Coleção História em Debate 2 História Ensino Médio



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2. Explique a afirmação de que a ideia de negritude não existe para os africanos que não passaram pelo processo de formação ocidental.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Colônias francesas

Argélia

Antes mesmo dos combates da Segunda Guerra Mundial, a população argelina estava muito descontente com os privilégios dos franceses e da elite argelina que descendia deles. Com o fim do conflito e o enfraquecimento da Europa, o povo argelino intensificou sua insatisfação com o confisco de suas melhores terras, que ficavam nas mãos dos franceses.

A resistência ao domínio francês ocorreu por meio da chamada Guerra da Argélia (1954 -1962), na qual diversos grupos argelinos pró-libertação organizaram-se em ataques de guerrilhas e atos de violência contra os representantes da metrópole.

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Leemage/Glow Images

Capa do periódico italiano La Domenica del Corriere, publicado em 16 de junho de 1957. Na chamada da reportagem de capa, lê-se: "Terror na Argélia: um bando de foras da lei, os membros da Frente de Libertação Nacional (FLN) têm ocupado uma aldeia ao sul da Argélia e abatido todos os habitantes masculinos, poupando apenas mulheres e crianças".

O político argelino Mohamed Ahmed Ben Bella (1916-2012) ajudou a organizar o Movimento pelo Triunfo das Liberdades Democráticas, que pleiteava igualdade para os argelinos, porém a iniciativa foi declarada ilegal em 1949 pela França.

Em abril do mesmo ano, ele e outros ex-militares locais atacaram o correio da cidade de Orã, iniciando a revolta contra a França. Em 1950, Ben Bella encabeçou a formação da Frente de Libertação Nacional (FLN), um partido de ideologia socialista que buscava livrar a Argélia do domínio francês e instituir um novo governo com representantes de origem argelina.

Inicialmente a França obteve vantagem na resistência contra os argelinos. Como estratégia, a FLN organizou ataques urbanos na Argélia e na França, dando início, em 1954, a uma série de investidas e à formação de guerrilhas focadas nos representantes do governo francês, tendo como objetivo conquistar a independência da Argélia.

Em 1961, convocado a interferir nos conflitos, o exército francês promoveu sequestros seguidos de tortura, morte e diferentes formas de violência contra a população. Foi instituído inclusive, em 5 de outubro, o toque de recolher para todos os “muçulmanos franceses da Argélia”.

A resposta da FLN foi a eclosão de mais uma série de atentados contra as forças francesas no país com ataques no próprio território francês. Um exemplo foi o ocorrido em fevereiro de 1962 na estação de metrô parisiense Charonne, que causou a morte de 9 franceses, cujo enterro reuniu mais de meio milhão de pessoas em protesto contra a batalha travada.

Em decorrência disso, no dia 13 de fevereiro foram assinados os Acordos de Evian, que previam o cessar-fogo entre França e Argélia. A FLN decidiu, então, organizar uma ação de massas: proclamou um alto nas ações armadas

Glossário
Alto: solenidade ou ato público que ocorre por determinação legal. No texto, a expressão se refere à paralisação dos ataques da FLN aos representantes do governo francês na Argélia.
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e deu instruções para que a população desrespeitasse o toque de recolher, convocando uma greve geral e outras manifestações. Dessa vez, a natureza pacífica das iniciativas foi ressaltada com palavras de ordem e cartazes.

Neste contexto, em 1962 foi ratificada a independência da até então colônia, que se tornou um país autônomo politicamente. Seu primeiro presidente, o próprio Ben Bella, foi eleito democraticamente quase por unanimidade no ano seguinte.

Organizando ideias

A seguir, encontra-se um pequeno trecho de um livro que conta a história de Paris, capital da França. Leia-o e, depois, faça o que se pede.

Os novos surtos de violência na Argélia coincidiram com novas ondas de imigração em Paris, a maioria vinda da África do Norte. Entre 1947 e 1953, os números oficiais registram que, somente da Argélia, 740 mil imigrantes chegaram a Paris. O número real provavelmente era muito maior, é claro.

[...]


Os norte-africanos em Paris perceberam rapidamente que muitas das promessas [...] em relação à tolerância racial nunca seriam cumpridas ou já haviam sido quebradas. Eles enfrentavam preconceitos diariamente e, como os judeus antes deles, começaram a se reunir em grupos ao redor da cidade, muito mais por sua própria segurança do que por qualquer outra coisa.

HUSSEY, Andrew. A história secreta de Paris. São Paulo: Amarilys, 2011. p. 472.



1. Como os argelinos e os outros norte-africanos que viviam em Paris nas décadas de 1940 e 1950 foram tratados?

2. Como esses imigrantes fizeram para tentar se proteger? Essa tática havia sido uma inovação?

3. Correlacione esse texto ao fim do imperialismo francês na África.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.



Djibuti

O Djibuti é um país de pequenas dimensões localizado no nordeste africano, inicialmente colonizado pelos portugueses, que, em sua expansão comercial e territorial em direção ao Oriente, acabaram perdendo o interesse pela região.

Foi só em 1888 que a França, em decorrência da partilha do território africano entre as potências europeias, tomou posse dele, estabelecendo uma colônia chamada de Costa Francesa da Somália, cuja capital era o Djibuti.

A emancipação do Djibuti foi bem específica, se comparada aos demais processos das possessões francesas, pois ocorreu de maneira pacífica.

