Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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Descubra mais

As Ciências Sociais na biblioteca

ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de; EUGENIO, Fernanda (Org.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

Pesquisadores analisam trajetórias, projetos e identidades de jovens em realidades urbanas.

CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da rebeldia: a juventude em questão. 2ª ed. São Paulo: Senac, 2003.

Análise sociológica sobre os reflexos das mudanças no comportamento dos jovens na segunda metade do século XX: da política ao lazer.

DUARTE, Neide. Frutos do Brasil: histórias de mobilização juvenil. São Paulo: Agência de Mobilização Social, 2006.

Histórias de jovens de várias regiões comprovam que a cordialidade do brasileiro, como concebe Sérgio Buarque de Holanda no livro Raízes do Brasil, não significa passividade nem submissão.

As Ciências Sociais no cinema

Amigo é pra essas coisas, 2005, direção de Pierre Jolivet, França.

Ambientado nas chamadas banlieues (periferias) de Paris, capital da França, o filme mostra interdições sociais na luta pela vida de quatro jovens amigos.

LEGENDA: Imagem de divulgação do filme Amigo é pra essas coisas (2005), dirigido por Pierre Jolivet.

FONTE: Photos 12 - Cinema/DIOMEDIA



Anos rebeldes, 1992, direção de Denis Carvalho, Brasil.

No Brasil pós-golpe de 1964, um jovem estudante se apaixona pela filha de um jornalista de esquerda.



Últimas conversas, 2014, direção de Eduardo Coutinho, Brasil.

Documentário em que estudantes de Ensino Médio revelam memórias, medos e expectativas para o futuro.



68 - conflito de gerações, 1987, direção de Stevan Kovacs, Estados Unidos.

No contexto de protestos contra a Guerra do Vietnã e da onda hippie, o autoritarismo, a guerra e o consumismo são contestados.

As Ciências Sociais na rede

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea. Disponível em: www.ipea.gov.br. Acesso em: 20 jul. 2015.



Site informa artigos e resultados de pesquisas no Brasil.

Portal da Juventude. Disponível em: www.juventude.gov.br. Acesso em: 20 jul. 2015.



Site do governo federal dedicado à questão da juventude no Brasil.

Bibliografia

ABAD, José Miguel. Crítica política das políticas de juventude. In: FREITAS, M.; PAPA, de C. (Org.). Políticas públicas: juventude em pauta. São Paulo: Cortez, 2003.

ABAD, José Miguel. Juventude e ação política. Onda Jovem, n. 5, julho 2006. In: Observatório Jovem. Disponível em: www.uff.br/obsjovem/mambo/index2.php?option=com_content&task=view&id=95&. Acesso em: 20 jul. 2015.

ABRAMO, Helena. Condição juvenil no Brasil contemporâneo. In: ABRAMO, Helena; BRANCO, Pedro (Org.). Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto Cidadania, 2005. p. 37-72.

ABRAMO, Helena. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. Revista Brasileira de Educação, n. 5, maio/jun./jul./ago. 1997, n. 6, set./out./nov./dez. 1997, p. 25-36. Disponível em: www.anped.org.br/rbe/rbe/rbe.htm. Acesso em: 25 mar. 2013.

ABRAMO, Helena; MARTONI, Pedro (Org.). Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.

ABRAMOWAY, Miriam; FEFFERMANN, Marisa. Se ficar o bicho come, se correr... Sociologia Especial Ciência & Vida, ano I, n. 2, 2007, p. 46-55.

ALMEIDA, Maria Isabel de; EUGENIO, Fernanda (Org.). Culturas jovens: novos mapas do afeto. São Paulo: Jorge Zahar, 2006.

LEGENDA: Capa do livro Culturas jovens: novos mapas do afeto, organizado por Marisa Isabel Mendes de Almeida e Fernanda Eugenio (Jorge Zahar).

FONTE: Reprodução/Jorge Zahar Editor

ANISTIA Internacional. Campanha Jovem Negro Vivo. Disponível em: https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovivo. Acesso em 18 dez. 2015.

