Organizando ideias
Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.
De acordo com as informações anteriores sobre a Guerra do Paraguai, faça o que se pede.
1. O que diferenciava o Paraguai das outras nações da América do Sul em meados do século XIX?
2. Como se aliaram os países que participaram da Guerra do Paraguai?
3. Analise a participação dos negros escravos na Guerra do Paraguai, tanto do lado paraguaio como do brasileiro.
4. De acordo com a leitura dos dois textos a seguir, como se encontram as condições do Paraguai antes e depois da guerra?
Texto 1
Até a sua destruição, o Paraguai se destacava como uma exceção na América Latina: a única nação que o capital estrangeiro não havia deformado. [...] O Estado, onipotente, paternalista, ocupava o lugar de uma burguesia nacional que não existia, na tarefa de organizar a nação e orientar seus recursos e seu destino. Francia [o ditador Gaspar Rodríguez de Francia (1815-1840)] apoiava-se nas massas campesinas para esmagar a oligarquia paraguaia [...]. As expropriações, os desterros, as prisões, as perseguições e as multas não tinham servido de instrumento de consolidação do domínio interno dos latifúndios e comerciantes, mas, ao contrário, tinham sido usados para sua destruição. Não existiam – nem surgiriam mais tarde – as liberdades políticas e o direito de oposição, mas naquela etapa histórica só os saudosos privilégios perdidos estranhariam a falta de democracia. Não havia grandes fortunas privadas quando Francia morreu, e o Paraguai era o único país da América Latina que não tinha mendigos, famintos e ladrões [...]. O agente norte-americano Hopkins informava em 1845 ao seu governo que no Paraguai “não há criança que não saiba ler e escrever” [...].
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre: L&PM, 2016. E-book.
Texto 2
Terminada a Guerra da Tríplice Aliança e ainda sob a ocupação das tropas brasileiras, teve início o processo de reorganização do Estado Paraguaio, com a instalação de um governo provisório.
Essa reorganização do Estado se deu num cenário de miséria e dominação estrangeira, resultantes da guerra que não só destruiu todo o setor produtivo, mas também consumiu mais da metade da sua população. Além disso, Brasil e Argentina impuseram ao país derrotado uma dívida de guerra de 19 milhões de peso ouro e anexaram, a seus territórios, cerca de 160 quilômetros quadrados de território paraguaio.
MORAES, Ceres. Paraguai: a consolidação da ditadura de Stroessner (1954-1963). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. p. 13. (Coleção História, 34).
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A Guerra do Pacífico (1879-1883)
A Guerra do Pacífico, como ficou conhecida, foi o conflito do Chile contra a Bolívia e o Peru.
Essa guerra começou devido à pretensão chilena de se apossar da província boliviana de Antofagasta, rica em salitre e guano.
A fragilidade econômica da Bolívia de fato levava à exploração da região pelos chilenos. Inicialmente eles não tinham grande interesse em dominá-la, mas depois, com a descoberta do valor comercial desses produtos, passaram a ter ambições também de se apossar da província peruana de Tarapacá, abundante em tais riquezas.
A disputa por territórios entre os países envolvidos ocasionou a Guerra do Pacífico, que, apesar de mais modesta que a Guerra do Paraguai, envolveu mais de 70 mil pessoas, deixando um saldo de milhares de mortos.
A guerra começou quando o governo boliviano resolveu aumentar os impostos sobre o mineral, ferindo os interesses chilenos.
Em 1879, aproveitando-se da fragilidade militar da Bolívia, tropas chilenas ocuparam Antofagasta com o intuito de aumentar o domínio territorial de seu país e garantir a exploração do salitre na região. O Peru quis mediar a contenda, mas os chilenos não só rejeitaram a mediação como declararam guerra ao país.
Com o intuito de dominar a região, o Chile resolveu iniciar uma ofensiva, porém a dificuldade em avançar pelo deserto levou o país a investir em combates navais e invasões anfíbias.
Inicialmente os ataques ocorreram no Porto de Iquique, no Peru, onde depois de algum tempo de conflito os peruanos conseguiram afundar sete navios chilenos e expulsar os invasores.
© DAE/Studio Caparroz
Fonte: BLACK, Jeremy. World history atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2008. p. 151.
Glossário
Invasão anfíbia: é um tipo de operação militar que começa no mar e envolve o desembarque dos navios em uma praia inimiga.
Salitre: é o nome comum do nitrato de potássio, substância utilizada como fertilizante e como componente de explosivos.
