Coleção História em Debate 2 História Ensino Médio



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Estado clientelístico é aquele que se mostra política e economicamente aberto a interferências de outras nações.

Organizando ideias

A Revolução Mexicana, assim como outros episódios da história mundial, foi eternizada pela arte. Nesse caso, foram principalmente os muralistas (artistas que fazem pinturas em murais) mexicanos, como José Clemente Orozco, David Alfaro Siqueiros e Diego Rivera, que legaram à posteridade cenas que retratam o povo mexicano como o grande herói da revolução.

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.

Considerando o contexto da Revolução Mexicana, analise a imagem a seguir e descreva-a.



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Museu de Arte Moderna, Nova York

José Clemente Orozco. Zapatistas, 1931. Óleo sobre tela, 1,14 m × 1,40 m.
Página 138

Pausa para investigação

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.

O Movimento Zapatista atua no México por meio das ações do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), uma organização formada por uma maioria de diferentes grupos indígenas. Em janeiro de 1994, o EZLN tomou o controle de parte da província de Chiapas. Observe a imagem e busque informações sobre o EZLN para responder às questões a seguir.

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Beatriz Aurora

Beatriz Aurora. Trece demandas zapatistas, 1997. Acrílico sobre papel, 50 cm x 70 cm.

1. Como a artista retrata o EZLN?

2. Por que as principais palavras que aparecem na imagem estão relacionadas aos direitos humanos?

3. Como o EZLN se impôs na política mexicana?

4. De que maneira o EZLN ressurgiu no cenário político atual?

5. Qual é o grande desafio a ser enfrentado pelo EZLN?

6. Com base no estudo do capítulo, por que esse grupo se autodenomina zapatista?

A Revolução Cubana

Cuba foi um dos últimos países latino-americanos a se tornar independente. Dominada pelos espanhóis, a ilha do Caribe só se emancipou politicamente em 1898.

O país passou por alguns movimentos que visavam à independência, como a Primeira e a Segunda Guerras de Independência – a última destacada pela maior significância política –, iniciados em 1895, que surgiram em um contexto de descontentamento com a tributação elevada, as dificuldades econômicas da burguesia açucareira devido à má safra de 1894, a política alfandegária desfavorável aos comerciantes de tabaco e o crescente desemprego gerado pela crise econômica.

Os generais Máximo Gómez e Antonio Maceo e o poeta José Martí, que já haviam participado da primeira tentativa de conseguir a independência, tomaram uma iniciativa que buscava a emancipação refletida nas reivindicações dos nacionalistas e reformistas da pequena burguesia.

A luta antiespanhola tornou-se, então, radical, com a utilização de táticas de guerrilha e a adesão cada vez maior dos setores populares urbanos e rurais, que levaram a própria burguesia e os Estados Unidos a temerem os rumos revolucionários do movimento de libertação.

Em reação, os Estados Unidos iniciaram uma campanha contrária às medidas


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repressivas das tropas espanholas, com o intuito de mobilizar a opinião pública para a intervenção norte-americana no conflito.

Em 15 de fevereiro de 1895, um barco norte-americano explodiu em Havana. À época acreditava-se que a explosão havia sido causada por uma mina espanhola (hoje se sabe que foi um acidente). A explosão foi o estopim para que os Estados Unidos declarassem guerra à Espanha, justamente quando os revolucionários cubanos estavam próximos da vitória.

Em poucos meses a Espanha foi derrotada e obrigada a aceitar o Tratado de Paris. O acordo marcou o fim do domínio espanhol em Cuba, mas também o início da ocupação norte-americana, legitimada com a aprovação de uma emenda criada pelos Estados Unidos à Constituição cubana, a Emenda Platt. Essa emenda autorizava o país a intervir na economia e política cubanas sempre que achasse necessário, colocando então a ilha sob seu domínio.

Da independência formal até 1959, a história de Cuba caracterizou-se por eleições fraudulentas, golpes de Estado, corrupção e torturas, sob o olhar vigilante das autoridades estadunidenses, que, quando necessário, intervinham direta ou indiretamente na vida política e econômica da ilha. Nesse contexto, Eduardo Chibás fundou, em 1947, o Partido do Povo Cubano, também conhecido como Partido Ortodoxo, que passou a ter grande força política.

Foi convocada uma assembleia constituinte para definir o novo tipo de regime que deveria vigorar em Cuba, mas o seu funcionamento foi fortemente condicionado pela presença das tropas norte-americanas e pela vigorosa ação do nascente imperialismo ianque. Depois de várias ameaças explícitas do governo norte-americano, foi aprovada em 1901 a chamada Emenda Platt, apresentada por um senador norte-americano com esse nome. Por essa emenda, Cuba aceitaria a tutela econômica e militar dos EUA, o que incluía, entre outras coisas, o direito norte-americano de instalar bases militares e portos na ilha, além de outras concessões territoriais e privilégios econômicos que violavam abertamente a soberania política da ilha, recém-libertada do jugo colonial espanhol.

SADER, Emir. A Revolução Cubana. São Paulo: Moderna, 1995. p. 10.

Com seu estilo eloquente, Chibás agitava grandes setores do povo com palestras radiofônicas e comícios públicos, em que fazia denúncias concretas sobre casos de corrupção do governo.

Quando não conseguiu provas para certificar legalmente uma denúncia que tinha feito, sentindo-se com a honra ofendida, Chibás se suicidou em pleno programa radiofônico, como protesto contra a situação do país, em plena campanha eleitoral, em que era candidato favorito para a presidência da República.

SADER, Emir. A Revolução Cubana. São Paulo: Moderna, 1995. p. 16.

Mesmo com a morte de Chibás, Fulgêncio Batista – que já havia comandado a ilha de Cuba duas vezes – percebeu que não venceria as eleições presidenciais novamente. Por isso, com aval das autoridades norte-americanas, deu um golpe de Estado em março de 1952 e passou a governar ditatorialmente.