ARCE, José Manuel Valenzuela. Vida de barro duro: cultura popular e grafite. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1999.

BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1976.

BAUMAN, Zygmunt. Il corpo come compito. In: BAUMAN, Zygmunt. La società dell'incertezza. Bologna: Il Mulino, 1999. p. 127-149.



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LEGENDA: Capa do livro Vida de barro duro: cultura popular e grafite, de José Manuel Valenzuela Arce (Ed. da UFRJ)

FONTE: Reprodução/UFRJ

BAUMAN, Zygmunt. Vite di corsa: come salvarsi della tirannia dell'effimero. Bologna: Il Mulino, 2008.

BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

BRASIL. SNJ - Secretaria Nacional da Juventude. Pesquisa de Opinião Pública. Agenda Juventude Brasil 2013. Disponível em: www.uff.br/observatoriojovem/sites/default/files/documentos/pesquisa_perfil_da_juventude_snj.pdf. Acesso em: 21 dez. 2015.

CARDOSO, Ruth; SAMPAIO. Helena. Estudantes universitários e o trabalho. Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 26, ano 9, out. 1994, p. 30-50.

CARMO, Paulo Sérgio do. Culturas da rebeldia: a juventude em questão. 2ª ed. São Paulo: Senac-SP, 2003.

CASTEL, Robert. A discriminação negativa: cidadãos ou autóctones? Petrópolis: Vozes, 2008.

CASTELO BRANCO, Maria Teresa. Jovens sem-terra: identidades em movimento. Curitiba: Ed. da UFPR, 2003.

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o estado: pesquisas de antropologia política. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.

CLASTRES, Pierre. Arqueologia da violência: pesquisas de antropologia política. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

DAYRELL, Juarez; GOMES, Nilma. A juventude no Brasil. Disponível em: www.cmjbh.com.br/arq_Artigos/SESI%20JUVENTUDE%20NO%20BRASIL.pdf. Acesso em: 25 mar. 2013.

DUARTE, Neide. Frutos do Brasil: histórias de mobilização juvenil. São Paulo: Aracati - Agência de Mobilização Social, 2006.

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em: 29 jun. 2015

FLANDRIN, Jean-Louis. Famílias: parentesco, casa e sexualidade na sociedade antiga. Lisboa: Estampa, 1992.

FORACCHI, Marialice. A juventude na sociedade moderna. São Paulo: Pioneira, 1972.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

HERSCHMANN, Micael. As imagens das galeras funk na imprensa. In: HERSCHMANN, Micael. et al. (Org.). Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

IBASE - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas e Instituto Pólis. 2008 (Pesquisa: Juventudes Sul-americanas).

IBGE. Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2014. Disponível em: www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/anos_anteriores_2014.shtm. Acesso em: 18 jan. 2016.

KERBAUY, Maria Teresa. Políticas públicas ou políticas governamentais? Estudos de Sociologia. Araraquara, 18/19, 2005, p. 193-203.

LANGER, André. O mito da qualificação como requisito para a superação do desemprego. A odisseia da exclusão dos jovens do Brasil. In: ARAÚJO, S. M.; BRIDI, M. A; FERRAZ, M. (Org.). O sindicalismo equilibrista: entre o continuísmo e as novas práticas. Curitiba: Ed. da UFPR/SCHLA, 2006, p. 239-258.

MACEDO, José Rivair; OLIVEIRA, Mariley W. Uma história em construção. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.

MANNHEIM, Karl. Diagnóstico de nosso tempo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980.

LEGENDA: Capa do livro Diagnóstico de nosso tempo, de Karl Mannheim (Zahar).

FONTE: Reprodução/Zahar Editores

MATOS, Olgária C. F. Paris 1968: as barricadas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1981.

MEAD, Margaret. Coming of age in Samoa. Nova York: William Morrow, 1961.

NOVAES, Regina. Juventude e sociedade: jogos de espelhos. Sociologia Especial Ciência & Vida, ano I, n. 2, 2007, p. 6-15.

OSSOWSKI, Stanislaw. Estrutura de classes na consciência social. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.

