Coleção História em Debate 2 História Ensino Médio


Quais são os fatores que justificam a escravização na Mauritânia? 2



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1. Quais são os fatores que justificam a escravização na Mauritânia?

2. Identifique como a religião se insere no caso desse texto.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 180

Viajando pela história

Formas de escravidão na África

Na África da Antiguidade, como resultado das guerras e da dominação de um povo sobre outro, havia relações de escravidão no continente.



Escravidão doméstica

Nos confrontos entre os vilarejos africanos era comum que os vitoriosos escravizassem alguns dos vencidos, numa relação que hoje chamamos de escravidão doméstica, cujo objetivo era utilizar a força de trabalho dos cativos em geral na agricultura de pequena escala, familiar.

Nesse tipo de relação, os escravos eram poucos e, apesar de sua posse assegurar poder e prestígio aos senhores, acabavam associados à unidade familiar, porque representavam a capacidade de autossustentação da linhagem.

A preferência para o cativeiro, nesse caso, era por mulheres e crianças, que garantiriam a ampliação do grupo do qual passavam a fazer parte, sendo gradativa a incorporação dos escravos na família: como os filhos de escravos não podiam ser vendidos ou trocados, iam, de geração em geração, perdendo a condição de cativos e se assimilando à linhagem.

A guerra não era o único meio de escravização na África da Antiguidade. Em muitas sociedades, o cativeiro servia de punição a quem fosse condenado por roubo, assassinato e, dependendo da sociedade, feitiçaria e adultério. Outras maneiras de obter escravos consistiam na penhora, no rapto individual, na troca e na compra etc. Entretanto, apesar da incorporação dos escravos aos núcleos familiares, sentenciar alguém à escravidão ainda significava desenraizá-lo.

Escravidão no mundo islâmico

Após a ocupação do Norte da África pelos egípcios, entre os séculos VII e VIII, a escravidão doméstica passou a conviver com o comércio intenso de escravos.

A presença muçulmana modificou a escravidão africana, com a organização, pelos árabes, do tráfico de escravos como empreendimento comercial em grande escala no continente.

A partir do final do século VIII, os árabes disseminaram a crença no islamismo por meio da palavra, dos acordos comerciais e do uso de armas, em episódios que ficaram conhecidos como jihad – ou guerra santa. As expedições tinham o objetivo de islamizar a população.

Entre os povos que se recusassem a aceitar o islamismo, eram escolhidos membros para ser escravizados e seguir com as caravanas, servindo como moeda de troca e carregadores de bagagens, mantimentos e mercadorias nas viagens pelas longas rotas que cortavam o Deserto do Saara.

Os escravos transportados por essas caravanas eram trocados por outras mercadorias e vendidos em grandes centros comerciais. Todo o mundo árabe foi, aos poucos, revelando-se um ótimo mercado para a comercialização dos escravos levados da África, da Índia, da China e do sudeste da Ásia à Europa Ocidental.



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Biblioteca Nacional da França, Paris/Akg-Images/Latinstock

Ilustração em manuscrito árabe de 1237 que representa um mercado de escravos.
Página 181

Uma nova fase da islamização começou no século XVIII, também auge da época escravista. A servidão já existia em várias sociedades altamente hierarquizadas da África Ocidental [...]. Porém o rapto de seres humanos se acelerou e novos Estados, tais como Dahomey e Ashanti (atual Gana) surgiram no litoral em resposta à crescente demanda europeia por escravos africanos – na sua maioria trazidos para a América. Os fuzis que os vendedores indígenas de escravos receberam em troca da mercadoria humana facilitavam novas caças que vitimaram populações inteiras, enquanto transformavam os grupos caçadores e mercadores em novas elites. Parte dos escravos vendidos eram muçulmanos. Foram eles que trouxeram os primeiros núcleos do islã para as Américas. No entanto, na África Oriental, escravos comercializados pelo sultão de Zanzibar foram para o próprio Oriente Médio.

DEMANT, Peter. O mundo muçulmano. São Paulo: Contexto, 2004. p. 141-142.

Comércio intercontinental de escravos

O comércio de escravos no continente africano teve origem por volta de 2680 a.C., quando o faraó Snefru retornou de sua campanha na Núbia com milhares de prisioneiros. Mais tarde, gregos, romanos, bizantinos, árabes e outros povos continuaram a traficar e escravizar seres humanos.

Esse comércio era pequeno se comparado com o tráfico inaugurado pelos europeus na Era Moderna. Embarcavam-se algumas dezenas ou centenas de cativos, sem provocar nenhum grande abalo demográfico.

A expansão islâmica aumentou significativamente o tráfico de africanos, bem como o número de pessoas escravizadas. Nas sociedades islâmicas, contudo, os cativos podiam ser usados no governo e no serviço militar, o que aumentava as chances de se tornarem livres. Além disso, era comum a emancipação de escravas concubinas que tivessem filhos com seu amo. Ainda assim, há de se considerar que populações inteiras foram escravizadas no período.

Os portugueses, no entanto, foram os primeiros a praticar o comércio intercontinental de pessoas. Após chegarem ao continente africano em 1415, quando conquistaram Ceuta, passaram a realizar diversas expedições em busca de mercadorias. Nesses contatos iniciais, eles se depararam com os escravos. Em troca das mercadorias europeias, passaram a levar ouro e escravos, primeiro para Portugal e, a partir do século XVI, para sua colônia na América. Para os africanos comerciantes de escravos, além da obtenção de mercadorias, havia a possibilidade de se livrar dos inimigos, que eram então levados para regiões distantes, de onde não poderiam voltar.

A presença portuguesa e, posteriormente, de outros povos europeus na África, deu ao comércio de escravos uma dimensão intercontinental. A partir de então, algumas porções do continente africano passaram a ser exportadoras de mão de obra para as novas regiões conquistadas na América.



Organizando ideias

Leia o texto e faça o que se pede.

Na sua forma primitiva, a escravidão funcionava a margem da sociedade. Existiam alguns cativos que não tinham conseguido pagar dívidas, que tinham sido condenados por crimes, acusados de bruxaria, capturados por guerra [...]. Entretanto, a estrutura básica da sociedade era a unidade de parentesco. Os escravos emergem quase como produtos incidentais da interação entre grupos familiares. [...] Uma vez que os comerciantes organizaram a coleta de escravos, a troca foi transformada. Da mesma forma que os escravos continuavam a se movimentar de um lado para outro entre os grupos de parentesco, com pouca, se é que havia alguma, discrepância no equilíbrio de seu fluxo, agora os cativos também eram dirigidos para o mercado de exportação. O efeito foi a perda pela África desses escravos e a substituição de seres humanos por mercadorias importadas.

LOVEJOY, Paul. A escravidão na África: uma visão de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 84-85.



1. Explique a relação de escravização na África antes da chegada dos europeus.

Professor, as orientações e resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 182

O comércio de pessoas

No contexto da expansão comercial europeia, os portugueses exploraram, ao longo do século XV, a costa africana. O tráfico de escravos pouco a pouco se tornou uma atividade rentável. Com a colonização da América, a demanda por cativos aumentou. A importância econômica do tráfico elevou-se, e os lusitanos ganharam concorrentes: ingleses, holandeses, franceses e espanhóis.