A ditadura de Batista gerou um descontentamento popular muito grande. A juventude cubana ansiava por mudanças. Entre esses jovens, encontrava-se Fidel Alejandro Castro Ruiz – filho de um fazendeiro –, que se formara em Direito pela Universidade de Havana e militava na oposição.

Em 26 de julho de 1953, Fidel e 126 opositores à ditadura de Batista tentaram tomar o quartel de Moncada e a fortaleza de Bayamo. As operações militares dos rebeldes acabaram fracassando, Fidel foi condenado a 15 anos de prisão, e seu irmão Raúl, a 13 anos. Os demais participantes receberam penas menores. Em 1955, a população cubana, descontente com o governo de Batista, fez grande pressão para que o ditador anistiasse os rebeldes.

A anistia ocorreu, mas as opiniões e ideias de Fidel a respeito do governo vigente passaram a ser censuradas. Temendo ser assassinado pelos agentes de Batista e ciente do pouco espaço político que tinha em Cuba, Fidel e seus companheiros exilaram-se no México.


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Photo12/Glow Images

Fidel Castro e seus companheiros na Cidade do México, após terem sido exilados de Cuba, 1953.

No exílio, buscaram fomentar tanto a luta política contra o governo de Batista quanto a unificação dos cubanos que se encontravam no exterior em favor da deposição do regime, além de trabalhar na preparação militar dos exilados que regressariam ao país.

No México, Fidel conheceu o médico argentino Ernesto Guevara de La Serna, que, em 1953, apoiara o governo progressista de Jacob Arbenz, presidente da Guatemala, o qual acabou sendo deposto por ter nacionalizado a companhia norte-americana United Fruits. Guevara foi apelidado pelos cubanos de “Che”.

Juntos, Fidel Castro e Che Guevara planejaram a invasão de Cuba e a tomada do poder, numa investida que recebeu o nome de “26 de Julho”, em homenagem ao ataque ao quartel de Moncada – a tentativa de golpe anterior ao exílio de Fidel e seus companheiros.

Num velho iate, o Granma (hoje nome do jornal oficial do governo cubano), os rebeldes partiram do México em 24 de novembro de 1956. Eram 82 guerrilheiros sob o comando de Fidel Castro. Em Cuba, um levante organizado pelos partidários de Fidel foi sufocado pelas tropas governamentais, que se preparavam para enfrentar os rebeldes.

Assim que desembarcaram, os guerrilheiros foram atacados pela força aérea. Eles procuraram se esconder sob as árvores, no meio de pantanais com água muitas vezes até o pescoço; alguns conseguiram se instalar nas montanhas e florestas de Sierra Maestra. Dos 82 rebeldes, sobraram pouco mais de 20.

A insatisfação com o governo autoritário de Batista reforçava o apoio popular aos guerrilheiros. Camponeses, estudantes e pessoas de variados segmentos sociais passaram a combater pela revolução. O número de militantes do Movimento 26 de Julho aumentou, tanto no campo quanto nas cidades. Os rebeldes fizeram o exército sofrer importantes derrotas.

No início de 1958, os cubanos iniciaram uma greve geral, que foi violentamente reprimida pelas tropas de Batista. Somado a um discurso inflamado de Fidel Castro em uma rádio de Cuba, esse fato fez a população rebelde se mobilizar com os guerrilheiros exilados, passando então à efetiva ofensiva contra o governo ditatorial.

Batista tentou diversas manobras para barrar a vitória da revolução; mas, finalmente, indicou um substituto para comandar a ilha, fugindo para o exílio, na República Dominicana.

Sendo assim, a revolução havia vencido – em janeiro de 1959, os guerrilheiros foram recebidos triunfalmente em Havana.


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Pictures from History/Bridgeman Images/Grupo Keystone

Camilo Cienfuegos foi o primeiro comandante das forças revolucionárias a entrar em Havana e o responsável por organizar a tomada do Regimento Columbia, um dos maiores símbolos da força militar de Fulgêncio Batista. Após desaparecer misteriosamente em uma viagem que fazia de avião entre as províncias da ilha, Camilo nunca mais foi encontrado.

A Revolução Cubana teve um caráter democrático-popular e contou com o apoio de diversos setores da sociedade. Depois da vitória, Fidel Castro, que se tornara primeiro-ministro, encampou as empresas de pessoas ligadas ao governo anterior, as indústrias de grande porte e as empresas estrangeiras. Fez que fosse aprovada a Lei de Reforma Agrária e desencadeou uma dura repressão aos antigos colaboradores do regime de Batista, que foram sumariamente julgados e, na maioria, fuzilados.

Quando as novas leis começaram a ser aplicadas, os que se sentiram prejudicados passaram a aumentar o bloco de oposição, que continha de antigos companheiros de Fidel descontentes com os rumos tomados pela revolução a aliados do regime deposto.

De 1959 a 1965, ocorreram diversos conflitos entre governistas e oposicionistas, com muitos mortos de ambos os lados. Nos três primeiros anos da revolução, 265 mil cubanos migraram para os Estados Unidos, sobretudo para a Flórida, dando origem a uma influente comunidade anticastrista, que, nas décadas seguintes, aumentaria significativamente.

O governo cubano, ao ferir os interesses dos EUA, provocou a reação do presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower (1953-1961), que logo iniciou as represálias. Primeiro, deixou de importar o açúcar cubano. Fidel reagiu nacionalizando as companhias açucareira, telefônica, petrolífera e de eletricidade, bem como os bancos es ta dunidenses. Diante desses fatos, os norte-americanos bloquearam economicamente Cuba, que passou a ser “a ilha proibida” na América Latina.