No panorama de emancipação dessa região, alguns grupos étnicos defenderam a permanência do país na Comunidade Francesa (união que propunha a liderança política da França sobre suas colônias e ex-colônias em troca de auxílio financeiro), enquanto outros repudiaram a ideia.

Apesar do impasse, em 1967 um plebiscito aprovou a vinculação à França. O quadro só mudou com um novo plebiscito realizado em 1977, quando a população finalmente decidiu pela conversão do Djibuti em Estado independente.

O movimento de emancicipação das possessões francesas, impulsionado pelas consequências da Segunda Guerra Mundial, foi responsável não apenas pela independência da Argélia e de Djibuti mas também de outros territórios.

Em 1956, a França abriu mão do controle das colônias do Marrocos e da Tunísia, que haviam se rebelado contra seu domínio e exigido a independência.

Apesar disso, a metrópole tentou uma última manobra para impedir a concessão definitiva da independência às colônias. A “libertação” seria concedida sob a condição de que fossem realizadas eleições a fim de decidir se as colônias fariam parte da Comunidade Francesa. A Guiné foi a única colônia que votou pela independência imediata. Outras, como Senegal e Sudão, tentaram se organizar e instituir conselhos ou federações com outros territórios. De todo modo, as ex-colônias francesas foram pouco a pouco conquistando sua autonomia, independentemente das diferentes formas de organização.
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Colônias portuguesas

Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau foi colônia de Portugal desde o século XV até 1973, quando, por meio de luta armada, conseguiu conquistar a independência. Apesar de ter obtido a liberdade apenas na década de 1970, a Guiné foi a primeira colônia portuguesa na África a ser declarada independente.

As reações contrárias ao domínio português começaram em 1956, em razão da insatisfação popular e pela atuação do político Amílcar Cabral (1924-1973) que liderou a fundação do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Esse fato foi seguido por um período de luta armada contra o regime colonial.

A guerra de independência na Guiné começou em 1963, com as ações de guerrilha. Durante muito tempo, a reação da metrópole foi a defesa aos ataques do PAIGC por meio da organização de grandes operações militares, mas sem muito sucesso, uma vez que os esforços portugueses estavam concentrados na luta contra os angolanos, que também reivindicavam independência.



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AFP/Getty Images

Guerrilheiros do PAIGC reunidos na Guiné-Bissau, 1971.

Amílcar Cabral foi assassinado, em 1973, por líderes de seu próprio partido sob a suspeita de defender os ideais da elite guineense. Entretanto, mesmo com sua morte, o PAIGC continuou a lutar pela emancipação, declarando, ainda no mesmo ano, a independência da Guiné-Bissau.

Nos meses que se seguiram, os guineenses tiveram o ato reconhecido em vários países, sobretudo nos territórios africanos de ideais socialistas. Os portugueses, entretanto, só aceitaram a independência da Guiné-Bissau em 1974, após o encaminhamento dos conflitos relacionados à concessão da autonomia angolana.

Moçambique

Em 1964 começaram os conflitos por independência em Moçambique, motivados pela exploratória e violenta ocupação portuguesa, agravada pela falta de acesso à educação e escassez de empregos para a população.

A manifestação oficial das reivindicações ocorreu por meio da criação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) – fundada e dirigida por Eduardo Mondlane (1920-1969) e posteriormente por Samora Machel (1933-1986). A estratégia de articulação era a criação de “zonas libertadas” do controle português, que funcionavam com um sistema de organização próprio, como se fossem um Estado à parte dentro do território moçambicano.

A guerra por independência em Moçambique durou cerca de dez anos, num movimento de instituição de áreas livres do domínio colonial que passaram a servir como bases de abastecimento e comunicação das forças revoltosas.

Apenas com a assinatura dos Acordos de Lusaka o conflito se encaminhou para o fim. Em setembro de 1974, estabeleceu-se um governo provisório composto de representantes tanto da Frelimo quanto de Portugal, e, em junho de 1975, foi proclamada oficialmente a independência de Moçambique.
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Angola

O Movimento Popular pela Libertação da Angola (MPLA), fundado por Agostinho Neto (1922-1979), foi o principal grupo que lutou pela independência do país.

Assim como ocorreu com as demais colônias portuguesas, o governo da metrópole não queria negociar a independência, reagindo agressivamente a qualquer tentativa por parte do povo angolano.

A guerrilha entre os grupos independentistas e o exército português começou em 1962. Em 1966, foi criada a União Nacional para Independência Total de Angola (Unita), que passou a figurar no embate entre o imperialismo português e os vários projetos para uma Angola livre.

Em 1974, Angola finalmente se tornaria independente, após a queda do sucessor de Salazar, Marcelo Caetano (1909-1989), na Revolução dos Cravos.

Em 11 de novembro, a independência foi declarada pelo MPLA, reconhecido pelas autoridades portuguesas como representante oficial do povo angolano.



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Keystone-France/Gamma-Keystone/Getty Images

Manifestantes pedindo a independência de Angola, 1960.

A Revolução dos Cravos foi o movimento que derrubou o governo ditatorial de Antonio de Oliveira Salazar em Portugal, restabelecendo as liberdades democráticas, que haviam sido vetadas à população.

A revolta começou em 25 de abril de 1974. Previamente organizados, à espera de uma música escolhida para tocar na emissora de rádio Renascença como senha para o motim, os oficiais de média patente do exército português saíram às ruas exigindo a deposição de Marcelo Cae tano, sucessor de Antonio Salazar.

A revolução recebeu esse nome porque, ao comemorar nas ruas a vitória do golpe, a população portuguesa distribuiu cravos aos soldados participantes.



