cordão
por um tostão
por um não

Meço-me e me arremesso na vida


lançando-me em posição mortal
Prefiro morrer na flor da mocidade
do que no caroço da velhice

Sem saber de nada me torno anacoluto insistente,


indigente nas metáforas de tua língua vulgar
que não se comprometeu
pois a minha palavra — inaugurada na boca do homem,

a dama maior do artifício social —


perdeu a voz
Voz sem ouvido é mero sopro sem fonemas
É voz morta enterrada na garganta
E a palavra vida, muda no mundo legal, me faz o teu marginal.

Cerne: âmago, centro.
Vielas: ruas estreitas, travessas.
Anacoluto: figura de linguagem em que, numa mesma frase, ocorrem duas construções sintáticas distintas em que a primeira é abandonada, ficando incompleta; por extensão, frase quebrada.

A nostalgia crítica de Bernardo Vilhena

À sombra de um pé de Pau-Brasil

Acredito no balanço das árvores


que se não induzem, sugerem
leve origem dos ventos
a encher de sons o ar
soprado de respostas às vezes esquecidas
varrendo as mentiras pregadas
em nome da evolução e do progresso
à sombra
à sombra de um pé de Pau-Brasil

VILHENA, Bernardo. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (Org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007. p. 239.



O exercício proposto nesta seção é identificar a crítica social presente nos textos, reconhecendo as situações apresentadas (de opressão ou de marginalização social) e seus protagonistas (indivíduos abandonados ou excluídos da sociedade). Após a leitura e a discussão em grupos, os alunos devem escolher um dos poemas e pesquisar imagens que possam ilustrá-lo, apresentando posteriormente a justificativa para a seleção feita. Seria interessante, na discussão, mencionar aos alunos o livro Quarto de despejo (apresentado no boxe De olho no livro, no Capítulo 9 do volume 2 — Naturalismo), de Carolina Maria de Jesus, uma catadora de papel que relata seu cotidiano de forma pungente. Além disso, várias letras de rap também fazem a abordagem da opressão sob o ponto de vista dos oprimidos. Um levantamento dessa natureza ajuda a mostrar aos alunos a forte presença da tradição abordada na seção.

Pare e pense

Junte-se a seus colegas e releia os textos desta seção. Analise quem são as personagens que aparecem neles e qual a situação em que se encontram. Em seguida, faça uma pesquisa de imagens que possam ilustrar um dos poemas — elas podem retratar as personagens ou as situações identificadas por vocês. Para finalizar, apresentem os poemas ilustrados para a classe, justificando oralmente a escolha das imagens.


Página 12

Capítulo 1 - Pré-Modernismo

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BARROS, Flávio de. Prisão de jagunços pela cavalaria. 1897. Foto em preto e branco feita durante a guerra de Canudos.

FLÁVIO DE BARROS – MUSEU DA REPÚBLICA, RIO DE JANEIRO

Sugerimos que todas as questões sejam respondidas oralmente para que os alunos possam trocar impressões e ideias.

Leitura da imagem

1. Observe a fotografia da abertura. Que situação parece ser retratada na imagem? Justifique.

2. Essa foto, intitulada Prisão de jagunços pela cavalaria, foi feita por Flávio de Barros em 1897, durante a guerra de Canudos, conflito que opôs os seguidores do beato Antônio Conselheiro e as tropas do Governo federal.

a) O que a aparência das pessoas sugere sobre sua condição socioeconômica?

b) É possível identificar uma diferença significativa entre os jagunços e os membros da cavalaria? Explique.

3. Como fotógrafo encarregado de exaltar os feitos do exército brasileiro na guerra de Canudos, Flávio de Barros recorreu, em alguns casos, a “encenações” que retratassem o embate entre soldados e jagunços, já que não havia condições reais para fotografar esses momentos. Acredita-se que a foto Prisão de jagunços pela cavalaria seja uma das simulações criadas por Flávio de Barros. Qual pode ter sido a intenção do fotógrafo ao criar essa encenação?

