Sam bourne o código dos justos


O rabino Mandelbaum levantou-se da cadeira, arrastou-se em vol­ta da mesa para chegar à estante logo atrás da cabeça de Will



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O rabino Mandelbaum levantou-se da cadeira, arrastou-se em vol­ta da mesa para chegar à estante logo atrás da cabeça de Will.

Aqui, este é do Talmud Yerushalmi, extraído do tratado que fala dos dias de jejum. Tova Chaya, nós o estudamos juntos?



Will começava a ficar perdido:

Perdão, de onde é este?



TC adiantou-se:

  • É do que se conhece como talmude palestino: o livro de comen­tários rabínicos escritos em Jerusalém.

  • Quando?

O rabino Mandelbaum, já de volta à sua cadeira e folheando as pá­ginas, respondeu sem erguer os olhos.

  • O conto é do século III de nossa era comum. — A era comum. Um eufemismo para "d.C", depois de Jesus Cristo, expressão que ne­nhum judeu crente usaria. — Este talvez seja o mais antigo conto do gênero. — Percorria o texto com os olhos. — Muito bem, então não precisamos de todos os detalhes, mas nessa história, o rabino Abbahu observa que quando um certo homem está presente na congregação, as preces da comunidade por chuva são atendidas. Quando ele não está, nada de chuva. Bem, de qualquer modo, acaba-se por constatar que logo esse homem trabalha, vejam só, num prostíbulo! Perdoe-me, Tova Chaya, por falar dessas coisas.

  • Quer dizer — interrompeu Will — que é um cafetão? E apesar disso ele é um dos justos?

É o que diz o Talmude.

Will sentiu como se um estilhaço de gelo tivesse deslizado por suas costas. Arrepiou-se, seus ombros tremeram. Não conseguia ouvir o que TC ou o rabino diziam. Em sua cabeça só havia espaço para uma única voz. A de Letitia, a mulher que conhecera em Brownsville. Ouvia as palavras dela altas e claras. O homem que mataram ontem à noite talvez tenha pecado todos os dias da vida que Deus lhe deu, mas foi o homem mais justo que já conheci. Ela havia dito isso sobre Hovvard Macrae, que, como o homem daquela congregação do século III, ganhava a vida como cafetão.

As histórias quase parecem deleitar-se com esse tipo de para­doxo — dizia o rabino. — Homens bons disfarçados como humildes ou até como grandes pecadores.



A cabeça de Will latejava. Pat Baxter, o louco miliciano que, embo­ra envolvido com fanáticos portadores de arma, jamais fora preso e doara um de seus órgãos a um completo estranho. Gavin Curtis, des­prezado como um político corrupto, mas canalizando dinheiro para as pessoas mais pobres do mundo. Samak Sangsuk, executivo tailandês das altas esferas, mas que providenciava discretamente para que os marginalizados encontrassem a dignidade na morte.

Ele mal conseguia acompanhar seus próprios pensamentos. Lem­brou-se do carro curiosamente modesto de Curtis quando fugiu do as­sédio da imprensa. E o que dissera Geneviève Huntley sobre o doador do rim? O único pedido do Sr. Baxter foi o anonimato. Foi somente o que me pediu em troca do que fez. Todos esses homens haviam praticado ações nobres — e todos as fizeram em segredo.
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