Organizando ideias

Antonio de Oliveira Salazar (1889-1970) governou Portugal de forma ditatorial entre 1932 e 1968. Durante seu mandato, as colônias começaram o processo de independência. Entre elas, estava o Estado Português da Índia, cuja capital era Goa. Considerado um enclave territorial, era ocupado pelos portugueses desde o século XVI. Sobre as lutas de libertação dessa região, veja a seguir o que Salazar escreveu ao governador da Índia.

Não prevejo possibilidade de tréguas nem de prisioneiros portugueses, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos.

Carta de Salazar a Vassalo e Silva (general e governador da Índia), 14 de dezembro de 1961.



1. O que Salazar quis dizer com essa frase? Interprete-a à luz do que acontecia na época não só com Portugal mas também com as outras potências europeias.

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Resgate cultural

O cinema africano e a divulgação das diferenças

O cinema pode ser compreendido como ferramenta de múltiplas utilidades, às vezes fábrica de sonhos e fantasias, às vezes instrumento de poder e divulgação ideológica, servindo como agente histórico-social que leva à reflexão das muitas dinâmicas sociais das localidades retratadas nos filmes. Um dos papéis assumidos pelo cinema é o de retrato artístico de como as grandes nações se enfrentam pelo controle da política e da economia em diversas regiões.

A África pode ser tratada como um caso específico, uma vez que, durante o Período Colonial, foi muito retratada por cineastas do Ocidente. Por meio de sua arte, eles apresentaram ao mundo um continente estigmatizado pela ideia da fome e da miséria, levando em conta apenas a noção de desenvolvimento pautada no poder de consumo, e não seus diversos aspectos culturais.

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Morgan Creek/Album/Latinstock

Cena do filme Ace Ventura 2 - Um maluco na África. O filme, estrelado pelo ator Jim Carrey (retratado em primeiro plano na imagem), apresenta a África como um continente selvagem e exótico. Estados Unidos, 1995.

Até a década de 1960, a visão da África transmitida pelo cinema era a ocidental. O primeiro filme reconhecido como genuinamente africano foi África sobre o Sena, realizado por alunos do Instituto de Artes e Estudos Cinematográficos (IDHEC), os quais, proibidos de fazer gravações em seus respectivos países de origem, resolveram retratar a vida de imigrantes africanos em Paris.

Já o primeiro festival de cinema africano de fato foi o Jornadas Cinematográficas de Cartago (JCC), em 1966, que buscou, por meio de obras dirigidas e produzidas por africanos, mostrar que a riqueza do continente estava além daquela associada aos valores da sociedade de consumo. O movimento teve seguimento três anos depois, com o Festival Pan -Africano de Cinema e Televisão de Ouagadougou.

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Tahar Cheriaa

Cartaz da 26ª edição do Festival de Cinema de Cartago, realizado em novembro de 2015. O cartaz mostra a imagem dos dois fundadores do festival, Tahar Cheriaa (em primeiro plano) e Ousmane Sembène (em segundo plano). Tunísia, 2015.

A partir de então, o novo momento histórico vivenciado pelas independências conquistadas no continente levou cineastas africanos a deixarem claro o repúdio aos estereótipos usualmente utilizados nas produções cinematográficas referentes à África, criando um grande comprometimento com as questões das várias identidades nacionais africanas.


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Foi a partir do ano 2000 que, de fato, o cinema africano ganhou grande destaque no mundo. Surgiram os festivais de cinema africano, como o Dockanema, o Festival de Cinema de Ruanda, o Curtas-Metragens de Madagascar e o Afrykamera, marcando o momento histórico em que o povo africano passou a divulgar sua multiplicidade, contribuindo para o engrandecimento do patrimônio cultural da humanidade como um todo.

Inicialmente o cinema africano teve – levando em conta o período da pós-independência de muitos países do continente – um caráter bastante vinculado à denúncia das práticas imperialistas.

Atualmente, o cinema africano reflete a necessidade e a vontade da construção de um sentimento de respeito e união entre as diversas culturas do continente, permeando suas formas de organização, peculiaridades e a importância da divulgação da cultura como um meio de imposição da África como um todo, sem remeter aos abusos cometidos pelo imperialismo europeu.



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Haile Addis Pictures/Truth Aid/Archives Du 7Eme Art/Photo12/Afp Photos

Capa do filme Difret, Etiópia, 2014.

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Tom Gilks/Rupert Sagar-Musgrave/Alamy Stock Photo/Latinstock

Quenianos em filmagem de programa televisivo. Nairóbi, Quênia, 2013.

1. Os filmes produzidos na África vêm procurando mudar o olhar estrangeiro a respeito do continente. Por outro lado, os filmes já produzidos sobre a África por não africanos, muitas vezes, veiculam estereótipos, promovendo uma ideia de África que nem sempre corresponde à realidade.

Em grupo, realize um debate sobre como os filmes e a mídia em geral fortalecem ou criam imagens estereotipadas de pessoas, situações ou lugares, e de que forma essa situação pode ser modificada. No caso da produção interna africana, que busca essa mudança, até que ponto ela está sendo eficaz, ou seja, alcançando outros continentes e fortalecendo a identidade africana?

Professor, as orientações e a resposta referentes a esta seção estão no Manual do Professor.
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Debate interdisciplinar
África: um rico continente

O processo de emancipação nacional, na segunda metade do século XX, libertou politicamente as nações africanas.