PAIS, José Machado. A construção sociológica da juventude-alguns contributos. In: Análise Social, v. XXV, 1990, p. 157-159. Disponível em: www.ics.ul.pt. Acesso em: 20 jul. 2015.

PERES, Maria Fernanda; CARDIA, Nancy; SANTOS, Patrícia dos. Homicídios de crianças e jovens no Brasil, 1980 a 2002. Relatório de Pesquisa. São Paulo: Núcleo de Estudos da Violência/USP, 2006.

SINGER, Paul. A juventude como corte: uma geração em tempos de crise social. In: ABRAMO, Helena; BRANCO, Pedro (Org.). Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Instituto Cidadania, 2005. p. 27-35.

SPOSITO, Marília; CARRANO, Paulo. Juventude e políticas públicas no Brasil. Revista Brasileira de Educação, set./out./nov. 2003, n. 24, p. 16-39. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a03.pdf. Acesso em: 20 jul. 2015.

TERTO, Severino Santos. Juventude, o grito da geração. Mundo Jovem. Disponível em: www.mundojovem.com.br/poesias-poemas/juventude/o-grito-da-geracao. Acesso em: 29 jun. 2015.

UNE União Nacional dos Estudantes. Disponível em: www.une.org.br/memoria/. Acesso em: 20 dez. 2015.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2014. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 4 jul. 2015.

WEBER, Max. Economia y sociedad; esbozo de sociologia comprensiva. vol. 1. Bogotá: Fondo de Cultura Econômica, 1977.

WELLER, Wivian. Karl Mannheim: Um pioneiro da Sociologia da Juventude. XIII Congresso Brasileiro de Sociologia. Recife: UFPE, 2007. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69922010000200004&script=sci_arttext. Acesso em: 20 jul. 2015.



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CAPÍTULO 12 - O ambiente como questão global

LEGENDA: Mancha de lama tóxica atinge a foz do rio Doce, em Linhares (ES), em dezembro de 2015. O rio foi contaminado em praticamente toda a sua extensão após o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério de ferro em novembro daquele ano, causado pela manutenção inadequada de uma grande mineradora.

FONTE: Avener Prado/Folhapress



ESTUDAREMOS NESTE CAPÍTULO:

As aceleradas mudanças provocadas pelo ser humano no meio em que vive, muitas das quais têm relação com o processo de dissociação simbólica entre o ser humano e a natureza. A produção e o consumo em massa, especialmente a partir do século XX, têm degradado habitats, destruído diversas espécies da flora e da fauna e comprometido parte das reservas de energia do planeta Terra. O resultado é a ameaça sobre a vida no planeta. São discutidos, neste capítulo, temas como desenvolvimento capitalista, sociedade de risco, separação natureza-cultura, ação humana, consumismo, desenvolvimento sustentável e consciência ecológica.

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A relação ser humano-natureza

Se você assistir ao filme A guerra do fogo, do diretor Jean-Jacques Annaud, produzido em 1981, vai perceber o quanto os seres humanos sempre tiveram de enfrentar riscos, a grande maioria deles de ordem natural: as secas, os terremotos, os raios, as tempestades, os vulcões, as enchentes. Com o desenvolvimento das técnicas e tecnologias, muitos desses riscos podem, hoje, ser previstos e ter seus efeitos reduzidos.

Na sociedade contemporânea, entretanto, predominam riscos de outra ordem - são aqueles produzidos ou intensificados pela própria humanidade. Isso significa que esses riscos estão ligados à forma como nosso conhecimento aplicado se relaciona com aquilo que se passou a denominar natureza. Em outras palavras, uma grande ameaça contra a vida humana no planeta Terra resulta da maneira como, na maioria das vezes, empreendemos o desenvolvimento econômico, social, político, cultural e o modo como nos organizamos para garantir nossa sobrevivência.