Em 16 de abril de 1961, uma tentativa de tomada do poder foi tramada pelos contrarrevolucionários cubanos que viviam nos Estados Unidos. Segundo o jornal The New York Times, os invasores foram treinados, equipados e financiados pelos Estados Unidos e eram supervisionados diretamente pela Central Intelligence Agency (CIA). Eles desembarcaram na Baía dos Porcos, mas a invasão foi um fracasso, tendo como saldo a morte de cerca de 80 revoltosos e a prisão de 1 179 deles. Além disso, um barco foi afundado e cinco aviões derrubados.



Glossário
Encampar: no sentido utilizado no texto, diz respeito à tomada de posse de algo por parte do governo mediante o pagamento de indenização.

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Picture Alliance/Easypix Brasil

Aeronave norte-americana sobrevoando navios de guerra soviéticos no litoral da Costa Rica, out. 1962. A tensão causada pela Crise dos Mísseis fez com que a Guerra Fria atingisse também as ilhas caribenhas.
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Diante das pressões dos Estados Unidos em uma época marcada pela Guerra Fria, Fidel Castro buscou se aliar à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em maio de 1961, Fidel declarou que adotaria o marxismo-leninismo, o que aumentou ainda mais as divergências entre o governo cubano e o norte-americano.

Em outubro de 1962, ao descobrir que mísseis soviéticos estavam sendo instalados em Cuba, os Estados Unidos, que já buscavam razões para se opor à ilha e prejudicar seu avanço econômico, bloquearam-na militarmente e se prepararam para uma invasão.

Para evitar um conflito de consequências graves, a URSS retirou os mísseis e o bloqueio foi cancelado. Isolada no continente americano, Cuba atrelou-se à economia dos países socialistas, especialmente da União Soviética. O país viveu em função do açúcar, da reexportação do petróleo fornecido pela URSS e, em escala menor, do fumo, do níquel e de frutas cítricas.



Organizando ideias

De acordo com as informações anteriores sobre a Revolução Cubana, faça o que se pede.



1. É correto afirmar que a Emenda Platt selou a paz com a Espanha e garantiu a total liberdade e soberania de Cuba? Por quê?

2. Como foi possível que Fidel Castro e Che Guevara obtivessem sucesso em seu movimento revolucionário se tão poucos combatentes sobreviveram aos ataques no momento em que desembarcaram em Cuba?

3. Caracterize os primeiros anos do governo de Fidel Castro.

4. O que aconteceu em 1962? Qual foi a importância desses eventos?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.



Avanços sociais

Apesar do embargo econômico que os Estados Unidos impuseram a Cuba e da oposição do grupo que se beneficiava do poder econômico e político da ilha antes da revolução, o governo estabelecido se propôs a superar a pobreza extrema herdada da ditadura.

[...] Fidel Castro fez da educação uma das mais importantes prioridades revolucionárias. Em 1961, designado o “Ano da Educação”, foi iniciada uma campanha maciça de alfabetização para crianças e adultos. Mais de 100 000 alunos das escolas secundárias das grandes e médias cidades foram enviados ao campo para ensinar as primeiras letras para a população analfabeta. No final do ano, os princípios básicos de leitura tinham sido ensinados a cerca de 700 000 adultos.

Nos anos que se seguiram à revolução, milhares de novas escolas foram construídas na área rural cubana e foi instituído um programa maciço de bolsas de estudo para estudantes, cujo objetivo era levar as crianças pobres do campo para os internatos nas áreas urbanas. O número de crianças inscritas na escola elementar dobrou e, em 1985, havia três vezes mais professores que em 1958 [...].

Cuba teve amplas vitórias contra a fome, um problema que permanece na maioria dos países do terceiro mundo [...].

A saúde dos cidadãos cubanos melhorou notavelmente depois da Revolução. As faculdades de Medicina foram requisitadas para desenvolver um trabalho na área rural. Grandes programas preventivos e campanhas de vacinação em massa eliminaram a poliomielite e reduziram a febre tifoide e a malária. Doenças tipicamente associadas à pobreza, como a diarreia aguda e a tuberculose, deixaram de figurar entre as principais causas de mortalidade infantil. Em 1983, este índice foi de 16,3 (por 1 000 nascimentos), o que colocava Cuba ao lado dos países mais avançados do mundo.

VAIL, John J. Fidel Castro. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 101-102. (Coleção Os Grandes Líderes).
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Esses dados positivos, referentes à década de 1980, não permanecem dessa forma e também não apagam problemas e fatos negativos do período, por exemplo:

• a subserviência à política externa soviética;

• a ausência de crítica, a qual, quando muitas vezes feita, era confundida com oposição ao regime e levava à prisão dos dissidentes;

• o cerceamento da liberdade de ir e vir das pessoas;

• os fracassos econômicos, quase sempre justificados pelo bloqueio norte-americano;

• a corrupção nos vários escalões do governo, escondida e não admitida pelo regime;

• a permanência da homofobia, do racismo e do sexismo, apesar da igualdade legal.

Após a desintegração da União Soviética, ocorrida em 1991, Cuba passou a enfrentar muitas dificuldades, já que não podia mais contar com o grande aliado econômico e político. Paulatinamente, a ilha desenvolveu novas estratégias para lidar com os problemas, sobretudo os relacionados aos investimentos no turismo.

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Roberto Machado Noa/LightRocket/Getty Images

Shopping center em Havana, Cuba, 2015.

As reformas econômicas – principalmente investimentos estrangeiros, incentivo ao turismo, legalização do dólar, envio de recursos de exilados cubanos que vivem nos Estados Unidos aos familiares, cortes de despesas, fazendas estatais convertidas em cooperativas, indústrias estatais abertas aos investimentos privados, trabalho autônomo – e outras medidas desencadearam um crescimento econômico, mas também desigualdades sociais.

Depois de mais de 52 anos de embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba, medida criticada pelos organismos internacionais, no final de 2014 o presidente estadunidense, Barack Obama, declarou o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, além de outras medidas.

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Pablo Martinez Monsivais/AP Photo/Glow Images

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (à direita), e o de Cuba, Raúl Castro (à esquerda), em encontro durante a Cúpula das Américas, Panamá, 2015.