Página 124
Após o episódio, como represália, os chilenos capturaram um dos principais navios da esquadra peruana. Usando-o contra as próprias forças do Peru, só então conquistaram o almejado porto.
A partir de então, os chilenos iniciaram uma série de investidas contra o Peru e a Bolívia, em batalhas que ocasionaram a morte de milhares de pessoas.
A guerra só chegou ao fim com a assinatura do Tratado de Ancón. O Peru perdeu a província salitreira de Tarapacá e algumas ilhas guaneiras, enquanto a Bolívia perdeu Antofagasta, onde hoje os chilenos exploram uma das maiores minas de cobre do mundo, e o acesso ao mar. Como compensação, os bolivianos teriam livre acesso ao Porto de Arica e seria construída uma estrada de ferro ligando a região a La Paz.
A consequência mais importante da Guerra do Pacífico para o Chile foi a incorporação de amplas áreas onde se concentravam a exploração do salitre. O eixo da economia do país passou da agricultura para a mineração, cujo controle se encontrava nas mãos de capitalistas ingleses. O Estado se fortaleceu em razão dos impostos que cobrava das exportações. Os gastos públicos aumentaram e cresceram as camadas médias ligadas ao aparelho estatal. Nasceu também uma combativa classe operária mineira.
[...] A Guerra do Pacífico foi a primeira na qual os capitalistas europeus (e, em menor proporção, os norte-americanos) tomaram abertamente partido, fazendo-o em favor do Chile e contra a aliança do Peru e da Bolívia […]. A conquista do norte, onde estão as jazidas de salitre, significa também um importante ganho para os grupos dominantes da sociedade chilena.
No Peru, a aristocracia urbana das regiões costeiras e em particular de Lima se reconstruiu, sobretudo sobre à generosidade do fisco. Mas a elite que reconquista suas riquezas primitivas guarda as distâncias; enraizada, pelo menos em parte, no passado da capital, usa contra o governo tanto o moralismo (apresentado intermitentemente em oposição às linhas políticas que não a favorecem) quanto a fidelidade das camadas médias e da plebe urbana, dispostas a colaborar para a conquista do poder político, que já há muito aparece como domínio exclusivo dos generais mestiços da serra.
Na Bolívia, nada disso acontece: uma economia estagnada minou a superioridade das elites tradicionais e constituiu um novo grupo de governo, formado por oficiais vulgares, cujos modos grosseiros e cuja facilidade de corrupção podem ser objeto de denúncias enérgicas, mas que não parecem ter maiores consequências que aquelas determinadas pelo estilo administrativo dos representantes das velhas elites, impopulares por terem imposto sacrifícios em vista de objetivos – como o saneamento monetário e a depuração administrativa – cujas vantagens não eram facilmente perceptíveis.
[...]
No Chile, a situação foi [...] diferente da peruana e mais ainda da boliviana. O regime conservador começou a limitar a força do exército; com a primeira guerra do Pacífico, as forças armadas chilenas adquirem um prestígio nacional sem paralelo no resto da América Latina. Os oficiais do exército chileno compreenderam as vantagens de ser a expressão armada da nação, e, só muito discretamente e em segundo plano, os garantidores da ordem pública; tanto é assim que aceitaram sem dificuldade a missão “política” que lhes foi conferida pelo novo regime […]. O fato de que o exército pudesse ser, ao mesmo tempo, expressão do país e da facção dominante era, para os observadores mais benevolentes, outro índice de uma experiência excepcional, mais europeia que latino-americana, e isso explica – pelo menos em parte – as características peculiares da evolução do país.
DONGHI, Tulio Halperin. História da América Latina. São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p. 225.
Pausa para investigação
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Em 2015, a Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, decretou parecer favorável para a Bolívia com relação a sua saída para o mar, perdida ao final da Guerra do Pacífico.
Forme um grupo com os colegas e, juntos, busquem informações sobre a atual situação dessa questão. Houve finalização do julgamento? Qual foi a consequência da decisão da Corte?
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A Guerra do Chaco (1932-1935)
A Guerra do Chaco foi um conflito travado entre Paraguai e Bolívia pelo domínio de uma área supostamente rica em petróleo.
Sua principal motivação foi a conquista da região do Chaco Boreal, que, além de apresentar grande quantidade de petróleo, era crucial para a Bolívia como via de acesso ao Oceano Atlântico por meio do Rio Paraguai.
À época do antigo Vice-Reinado do Rio da Prata, a região do Chaco pertencia à Bolívia, que, tendo perdido a costa para o Chile na Guerra do Pacífico em 1879, não queria perder o domínio da área e, consequentemente, do petróleo existente nela.