O tráfico atlântico gerou mudanças na África, pois o aumento ou a diminuição da escravidão interna estavam relacionados a uma maior ou menor demanda externa.

Na busca por cativos, os conflitos entre africanos aumentaram, as economias foram desarticuladas. Em algumas regiões, as perdas demográficas – sobretudo de pessoas do sexo masculino – foram tão grandes que não há como medi-las.



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© DAE/Alessandro Passos da Costa

Fonte: ELTIS, David; RICHARDSON, David. Atlas of the transatlantic slave trade. New Univertiy Press, 2010. p. 18-19.

Organizando ideias

A eficácia e abrangência do tráfico não seria alcançada se não houvesse cumplicidade das sociedades africanas. [...]

No entanto, vale repetir: foi provavelmente graças à existência da escravidão na África Atlântica pré-colonial que os navios negreiros puderam ser rapidamente abastecidos. Os europeus não inventaram a instituição, mas sim destinaram para outro fim – o comercial, cujas dimensões eram então inéditas.

DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à história da África Atlântica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 38 e 40.



1. De acordo com as informações do texto, explique o que significa a dimensão “comercial” da escravidão inaugurada pelos portugueses.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 183

O colonialismo europeu

A necessidade de metais preciosos, cereais e especiarias impulsionou os portugueses a tentar alcançar as Índias por via marítima. Para isso, era necessário contornar a costa africana. A tomada de Ceuta, em 1415, foi o marco inicial. O Cabo Bojador foi vencido em 1434; o Forte de São Jorge da Mina (entreposto de ouro e escravos) foi construído em 1482; já o Cabo da Boa Esperança, na extremidade sul do continente, foi alcançado em 1488 e, finalmente, Vasco da Gama conseguiu, em 1498, chegar às Índias.

No século XVI, a África Ocidental passou para a órbita do capitalismo europeu, que estava em franca expansão. Por um lado, os africanos exportavam matérias-primas, mão de obra (escravos) e metais preciosos; por outro, consumiam manufaturas europeias.

Até meados do século XIX, o controle político europeu no continente era mínimo, reduzindo-se a pequenos enclaves com objetivos comerciais. Contudo, havia algumas exceções: os portugueses ocuparam a costa de Angola e parte de Moçambique, os holandeses fundaram a colônia do Cabo em 1652 e os britânicos fundaram Freetown (Serra Leoa) para abrigar escravos libertos.



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Print Collector/Diomedia

David Livingstone, missionário escocês e explorador da África, c. 1878. Ilustração.

No século XIX surgiram novos fatores de transformação na história do continente, que tinham como base o desejo dos países europeus de levar seu comércio para a África e, assim, intervir na vida social e econômica das populações locais.

As economias europeias mais desenvolvidas e industrializadas necessitavam de novos mercados consumidores. Isso impulsionou a colonização, uma vez que as colônias representavam pontos estratégicos nesse sentido.

Para que o comércio fosse instituído, os europeus precisaram conhecer melhor a população e os recursos do interior do continente, acabar com o tráfico negreiro e estabelecer a exportação africana de determinados produtos. Os missionários tinham papel importante nessa tarefa, uma vez que, por meio da tentativa de imposição da maneira cristã de viver aos nativos, abriam espaço também para a assimilação dos conceitos de consumo europeus e ajudavam na compreensão das atividades locais.

As novas relações comerciais estimularam as trocas de produtos que já havia no continente, mas não criaram novas atividades econômicas. Representaram apenas o aumento do comércio instituído na época do tráfico negreiro, configurando a permanência de sistemas políticos, da rede de rotas comerciais, das relações sociais e econômicas e do sistema de produção agrícola preexistentes.

Assim, no início do século XIX, as tradições herdadas do século anterior tiveram muito mais importância que as mudanças vindas da nova instalação europeia, que só passaram a exercer maior influência nos períodos seguintes da relação Europa -África.



Glossário
Enclave: território cujas fronteiras geográficas estão totalmente localizadas dentro de outro território.
Página 184

Organizando ideias

Com base nas informações do texto e do quadro, responda às questões propostas.

O óleo de palma é uma gordura vegetal obtida a partir da polpa da fruta da palmeira de óleo africana, conhecida no Brasil como dendezeiro, cujo nome científico é Elaeis guineensis. É nativa do Oeste Africano, na região do Golfo da Guiné, sendo encontrada também originalmente na África Central, Leste Africano e em algumas localidades da ilha de Madagascar. [...]

Com a emergência da Revolução Industrial Inglesa, se tem uma demanda de óleo de palma para velas e para servir de lubrificante para o maquinário. Com isso se inicia a produção de óleo de palma para a exportação, ainda incipiente, que tem registros na primeira metade do século XIX na África subsaariana, no Reino de Daomé (hoje Benin) e no Delta do Níger (Nigéria) [...].

Depois de 1900, há um grande crescimento nas plantações e exportações de óleo de palma na África Central – Congo – com a chegada dos irmãos Lever (transformada depois na multinacional Unilever). Com a invenção do processo de hidrogenação em 1902, é aberto um mercado gigantesco para os óleos vegetais, incluindo aí o óleo de palma.

Após a Segunda Guerra Mundial, ocorrem melhorias no refino e no transporte de óleo de palma, que fazem com que seu uso se difunda no Ocidente sem precisar aplicar a tecnologia de hidrogenação.

A partir desse período, tem-se a intensificação da plantação da palmácea no Sudeste Asiático, que se adapta perfeitamente aos solos e ao clima da região, ganhando em produtividade em relação às plantações africanas. O óleo de palma foi utilizado principalmente pela Malásia e Indonésia, como símbolo de um processo de diversificação econômica, tentando fugir da dependência econômica da produção e exportação da borracha.

ALBANO, Gleydson Pinheiro. Globalização da agricultura na Oceania: óleo de palma, a última fronteira. Revista GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, v. 2, n. 1, p. 49, jan./jun. 2012.



USOS DO ÓLEO DE PALMA

Alimentação

Margarinas vegetais, pães, biscoitos, massas, tortas, sorvetes, óleos para salada e de cozinha.

Medicina

Antioxidantes, na prevenção de doenças do coração e do câncer.

Produtos de limpeza

Sabões, sabões em pó, sabonetes, xampus, detergentes, emulsificantes.

Indústria

Na obtenção de glicerina, ácidos graxos, ésteres e outras substâncias.

1. O óleo de palma, extraído da planta que no Brasil é conhecida como dendezeiro, é utilizado em vários produtos, como você pôde observar no quadro.

a) Qual é a relação entre o quadro e o texto?

b) Cite alguns produtos de seu uso diário que tenham, em sua composição, óleo de palma.

2. Observe o gráfico a seguir.

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Paula Radi

Fonte: ALBANO, Gleydson Pinheiro. Globalização da agricultura na Oceania: óleo de palma, a última fronteira. Revista GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, v. 2, n. 1, p. 49, jan./jun. 2012.

a) O que o gráfico apresenta?

b) Em que ano, aproximadamente, houve o cruzamento das duas linhas? O que isso significa?

c) Qual é a relação entre o gráfico e o texto?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 185

O imperialismo e a partilha da África

De 1880 a 1914, os territórios da África foram divididos entre as principais potências europeias, notadamente a Grã-Bretanha e a França.