Entretanto, não houve desenvolvimento econômico após as emancipações capaz de elevar o padrão de vida da população. A economia ainda se baseia na exportação de produtos agrícolas e minerais. Petróleo, diamantes, cobre, alumínio, urânio e coltan são alguns dos materiais naturais mais encontrados no subsolo africano. Apesar dessa imensa riqueza, os países africanos estão entre os mais pobres do mundo, de acordo com indicadores internacionais.

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Fonte: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.



As reservas naturais

As reservas naturais do continente africano tornam a região atraente para os países dependentes de matérias-primas, como os Estados Unidos e a China. Os EUA, por exemplo, desenvolveram uma ofensiva comercial, diplomática e militar para ampliar sua influência no continente. O objetivo é garantir o acesso às fontes de energia e assegurar militarmente as vias de transporte, explorando as riquezas naturais. Os norte-americanos dependem de algumas matérias-primas fornecidas pela África, como manganês (para produção de aço), cobalto, cromo, ouro, flúor e os diamantes industriais.

Zaire e Zâmbia têm metade do cobalto do planeta; as maiores reservas de cromo do mundo estão na África do Sul e no Zimbábue, que também concentram as maiores reservas de metais da platina. Entretanto, o petróleo é a grande questão. A África Subsaariana produz diariamente quase a mesma quantidade de barris que o Irã, a Venezuela e o México juntos. A Nigéria é o principal produtor africano, seguida por Angola. O Sudão também passou a exportá-lo, assim como a Guiné Equatorial, que tem potencial para se tornar um dos grandes produtores africanos de petróleo bruto.
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© Sol 90 Imagens/Cristiane Viana



Atividades

1. Quais são os principais produtos exportados pelo continente africano?

2. Qual é a importância do petróleo na economia dos países africanos?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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Testando seus conhecimentos

Responda no caderno

Professor, as respostas dissertativas desta seção estão no Manual do Professor.



1. (Enem)

Voz do sangue
Palpitam-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue.
Ó negro esfarrapado
do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South
Ó negro da África
negros de todo o mundo
Eu junto
Ao vosso magnífico canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.
Eu vos acompanho
pelas emaranhadas áfricas
do nosso Rumo.
Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a nossa história
meus irmãos.
Disponível em: www.agostinhoneto.org. Acesso em: jun. 2015.

Nesse poema, o líder angolano Agostinho Neto, na década de 1940, evoca o pan-africanismo com o objetivo de

Alternativa e.

a) incitar a luta por políticas de ações afirmativas na América e na África.

b) reconhecer as desigualdades sociais entre os negros de Angola e dos Estados Unidos.

c) descrever o quadro de pobreza após os processos de independência no continente africano.

d) solicitar o engajamento dos negros estadunidenses na luta armada pela independência em Angola.

e) conclamar as populações negras de diferentes países a apoiar as lutas por igualdade e independência.

2. (Unifesp-SP) Nelson Mandela, ex-presidente da República da África do Sul (1994-2000), ganhou o prêmio Nobel da Paz, em conjunto com Frederik de Klerk, em 1993, e hoje é nome de rua em Paris, Rio de Janeiro, Dacar e em Dar Es -Salam; é nome de praça em Salvador, Haia, Glasgow e em Valência; é nome de escola em Bangalore, Berlim, Birmingham e em Baton Rouge. Essa extraordinária popularidade de Nelson Mandela deve-se, sobretudo,

Alternativa c.



a) aos vinte anos que passou injustamente encarcerado pelo regime racista então vigente na África do Sul.

b) à sua campanha incansável em favor dos milhões de africanos vitimados pela Aids e deixados sem assistência.

c) ao fim, negociado e sem revanchismo, do regime do apartheid e ao seu desprendimento com relação ao poder.

d) à sua luta contra o imperialismo e em favor da independência de todos os países do continente africano.

e) ao seu êxito em implantar na África do Sul um programa educacional que eliminou o analfabetismo do país.

3. (Unicamp -SP) O ativista negro Steve Biko, um dos críticos do Apartheid, que vigorou oficialmente na África do Sul entre 1948 e 1990, afirmou: “Nós, os negros, temos que prestar muita atenção à nossa história se quisermos tornar-nos conscientes. Temos que reescrever nossa história e mostrar nossa resistência aos invasores brancos. Muita coisa tem que ser revelada e seríamos ingênuos se esperássemos que nossos conquistadores escrevessem uma história imparcial sobre nós. Temos que destruir o mito de que a nossa história começa com a chegada dos holandeses.”

Adaptado de Steve Biko, I write what I like: a selection of his writings. Johannesburg: Picador Africa, 2004. p. 105, 106.



a) Segundo o texto, por que os negros necessitariam reescrever a história da colonização sul-africana?

b) O que foi o regime denominado Apartheid na África do Sul?
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Responda no caderno.

4. (Fuvest -SP) As resistências à descolonização da Argélia derivaram essencialmente:

Alternativa a.



a) da reação de setores políticos conservadores na França, associados aos franceses que viviam na Argélia.

b) da pressão das grandes potências que temiam a implantação do fundamentalismo islâmico na região.

c) da iniciativa dos Estados Unidos que pressionaram a França a manter a colônia a qualquer preço.

d) da ação pessoal do general De Gaulle que se opunha aos projetos hegemônicos dos Estados Unidos.

e) da atitude da França que desejava expandir suas colônias, após a Segunda Guerra Mundial.