Por muitos anos, Paraguai e Bolívia tentaram chegar a um acordo que ajustasse suas fronteiras para atender tanto um quanto outro, assinando uma série de tratados que não foram cumpridos. Isso agravou ainda mais o problema, somado às perdas territoriais dos dois países em conflitos internacionais ocorridos durante o século XIX.
A partir de 1920, a descoberta de petróleo na região do Chaco tornou a disputa ainda mais intensa. Tanto o Paraguai quanto a Bolívia fizeram concessões de suas reservas a companhias internacionais – esta para a Standart Oil Co. e aquele para a Shell. Entretanto, a produção boliviana precisava ser transportada pelo Rio Paraguai para chegar ao Oceano Atlântico, e a empresa que administrava o petróleo paraguaio, dominando a região dos Chacos meridionais, impedia a passagem de sua concorrente.
Diante do conflito, o Chile, interessado no rompimento entre Paraguai e Bolívia com o intuito de expandir sua atuação no mercado petrolífero, declarou apoio à Bolívia. O Paraguai, por sua vez, recebeu o apoio da Argentina, sua grande parceira comercial.
A partir de tal impasse, os dois países começaram a organizar seus exércitos. Apesar de ter melhores condições e mais reservas monetárias disponíveis para o investimento em suas tropas, os bolivianos foram derrotados, devido à falta de costume com o ar rarefeito e com o clima quente do Chaco Boreal.
© DAE/Studio Caparroz
Fonte: BLACK, Jeremy. World history atlas. Londres: Dorling Kindersley, 2008. p. 152.
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O fim das investidas militares aconteceu em 1935, quando a Liga das Nações interferiu no conflito com o intuito de apaziguá-lo.
A Liga das Nações foi uma organização internacional criada em 1919 com o objetivo de reunir todas as nações do mundo para manter a paz e a ordem e evitar conflitos entre elas. Fundada durante a Primeira Guerra Mundial, mediava os conflitos entre países de forma satisfatória para todos os envolvidos.
Apesar de apoiar a criação da Liga, o Congresso norte-americano recusou-se a aprovar o Tratado de Versalhes – que punha fim à Primeira Guerra –, o que levou os Estados Unidos a ser o único país a ficar fora dessa organização.
Em abril de 1946, a Liga se dissolveu e transferiu suas responsabilidades para a recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU).
O tratado de paz entre os dois países foi assinado somente em 1938, com o Paraguai saindo vitorioso. A Bolívia ficou apenas com o domínio da Planície do Chaco. Apesar disso, a empresa que gerenciava o petróleo boliviano antes do acordo ficou com o controle petrolífero da região somente até 2006, quando este voltou às mãos paraguaias.
Como consequência da guerra, a Bolívia perdeu parte de seu território para o Paraguai. O conflito deixou cerca de 90 mil mortos entre paraguaios e bolivianos, num dos maiores massacres da América Latina.
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Membros das tropas bolivianas em frente à Catedral de La Paz durante a Guerra do Chaco (1932-1935).
Organizando ideias
Leia o texto e faça o que se pede.
Aqui os países mais pobres do continente, os únicos sem saída para o mar, lutaram a guerra dos desesperados, que deixou, numa estimativa conservadora, 80 mil soldados mortos. A Guerra do Chaco terminou há setenta anos. O Paraguai tentou ocupar a região, mas quem se deu bem foi o gado. Há dez cabeças para cada pessoa e quase nenhuma infraestrutura para o ser humano. Pela geografia, é possível imaginar o desastre que esperava o Exército da Bolívia, que buscava conquistar, através do rio Paraguai, uma saída para o Oceano Atlântico, para compensar o que havia perdido para o Chile no Pacífico. Treinados por alemães e armados com o que havia de mais moderno na Europa, os invasores deslocaram tanques Vickers de 6 toneladas para a mata fechada. A gasolina para abastecer os motores era escassa. A água para matar a sede dos soldados mais ainda.
Graças às manobras ligeiras comandadas pelo então coronel José Felix Estigarribia, o Paraguai ganhou a guerra. Esperava retirar do solo a recompensa, petróleo farto, como já havia em território boliviano.
Parece até maldição. Todas as descobertas subsequentes foram do lado boliviano da fronteira definida pelo Tratado de Buenos Aires, de 1938, que pôs fim ao conflito.
O Paraguai ficou maior e mais pobre.