A partilha do continente africano decorreu dos anseios por crescimento econômico dos países que haviam se industrializado no século XIX. A busca por matérias-primas, mercados consumidores e locais para a aplicação dos excedentes de capital de forma lucrativa impulsionou as conquistas. Além dos fatores econômicos, destaca-se a importância do poder político e das questões ideológicas.

[...] a primeira coisa que o historiador tem de restabelecer é o fato óbvio que ninguém teria negado, nos anos 1890, de que a divisão do globo tinha uma dimensão econômica. [...]

O desenvolvimento econômico não é uma espécie de ventríloquo, com o resto da história como seu boneco. Neste sentido, mesmo o homem de negócios mais limitado, à procura do lucro em, digamos, minas sul-africanas de ouro e diamantes, jamais pode ser tratado exclusivamente como uma máquina de ganhar dinheiro. Ele não ficava imune aos apelos políticos, emocionais, ideológicos, patrióticos ou mesmo raciais associados de modo tão patente à expansão imperial. Entretanto, embora seja possível determinar uma conexão econômica entre as tendências do desenvolvimento econômico no centro capitalista do mundo na época e sua expansão na periferia, torna-se muito menos plausível imputar todo o peso da explicação do imperialismo a motivos que não tenham uma conexão intrínseca com a penetração e a conquista do mundo não ocidental.

E mesmo os que parecem ter, como os cálculos estratégicos das potências rivais, devem ser analisados tendo em mente a dimensão econômica.

HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios: 1875-1914. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. p. 95.

Também há outras questões que podem explicar a expansão imperialista, como a crescente influência europeia na África.

Os defensores da teoria da dimensão africana:

Admitem que foram motivos de ordem essencialmente econômica que animaram os europeus e que a resistência africana à invasão crescente da Europa precipitou a conquista militar efetiva. Parece, de fato, que a teoria da dimensão africana oferece um quadro global e histórico que explana melhor a partilha do que as teorias puramente eurocêntricas.

UZOIGWE, Godfrey N. A África sob dominação colonial, 1880-1935. In: BOAHEN, A. Adu (Coord.). História geral da África: África sob dominação colonial, 1880-1935. 2. ed. Brasília: Unesco, 2010. v. VII. p. 31.

Diversas teorias foram utilizadas para justificar a ação imperialista na África, entre elas o darwinismo social e o cristianismo evangélico – todas atreladas a um imaginário coletivo baseado na crença em uma superioridade racial e cultural europeia. De acordo com o darwinismo social, os “superiores” (europeus) dominariam naturalmente os “inferiores” (africanos). Além disso, muitos evangélicos acreditavam que a conversão dos africanos ao cristianismo por meio do imperialismo seria um caminho de “salvação”.

Alguns fatores contribuíram para a dominação europeia na África, como a superioridade do armamento e dos aparatos de comunicação utilizados pelos europeus, em especial no início do século XX; os progressos da medicina europeia, como o uso doquinino no controle da malária; o acesso dos europeus a informações sobre o território africano – graças às atividades de missionários e exploradores; e o grande número de conflitos que envolvia diferentes povos nativos.

Glossário
Imputar: atribuir a algo ou alguém a responsabilidade por um ato ou acontecimento negativo.
Quinino: substância natural retirada da casca de uma planta medicinal, utilizada como complemento no tratamento da malária.
Página 186

Em relação ao grande número de conflitos, aproveitando-se da situação os países europeus assinavam tratados de “proteção” com determinados povos, que, por sua vez, eram trapaceados.

O rei Lobengula, dos ndebeles, por exemplo, assinou um contrato com o empresário britânico Cecil Rhodes em troca de “proteção”. O problema é que o monarca não sabia ler nem falava inglês. No contrato, nada havia sobre “proteção”. Apesar dos protestos de Lobengula, Rhodes, com o apoio do governo da Grã-Bretanha, abriu caminho para a exploração do território ndebele (hoje Zimbábue), de onde muito ouro foi retirado.

O crescente avanço francês, no início da década de 1880, exacerbou as rivalidades pelas disputas de colônias, aumentando o risco de guerra entre as potências imperialistas europeias.

Com o intuito de organizar “a corrida por territórios na África” e abrandar os ânimos, o chanceler alemão Otto von Bismarck e o primeiro-ministro francês, Jules Ferry, convocaram uma conferência internacional das grandes potências, realizada em Berlim. A Ata Geral da Conferência (28 de fevereiro de 1885), em linhas gerais, estabeleceu: o reconhecimento do “Estado Livre do Congo”, atendendo aos interesses econômicos do rei Leopoldo II, da Bélgica, escolhido para ser presidente da Associação Internacional Africana, com sede em Bruxelas; o direito de livre navegação e livre-comércio nas bacias do Níger e do Congo; a proteção e instrução dos nativos para “a compreensão e apreciação das vantagens da civilização”; e a aceitação da necessidade de acabar com a escravidão e o comércio de escravos na África.

A decisão que teve maiores consequências foi o estabelecimento da norma de que um país europeu tinha de ocupar efetivamente um território para reivindicá-lo. Instalou-se uma corrida desenfreada entre as potências imperialistas para dominarem novos territórios.

A demarcação das fronteiras prosseguiu até após a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918). Houve ainda outros tratados entre os países europeus para efetivar acertos dessa partilha. Com essas ações o território da África foi quase totalmente dividido.

Organizando ideias

Observe a charge, leia a citação e faça o que se pede.



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Photos.com

Gravura de Cecil Rhodes publicada na revista Punch em 10 de dezembro de 1892.

O mundo está quase todo parcelado, e o que dele resta está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite, esses vastos mundos que jamais poderemos atingir. Eu anexaria os planetas se pudesse; penso sempre nisso.

RHODES, Cecil apud HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: LTC, 2010. p. 204.

1. Relacione a imagem à citação. Qual era a pretensão de Rhodes com relação à África?

2. Explique se essa pretensão foi alcançada.

3. Considerando o contexto imperialista, explique a frase “Eu anexaria os planetas se pudesse”.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 187

A disputa por territórios

O Norte da África esteve ligado ao Ocidente desde a Antiguidade, tanto que uma ampla região fizera parte do Império Romano.

Após ter ficado sob o domínio bizantino e árabe, a África setentrional passou para o domínio do Império Otomano.

A decadência turca levou ingleses e franceses a disputar a região. Napoleão Bonaparte invadiu o Egito em 1798, mas os britânicos logo voltaram a exercer influência sobre o governo egípcio.

No começo do século XIX, alguns países europeus procuraram exercer influência comercial e política na costa norte da África. Os espanhóis mantinham enclaves na região; os franceses e, depois, os italianos tinham ambições pelas áreas mediterrânicas do continente.

Em 1830, os franceses anexaram a Argélia e, paulatinamente, foram ocupando grande parte da África Ocidental. Foram seguidos pelos ingleses, que passaram de um domínio indireto ao domínio direto sobre o Egito e, depois, sobre o Sudão.

Na África Ocidental, os ingleses estenderam sua influência na região do Rio Níger. Os franceses se estabeleceram na Costa do Marfim, no Senegal e adjacências. Em 1884, os alemães se fixaram no Togo e criaram o Protetorado de Camarões. Os portugueses ocuparam a região da Guiné (atual Guiné -Bissau).