5. (UEM -PR) Após a Segunda Guerra Mundial, surgiram no mundo várias nações independentes, que se formaram principalmente na Ásia e na África em consequência da luta destes povos para se libertarem dos antigos domínios coloniais. Esse processo é conhecido como descolonização. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

Alternativas I, II, IV e V.

I. Com o fim do domínio britânico no subcontinente indiano, as divisões internas entre hindus e mulçumanos levaram ao surgimento de dois países: Índia e Paquistão.

II. No Vietnã, a luta pela independência terminou na década de 1970, com a vitória das forças comunistas.

III. A independência da Argélia foi obtida no início da década de 1950, de forma consensual com sua antiga metrópole.

IV. A Revolução dos Cravos, em Portugal, na década de 1970, acelerou o processo de reconhecimento da independência das ex-colônias na África, pondo fim ao que restava do velho império colonial português no continente.

V. A libertação do Congo belga da dominação colonial só foi conseguida com sangrentas lutas. Tais conflitos se estenderam, após a independência, com confrontos entre etnias e grupos políticos rivais.

Para você ler

A descolonização da Ásia e da África, de Letícia Bicalho Canedo. São Paulo: Atual, 2002. A autora aborda de maneira crítica e reflexiva o processo de descolonização da Ásia e da África, após o período em que foram dominadas, direta ou indiretamente, por nações industrializadas e economicamente mais poderosas.

Gandhi – Coleção Biografia, de Christine Jordis e Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2007. Conheça a história da vida de Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido como Mahatma Gandhi, o apóstolo da não violência que inspirou movimentos por direitos civis no mundo todo.

Para você assistir

Gandhi, direção de Richard Attenborough. Inglaterra, 1982, 188 min. Após ser preso inúmeras vezes e receber a atenção do mundo todo por sua campanha pacífica pelos direitos dos indianos na África do Sul, Gandhi volta à Índia como herói nacional. Lá continua sua luta liderando milhões de indianos em uma iniciativa de não violência e não cooperação para conseguir a independência do país e o fim do domínio do Império Inglês sobre a Índia.

Hotel Ruanda, direção de Terry George. Itália/Reino Unido/África do Sul, 2004, 117 min. Em Ruanda, nos anos 1990, duas etnias entram em conflito, os tútsis e os hútus. Quando estes últimos chegam ao poder, promovem um genocídio contra os tútsis. Paul Rusesabagina é um gerente de hotel que, inspirado pelo amor por sua família, salva a vida de mais de mil refugiados da etnia tútsi abrigando-os no estabelecimento onde trabalha.
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8 A era da globalização

Neste capítulo
O que é globalização?
A globalização neoliberal
Globalização e localismo
Aspectos positivos e negativos da globalização
O Brasil na era da globalização
Globalização e direitos humanos


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Maksym Yemelyanov/Alamy Stock Photo/Latinstock

O século XXI é marcado pela globalização e pela relação dos seres humanos com a tecnologia.

O conceito de globalização vem sendo muito utilizado mundialmente como sinônimo de integração – tanto econômica quanto cultural – entre os países.

Tal integração, ocorrida ao longo do século XX, abrangeu diversos fatores que nem sempre colocaram todos os países envolvidos em posições favoráveis. Esse processo se deu num movimento de interligação e uniformização de vários aspectos, que criaram novos padrões mundiais para a difusão de informações, mercadorias e culturas.
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De acordo com essa realidade, quase tudo o que acontece não atinge somente uma região ou um país, mas todo o planeta. Os problemas políticos, sociais e econômicos passaram a ter escala mundial, impactando direta ou indiretamente as distintas partes do globo. Neste capítulo, estudaremos como a globalização efetivou-se nas diferentes sociedades e como elas passaram a se conectar. Também veremos os aspectos positivos e negativos da globalização e a relação entre esta e os direitos humanos.


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O que é globalização?

O termo globalização surgiu na década de 1980 para designar e sintetizar as modificações econômicas, políticas e culturais que o mundo, num contexto bastante amplo, começou a viver a partir daquele período.

O desenvolvimento tecnológico, sobretudo nas áreas de comunicação e transportes, é, sem dúvida, um dos requisitos básicos para que a globalização se concretize. Entretanto, essas áreas não são as únicas atingidas – ao mesmo tempo em que são um fator importante, são também uma consequência.

Esse termo é ainda usado para definir a interconexão e a interdependência econômica, política e cultural entre as diferentes sociedades. A partir do momento em que grande parte do mundo se globalizou, os problemas sociais passaram a ser de ordem mundial, por exemplo, a questão ambiental e o aumento da temperatura mundial, que afetam a sobrevivência de todos os seres vivos. Outros casos podem ser a violência a determinados grupos – como as mulheres e as crianças – e os crimes contra os patrimônios históricos da humanidade.

A globalização pode assim ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. Este é um processo dialético, porque tais acontecimentos locais podem se deslocar numa direção inversa às relações muito distanciadas que os modelam. A transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral das conexões sociais através do tempo e espaço. [...]

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Trad. Raul Fiker. São Paulo: Unesp, 1991. p. 69-70.



Glossário
Dialético: relativo à dialética, lógica que considera qualquer processo (por exemplo, o histórico) sob dois pontos de vista que se opõem.

Organizando ideias

1. Quais ideias você associa à palavra globalização?

2. Defina com suas palavras o que é globalização.

3. Relacione as imagens ao processo de globalização.

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GUIZIOU Franck/hemis.fr/Alamy Stock Photo/Latinstock

Entrada de supermercado em Dubai, Emirados Árabes Unidos, 2013. De origem francesa, essa rede de supermercados pode ser encontrada em diversos países.