Em sua trajetória de ocupação da Terra, os seres humanos têm transformado a natureza. Mesmo antes da industrialização e da constituição da sociedade capitalista, as ações humanas provocaram mudanças ambientais, porém em ritmo mais lento. A agricultura provavelmente significou a primeira tentativa de domesticação da natureza. A partir do século XX, a produção e o consumo em massa característicos do sistema fordista implicaram a padronização e a produção de mercadorias em larga escala, visando à competitividade. Com isso, as mudanças no ambiente se aceleraram e se intensificaram, por causa da exploração intensiva de recursos naturais. Consequentemente, em frequência e velocidade nunca vistas, algumas espécies da flora e da fauna foram extintas ou postas em risco, reservas de recursos minerais começaram a diminuir ou se esgotaram e o solo e o subsolo foram degradados.

LEGENDA: Na tirinha de Bill Watterson, o personagem Calvin acredita na ideia de controle absoluto sobre a natureza.

FONTE: © 1988 Bill Watterson/Dist. By Atlantic Syndication/Universal Uclick

Nas sociedades que originaram a civilização ocidental, foi se constituindo, aos poucos, a ideia de que os humanos seriam superiores às demais coisas em razão de sua capacidade de transformá-las mediante o trabalho. Decorreu desse processo a premissa de que ser humano e natureza são distintos, como se não fôssemos parte dela. Desse modo, o ser humano se encontra alienado como ser natural, isto é, se torna estranho a si mesmo e ao mundo em que vive, não se reconhecendo nele. A alienação é um fenômeno social de estranhamento do indivíduo ou grupo, de uma instituição ou de uma sociedade quanto aos resultados de sua própria atividade, um distanciamento em relação a si mesmo, ao contexto em que vive e a outros seres humanos.

O resultado da alienação do ser humano em relação à natureza são conflitos de diversas ordens: desarticulação das práticas de culturas tradicionais, destruição dos recursos disponíveis no planeta, políticas que promovem a desagregação de comunidades, interferências nos processos de transmissão de conhecimento, desarranjos sociais. Esses e outros conflitos e riscos têm levado muitos estudiosos e militantes a duvidar dos benefícios dos avanços da ciência e daquilo que a partir do século XIX foi denominado "progresso".

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora

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Progresso ou dominação?

Em suas reflexões sobre o contexto atual, os sociólogos Anthony Giddens (1938-) e Boaventura de Sousa Santos (1940-) mostram que as promessas de emancipação social por meio do progresso anunciadas pela modernidade não se concretizaram. A emancipação social é um conceito-chave na modernidade ocidental, um ideal de que o progresso histórico das técnicas e instituições sociais levaria o ser humano a superar a rudeza do trabalho e da dominação social por ser dotado de vontade e liberdade.

Ao contrário do esperado processo liberador das limitações humanas e sociais, a modernização acelerada trouxe, com frequência, perigos cada vez mais reais de catástrofes ecológicas, guerras nucleares, falta de água e outros riscos à vida. Os filósofos e sociólogos alemães Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969), ligados à Teoria Crítica, apontam que nos séculos XIX e XX o conhecimento muitas vezes não serviu para a emancipação do ser humano (ou seja, em forma de razão crítica). Ao contrário: foi tomado pela lógica da razão instrumental, também denominada técnico-científica, que emprega a técnica e a tecnologia como instrumentos para reforçar a dominação. No contexto da sociedade moderna, isso significa que a natureza passou a ser vista, por parte da humanidade, como fonte de recursos para satisfazer e permitir a expansão da produção capitalista.

Um dos custos da cisão entre seres humanos e natureza é a ameaça à existência da vida humana.

Essa separação ideologicamente construída entre ser humano e natureza se consolidou principalmente nos dois últimos séculos. Foi com esse pensamento que os países imperialistas europeus, sob o pretexto de "civilizar" o mundo, submeteram as populações das Américas, da África e da Ásia a uma lógica de acumulação (ou crescimento) do capital econômico, ampliando o capitalismo industrial.

LEGENDA: Trabalhadores africanos, asiáticos e europeus em mina de ouro na África do Sul, em fotografia produzida entre o final do século XIX e o início do XX. O imperialismo europeu empregou populações e recursos de outros continentes na expansão do capital econômico.