No centro-oeste africano, os espanhóis ocuparam a Guiné Equatorial, enquanto os portugueses se fixaram em São Tomé e Príncipe, além de Angola. A França vinculou, pouco a pouco, o território do Congo (hoje República Popular do Congo) a seus domínios.



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© DAE/Studio Caparroz

Fonte: DUBY, Georges (Dir.). Atlas histórico mundial. 3. ed. Barcelona: Larousse Editorial, 2011. p. 246.

Glossário
Enclave: no texto, território ou região situada em território alheio.
Página 188

No nordeste da África, os italianos ocuparam a Eritreia em 1885 e, após grandes dificuldades, a Etiópia em 1936. A Somália foi ocupada pelos ingleses e pelos italianos. Os franceses também ocuparam uma área na entrada meridional do Mar Vermelho, a que chamaram Somalilândia, hoje Djibuti.

Os ingleses dominaram grande parte das regiões leste e sudeste da África, já os alemães dominaram a África Oriental Alemã, e os portugueses preservaram Moçambique. No Oceano Índico, os franceses dominaram Madagascar, Ilhas Maurício, Reunião e Ilhas Comores, enquanto os britânicos ocuparam as Ilhas Seychelles.

O Estado Livre do Congo

Na década de 1870, o rei da Bélgica, Leopoldo II, tinha a ambição de possuir uma colônia privada. Seu interesse pela região centro-oeste da África deveu-se aos escritos de Henry Morton Stanley, enviado à África pelo jornal New York Herald com o objetivo de encontrar o missionário David Livingstone, que estava perdido. Os dois se encontraram perto do Lago Tanganica. O monarca belga foi ainda influenciado pelo relato de Verney Lovett Cameron, que, a serviço da Sociedade Real Geográfica Britânica, também fora em busca de Livingstone. Em ambos os escritos, salientavam-se as riquezas da região e as amplas possibilidades de empreendimentos lucrativos.

Em 1876, o monarca organizou a Conferência Geográfica de Bruxelas. Nesse evento, incitou as nações participantes a promover a integração do continente africano por meio da abertura de estradas, incentivando a paz entre os chefes tribais.

Nos anos seguintes, Leopoldo II, por meio de seus prepostos, assinou diversos acordos com chefes locais e, usando a força, criou em 1885 o “Estado Livre do Congo”, uma colônia do rei belga (não do Estado belga), cujo administrador foi Henry Morton Stanley.

Primeiro, o marfim e, depois, a borracha possibilitaram um retorno lucrativo dos investimentos do rei no Congo. Entretanto, para alcançar esse retorno, o monarca utilizou-se de meios violentos para conseguir a cooperação dos habitantes da floresta.

Para explorar a borracha, os belgas escravizaram a população local. Os africanos eram convocados sob a mira de armas, trabalhavam em turnos de até 18 horas e tinham a mão direita cortada caso não atingissem a cota estabelecida. Consequentemente, suas lavouras ficaram abandonadas e, sem alimentos, logo teve início a fome.



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Images of Empire/Getty Images

Retrato de duas crianças mutiladas, vítimas do regime do rei Leopoldo II. Estado Livre do Congo, c. 1905. A prática de mutilação das mãos dos africanos pelos belgas percorreu o mundo por meio de fotografias publicadas nos jornais denunciando a crueldade aplicada pela administração belga no Congo.

No começo do século XX, a situação agravou-se com a intensificação da exploração dos nativos em busca de lucros cada vez maiores. Por outro lado, com a crescente divulgação internacional da exploração belga, foram fundadas associações humanitárias que pregavam o fim da colonização belga e surgiram campanhas na imprensa que alcançaram uma dimensão até então inédita.

Com a constante pressão externa, em 1908 chegou ao fim o Estado Livre do Congo, após a entrega dos direitos da colônia ao Estado belga. A partir de então teve início o chamado Congo Belga, com uma administração também rígida, mas menos brutal que a exercida pelo rei Leopoldo II.

Professor, destaque a importância da ação da sociedade civil no caso do Estado Livre do Congo. A sensibilização da sociedade é um aspecto essencial na luta por direitos humanos.



Glossário
Infenso: adverso, contrário.
Página 189

Abrir para a civilização a única parte do globo ainda infensa a ela, penetrar na escuridão que paira sobre povos inteiros é, eu diria, uma cruzada digna deste século de progresso... Será que preciso dizer que, ao trazer os senhores a Bruxelas, não fui guiado por nenhum sentimento egoísta? Não, cavalheiros, a Bélgica pode ser um país pequeno, mas está feliz e satisfeita com seus rumos; e eu não tenho outra ambição que não seja a de servi-la bem.

[...] Nossas tarefas consistem na localização de rotas a serem abertas com sucesso pelo interior do continente e a instalação de postos hospitaleiros, científicos e pacificadores, como forma de abolir o tráfico de escravos, estabelecer a paz entre os chefes tribais e fornecer-lhes arbitragem justa e imparcial.

Leopoldo II apud HOCHSCHILD, Adam. O fantasma do rei Leopoldo: uma história de cobiça, terror e heroísmo na África Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 54-55.



Organizando ideias

Em 1894, um missionário sueco registrou uma canção congolesa que retratava a insatisfação em relação ao colonialismo europeu. Leia um trecho do poema e faça o que se pede.

Estamos cansados de viver sob esta tirania.
Não aguentamos mais ver nossas mulheres e filhos
roubados e maltratados pelos selvagens brancos.
Nós vamos guerrear [...]
Sabemos que vamos morrer, mas queremos morrer.
Queremos morrer.
HOCHSCHILD, Adam. O fantasma do rei Leopoldo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 184.

1. De acordo com o poema, os congoleses aceitaram pacificamente a dominação estrangeira ou pensavam em reagir? Explique.

2. Escreva um texto explicando por que os congoleses queriam morrer ou não se importavam em morrer na guerra.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.



A Guerra dos Bôeres

Em 1806, a Colônia do Cabo, até então sob o controle da Holanda, passou a ser dominada pela Inglaterra, gerando rivalidades com os bôeres, descendentes de colonos holandeses. A região era habitada também por europeus miscigenados com escravos procedentes da Malásia, da África Oriental e Ocidental, conhecidos como “vermelhos”, os quais, ao se deslocar para o leste, entraram em choque com os khoisans e os xhosas, grupos étnicos que habitavam a região.

Em 1820, colonos britânicos se estabeleceram na região. Anos depois, os bôeres – motivados por fatores como a abolição da escravidão, efetuada pelas autoridades inglesas, à qual eram contrários; os ressentimentos com os novos colonizadores e a deterioração econômica – penetraram no interior da África do Sul e fundaram o Estado Livre de Orange e do Transvaal. Para impedir que os bôeres reivindicassem a costa, os britânicos anexaram Natal.

Com a expansão dos europeus e dos bôeres, reduziram-se os territórios ocupados pelos africanos, que passaram a competir entre si. Os zulus, que tinham formado um poderoso Estado expansionista, provocaram uma redistribuição de povos na África meridional. Para se defender dos zulus, os povos dos Estados Swazi, Sotho e Tsuana fizeram alianças com os colonizadores europeus e com os bôeres.