Discutir com os alunos o sentido de urbs e civitas no texto transcrito. Esse trecho é usado pelo narrador para caracterizar a precariedade das casas do povoado de Canudos, encaminhando à conclusão de que elas traduziam “mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça”. Nesse sentido, a primeira afirmação do texto ganha a dimensão de uma tese que será demonstrada por meio da descrição do povoado. Se a cidade (urbs) é monstruosa, a civilização (civitas) que se ergue em Canudos tem a dimensão sinistra do erro: ao acreditarem na salvação prometida por Antônio Conselheiro, os milhares de miseráveis que o seguem perpetuam sua condição, já que o povoado não garante uma qualidade mínima de vida.

Informe aos alunos que, como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, Euclides da Cunha cobriu o conflito de Canudos, registrando os embates entre conselheiristas e tropas republicanas.

Da imagem para o texto

4. Leia um trecho de Os sertões, de Euclides da Cunha.

Na descrição da vila de Canudos e dos sertanejos que para lá se dirigiam, o leitor toma conhecimento de um dos fatores determinantes do conflito: a vida de sofrimento e privações no interior do sertão brasileiro.



Aspecto original

A urbs monstruosa, de barro, definia bem a civitas sinistra do erro. O povoado surgia, dentro de algumas semanas, já feito em ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômoros, atulhando as canhadas cobrindo área enorme, truncado nas quebradas, revolto nos pendores — tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto. [...]

Feitas de pau a pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas eram paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um atrium servindo ao mesmo tempo de cozinha, sala de jantar
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e de recepção; e uma alcova lateral, furna escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. [...] Traíam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa. [...] O mesmo desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza repugnante, traduzindo de certo modo, mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça. [...]

[...] Vinham [as caravanas de fiéis] de todos os pontos, carregando os haveres todos; e, transpostas as últimas voltas do caminho, quando divisavam o campanário humilde da antiga Capela, caíam genuflexos sobre o chão aspérrimo. Estava atingido o termo da romagem. Estavam salvos da pavorosa hecatombe, que vaticinavam as profecias do evangelizador. Pisavam, afinal, a terra da promissão — Canaã sagrada, que o Bom Jesus isolara do resto do mundo por uma cintura de serras...

Chegavam, estropeados da jornada longa, mas felizes. [...]

CUNHA, Euclides da. Os sertões. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. v. 2, p. 227-232. (Fragmento).

Urbs: em latim, cidade, capital.
Civitas: em latim, cidade, conjunto de cidades, raiz de civilização. O termo é usado, no trecho, com o sentido de civilização.
Cômoros: pequenas elevações de terreno.
Canhadas: planícies entre montanhas.
Pendores: rampas (declive ou aclive).
Atrium: em latim, átrio, sala principal.
Genuflexos: ajoelhados.
Termo da romagem: fim da romaria.
Hecatombe: destruição, desgraça. No contexto da pregação de Antônio Conselheiro, refere-se ao momento do Juízo Final, quando todos os fiéis serão julgados por Deus.
Canaã: na Bíblia, é a terra prometida ao povo escolhido por Deus. Lugar de fartura e felicidade terrenas.

> Como é descrito o povoado que está sendo construído pelos seguidores de Antônio Conselheiro em Canudos?

5. Releia este trecho, observando os adjetivos destacados.

“Feitas de pau a pique e divididas em três compartimentos minúsculos, as casas eram paródia grosseira da antiga morada romana: um vestíbulo exíguo, um atrium servindo ao mesmo tempo de cozinha, sala de jantar e de recepção; e uma alcova lateral, furna escuríssima mal revelada por uma porta estreita e baixa. [...] Traíam a fase transitória entre a caverna primitiva e a casa.”



a) O que os adjetivos sugerem a respeito das casas de Canudos?

b) No fim desse parágrafo, o narrador conclui que aquelas casas traduziam “mais do que a miséria do homem, a decrepitude da raça”. Que relação há entre essa conclusão e a comparação entre as casas romanas e as habitações dos fiéis?

6. Depois de descrever o povoado, o narrador volta-se para as pessoas. Que motivação elas tinham para ir até o povoado e ali ficar?

a) No caderno, transcreva o trecho que comprove sua resposta.

b) “Vinham de todos os pontos, carregando os haveres todos.” Essa frase oferece uma importante pista sobre a condição social dos fiéis que mudam para Canudos. Que condição é essa? Justifique com base no trecho.