AZENHA, Luiz Carlos. Poeira e conspiração no Chaco paraguaio. Carta Capital, São Paulo: Editora Confiança, n. 493, p. 10, 30, abr. 2008.
1. Analisando as informações sobre a Guerra do Chaco expostas pelo autor, responda: O Paraguai saiu realmente vitorioso desse conflito? Justifique.
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O imperialismo na América Latina
Os direitos humanos da população latino-americana no século XIX não foram somente desrespeitados graças às guerras e ao descaso dos governantes. Mesmo a distância, a política imperialista também foi responsável por uma série de violações.
Na Inglaterra, durante o século XIX, houve um significativo avanço técnico em algumas áreas, como a produção de aço em grande escala e as invenções – por exemplo, o motor de combustão, o automóvel movido a gasolina e a fotografia. Todas essas e outras inovações provocaram profundas mudanças nas relações econômicas internacionais.
A Segunda Revolução Industrial provocou o surgimento de grandes indústrias, que foram gradativamente absorvendo as menores. Também ocorreram nesse período o surgimento e a consolidação de importantes e poderosos bancos.
Nesse contexto, alguns Estados que já se destacavam como potências econômicas – como França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos – começaram a praticar uma política imperialista, que consistia em conquistar e dominar territórios fora de suas fronteiras, neste caso, na Ásia, na África e na América Latina.
Os países que haviam se industrializado necessitavam de matérias-primas e mercados consumidores, fatores amplamente encontrados nas regiões dominadas. A posse das colônias atendia aos interesses capitalistas e insuflava valores nacionalistas.
A Segunda Revolução Industrial foi um processo de transformação da estrutura produtiva da Inglaterra entre 1780 e 1800. Tem como característica o surgimento dos grandes aglomerados urbano-industriais como espaços político-econômicos centrais, que despontaram com o grande crescimento industrial decorrente do uso de novas fontes de energia, como o petróleo, a eletricidade e o gás, que por sua vez permitiam uma maior produção que o uso do carvão como combustível. As mudanças da segunda fase da Revolução Industrial ocasionaram a disseminação das ferrovias, do uso do motor de combustão, do automóvel, do rádio, da televisão etc., transformando de maneira marcante e permanente não apenas os meios de produção mas também o conceito de trabalho e vida em sociedade no século XIX.
O Imperialismo surgiu como desenvolvimento e continuação direta das características fundamentais do capitalismo geral. [...] É a substituição da livre concorrência capitalista pelos monopólios capitalistas [...], mas esta começou a transformar-se diante dos nossos olhos em monopólios, criando a grande produção, [...] os cartéis, os sindicatos, os trustes e, fundindo-se com eles, o capital de uma escassa dezena de bancos que manipulam milhões.
LÊNIN, Vladimir I. O Imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Centauro, 2008. p. 88.
O imperialismo é caracterizado por alguns fatores específicos, como:
• a concentração da produção e do capital, levada a um alto grau de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham papel decisivo na vida econômica;
• a fusão do capital monopolista industrial com o capital bancário, e o aparecimento do capital financeiro e da oligarquia financeira;
• a exportação de capitais, ao contrário da exportação de mercadorias, adquire importância particularmente grande;
• a formação das associações monopolistas internacionais, que partilham economicamente o mundo entre si;
• a partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes.
Na América Latina, as razões econômicas tiveram papel decisivo na expansão imperialista.
Os trustes são empresas ou grupos de empresas que se unem com o objetivo de controlar seu mercado econômico de atuação visando neutralizar a livre concorrência. Frequentemente essas empresas se organizam para controlar todas as etapas da produção de suas mercadorias, desde a exploração para retirada de matéria-prima até a distribuição.
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O imperialismo britânico
No século XIX, o imperialismo inglês preponderou na América Latina, pois, apesar de independentes politicamente, as jovens nações ainda não haviam conseguido se organizar a ponto de produzir e comercializar seus produtos com total autonomia.
A penetração do imperialismo no continente se deu por via comercial e financeira. Desde o começo do século XIX, o capital britânico esteve presente para financiar o comércio exterior, e desde a metade deste século, para explorar minas, agricultura, vias de comunicação, portos etc.
Ao iniciar-se o século XX, a América Latina já absorvia 20% dos investimentos totais do mundo.
Os investimentos britânicos [...] estavam distribuídos de forma desigual pelo continente, pois dependiam da importância de cada país em termos de produção de matérias-primas necessárias ao mercado mundial.
BRUIT, Héctor H. O imperialismo. São Paulo: Atual, 2002. p. 44.