Com a descoberta de diamantes em Orange e ouro no Transvaal – província da África do Sul entre 1910 e 1994 –, aguçou-se a cobiça pela região. A Primeira Guerra dos Bôeres, entre britânicos e descendentes de holandeses, ocorreu entre 1877 e 1880, terminando com a derrota inglesa. No final do século, os britânicos voltaram a atacar, naquela que ficou conhecida como a Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902), e venceram.

Nessa guerra, os ingleses fizeram uso de campos de concentração. Homens, mulheres, crianças e idosos que haviam auxiliado as tropas bôeres foram levados para redutos insalubres; antes disso, suas fazendas foram destruídas e seus bens confiscados. A falta de saneamento, a água escassa e poluída, a comida de má qualidade e os poucos cuidados médicos fizeram


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perecer mais de 20 mil pessoas (os campos abrigavam 120 mil) em consequência da subnutrição e de moléstias diversas.

Durante a guerra, os britânicos queimaram fazendas, destruíram plantações e mataram animais. Ao final do conflito, muitos dos fazendeiros bôeres estavam na miséria e tiveram de trabalhar nas minas ou fábricas. Apesar do declínio econômico, como eram brancos, eles viviam separados dos negros e obtinham melhores empregos e salários.

Com o fim da Guerra dos Bôeres, o presidente da província do Transvaal foi deposto e, nos termos do tratado de paz assinado, as repúblicas bôeres retornaram à condição de colônias britânicas. O rei da Inglaterra, Eduardo VII, foi reconhecido como soberano legítimo desse povo, o que marcou o início da unificação política da África do Sul.



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Universal History Archive/Getty Images

Soldados ingleses renderam-se aos bôeres em Doornbosch, Transvaal. Ilustração publicada no periódico Le Petit Journal, em 8 dez. 1901.

Organizando ideias

Analise os textos e responda às questões no caderno.



Texto 1

A ideologia do imperialismo na voz de um francês

Afirmo que esta política colonial é um sistema concebido, definido e limitado do seguinte modo: repousa sobre uma tríplice base: econômica, humanitária e política.

No tempo em que vivemos e na crise que atravessam todas as indústrias europeias, a fundação de uma colônia é a criação de uma válvula de escape.

É preciso dizer abertamente que as raças superiores têm direitos sobre as raças inferiores, porque têm um dever para com elas – o dever de civilizá-las.

Discurso do francês Jutes Ferry, em 28 de julho de 1885. In: BRUNSCHWIG, Henri. Mythes et réalités de l’impérialisme colonial français. Paris: Armand Colin, 1960. p. 73. (Tradução nossa).

Texto 2

A realidade do imperialismo na voz dos africanos

Nós tentávamos, indo sempre mais longe, dentro da floresta, e quando não conseguíamos nada, ou a borracha era pouca, os soldados vinham ao povoa do e nos matavam. Muitos eram fuzilados, outros ficavam sem orelhas; outros eram levados amarrados pelo pescoço. Às vezes, os brancos do posto não sabiam das coisas que os soldados faziam conosco, mas eram eles que enviavam os soldados para nos punir por não trazermos bastante borracha.

Os diários negros. In: ROBERTS, J. M. (Org.). História do século XX. São Paulo: Abril, 1968. v. 1. p. 314.

1. Qual é a ideologia presente no texto 1?

2. Analisando o texto 1 no contexto em que foi escrito, as afirmações nele contidas são justificáveis? Explique.

3. Como o imperialismo é descrito pelos africanos no texto 2?

4. As duas versões do mesmo fato são diferentes? Justifique.

Professor, as orientacões e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 191

Movimentos de resistência

Os africanos não aceitaram resignados a dominação europeia. Eles resistiram de diversas formas, da luta armada à resistência cotidiana.

No território argelino, por exemplo, os nativos, sob o comando de Abd-al -Eladir, resistiram às invasões francesas de 1834 a 1847, quando foram vencidos por um exército de cerca de 100 mil homens.

Já a resistência cotidiana caracterizava-se por algumas formas efetivas de enfrentamento, como simulações de doenças, sabotagens de equipamentos, fugas, pilhagens de armazéns e diminuição no ritmo de trabalho.

Entre os séculos XIX e XX, muitas ações de resistência tiveram destaque, caracterizadas por um forte sentimento religioso, por motivações econômicas ou ainda por divergências culturais:

• a Rebelião Ashanti (onde hoje é Gana), contra os britânicos (1890 a 1900), ocorreu após a deposição de chefes tradicionais considerados sagrados. Os chefes escolhidos pelos britânicos não foram reconhecidos pelos habitantes locais, que se rebelaram contra os ingleses;

• a Rebelião de Mamadou Lamine (1898-1901), no alto Senegal, ocorreu devido à crença de que os muçulmanos não deveriam se sujeitar a não muçulmanos. Portanto, deveriam se rebelar contra os trabalhos forçados a que eram submetidos.

• a Revolução dos Maji Majis (1905-1907), na África Oriental Alemã (hoje Tanzânia), foi o levante mais grave e extenso (atingiu quase 26 mil quilômetros quadrados) contra o colonialismo até 1914. O conflito ocorreu porque os nativos, que viam sua economia de subsistência ameaçada, não aceitaram a crueldade, injustiça e submissão a trabalhos forçados imposta pelos alemães;

• a Revolta de “Maluma” (1909) na Niassalândia, liderada por Maluma, sacerdote de Tonga, reconhecido como guardião espiritual, pretendia expulsar os colonizadores das terras africanas em nome da liberdade dos nativos;

• a revolta do imposto da palhota (habitação), em Serra Leoa (1898), teve como estopim o conjunto de medidas repressivas impostas pelos britânicos na região, como a perda de terras, o trabalho compulsório e, sobretudo, a cobrança de um imposto anual sobre as palhotas;

• a Revolta dos Akambas, no Quênia (1911), deu-se inicialmente por razões econômicas, mas transformou-se numa revolta anticolonial na medida em que incorporou questões mais amplas, como a falta de liberdade e a imposição de padrões culturais europeus;

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Museu de Londres, Londres

Derrota do povo ashanti perante as forças britânicas em 11 jul. 1824. Litografia colorida de J. Ronis, publicada em 1825.
Página 192

• a Revolta do Bailundo, em Angola (1902- 1904), reuniu “reinos” umbundos e ovambos na luta contra a imposição de padrões e valores culturais. Teve êxito inicial ao expulsar comerciantes e colonos portugueses.

Além das revoltas, havia muitas formas de resistência cotidiana. Simulação de doença, sabotagem de equipamentos, fugas, pilhagem de armazéns e diminuição do ritmo de trabalho, entre outras, eram parte da estratégia dos africanos.

Todas essas rebeliões foram reprimidas violentamente. Um exemplo significativo foi o modo com que os alemães, que dominavam o chamado Sudoeste africano (hoje Namíbia), trataram o povo herero, que, em 1904, insurgiu-se porque suas terras e seu gado haviam sido confiscadas, atacando fazendas e matando aproximadamente uma centena de alemães.

Os massacres contra o povo herero não tardaram, sendo cerca de 80 mil africanos (aproximadamente 80% da população) dizimados, enquanto por volta de 14 mil foram confinados em campos de concentração. Vale a pena observar que nesse movimento salta aos olhos a estreita relação entre violência inerente às próprias relações econômicas e o rico espectro sociocultural garantidor da cooptação e organização combativa dos hereros. Não causa por isso estranheza que a administração alemã tenha proibido a reconstituição de instituições etnoculturais e a prática de cerimônias tradicionais. Além disso, os hereros tiveram que se converter em massa ao cristianismo.

HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à História Contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 122.

Nesse contexto, o banditismo social, representado por parte das populações africanas que organizavam-se em grupos com o objetivo de resistir ao domínio europeu, tornava-se uma alternativa para as massas rurais. Mapondera – considerado bandido por portugueses e ingleses – atuou, nas regiões onde hoje é Moçambique e Zimbábue, de 1892 a 1903. Para as populações camponesas tornou-se um mito, pois protegia os trabalhadores dos recrutadores de mão de obra, dos coletores de impostos, dos agentes das companhias e das autoridades coloniais.

Organizando ideias

Leia atentamente o texto a seguir e responda às questões propostas.

Se é certo que a resistência à conquista colonial foi importante, a que se seguiu e se opôs ao sistema implantado não foi menos notável, por seu caráter perpétuo, ininterrupto, a cessar aqui para ressurgir acolá, sempre a renascer, deixando zonas inteiras quase indomáveis e o colonizador numa perpétua incerteza [...]. É igualmente notável o engenho de que os africanos deram mostras para contestar esse sistema, desde a recusa individual até aos motins regionais, desde a reação imediata a um dos efeitos da colonização até à vontade profunda de mudar as coisas. A resistência era passiva ou ativa, local ou alargada, eclodia em meio rural ou urbano, assumia formas antigas ou modernas, e colocava-se no terreno econômico, social, político sem excluir o religioso. Implicava ora as populações, ora as elites tradicionais, ora ainda as elites modernas, desencadeava alianças entre essas diferentes camadas sociais, fazia nascer ou renascer consciências de classe ou de pertença étnica – tudo isso com conteúdos ideológicos mais ou menos claros, objetivos mais ou menos elevados. A diversidade dessas resistências é tão desconcertante, que o estudo global passa necessariamente por uma abordagem tipológica; porém, toda e qualquer descrição setorial é forçosamente exclusiva. [...]

M'BOKOLO, Elikia. África negra: história e civilizações. Salvador: Edufba; São Paulo: Casa das Áfricas, 2011. p. 524.



1. É correto afirmar que os povos africanos não aceitaram passivamente a colonização? Explique.

2. As formas de resistência sempre foram iguais? Justifique sua resposta.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 193

Resgate cultural

Professor, as orientações e resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.



Identidades nacionais e regionais africanas em construção

Os anos 1970 correspondem a minha adolescência e minha vida de jovem. Nessa época, minha consciência política e meu sentimento de identidade cultural se formavam com dificuldade e, como muitos que se tornavam adultos naquele período, a música de Fela Kuti teve um papel decisivo. [...] O aparecimento da televisão e das rádios FM, assim como o acesso crescente aos transportes aéreos, tinha reforçado a influência da cultura ocidental em Gana e na Nigéria. [...] Fela e seu Afrobeat nos enraizou firmemente no orgulho de nossas identidades africanas.

MAHAMA, John Dramani. Qu’aurait pensé Fela de l’Áfrique d’aujourd’hui? SlateAfrique, 2 ago. 2012. Disponível em: . Acesso em: mar. 2016. (Tradução nossa).

O depoimento do presidente de Gana traz elementos interessantes sobre a construção de identidades nacionais na África: elas convivem entre si e, inclusive, com a identidade africana. Grande parte dos países do continente compõe-se de populações culturalmente bastante diversas – algumas são frequentemente denominadas multiculturais. No entanto, o movimento musical Afrobeat, liderado pelo músico nigeriano Fela Kuti (1938-1997), é apontado por John Mahama como um elemento que contribuiu para a formação de uma identidade africana.

Em diversos países que se formaram após longa luta pela independência, foram proibidos alguns elementos culturais tradicionais, expressões dos vários povos que ocupavam o território. Os chamados primeiros regimes nacionalistas africanos, que estavam muito associados à luta pela independência, buscaram, de várias maneiras, levar a cabo a formação de identidades nacionais de forma autoritária, controlando e censurando a produção artístico-cultural.

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Jacob Crawfurd/Demotix/Corbis/Latinstock

O cantor Fela Kuti em apresentação no Reino Unido, 1989.

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Xu Lingui/Xinhua Press/Corbis/Latinstock

Apresentação de dança da máscara em Harare, Zimbábue, 2013.

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Werner Forman Archive/Heritage Image/Grupo Keystone

Estatueta fang talhada em madeira entre os séculos XIX e XX. A obra está em exposição na Galeria de Entwistle, Londres, Inglaterra.

Arte e cultura tiveram um papel essencial na resistência à colonização africana, ganhando ainda mais relevância com a independência. As formas pelas quais governo e grupos sociais lidaram com os movimentos artísticos e as expressões culturais tradicionais possibilitam depreender o enorme valor que eles tiveram na consolidação dos Estados Nacionais africanos.



1. Faça uma pesquisa sobre o movimento Afrobeat e a censura às culturas tradicionais e responda: Por que foram vistos como um desafio à construção de identidades nacionais na África?
Página 194

Debate interdisciplinar
Extração de diamantes na África

Apesar do atual discurso de "liberdade ao povo africano" defendido por muitos países ocidentais, algumas situações que envolvem os países da África e os aspectos da economia ocidental levam a crer que o domínio do ocidente sobre o antigo continente perdura até os dias de hoje.

Um grande exemplo desse domínio é o processo de extração de diamantes que ocorre em diversos países, mas de forma mais exploratória em Serra Leoa, onde milhares de pessoas são submetidas a precárias e insalubres condições de trabalho a fim de abastecer o mercado de joalherias dos países desenvolvidos.

Em Serra Leoa, a produção de diamantes representa uma grande fonte de renda, entretanto, durante muito tempo, ela foi financiada e esteve sob o controle de grupos armados, que coordenavam o trabalho nas minas com o intuito de contrabandear as pedras encontradas para diversas partes do globo, sem repasse dos lucros à população ou pagamento de impostos.

Entre os grupos armados de maior influência no contrabando de diamantes estava a Frente Revolucionária Unida (FRU), que, sob o comando de ex-integrantes do exército local, controlava grande parte do contrabando dos diamantes, extraídos da maneira mais exploratória, mantida por meio de violência, mutilação, sequestro e estupro. Pessoas que, por falta de opções de trabalho, submetiam-se às condições sub-humanas da extração de diamantes das minas em troca da mais baixa remuneração. A FRU ficou conhecida pela utilização, em suas milícias, de crianças que eram obrigadas a cometer diversas atrocidades, como o assassinato dos próprios pais. Atualmente, a FRU é um partido político sem expressividade no Parlamento e com pouca influência na sociedade de Serra Leoa.

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Fabian von Poser/imageBROKER/Grupo Keystone

Pessoas trabalhando em mina de diamantes em Serra Leoa, 2013.
Página 195

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Anistia Internacional

Reprodução de panfleto da Anistia Internacional. Na imagem lê-se: "Qual é o preço desses diamantes? Não ao comércio de armas e matéria-prima com países que violam os direitos humanos".

Esse sistema exploratório já existia, mas se intensificou com o fim da Guerra Fria, como resultado de campanhas para o financiamento de exércitos e guerrilhas locais na África Ocidental, que buscavam controlar áreas específicas da região por meio da imposição e de conflitos armados.