A aposentadoria de Fidel Castro, a ajuda venezuelana após a ascensão de Hugo Chávez (1998), a aproximação com a Igreja Católica, a maior inserção do país na América Latina, o aprofundamento das reformas, o aumento das desigualdades e o reatamento das relações diplomáticas com os Estados Unidos são alguns dos fatos relevantes da história cubana no começo do século XXI.



Pausa para investigação

Em grupo, busque informações sobre a situação atual de Cuba.

A pesquisa deve considerar os seguintes aspectos:

• economia (sistema econômico);

• política (sistema de governo, sistema eleitoral);

• educação;

• saúde (rede hospitalar, atendimento, saneamento básico);

• relações internacionais (com quais países mantém relações);

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.
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O populismo

Populismo é o termo usado para se referir às práticas políticas que visam ao estabelecimento da relação entre um líder carismático e a população sem o intermédio de instituições políticas. Nessa relação, o povo é colocado como personagem central da ação política, tendo em vista que as ações tomadas pelos governantes objetivam sempre a satisfação da população para que esta não interfira nas decisões tomadas por eles e seus representantes.

[...] O populismo não pode ser explicado basicamente pela simples aparição de um líder que, demagogicamente, carrega e dirige as massas para a direção que lhe aprouver. Há inúmeras variantes que interferem no processo histórico e o conhecimento delas é que nos pode aproximar do real. O carisma de uma Eva Perón, por exemplo, é mais um dado que obviamente deve ser levado em conta por parte do analista, na compreensão do fenômeno populista. Mas não pode ser entendido como fator determinante, como se as massas caíssem nos braços do primeiro demagogo que se lhes surgisse à frente.

[...] o fenômeno populista corresponde a uma manipulação das massas por parte do líder, mas também corresponde a uma satisfação de aspirações longamente acalentadas. Dessa maneira, o líder populista, em geral com forte dose de carisma, ao mesmo tempo em que procura manipular as massas para que elas se enquadrem dentro dos limites por ele impostos, também ativa mecanismos de satisfação de velhas aspirações – um exemplo, apenas, a legislação social – das massas trabalhadoras.

[...] o populismo assume uma postura econômica favorável à industrialização e à preponderância da indústria sobre as demais atividades econômicas. A industrialização é entendida como sinal de desenvolvimento, e o papel do Estado também passa a ser visto de outra maneira, na medida em que o populismo prega a intervenção estatal na economia, como elemento propulsor e incentivador do crescimento das forças produtivas capitalistas.

[...] o populismo latino-americano representou uma ampla mobilização das classes populares e sua inserção direta nas lutas políticas, transformando-as num dos principais setores sociais de que o sistema político necessitava para a sua legitimação.

PRADO, Maria Ligia. O populismo na América Latina. São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 74-77.

De maneira resumida, podemos elencar as seguintes características do populismo:

• presença de um líder carismático;

• atendimento de certas demandas sociais;

• estatização de determinados setores da economia;

• aumento dos gastos públicos;

• nos casos de Perón, na Argentina, e Getúlio Vargas, no Brasil, viés autoritário;

• política nacionalista com substituição das importações;

• propaganda oficial maciça;

• capacidade de mobilização das massas.

Tivemos vários governos populistas na história da América Latina. Getúlio Vargas, no Brasil, e Juan Domingo Perón, na Argentina, foram exemplos significativos. Em ambos, os operários obtiveram ganhos reais em termos de salário e conquistaram direitos sociais consideráveis, mas o autoritarismo, a burocratização e a intensa corrupção marcaram esses governos, tão bem avaliados pelas classes populares.

O populismo entrou em crise por não conseguir atender aos anseios das camadas populares e passou a sofrer forte oposição das elites econômicas. Durante a Guerra Fria, a política externa independente de alguns líderes latino-americanos ia na contramão dos interesses dos Estados Unidos.

É importante destacar que o conceito de populismo não é unânime entre os estudiosos da história latino-americana, bem como os regimes chamados de populistas tiveram características diferentes, dependendo do país e da época.



Organizando ideias

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.



1. O que foi o populismo na América Latina?

2. Quais são as características principais dos líderes populistas? Se necessário, pesquise sobre Vargas e Perón e busque as semelhanças entre as duas ações políticas.

Professor, a turma pode, nesse momento, criar um quadro comparativo, no qual registre, além das semelhanças entre os governos de Vargas e Perón, o que os diferenciava.


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As ditaduras

A América Latina foi palco de diversos golpes militares, os quais, pode-se dizer, foram desfechados para conter o avanço das forças democráticas a fim de impedir mudanças na estrutura econômica e social dos países da região. Com raras exceções, eles não contaram com o apoio popular.

Com o objetivo de “garantir a ordem”, esses golpes de Estado tiveram o apoio das camadas conservadoras e da burguesia, aliadas ao capital estrangeiro, as quais, em alguns regimes democráticos, sentiam-se ameaçadas pelas constantes pressões populares que pretendiam mudanças não só políticas como, sobretudo, econômicas e sociais.

Para que esses golpes se efetivassem, em geral,

• havia algumas forças de respaldo, como: Forças Armadas atreladas à doutrina de Segurança Nacional do Pentágono (EUA) – de luta contra a expansão do comunismo;

• grandes proprietários rurais que se opunham às mudanças nas estruturas agrárias. No Brasil, por exemplo, os grandes proprietários temiam que João Goulart concretizasse uma reforma agrária;

• a burguesia ligada ao capital estrangeiro, que defendia a livre circulação de capitais, mercadorias e serviços, opondo-se ao intervencionismo estatal, bem como à excessiva tributação;

• os setores conservadores da Igreja Católica. Havia, dentro da Igreja, setores e pessoas favoráveis às mudanças, bem como defensores das mais amplas liberdades democráticas e sociais. Os conservadores estavam amedrontados com a possibilidade do avanço do comunismo.