FONTE: Library of Congress Prints and Photographs Division, Washington, D.C./Creative Commons



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No entanto, formas de exploração intensiva de recursos naturais - e também humanos - remontam a um período anterior, o da expansão mercantilista europeia. Estima-se, por exemplo, que milhares de indígenas foram mortos durante a ocupação do atual território brasileiro pelos portugueses e seus descendentes. Isso ocorreu tanto em conflitos pela posse das terras e pela exploração dos recursos nelas disponíveis quanto em decorrência da disseminação de doenças contra as quais os indígenas não tinham defesas imunológicas. Sociedades inteiras foram desestruturadas com a ruptura de relações de troca e de parentesco e também da continuidade de costumes e manifestações culturais; muitas outras foram dizimadas. Colaborou para isso a concepção das missões religiosas, que viam o indígena como um ser primitivo e herege que deveria aprender a cultura e os costumes dos europeus - suas crenças, seu modo de comer, se vestir e se relacionar.

LEGENDA: Na cabana de Pindobuçu (1920), óleo sobre tela de Benedito Calixto, representa o contato, no século XVI, entre padres portugueses e indígenas do povo Tamoio, no litoral do atual estado de São Paulo. Se, por um lado, os jesuítas buscavam proteger a integridade física dos indígenas de ataques dos colonizadores, por outro, suas atividades de catequização levaram à transformação radical ou ao desaparecimento de costumes e manifestações tradicionais desses povos.

FONTE: Reprodução/Museu Paulista da USP, São Paulo, SP.

Mesmo nos séculos XIX e XX, após a independência e a consolidação dos limites do território do Brasil, as populações indígenas continuaram sendo atingidas de várias maneiras por políticas de Estado e pela ação de não indígenas. Diversas ondas de migração para o interior do país foram impulsionadas tanto pela exploração de recursos vegetais (como o látex) e minerais (como metais preciosos) quanto pela busca de terras para agricultura e pecuária, levando a novos conflitos. Expedições realizadas pela Amazônia brasileira no último século mostraram também que os indígenas que haviam incorporado costumes e crenças trazidos da Europa - por muito tempo denominados "aculturados" - eram explorados e viviam na miséria, situação corrente ainda hoje. Somente no início do século XX foram criados os primeiros serviços de proteção aos indígenas (veja boxe na página seguinte). A Fundação Nacional do Índio (Funai), criada em 1967, é hoje o órgão governamental responsável pelas políticas de reconhecimento e demarcação de terras indígenas e de proteção a comunidades indígenas.

Entre as consequências da dizimação de populações, podemos citar o desaparecimento de muitas línguas. Segundo a Unesco, em 1900, havia no mundo cerca de 10 mil línguas; hoje sobrevivem apenas cerca de 6,7 mil. Com isso, perde-se também informação cultural e científica, presente nos saberes tradicionais dessas comunidades - muitas das quais, ao longo dos séculos, asseguraram o equilíbrio ambiental por meio do manejo adequado dos recursos.



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Boxe complementar:



Do indigenismo sertanista às políticas dos indígenas

Apesar das resistências de grupos políticos e econômicos, nas últimas décadas desenvolveram-se políticas públicas específicas para os povos indígenas. Em geral elaboradas ou implementadas pela Funai, elas visam garantir os direitos materiais e a preservação da cultura imaterial desses povos. Além disso, cada vez mais grupos e entidades indígenas multiétnicas se organizam para reivindicar seus direitos e empregar tecnologias em favor de suas causas, seja de forma autônoma, seja em parceria com antropólogos e organizações não governamentais.

LEGENDA: Integrantes do Movimento das Mulheres Camponesas participam de passeata em Brasília (DF) contra a violência sofrida por indígenas Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul e a favor da demarcação das terras desse povo. Foto de 2013.