7. Que explicação o texto dá para o fato de, mesmo chegando “estropeados”, os romeiros estarem felizes?

O Brasil republicano: conflitos e contrastes

A Proclamação da República, em 1889, não representou uma mudança muito grande no cenário econômico brasileiro. A situação das famílias que viviam no campo, dois terços da população do país, continuava sendo determinada pelos grandes latifundiários, que controlavam extensas porções de terra tanto no litoral quanto no interior.



A reforma das cidades

Com a República, os principais centros políticos passaram por uma transformação do espaço urbano que desencadeou um processo de “europeização” do país. Cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e Belém foram as mais afetadas pelo que ficou conhecido, na época, como bota-abaixo: a abertura de largas avenidas e a imitação de prédios europeus, para eliminar os traços da arquitetura portuguesa que orientara a construção dessas cidades.

Uma consequência imediata da reurbanização das grandes cidades foi o deslocamento de milhares de famílias pobres das áreas centrais, onde moravam em cortiços, para locais de difícil acesso. Nasciam, assim, as favelas, como um desdobramento negativo da tentativa de “embelezar” o país.

Se a reurbanização sugeria prosperidade, ela era apenas aparente. Nos centros urbanos, escravos libertos viviam em um estado de quase completo abandono. Não tinham acesso à educação e não eram mais empregados pelos proprietários rurais. Essa elite econômica preferia “importar” imigrantes europeus.



Os conflitos no Nordeste a

a A divisão do país em regiões foi estabelecida somente a partir da década de 1940. Portanto, o uso do termo “Nordeste” é apenas um recurso para que possamos localizar a região, utilizando uma referência atual.

A região Nordeste do país enfrentava o crônico problema da seca. Vivendo de modo precário, muitos aderiram à pregação messiânica de Antônio Conselheiro, o beato que profetizava a transformação do sertão em mar, anunciando a aproximação do dia do Juízo Final.

Instalado em uma velha fazenda no interior da Bahia, Conselheiro criou a comunidade de Belo Monte, para onde iam milhares de fiéis em busca da salvação. Logo o líder religioso se desentendeu com os poderes republicanos e os embates locais acabaram se transformando em um dos mais sangrentos confrontos internos do Brasil: a guerra de Canudos, que durou quase um ano (de novembro de 1896 a outubro de 1897). Estima-se que o conflito tenha dizimado cerca de 25 mil brasileiros, entre soldados e conselheiristas.

Aqueles que não sentiam o chamado da religião atendiam a um outro apelo: o do cangaço. O sertão nordes-


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tino virou palco para batalhas entre a polícia e grupos de cangaceiros, que exigiam dos principais coronéis o pagamento de “taxas” de proteção para suas fazendas. O mais famoso líder do cangaço foi Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Havia, além de seu bando, alguns outros de menor porte e fama.



A riqueza da borracha e do café

A Amazônia vivia, nesse momento, a fase áurea da extração da borracha. Com a riqueza que ela gerava, cidades como Manaus e Belém prosperaram. Tornaram-se importantes centros culturais.

São Paulo também passava por um momento de expansão econômica graças à cultura do café, que acelerou o processo de urbanização e de industrialização. A cidade atraía muitos brasileiros esperançosos de conseguir um trabalho estável e mais bem remunerado.

Olhar para o Brasil, nesse momento, significa ver um país multifacetado, onde pequenas zonas de prosperidade e riqueza convivem com vastas extensões marcadas pela pobreza. O desafio da literatura será representar esses contrastes.



O Pré-Modernismo: autores em busca de um país

As grandes mudanças políticas, sociais e econômicas não deixavam mais espaço para a idealização. Era o momento de buscar um conhecimento mais real e profundo das condições de vida que podiam ser observadas em um país tão grande. Por isso, o foco da produção literária se fragmenta e os autores escrevem sobre as diferentes regiões, os centros urbanos, os funcionários públicos, os sertanejos, os caboclos e os imigrantes.

Tudo era motivo de interesse para escritores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, Graça Aranha e Augusto dos Anjos.