Aplicou-se um conjunto de normas mais ou menos parecidas: as eleições foram abolidas ou limitadas, a imprensa ficou sob censura, os partidos políticos foram dissolvidos, as atividades sindicais reprimidas, os parlamentos depurados, líderes oposicionistas cassados e, com frequência, assassinados. O movimento estudantil foi atingido, bem como os movimentos sociais. O direito à vida foi desrespeitado, houve muita corrupção, os desníveis de renda aumentaram e poucos enriqueceram com os benefícios do crescimento econômico.

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Paula Radi

Fonte: LE MONDE diplomatique. El atlas histórico. Buenos Aires: Capital Intelectual, 2011. p. 62.

Professor, é bom salientar a dificuldade de abordar genericamente os golpes militares na América Latina. Embora certos fatores sejam comuns a todos eles, outros são específicos de cada país. A conjuntura internacional também contribuiu para acelerar ou frear e até mesmo impedir as ambições golpistas.


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Argentina

A Argentina, por exemplo, entre 1943 e 1976, passou por vários golpes militares. Todos os regimes oriundos deles se caracterizaram por flagrantes atentados contra o direito à vida. A ditadura imposta em 1976, além de violar os direitos humanos, adotou uma drástica política econômica.

A junta militar inaugurou uma política de abertura às importações que liquidou um terço da estrutura produtiva; foram anuladas conquistas trabalhistas obtidas ao longo de meio século e o salário real ficou reduzido à metade do seu valor. As economias regionais acabaram asfixiadas pelas altas taxas de juros e até a oligarquia pecuarista dos pampas foi afetada pela generalizada transferência de recursos que beneficiou o setor financeiro: o rebanho de gado bovino se reduziu a dez milhões de cabeças.

O desemprego levou muita gente a emigrar. A dívida externa chegou a 40 bilhões de dólares, dos quais se estima que cerca de 15 bilhões correspondam à compra de armamentos. E ainda, a partir de 1980, também ocorreu a quebra dos bancos e sociedades financeiras.



GUIA DO TERCEIRO MUNDO. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 1986. p. 139.

Quando o regime militar estava em declínio, o general Leopoldo Galtieri planejou, como estratégia para obter apoio popular, invadir as Ilhas Malvinas, que, embora sob o poder britânico, eram reivindicadas pelos argentinos desde o século XIX.

Retomar o poder das ilhas traria de volta a credibilidade nacional e garantiria o controle estratégico do tráfego marítimo austral e das recém-descobertas áreas de exploração de petróleo na região. Por pouco tempo, o regime gozou de apoio popular; porém, com a derrota nas Malvinas (1982), os militares saíram de cena.

Em pleito direto, Raul Alfonsín chegou à Presidência em 1983. Processos contra os militares, crise econômica e tentativas de golpe marcaram seu governo. De Alfonsín até a reeleição de Cristina Kirschner, em 2011, a Argentina, apesar das crises, mantém-se dentro da legalidade democrática.



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Museu de Ciência, Londres/Diomedia

Ingleses comemoram a vitória na Guerra das Malvinas. Londres (Inglaterra), 13 out. 1982.

Chile

No Chile, a vitória do socialista Salvador Allende, em 1970, marcou uma tentativa de implantar o socialismo por via pacífica e democrática. Allende concorreu pela Unidade Popular, que congregava uma aliança de forças de esquerda.

No poder, Allende aprimorou a reforma agrária, iniciada pelo ex-presidente Eduardo Frei, nacionalizou importantes empresas estrangeiras, procurou estatizar os bancos, intensificou a construção de casas populares e deu um papel de destaque à educação e aos movimentos populares.

Diante dessa política de esquerda, os setores mais conservadores da sociedade chilena se organizaram para desestabilizar o presidente. Com o apoio dos Estados Unidos e de empresas multinacionais, desfecharam o golpe militar que derrubou o governo constitucional de Allende, dando início à Era Pinochet.

A instauração da ditadura de Pinochet foi o começo de uma gestão autoritária, que não tolerava a presença de esquerdistas ou quaisquer outros opositores. Além disso, o governo ditatorial estava sujeito a satisfazer todos os interesses dos Estados Unidos.
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Assim como na Argentina e no Brasil, a ditadura do Chile torturou, sequestrou e matou milhares de opositores ao regime, que durou 16 anos.

Em 1980, Augusto Pinochet promulgou uma Constituição que tornava legal seu governo ditatorial. Tal fato, entretanto, aumentou significativamente as pressões de grupos contrários ao regime, dando origem a uma mobilização popular de grandes proporções. O movimento reivindicou a realização de um plebiscito em 1987 que acabou impedindo a permanência de Pinochet no comando do país.

Dois anos depois, Patrício Aylwin foi eleito presidente do Chile, pondo fim ao governo ditatorial e punindo os envolvidos na ditadura.

Durante a ditadura de Pinochet, milhares de pessoas deixaram o país, outras tantas foram assassinadas ou simplesmente desapareceram.

Com a redemocratização, a Era Pinochet é atualmente lembrada com certo saudosismo por uns – devido ao crescimento econômico – e detestada por muitos, em razão das violações aos direitos humanos.



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Martin Bernetti/AFP/Getty Images

Manifestantes carregam placas em que se lê “Pinochet assassino” em frente ao palácio presidencial La Moneda, em Santiago (Chile), 10 set. 2006. Pinochet foi julgado pelos crimes cometidos durante sua ditadura, mas morreu em 2006, antes de ser condenado.

Guatemala

Assim como no Chile, a ditadura na Guatemala foi incentivada pela intervenção dos Estados Unidos, que, observando as várias reformas favoráveis à economia e à população implantadas pelo governo democrático de Jacobo Arbenz Guzmán – a redistribuição de terras, por exemplo –, entenderam que a política do país estava ligada ao comunismo.