O tráfico de diamantes na África pode ser comparado ao narcotráfico nas Américas, chegando – segundo pesquisas britânicas – a responder por aproximadamente 15% do comércio mundial de diamantes.

Atualmente, os governos de países africanos, em especial de Serra Leoa, vêm tentando demonstrar maior transparência nas exportações de pedras preciosas, influenciados por iniciativas dos países compradores, que passaram a investir mais no material extraído e comercializado pelas vias legais, apesar do pagamento de altos impostos.

Mesmo com essa iniciativa, boa parte da população ainda se encontra sob o domínio dos controladores do contrabando, trabalhando em condições degradantes e vivendo em condições piores ainda, enquanto grupos armados permanecem lucrando com o comércio ilegal de diamantes.

Atividade

1. Assim como alguns países da África, o Brasil também é um exportador de diamantes, e a extração deles é bastante controversa. Com base nessas informações, pesquise essa prática em terras brasileiras, suas vantagens e desvantagens, e escreva um texto informativo para apresentar em sala de aula.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


Página 196

Testando seus conhecimentos

Responda no caderno

1. (Fuvest-SP) O tráfico de escravos africanos para o Brasil:

Alternativa c.



a) teve início no final do século XVII, quando as primeiras jazidas de ouro foram descobertas nas Minas Gerais.

b) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrário do que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e foi extinto, de vez, no início do século XIX.

c) teve início na metade do século XVI, e foi praticado, de forma regular, até a metade do século XIX.

d) foi extinto, quando da Independência do Brasil, a despeito da pressão contrária das regiões auríferas.

e) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom sucesso das capitanias hereditárias, e, por isso, esteve concentrado nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente, até o século XVIII.

2. (Enem) Torna-se claro que quem descobriu a África no Brasil, muito antes dos europeus, foram os próprios africanos trazidos como escravos. E esta descoberta não se restringia apenas ao reino linguístico, estendia-se também a outras áreas culturais, inclusive à da religião.

Há razões para pensar que os africanos, quando misturados e transportados ao Brasil, não demoraram em perceber a existência entre si de elos culturais mais profundos.

SLENES, R. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta do Brasil. Revista USP, n. 12, dez./jan./fev. 1991-92 (adaptado).

Com base no texto, ao favorecer o contato de indivíduos de diferentes partes da África, a experiência da escravidão no Brasil tornou possível a

Alternativa a.

a) formação de uma identidade cultural afro-brasileira.

b) superação de aspectos culturais africanos por antigas tradições europeias.

c) reprodução de conflitos entre grupos étnicos africanos.

d) manutenção das características culturais específicas de cada etnia.

e) resistência à incorporação de elementos culturais indígenas.

3. (Furg-RS) “Dividir para reinar” era o lema das potências imperialistas europeias na conquista do território africano. Essa ação produziu nefastas consequências ao povo africano, sendo correto afirmar que:

Alternativa c.



a) até o século XIX, apenas a França envolveu-se com o tráfico de escravos para a América, que só foi extinto pela ação direta dos ingleses através do famoso conflito do Bôeres.

b) os únicos países africanos que não foram colônias da Europa foram o Egito e a Etiópia.

c) a Conferência de Bandung foi a primeira a falar e a afirmar que o imperialismo e o racismo são crimes, propondo a criação do Tribunal da Descolonização.

d) a presença de países como a Alemanha, Itália e Holanda no continente africano subsistiu até o final da I Guerra Mundial, quando se iniciou o processo de independência da maioria dos países africanos sob domínio europeu.

e) os movimentos de independência só se iniciaram em solo africano depois que suas riquezas naturais haviam se esgotado e as ideias de extremo nacionalismo haviam se expandido pela África.

4. (Enem) A identidade negra não surge da tomada de consciência de uma diferença de pigmentação ou de uma diferença biológica entre populações negras e brancas e (ou) negras e amarelas. Ela resulta de um longo processo histórico que começa com o descobrimento, no século XV, do continente africano e de seus habitantes pelos portugueses, descobrimento esse que abriu o caminho às relações mercantilistas com a África, ao tráfico negreiro, à escravidão e, enfim, à colonização do continente africano e de seus povos.

K. Munanga. “Algumas considerações sobre a diversidade e a identidade negra no Brasil”. In: Diversidade na educação: reflexões e experiências. Brasília: SEMTEC/MEC, 2003. p. 37.


Página 197

Responda no caderno

Com relação ao assunto tratado no texto anterior, é correto afirmar que:

Alternativa d.

a) a colonização da África pelos europeus foi simultânea ao descobrimento desse continente.

b) a existência de lucrativo comércio na África levou os portugueses a desenvolverem esse continente.

c) o surgimento do tráfico negreiro foi posterior ao início da escravidão no Brasil.

d) a exploração da África decorreu do movimento de expansão europeia do início da Idade Moderna.

e) a colonização da África antecedeu as relações comerciais entre esse continente e a Europa.

4. (UPE) A extração de diamantes e de ouro na região do Orange provocou lutas entre os ingleses, comandados pelo governador Cecil Rhodes, e os africanos de origem holandesa que habitavam a região. Esses confrontos ficaram conhecidos como:

Alternativa d.



a) Guerra do Opium.

b) Guerra dos Boxers.

c) Revolta dos Cipaios.

d) Guerra dos Bôeres.

e) Revolta dos Malês.

Para você ler

A África explicada aos meus filhos, de Alberto da Costa e Silva. Rio de Janeiro: Agir, 2008. De maneira simples e ao mesmo tempo fascinante, esse livro explora os contrastes do continente africano: de um lado, sua exuberância, suas riquezas e sua cultura; de outro, a miséria, a exploração e a tirania a que foi submetido. Além disso, o autor explica como a trajetória do povo brasileiro está intimamente ligada à história do continente africano.

A África na sala de aula: visita à história, de Leila Leite Hernandez. São Paulo: Editora Contemporânea, 2008. O livro mostra que não há uma única África, ou seja, um continente cujos países têm a mesma identidade, como muitos imaginam. A proposta é olhar para a África e reconhecê-la como um entrelaçamento de diversas culturas e processos históricos, de identidades complexas e, muitas vezes, contraditórias.

Para você assistir

Invictus, direção de Clint Eastwood. EUA, 2009, 134 min. O filme retrata Nelson Mandela imediatamente após a extinção do apartheid na África do Sul, na condição de presidente. Recém-eleito, Mandela sabe que seu país permanece dividido racial e economicamente mesmo após o fim do apartheid. Acreditando na possibilidade de unificar a população por meio do esporte, Mandela apoia o desacreditado time da África do Sul na Copa Mundial de Rúgbi de 1995, que faz uma incrível campanha até as finais.

Quase deuses, direção de Joseph Sargent. EUA, 2004, 110 min. O filme conta a história real de um afro-americano que sonhava em ser médico e, após conseguir emprego numa clínica como faxineiro, começa a estudar para alcançar seu objetivo. Em seu trajeto profissional, o protagonista precisou enfrentar muitas situações discriminatórias e racistas. Sua competência e dedicação foram reconhecidas muito tardiamente por meio do prêmio de Doutor Honoris Causa.