Essa multiplicidade de focos e de interesses torna impossível tratar o Pré-Modernismo como uma escola literária. Se essa semelhança agrupa diferentes autores, o mesmo não se pode dizer das características estéticas dos romances e poemas que escrevem. Por essa razão, o Pré-Modernismo é considerado um período de transição: conserva algumas tendências das estéticas da segunda metade do século XIX (Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo), ao mesmo tempo que antecipa outras, que serão aprofundadas durante o Modernismo.



Tome nota

Como não existe um critério estético para definir a produção pré-modernista, adota-se um princípio cronológico. Por isso, é considerada pré-modernista a literatura produzida entre 1902, ano da publicação do romance Os sertões, e 1922, ano da realização da Semana de Arte Moderna, marco da chegada do Modernismo.



O projeto literário do Pré-Modernismo

Pode parecer estranho falar de um projeto “literário” se não é possível definir uma estética pré-modernista. Mas, como o conceito de projeto se define, entre outros critérios, pelas intenções que agrupam os vários escritores de um determinado período, pode-se reconhecer, no Pré-Modernismo, um projeto: o desejo de revelar o “verdadeiro” Brasil para os brasileiros.

A primeira condição para a realização desse projeto era desviar o olhar das classes sociais mais privilegiadas. Personagens que ainda não haviam aparecido na literatura, como o pequeno funcionário público, o caboclo, os imigrantes, são elevados à condição de protagonistas dos romances do período. Outros, como os sertanejos, que já tinham sido objeto da atenção dos romances regionalistas de José de Alencar e Franklin Távora, recebem um novo tratamento, mais objetivo e distanciado, bem diferente da idealização característica dos textos românticos.

Os agentes do discurso

As condições de produção da literatura, naquele momento, são muito influenciadas pelo interesse da população dos grandes centros pelas notícias diárias. Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, por exemplo, começam a escrever em jornais e falam sobre problemas nacionais. A cobertura jornalística dos conflitos entre os seguidores de Antônio Conselheiro e as tropas federais exemplifica bem esse interesse.

As inovações tecnológicas contribuem para favorecer uma circulação mais rápida dos textos. O telégrafo, por exemplo, permitiu que os correspondentes enviados a Canudos atuassem como testemunhas oculares do conflito, dando maior veracidade aos fatos notificados para os leitores distantes.

A fotografia também ajuda a estimular a busca pelo real. O exército brasileiro contrata o fotógrafo Flávio de Barros (autor da foto de abertura deste capítulo) para registrar o sucesso da campanha de Canudos.

O Pré-Modernismo e o público

Em um contexto de circulação mais eficiente, é natural que o público busque, também nas obras literárias, narrativas mais voltadas para acontecimentos históricos e atuais.

Essa expectativa é confirmada pelo imediato sucesso alcançado pelo livro Os sertões. Em pouco mais de dois meses, a primeira edição se esgota, rendendo considerável lucro ao autor.

O que o sucesso dessa obra revela é a resposta imediata dos leitores brasileiros a uma literatura que mostrava agilidade no trato com os acontecimentos contemporâneos. Outros escritores do período, como Monteiro Lobato e Lima Barreto, também verão suas obras serem bem recebidas pelo público. Era o sinal mais claro de que os leitores desejavam uma mudança de abordagem em relação aos idealizados romances do século XIX.


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Quando tratarmos da obra de Euclides da Cunha e de Augusto dos Anjos, destacaremos características específicas do trabalho que realizaram com a linguagem, porque as observações feitas aqui não refletem bem o estilo particular desses dois autores.

Linguagem: a agilidade jornalística

Como consequência natural da maior aproximação entre literatura e rea lidade, a linguagem utilizada nos textos modifica-se, torna-se mais direta, mais objetiva, mais próxima da linguagem característica do texto jornalístico.

Do conjunto de romances e contos publicados na época, emergem as tendências que dentro de duas décadas serão agitadas como bandeiras pelos primeiros modernistas: a desmistificação do texto literário, a utilização de um português mais “brasileiro”, a crítica à realidade social e econômica contemporânea, enfim, a constituição de uma literatura que retrate verdadeiramente o Brasil.

Literatura e contexto histórico


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