A CIA organizou então, entre 1953 e 1954, o que chamou de “exército de libertação”, uma força militar com aproximadamente 400 homens, treinados e equipados pelo exército americano. Numa invasão à Guatemala, eles tomaram o poder no país, instaurando uma ditadura que permaneceu por aproximadamente quatro décadas.

Nesse período, houve uma sucessão de ditadores no poder, o que gerou inúmeros levantes da população contra o governo, causando a morte e o desaparecimento de mais de 140 mil pessoas.

Diante de tal fato, em 1993 a própria CIA resolveu interferir nos conflitos, ajudando a população guatemalteca a instaurar um regime democrático.

Pausa para investigação

Em grupo, pesquise como foram as evoluções políticas das ditaduras na Nicarágua, no Haiti, no Paraguai e na República Dominicana, apresentando os resultados em seminários.

Ao final das apresentações, juntos, componham, com a ajuda do professor, um painel que contenha as principais informações de cada pesquisa.

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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As guerrilhas

Guerrilha é um tipo de conflito armado não convencional, no qual os combatentes têm grande mobilidade entre as áreas onde ocorrem os embates. Além dessa característica, aponta-se nas guerrilhas o que alguns historiadores chamam de movimentação híbrida, ou seja, a possibilidade de as tropas em ação se unirem a forças colaboradoras de determinadas regiões ou lutarem sozinhas em busca de seu ideal político ou social.

Durante o período das ditaduras latino-americanas, surgiram muitas guerrilhas que lutavam pelo fim da imposição política, por melhores condições de vida para a população e liberdade política e de expressão. Nesse processo, alguns personagens da história acabaram se destacando. A personalidade mais significativa no movimento de guerrilhas na América Latina foi o argentino Ernesto Che Guevara.

Poucos personagens do século XX conseguiram sensibilizar tanto a juventude quanto Che Guevara. Seu retrato – com a boina estrelada, o fuzil na mão, cabelos e barbas longas – tornou-se símbolo das manifestações estudantis de 1968.

Após o triunfo da Revolução Cubana, Guevara ocupou cargos importantes. Declarando-se “um guerrilheiro do mundo”, abandonou Cuba e foi lutar secretamente no Congo. Voltou à América e tentou formar um foco de guerrilhas na Bolívia. O plano de Guevara – criar outros núcleos guerrilheiros nos países vizinhos à Bolívia – fracassou. Isolado, foi morto em 9 de outubro de 1967.

As ideias de Che Guevara influenciaram a esquerda latino-americana na década de 1960. Sua teoria do foco guerrilheiro encontrou grande acolhida em todo o continente.

O ponto de partida da teoria do foco consistia na afirmação da existência de condições objetivas amadurecidas para o triunfo revolucionário em todos os países latino-americanos. Guevara dizia que a revolução latino-americana seria continental, impondo-se por cima de diferenças nacionais secundárias, e diretamente socialista [...].

Se já existiam as condições objetivas, também eram necessárias as condições subjetivas, conforme ensina o marxismo. Ou seja, a vontade de fazer a revolução por parte das forças sociais por ela beneficiadas. Aqui entrava a grande descoberta: as condições subjetivas podiam ser criadas ou rapidamente completadas pela ação de um foco guerrilheiro. Este funcionava como um pequeno motor acionador do grande motor – as massas.

GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. São Paulo: Ática, 1998. p. 20.

A guerra de guerrilhas foi largamente empregada na América Latina ao longo do século XX. Inspiradas total ou parcialmente no foquismo, surgiram guerrilhas em países como Colômbia, Venezuela, Peru, Guatemala, Argentina e Brasil. Para esses grupos, as mudanças nas arcaicas estruturas econômicas e sociais só seriam possíveis se houvesse a derrubada violenta da ordem vigente.

Em muitos casos, a luta armada foi a forma encontrada para combater regimes ditatoriais. Apenas dois movimentos guerrilheiros alcançaram o poder: o de Cuba e o da Nicarágua, este último por meio da Frente Sandinista de Libertação Nacional.

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Phillip A. Harrington/Corbis/Fotoarena

Um dos guerrilheiros de destaque na Colômbia foi Camilo Torres Restrepo. Camilo foi um padre dominicano que, depois de tentar melhorar os problemas sociais colombianos por via pacífica, entrou para a luta armada. Fotografia de 1962.
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Em praticamente todos os países latino-americanos, movimentos guerrilheiros de vários matizes ideológicos – nacionalistas, marxistas, maoistas, guevaristas etc. – pegaram em armas para combater regimes ditatoriais e, até mesmo, governos constitucionais. Como exemplos podem ser citados o Sendero Luminoso, no Peru, atuante nas décadas de 1970 e 1980, e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que surgiram em 1964.

Essas tentativas de guerrilhas na América Latina fracassaram por várias razões. Eis algumas:

• falta de apoio popular;

• confinamento em lugares isolados e remotos;

• primazia do fator militar sobre o fator político;

• descaso com as peculiaridades históricas de • cada país;

• falta das condições ideais ou, quando existiam, aproveitamento inadequado delas.

À época das reações armadas aos regimes ditatoriais, nas décadas de 1960 e 1970, os direitos humanos foram violados tanto pelos governos quanto pelos guerrilheiros. Nos porões das ditaduras, pessoas eram torturadas e mortas. As guerrilhas promoviam sequestros, emboscadas e assassinatos de civis, policiais e soldados. A população muitas vezes era vítima de ações retaliativas tanto das forças governistas quanto dos grupos rebeldes.

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Yamil Lage/AFP Photos

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos (à esquerda), aperta a mão do chefe da guerrilha das Farc, Timoleón Jiménez, conhecido como Timochenko (à direita), mediado pelo presidente de Cuba, Raúl Castro (centro), durante reunião em Havana (Cuba) em 23 de setembro de 2015. O governo colombiano e membros da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) iniciaram negociações de paz com o objetivo de acabar com o conflito mais duradouro do país. Entre os temas do acordo estão reforma agrária, participação política de ex-rebeldes e drogas ilícitas. As negociações de paz dividem as opiniões dos colombianos, principalmente sobre a situação jurídica dos ex-rebeldes após o fim da guerrilha.