INVESTIMENTOS BRITÂNICOS NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL NO PERÍODO DE 1825 A 1913 (EM MILHÕES DE LIBRAS)
|
Ano
|
América Latina
|
Brasil
|
1825
|
24,6
|
4,0
|
1840
|
30,8
|
6,9
|
1865
|
80,9
|
20,3
|
1875
|
174,6
|
30,9
|
1885
|
246,6
|
47,6
|
1895
|
552,5
|
93,0
|
1905
|
688,3
|
122,9
|
1913
|
1.177,5
|
254,8
|
Fonte: SILVA, S. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 1986.
Na segunda metade do século XIX, os ingleses controlavam a maior parte do comércio exterior e da rede bancária em quase todos os países latino-americanos.
Com o aumento da dívida externa, as nações endividadas entregavam os lucros das alfândegas e até a exploração das ferrovias.
Para melhor compreensão dessa estratégia econômica, tomemos como exemplo o Brasil. Em 1823, emprestamos dos bancos ingleses a quantia de 3 686 200 libras, dando como garantia parte das rendas das alfândegas do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco e do Maranhão. Essa dívida deveria ser paga até 1854, porém, quando o prazo findou, tínhamos amortizado apenas 513 mil libras. Após avanços e retrocessos, o referido emprésti- mo foi liquidado em 1890, 67 anos depois de contraído.
Para garantir seus investimentos, as grandes potências não hesitavam em intervir na política interna dos países latino-americanos. Estudiosos das práticas imperialistas relatam que se aplicou com certa frequência a técnica do bloqueio marítimo ou simplesmente o bombardeio dos portos mais importantes.
A lista das intervenções indiretas ou diretas é longa. Dentre elas, destacamos: a conquista do Texas, do Novo México e da Califórnia pelos estadunidenses (1845-1848); a tentativa de instaurar o protetorado americano nas Ilhas Galápagos, no Equador (1854), e o italiano no Uruguai (1863); a invasão francesa do México com o apoio de Inglaterra e Espanha (1862-1867); a Guerra de Reconquista Espanhola em São Domingos (1866); a intervenção espanhola no Peru e no Chile (1864).
Outros conflitos também podem ser relacionados aos interesses econômicos e políticos das potências imperialistas na América Latina, por exemplo, a Guerra da Independência de Cuba (1866) e a Guerra do Pacífico (1879-1883).
Glossário
Amortização: pagamento de uma dívida por meio de parcelamento com cálculo de juros.
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Pausa para investigação
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Ilhas Malvinas: disputa territorial e formação da identidade
As Ilhas Malvinas, situadas a aproximadamente 500 km da costa argentina, são, desde o final do século XIX, um território em disputa entre os governos da Argentina e da Inglaterra.
Desde sua ocupação, em 1690, o território foi disputado por Reino Unido, França e Espanha, que buscavam o domínio da região devido à abundância de baleias existentes no local, cuja caça era economicamente importante naquele período.
Ao longo dos anos, muitos ataques e conflitos bélicos ocorreram na região, envolvendo especialmente a Argentina e a Inglaterra. Em 1833, as ilhas passaram para o domínio britânico e, em 1982, as forças conjuntas argentinas ocuparam-nas. Após um assertivo bombardeio britânico, a Argentina se rendeu, cedendo o domínio da região à Inglaterra.
Mais de duas décadas depois, a então presidente, Cristina Kirchner, decidiu reclamar novamente a soberania sobre a ilha, reavivando o clima de tensão entre as duas nações.
No início de 2013, o governo britânico propôs uma solução diplomática para o conflito: a realização de um plebiscito na região, por meio do qual a própria população mostraria sua predileção – fazer parte do Reino Unido ou da Argentina.
Na ocasião, a população mostrou-se favorável ao domínio inglês, ostentando até mesmo símbolos britânicos pelas ruas das Ilhas. Apesar disso, a presidente argentina insistiu em continuar a campanha pela retomada das Malvinas, não encerrando a questão.
Martin Zabala/Xinhua Press/Corbis/Latinstock
Mulher vota em referendo para decidir se as Ilhas Malvinas permanecem como território ultramarino do Reino Unido ou aceitam a soberania da Argentina. Puerto Argentino, Ilhas Malvinas, 2013.
Esse episódio é um dos muitos exemplos das distintas possibilidades de identificação nacional, que muitas vezes transpassam os limites territoriais como elemento de formação de uma unidade para se apropriar de outros modos de identificação, como a origem e os costumes.
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