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Léo Burgos

Fachada de loja de equipamentos eletrônicos em São Paulo (SP), 2015. Com produtos vendidos em todo o mundo, a tecnologia dessa empresa é concebida nos Estados Unidos e os componentes de seus equipamentos são fabricados em países da Ásia e Oceania.

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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melaço pescado e cereais



Viajando pela história Mundialização e globalização

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© DAE/Studio Caparroz

Fonte: AQUINO, Rubim Santos Leão de et al. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 134.

Conforme dito, o termo globalização surgiu na década de 1980, mas o fenômeno da mundialização data de tempos mais antigos.



Mundialização é a denominação dada ao processo de aproximação dos seres humanos localizados em diferentes espaços geográficos. Esse processo, que ocorre desde os primórdios da humanidade, foi constantemente ampliado devido às trocas comerciais entre povos de diferentes culturas e localidades.

O contexto de globalização em que estamos inseridos consiste em uma fase da mundialização na qual a sociedade mundial está interligada por relações econômicas que são, por sua vez, legitimadas pela ideologia neoliberal.

A intensificação desse processo remonta ao período das Grandes Navegações europeias, durante os séculos XV e XVI. A possibilidade de circum-navegação e a chegada dos europeus ao continente americano redesenharam o mapa do mundo conhecido até então. Com essas novas rotas, foram abertas mais possibilidades de intercâmbio, inicialmente comercial e depois político (relação metrópole-colônia) e cultural (novos hábitos, novos valores sociais).

A expansão comercial mercantilista estruturou o chamado comércio triangular entre a Europa – que fornecia produtos manufaturados –, a África – fornecedora da mão de obra (escravos) – e a América – exportadora dos produtos coloniais e consumidora das manufaturas europeias.

Um segundo momento da mundialização foi a Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX, com o desenvolvimento dos transportes terrestres (ferrovias) e oceânicos (navios a vapor) e das comunicações (telégrafo). Isso mudou radicalmente as relações de mercado e trabalho, provocando o fim das monarquias (Revolução Francesa) e alterando as relações sociais (surgimento da burguesia e do proletariado).

A doutrina econômica predominante nesse período foi o capitalismo laissez-faire, ou liberalismo econômico. Essa teoria defendia o livre-cambismo e a não interferência do Estado no mercado.

Segundo o economista Adam Smith, um de seus maiores difusores, o comércio internacional isento de impostos alfandegários favoreceria sobremaneira as nações envolvidas com benefícios maiores do que os obtidos por meio da proteção à produção nacional. Dessa forma, autorizar a livre troca de mercadorias entre países ajudaria a economia mundial.

A indústria moderna estabeleceu o mercado mundial, para o qual a descoberta da América havia aberto caminho. Esse mercado desenvolveu enormemente o comércio, a navegação, a comunicação por terra.

A necessidade de um mercado em expansão constante para seus produtos persegue a burguesia por toda a superfície do globo. Precisa instalar-se em todos os lugares, estabelecer conexões em
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todos os lugares. A burguesia, por meio de sua exploração do mercado mundial, deu um caráter cosmopolita para a produção e o consumo em todos os países. [...]

As indústrias nacionais antigas foram destruídas ou seguem sendo destruídas dia após dia. Elas são desalojadas por novas indústrias, [...] por indústrias que não mais trabalham com matéria-prima nacional, mas matéria-prima extraída de zonas remotas; cujos produtos são consumidos não só no próprio país, mas em todos os cantos do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas com a produção do país, encontramos novas necessidades, exigindo, para satisfazê-las, produtos de terras e climas distantes. [...]

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. p. 11-12 e 15.

Esse período também foi marcado por uma nova era de colonialismo, o imperialismo, que significou a ocupação e o domínio de partes da Ásia, da África e da América Latina por países europeus e pelos Estados Unidos. As disputas imperialistas em busca de novas colônias, para facilitar a expansão econômica e o aumento da política belicista, causaram duas guerras mundiais no século XX: a primeira entre 1914 e 1918, e a segunda entre 1939 e 1945.

O aspecto positivo da mundialização foram os produtos advindos do desenvolvimento tecnológico – como o telefone e o avião –, que encurtaram as distâncias e facilitaram o intercâmbio entre as nações, criando a sensação de que nada estava tão longe assim.

Durante a Guerra Fria, os países que compunham o bloco socialista, liderado pela URSS, permaneceram isolados do processo de integração internacional dos mercados, constituindo-se, assim, em barreira geográfica para a globalização. Fora desse grupo, a interdependência entre os países, no que se refere sobretudo à economia, aprofundou-se gradativamente.

A partir de 1986, o presidente russo Mikhail Gorbatchov abriu a economia soviética, por meio da política da glasnost. Entre outras consequências, o muro construído para separar o mundo entre socialismo e capitalismo foi derrubado, em novembro de 1989, em Berlim. Esses dois fatos abriram o caminho para o bloco socialista começar a participar da economia mundial, não restando mais barreiras para a globalização.



Organizando ideias

Não há uma globalização, mas sim globalizações, nem todas convergentes. Essas globalizações manifestam a realidade de um mundo que se tornou comum. Elas correspondem a um processo que não é nem novo nem dotado de um sentido único, e no qual frequentemente se alternam abertura e fechamento. [...]. Os grandes descobrimentos, a constituição dos impérios coloniais europeus e depois a exploração da África e das ilhas do Pacífico extinguiram de modo irrevogável a compartimentação das civilizações. Assim, o mundo tornou-se na prática um mundo unificado. [...]