Pausa para investigação

Em grupo, busque informações sobre os temas a seguir. Juntos, apresentem o resultado em sala de aula.

• A Argentina no século XXI.

• O combate ao narcotráfico nos países latino-americanos.

• A atuação do Brasil nas políticas de integração da América Latina.

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Debate interdisciplinar
Che Guevara: da guerrilha para o mercado

A imagem mais conhecida de Che Guevara é uma fotografia tirada pelo cubano Alberto Korda Gutierrez em 5 de março de 1960, durante um evento em homenagem às vítimas da explosão de um barco que matara 136 pessoas. O fotógrafo oficial de Fidel Castro imortalizou a imagem do guerrilheiro em uma expressão que seria reproduzida incontáveis vezes após aquela data. Contudo, a fotografia não se tornou conhecida logo após o evento, nem foi publicada logo após ter sido tirada.



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Superstock/Glow Images

Alberto Korda (1928-2001) exibindo a famosa fotografia tirada por ele.

Foi o italiano Giangiacomo Feltrinelli que, alguns anos mais tarde, editou, reproduziu e espalhou-a ao redor do mundo em forma de monotipo, tornando sua arte um material de domínio público, o que facilitou sua reprodução em muros, cartazes e camisetas.

A monotipia é uma técnica que transforma uma imagem colorida ou preto e branco (que na realidade apresenta vários tons de cinza) em uma mancha de uma só cor. A mancha reproduz a mensagem da imagem original, ressaltando alguns pontos mais escuros e deixando o vazado para as partes claras. Essa mancha pode ser reproduzida mais facilmente, pois necessita de apenas um molde e uma cor de tinta, uma vez que não há gradação de cor. Assim, diversas técnicas de reprodução podem utilizar a imagem de modo mais barato.

São usadas diferentes técnicas para esse tipo de reprodução, por exemplo, a serigrafia, que exige apenas uma tela para aplicação de uma única cor, tornando o processo rápido e fácil, e o estêncil, que consiste em fazer moldes vazados em papéis, geralmentekraft, que são colocados na superfície na qual a imagem será aplicada e, em seguida, recebem tinta spray. A parte vazada, isto é, recortada, fica pintada.



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Fernando Favoretto/Criar Imagem

Camiseta com fotografia de Che Guevara estampada.

A princípio, a imagem de Che Guevara foi utilizada por diversas gerações de militantes, partidos políticos e jovens em protestos e passeatas que se identificavam com os ideais do guerrilheiro ou com o comunismo.

Contudo, quanto mais sua imagem foi reproduzida, mais ela se afastou do verdadeiro sentido das lutas travadas por ele, até tornar-se um objeto de consumo de gerações que querem parecer revolucionárias, contestadoras, mas que, em suas práticas, estão mais vinculadas com o capitalismo do que com o comunismo.
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Banalizada, a imagem passou, então, a figurar não apenas em cartazes e manifestações de cunho político mas também em objetos dos mais variados tipos. Ela pode ser encontrada em relógios de parede, canecas, chaveiros, bonés, agendas, descansos de copo etc., todos à venda. É uma imagem com bastante saída no mercado de consumo; logo, reproduzi-la dá lucro.

Reproduzir o rosto de Che Guevara dá tanto lucro que algumas empresas de grande porte chegaram a utilizar sua imagem em anúncios publicitários ou em seus produtos. Em um caso, uma indústria automotiva recorreu ao guerrilheiro para a publicidade de um modelo de luxo. A fotografia original foi editada, e no lugar da estrela da boina foi colocada a logomarca, que utilizou o mote “Viva la revolución”. Anos antes, uma empresa de bebidas alcoólicas também usou o rosto de Che em anúncios. Uma marca de roupas de praia fez uma estampa com dezenas de imagens reproduzidas em um biquíni, e até relógios suíços também tiveram uma edição limitada com a imagem do guerrilheiro e a bandeira de Cuba.

Esses produtos, nem de perto, representam os ideais comunistas. Ao contrário, fazem parte do imenso mercado que tenta conquistar mais consumidores apelando para todos os públicos. Afinal, quem compraria um relógio de marca com o rosto de Che Guevara estampado? O quão distante esse tipo de produto está das lutas travadas pelos grupos comunistas em todo o mundo?

Em virtude desse abuso, os herdeiros de Che Guevara têm entrado na Justiça contra as empresas que buscam lucrar com a imagem do guerrilheiro, distorcendo seus ideais de luta e de revolução ou a afastando deles. As ações têm sido movidas uma a uma e, em alguns casos, o parecer foi favorável aos herdeiros de Che, que detêm o direito sobre sua imagem e não a querem vinculada a produtos de lógica capitalista.

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Mauricio Lima/AFP/Getty Images

A modelo brasileira Gisele Bündchen desfila no São Paulo Fashion Week de 2002 para uma grife de roupas de praia usando biquíni com estampa do rosto de Che Guevara.

Atividade

1. Observe as imagens a seguir.

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© Renato S. Cerqueira/Futura Press

Rosto do guerrilheiro Che Guevara desenhado com giz na calçada da Avenida Paulista, São Paulo (SP), nov.2014.

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© Soeren Stache/dpa/Corbis/Latinstock

Barras de chocolate que têm em sua embalagem o rosto do guerrilheiro Che Guevara. Berlim, Alemanha, jan. 2008.

a) Você consegue distinguir quais são as técnicas utilizadas na reprodução da imagem de Che? Justifique.

b) Como você vê o uso da mesma imagem nas duas artes?

c) Em sua opinião, qual é o objetivo de cada uma das imagens?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Testando seus conhecimentos

Responda no caderno

Professor, as respostas dissertativas desta seção estão no Manual do Professor.