FONTE: Beto Barata/Estadão Conteúdo/AE

A relação entre o Estado e os povos indígenas no Brasil teve uma primeira inflexão com a atuação do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Até então, a posição dominante nas instituições públicas era a de dizimar populações consideradas hostis ou resistentes à ocupação econômica e demográfica estimulada pelo governo. Escalado pelo Exército para participar da instalação de comunicações telegráficas no Mato Grosso e no atual estado de Rondônia (que, em sua homenagem, recebeu este nome em 1956), Rondon evitou enfrentamentos violentos com os povos indígenas da região. Com base em seus contatos, fez registros sobre a vida de povos como os Bororo, os Nhambikwara e os Makurape. Rondon foi o primeiro diretor do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), criado pelo governo na década de 1910. A atuação do órgão tinha inspiração positivista: orientava-se pela ideia de que o indígena deveria se integrar à sociedade brasileira trabalhando nos empreendimentos de ocupação do interior do país e aprendendo valores ocidentais.

A política oficial para os povos indígenas teria uma segunda mudança a partir das expedições dos irmãos Orlando (1914-2002), Cláudio (1916-1998) e Leonardo Villas-Bôas (1918-1961). Após conviverem por um longo período, nos anos 1940 e 1950, com os povos indígenas da região do rio Xingu, eles promoveram a necessidade de reconhecer e delimitar as terras dos indígenas a fim de que estes pudessem preservar seu modo de organização social e sua cultura. Com apoio de antropólogos como Darcy Ribeiro (1922-1997) e do próprio Rondon, os irmãos Villas-Bôas defenderam a criação do Parque Nacional do Xingu, instituído oficialmente em 1961.

Com a criação da Funai, a ideia de autodeterminação dos povos indígenas passou a orientar as políticas oficiais. A defesa de povos indígenas continua sendo uma preocupação porque muitos deles se encontram sujeitos à pressão de atividades econômicas na região amazônica, como a extração da madeira e minérios, a exploração de petróleo e a expansão do agronegócio. Em regiões mais densamente habitadas ou de ocupação não indígena antiga, como o Mato Grosso do Sul e o sul da Bahia, muitos povos enfrentam grandes dificuldades para conseguir o reconhecimento de suas terras tradicionais (veja mapa na página seguinte).

LEGENDA: Preparo do polvilho do beiju por meio da lavagem da massa de mandioca-brava na aldeia Aiha, do povo Kalapalo, no Parque Indígena do Xingu (MT). Apesar das adversidades, muitos povos indígenas lutam para manter vivos sua língua, seus conhecimentos e sua cultura.

FONTE: Fabio Colombini/Acervo do fotógrafo

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FONTE: INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Disponível em: http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/demarcacoes/localizacao-e-extensao-das-tis. Acesso em: 28 jan. 2016. Créditos: Banco de imagens/Arquivo da editora

Fim do complemento.

Pausa para refletir

Leia o texto a seguir, do biólogo e zoólogo Miguel Rodrigues, no qual ele apela para a preservação de nossa diversidade biológica. Um dos exemplos mais elucidativos é o dos levantamentos da biota, isto é, do conjunto de seres vivos de uma região, que geralmente se fazem por ocasião da construção de empreendimentos hidrelétricos. Depois de ler o texto, responda às questões.



À parte de um exército de zoólogos e botânicos sistematas, poucos demonstram interesse em aproveitar essa oportunidade única para ampliar o conhecimento sobre nossa diversidade biológica. Conhecer melhor as doenças de nossos animais e plantas nativos certamente tem importância estratégica para um país que vem substancialmente alterando seus hábitats naturais. Estudar em curto, médio e longo prazos os efeitos dos represamentos causados por esses empreendimentos sobre as comunidades animais e vegetais são outras oportunidades oferecidas pelo cenário experimental, provocadas por obras desse tipo. Finalmente, poderíamos aproveitar a fauna e a flora desalojadas para, pelo menos, fazê-las conhecidas da maioria do povo, contribuindo por pouco que fosse para elevar o nível do conhecimento, da educação ambiental e da consciência social das gerações futuras.

RODRIGUES, Miguel. Biodiversidade: do planejamento à ação. Ciência & Cultura - temas e tendências: biodiversidade. Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ano 55, n. 3, jul./ago./set. 2003. p. 48.



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