CANTO-SPERBER, Monique. A globalização com ou sem valores. In: BARRET-DUCROCQ, Françoise. Globalização para quem? São Paulo: Futura, 2004, p. 50.

1. Explique a afirmação da autora do texto de que o que há são globalizações em vez de globalização.

2. O que significa dizer que hoje o mundo é unificado?

3. Quais foram os eventos históricos atribuídos pela autora para que se chegasse ao atual estado de integração global?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.



Glossário
Cosmopolita: termo que faz referência à ideia de cidade atual que contém grande número de pessoas, muitas vindas de outros lugares. Diz-se da união de características culturais de diversos lugares do globo e do respeito a elas.
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A globalização neoliberal

A globalização pode ser observada na internacionalização da informação, da política, da economia e da cultura. Essa nova ordem mundial é consequência das políticas de liberalização, do desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação.

As mudanças tecnológicas ocorridas com o desenvolvimento das telecomunicações, dos meios de transmissão e da expansão da internet possibilitam acesso rápido às informações e mais agilidade a todos os setores – no econômico, por exemplo, elas facilitam as transações comerciais internacionais.

Economia e política

Analisando-a pela perspectiva econômica, a globalização é a mundialização financeira por meio da integração dos mercados e das bolsas de valores, bem como da intensificação dos fluxos de investimento e de capital em escala global.

O caráter global das relações comerciais ficou mais explícito no fim da década de 1970, após Margaret Thatcher tornar-se primeira-ministra da Inglaterra (1979) e Ronald Reagan ser eleito presidente dos Estados Unidos (1980). A partir de então, essas duas grandes potências colocaram em prática novos padrões econômicos pautados na não interferência do Estado na economia, visando aumentar a competitividade do mercado internacional e estimular a influência das megaempresas americanas e inglesas em outros países. Esse movimento consolidou a implementação das novas políticas de mercado neoliberais e deu início à implantação das grandes empresas multinacionais em diversas partes do globo.

As empresas multinacionais são aquelas que, geralmente sediadas em países estabilizados economicamente, instalam filiais em outras nações em busca de aumentar o mercado consumidor e conseguir matéria-prima, energia e mão de obra mais baratas.



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AP Photo/Glow Images

Primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (centro) e o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan (esquerda) analisam o modelo da futura estação espacial. Londres (Inglaterra), 6 jun. 1984.

Na esfera política, o neoliberalismo caracteriza-se como a ideologia da globalização. Essa política tem como princípios básicos a abertura de mercados, o incentivo à indústria nacional, a mínima intervenção estatal na economia, as privatizações de empresas públicas (hegemonia do setor privado) e a desburocratização do Estado.

Muitos cientistas políticos e economistas defendem a globalização econômica como um processo que gera riquezas e desenvolvimento para as nações envolvidas. Entretanto, também é causadora de desemprego e subempregos.

Com o advento do “pensamento único” ou das chamadas políticas neoliberais, passou a prevalecer [...] a ideia de que os Estados abandonassem a cena, abrindo suas fronteiras ao livre jogo das forças do mercado e das finanças internacionais, desregulamentassem quaisquer mecanismos de proteção à economia nacional ou às garantias dos trabalhadores e submergissem junto com toda a sociedade sob uma liberalização geral, em benefício da atuação mais desinibida das grandes corporações. Os argumentos em favor desse rearranjo enfatizam o que é caracterizado como seus aspectos positivos: a difusão das ideias e informações, a atualização e transferência das tecnologias, o rebaixamento dos custos das mercadorias e a ampliação das opções para os consumidores.

SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 42.
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Organizando ideias

1. Observe o mapa a seguir e faça o que se pede.

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© DAE/Studio Caparroz

Fonte: WESSEL, David. U. S. Firms Keen to Add Foreign Jobs. The Wall Street Journal, 22 nov. 2011. Disponível em: . Acesso em: mar. 2016.

a) Identifique os dois países onde houve o maior número de empregos criados e os dois que tiveram o maior crescimento percentual.

b) Relacione as informações do mapa com a política neoliberal estadunidense.

Cultura

O termo cultura vem do latim colere, que faz referência a “plantio”, “cultivo da terra”. Sendo assim, cultura é o cultivo de costumes, rituais e técnicas artísticas, que, reunidos, formam o conjunto de características que unem e identificam determinada população. Na sociedade neoliberal, entretanto, a cultura passou a ter novos papéis.

Muitos historiadores e sociólogos discutem o papel da cultura no neoliberalismo. Algumas teorias defendem a transformação dos aspectos culturais em produtos, na qual uma cultura global, construída por meio de estudos de mercado ou com base em aspectos culturais das grandes potências econômicas, é comercializada pela chamada indústria cultural, funcionando como um mecanismo de imposição de valores pre estabelecidos sob a justificativa de integração da humanidade.

A expressão indústria cultural foi criada pelos sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) na década de 1940, como referência aos novos padrões estéticos que afloravam com o início do neoliberalismo. Segundo os autores, esses modelos se repetiam a fim de formar uma nova percepção artística e cultural voltada para o mercado de consumo.


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A disseminação da cultura – vinda das grandes potências comerciais – como produto de consumo foi facilitada pela utilização coordenada da imprensa, do cinema, do rádio e da televisão como meios divulgadores do consumo em geral de todos os bens passíveis de se tornar mercadorias.