1. (Enem)

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Acervo Iconographia/Reminiscências

Charge de Ângelo Agostini de 1870, De Volta do Paraguai, publicada no jornal "Vida Fluminense", em 12 de junho de 1870.

Na charge, identifica-se uma contradição no retorno de parte dos “Voluntários da Pátria” que lutaram na Guerra do Paraguai (1864- 1870), evidenciada na

Alternativa d.

a) negação da cidadania aos familiares cativos.

b) concessão de alforrias aos militares escravos.

c) perseguição dos escravistas aos soldados negros.

d) punição dos feitores aos recrutados compulsoriamente.

e) suspensão das indenizações aos proprietários prejudicados.

2. (Unicamp-SP) A ditadura de Porfírio Díaz (1876- 1911) produziu no México uma situação de superficial bem-estar econômico, mas de profundo mal-estar social. [...] Fizeram-no chefe de uma ditadura militar burocrática destinada a sufocar e reprimir as reivindicações revolucionárias. [...] Amparavam-na os capitalistas estrangeiros, tratados então com especial favor.

MARIÁTEGUI, José Carlos. A Revolução Mexicana. São Paulo: Ática, s/d. (Coleção Grandes Cientistas).



a) Quais as características do desenvolvimento econômico mexicano durante esse período?

b) Explique a situação socioeconômica da população indígena e camponesa durante a ditadura de Porfírio.

c) Que grupos sociais e políticos se opuseram à ditadura de Porfírio Díaz e desencadearam o processo da revolução mexicana?

3. (Fuvest-SP) Na América Latina, no século XX, aconteceram duas grandes revoluções: a Mexicana de 1910 e a Cubana de 1959. Em ambas, os

Alternativa d.



a) camponeses sem terra lideraram sozinhos os movimentos.

b) EUA enviaram tropas que lutaram e quase derrotaram os rebeldes.

c) grupos socialistas iniciaram a luta armada, tornando hegemônicas suas ideias.

d) revolucionários derrubaram governos autoritários e alcançaram a vitória.

e) programas revolucionários foram cópias de movimentos europeus.

4. (FGV-SP) Sobre a Revolução Mexicana, afirma-se:

I. Durante o longo governo de Porfírio Díaz (1876-1911), os recursos nacionais do subsolo foram entregues ao controle estrangeiro e se manteve a forte concentração fundiária.

II. Pressionado pelas massas camponesas e operárias, Francisco Madero estabelece uma reforma agrária radical, que incluía o fim dos latifúndios.

III. A institucionalização do processo revolucionário tem como marco a promulgação de uma carta constitucional em 1917, na qual se preconizava a nacionalização do solo e do subsolo.

IV. Após a renúncia de Porfírio Díaz, assumiu Francisco Madero, que, com o apoio dos Estados Unidos, governa o México até o início dos anos 1930.

V. O assassinato à traição de Emiliano Zapata, em 1919, revela as fortes divergências ideológicas entre o líder camponês e o presidente Venustiano Carranza.


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Responda no caderno

São corretas as afirmativas:

Alternativa a.

a) I, III e V, apenas.

b) I, IV e V, apenas.

c) II, III e V, apenas.

d) I, II, III e V, apenas.

e) I, II, III, IV e V.

5. (Uessba) O período da história republicana do Brasil que vai da queda do Estado Novo (1945) ao movimento militar (1964) é caracterizado como populismo. O populismo não foi um fenômeno exclusivamente brasileiro, mas latino-americano que floresceu no período pós-guerra.

KOSHIBA, 1996, p. 317.

Sobre o populismo, é correto afirmar:

Alternativa b.



a) Este fenômeno, historicamente, não foi uma forma assumida de controle governamental do Estado sobre a população.

b) Uma de suas características é o controle do movimento sindical atrelado ao Estado, de quem é dependente, aliado ao desenvolvimento de legislação trabalhista.

c) As forças armadas latino-americanas e os Estados Unidos, através de uma ação conjunta, promoveram o desenvolvimento da doutrina da “segurança nacional”, fortalecendo o populismo.

d) O populismo de Perón, presidente da Argentina, como os demais da América Latina, visava manter o capitalismo agrário-exportador, responsável pela permanência do dirigente no poder.

e) Os militares, ao assumirem o governo do Brasil em 1964, mantiveram o caráter populista do governo anterior, como, por exemplo, o político trabalhista, com o objetivo de acalmar a população.

Para você ler

Cuba, Chile, Nicarágua, de Emir Sader. São Paulo: Atual, 2011. O livro analisa a América Latina em relação às experiências socialistas de Cuba, Chile e Nicarágua, explicando as bases do socialismo e examinando as consequências negativas do capitalismo sobre o continente latino-americano.

Revoluções na América Latina contemporânea, de Everaldo de Oliveira Andrade. São Paulo: Saraiva, 2000. O livro relata as revoluções contemporâneas ocorridas no México, na Bolívia e em Cuba, nas quais os respectivos povos se levantaram para defender a independência nacional durante o século XX.

Para você assistir

Diários de motocicleta, direção de Walter Salles. Argentina/Brasil/Chile/Inglaterra/Peru, 2004, 130 min. Aos 23 anos, o estudante de medicina Ernesto Guevara decide acompanhar seu amigo em uma viagem de motocicleta pela América do Sul, começando por Buenos Aires. Nessa viagem, conhecem o continente onde vivem e Guevara descobre sua verdadeira vocação.

No, direção de Daniel Dreifuss. Chile/França/EUA, 2012, 110 min. Quando o ditador Augusto Pinochet realiza um referendo para que o povo decida se ele continua ou não no poder, seus opositores convencem um jovem publicitário a liderar sua campanha. Apesar dos recursos limitados e da censura, o publicitário e seu time elaboram um engenhoso plano para vencer o referendo e libertar seu país da opressão.

Para você navegar

Guerra do Paraguai – Biblioteca Nacional. Disponível em:


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