Para você navegar

Museu Afro Brasil. Disponível em: . Acesso em: mar. 2016. O Museu Afro Brasil é um espaço de preservação e celebração da cultura, memória e história do Brasil na perspectiva negro-africana. O site dá acesso à programação do museu, a sua organização e a galerias de imagens das exposições.


Página 198

7 As emancipações nacionais na Ásia e na África

Neste capítulo
Os processos de emancipação nacionais
Emancipação da Ásia
Emancipação da África


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Afolabi Sotunde/Reuters/Latinstock

Estudantes participam de um espetáculo de dança cultural durante as celebrações para comemorar o 55º Dia da Independência da Nigéria. Abuja, Nigéria, 2015.

O processo de colonização da Ásia e da África pelas potências europeias foi pautado por muita violência e opressão. Contudo, o contexto da Segunda Guerra Mundial enfraqueceu o poderio econômico e bélico das metrópoles, o que tornou a dominação menos intensa e proporcionou concessões a algumas colônias.

Nesse cenário houve a proliferação de ideais nacionalistas e libertários nas colônias, além da consolidação de propostas políticas renovadas. Tudo isso se deu no contexto da Guerra Fria, na qual as duas superpotências – Estados Unidos e União Soviética – buscavam aliados para ampliar suas influências.
Página 199

Na busca pelo domínio do espaço geopolítico, o continente africano tinha grande importância. Esse conjunto de fatores possibilitou uma série de emancipações nacionais durante a segunda metade do século XX.

Neste capítulo estudaremos os processos de emancipação na Ásia e na África com ênfase no surgimento dos grupos de resistência e na relevância deles como aglutinadores de diferentes etnias e religiões em prol de um objetivo comum – a liberdade.
Página 200

Os processos de emancipação nacionais

Muitos estudos generalizaram os processos de emancipação na África e na Ásia. Entretanto, há consideráveis diferenças entres eles, como a forma e o motivo de cada um ou o tempo em que ocorreram. A emancipação do Benin (antigo Daomé), por exemplo, ocorreu depois de uma forte resistência popular por meio de greves, manifestações, publicação de jornais e formação de uma Liga dos Direitos Humanos e de um Comitê Franco -Muçulmano, além de longas negociações. Já a emancipação política da Argélia foi conquistada após vários anos de guerra entre nativos e franceses. Com o uso de táticas de guerrilha e ações violentas, os argelinos obrigaram os franceses a reconhecer o direito dos nativos à soberania.

O período marcado pelo fim dos impérios teve muitos desdobramentos e questionamentos a respeito da permanência das relações de poder instituídas séculos antes pelos países europeus. Isso gerou diversos conflitos não apenas entre as nações envolvidas no processo mas também internos, tanto das colonizadoras quanto colonizadas, o que ocasionou o surgimento de mudanças constantes nas relações entre esses grupos.

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Universal History Archive/Getty Images

Britânicos e zulus durante a Guerra Anglo-Zulu (1879). Ilustração publicada em 1900.

Desse processo de mudanças faz parte também a alteração dos conceitos de colonização e descolonização.

[...] Para os povos que foram colonizados há muito tempo, essas palavras chocam.

Em vez de “colonização”, eles escolhem falar de “colonialismo”, o que é um julgamento negativo da presença europeia nas colônias.

Em vez de “descolonização”, termo que pressupõe que a saída dos colonizadores se deve às metrópoles, eles preferem a expressão “luta pela emancipação nacional”, que os transforma em agentes de sua própria história.

FERRO, Marc. O século XX explicado aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 71-72.



Decadência dos impérios

O período posterior às duas guerras mundiais caracterizou-se pela reorganização das estruturas políticas e econômicas em todo o planeta. Surgiram países e formas de governo que buscavam cada vez mais a autonomia dos territórios e das populações até então governados pelas potências europeias de acordo com suas necessidades.

O fim da Primeira Guerra Mundial enfraqueceu o Império Britânico e provocou o desmantelamento do Império Otomano, que até então tinham grande representatividade no domínio das colônias e, consequentemente, das transações econômicas entre os países.

Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, outra potência imperialista da época, ficou econômica e fisicamente destruída, portanto com seu potencial imperialista enfraquecido. Nesse período, a maioria dos impérios coloniais (britânico, japonês, francês, português, belga, holandês e o que restava do espanhol) acabou destruída, uma vez que o enfraquecimento dos dominadores dificultava, quando não impedia, o controle exercido sobre as colônias.

Desde a chegada dos europeus, os nativos expressaram seu descontentamento, mas foram reprimidos pelas potências imperialistas. No entanto, um contexto mundial mais favorável no pós-guerra e o amadurecimento dos movimentos de resistência foram elementos fundamentais para o sucesso emancipatório das regiões colonizadas.

O declínio dos antigos sistemas de domínio influenciou a proliferação de movimentos nacionalistas nas colônias, dando início a inúmeras lutas por independência. Aos poucos, elas culminaram no surgimento de muitos países e muitas formas de governo, abrindo caminho para a constituição de grande parte do mundo tal qual conhecemos hoje.


Página 201

Emancipações na Ásia

O primeiro movimento significativo de emancipação nacional foi o asiático, consequência tanto do declínio das potências europeias ocasionado pelos combates da Segunda Guerra Mundial quanto das lutas pela emancipação da Ásia.

Diante de um contexto de controle político e exploração – tanto dos mercados como da população – e submetidos às leis e privações impostas por seus dominadores no que diz respeito à cultura e religião, os asiáticos buscaram diversas estratégias, incluindo apoio externo, para retomar o controle de seu respectivo país.

Somado a isso, destaca-se no processo o apoio concedido pelas potências que despontavam no período da Guerra Fria: Estados Unidos e União Soviética. Ambas buscavam afirmar seus ideais e políticas de governo e mercado, aumentando a área de influência, respectivamente, capitalista e socialista.

O sucesso das reivindicações por independência na Ásia foi o grande incentivador dos movimentos de emancipação de outras colônias, por exemplo, as africanas.

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© DAE/Studio Caparroz

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 155.

Índia

Como vimos no Capítulo 5, a colonização inglesa na Índia foi marcada pela violência e repressão à cultura indiana, o que causou muitos transtornos e revoltas ao longo do século XIX.

Para os britânicos, os indianos eram cidadãos de segunda classe, a quem cabia somente trabalhos considerados inferiores. Com essa justificativa, aos poucos o povo foi perdendo seus direitos políticos e a liberdade, além de ser privado dos benefícios do crescimento econômico. Sob o
Página 202

domínio britânico, os indianos foram obrigados até a usar o inglês como língua comum.

A permanência dos ingleses por um longo tempo no território indiano proporcionou o crescimento de uma elite local, fruto de acordos políticos e enriquecimento econômico. Em 1817 foi criada a primeira instituição de ensino para a elite indiana, o Colégio Hindu. Em 1913 a Índia havia se tornado a principal importadora de produtos britânicos, com destaque para os têxteis, ferro, aço e maquinários. Por sua vez, fornecia à Grã-Bretanha produtos agrícolas, como algodão, índigo, juta, arroz, chá e oleaginosas.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), os indianos foram convocados a integrar as forças armadas britânicas. Passaram então a exigir maior participação no governo, o que em tese se concretizou com um acordo assinado pelo governo britânico, pelo


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