A ideia de indústria cultural evidencia a busca pela universalização de valores, como se isso ocorresse em forma de intercâmbio, com a valorização de variadas culturas. Entretanto, de maneira geral e simplificada, os valores e as mentalidades propostos como mundiais são advindos do Ocidente, mais precisamente dos grupos hegemônicos economicamente – alguns países da Europa e os Estados Unidos da América.

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KAZUHIRO NOGI/AFP/Getty Images

Desfile de Halloween nas ruas de Kawasaki (Japão), 2015.

Outras teorias se atentam para como os padrões culturais ditados pelo mercado em diversas partes do mundo interferiram nas tradições e características particulares de diversas culturas.

Como exemplo, podemos citar a ideia de multiculturalismo, que ressalta a existência de diferentes culturas em determinado campo, o que proporciona a formação de novos costumes em alguns casos. Essa “reunião cultural” existe em decorrência do colonialismo, que inseriu os conceitos ocidentais de cultura em diversas sociedades da África, América e Ásia, somando diferentes conceitos e noções de mundo, relações sociais e representatividade.

[...] o termo “multiculturalismo” é substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais. É usualmente utilizado no singular, significando a filosofia específica ou a doutrina que sustenta as estratégias multiculturais. “Multicultural”, entretanto, é por definição, plural. Existem muitos tipos de sociedade multicultural, como por exemplo, os Estados Unidos da América, a Grã-Bretanha, a França, a Malásia, o Sri Lanka, a Nova Zelândia, a Indonésia, a África do Sul e a Nigéria. Estes são, de forma bastante distinta, “multiculturais”. Entretanto, todos possuem uma característica comum. São, por definição, culturalmente heterogêneos. [...]

HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. p. 50.

Na teoria multiculturalista, há diversas maneiras de analisar os distintos aspectos e tradições que formam a cultura de um povo, que se valem de diferentes pressupostos, como o mercado comercial, a visão pluralista de mundo e a crítica à imposição de padrões culturais. Entretanto, o que diferencia o multiculturalismo de outras teorias a respeito da cultura no mundo neoliberal é a exaltação dos movimentos de resistência e valorização/preservação das culturas locais.



Pausa para investigação

Forme uma dupla com um colega e, juntos, façam uma pesquisa sobre as comunidades tradicionais – aquelas formadas por grupos culturalmente diferentes, que em geral habitam uma área há muito tempo, preservando os hábitos adquiridos por seus familiares – de sua região. Busquem descobrir se onde vocês moram há comunidades desse tipo e qual é o papel da venda de produtos artesanais na fonte de renda delas. Se sim, observem os tipos de produtos vendidos e os perfis das pessoas que os consomem. Caso não haja comunidades tradicionais onde moram, pesquisem outras que despertem o interesse de vocês.

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Globalização e localismo

Ainda no âmbito da discussão sobre globalização está a ideia de localismo, presente no conceito de cultura ou economia globais, já que qualquer aspecto da vida na sociedade neoliberal, por mais que esteja em condição global, tem uma raiz local. Sendo assim, a propagação de um aspecto cultural ou uma empresa multinacional como exemplos globais implica a localização de outros aspectos culturais e empresas multinacionais. Nessa lógica, a afirmação de um padrão global enquadra tudo o que não se encaixa nele por ser considerado exótico ou étnico, num movimento de reafirmação de raízes culturais em todas as instâncias.

[...] Quer isto dizer que, uma vez identificado determinado processo de globalização, o seu sentido e explicação integrais não podem ser obtidos sem se ter em conta os processos adjacentes de relocalização com ele ocorrendo simultânea ou sequencialmente, a globalização do sistema de estrelato de Hollywood contribuiu para a etnização do sistema de estrelato do cinema hindu. Analogicamente, os actores franceses ou italianos dos anos 60 – de Brigitte Bardot a Alain Delon, de Marcello Mastroiani a Sofia Loren – que simbolizavam então o modo universal de representar, parecem hoje, quando revemos seus filmes, provincianamente europeus, se não mesmo curiosamente étnicos. A diferença do olhar reside em que, de então pra cá, o modo de representar hollywoodesco conseguiu globalizar-se. Para dar um exemplo de uma área totalmente diferente, à medida que se globaliza o hambúrguer ou a pizza, localiza-se o bolo de bacalhau português ou a feijoada brasileira, no sentido em que serão cada vez mais vistos como particularismos típicos da sociedade portuguesa ou brasileira.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, n. 48, p. 15, jun. 1997.

Dessa forma, um fenômeno local pode ser globalizado com sucesso, como ocorre no chamado localismo globalizado, a exemplo do uso da língua inglesa como língua universal ou da disseminação do fast-food americano. Por outro lado, pode haver o impacto de práticas e imperativos de fora em culturas locais, o chamado globalismo localizado, que desestrutura a resposta aos produtos da globalização devido à grande necessidade de adaptação, como é o caso das zonas francas, da destruição maciça de recursos naturais para a produção de empresas estrangeiras, do uso turístico de lugares históricos etc.

Comparando as duas tendências, é possível perceber que o globalismo localizado acaba sendo mais nocivo às culturas locais, tendo em vista que a definição dos padrões de globalização varia de acordo com a condição econômica dos países envolvidos no processo. Dessa forma, enquanto as nações desenvolvidas são aquelas que “exportam” aspectos globais, as mais pobres são obrigadas a lidar com os aspectos globais vindos de fora.



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Taba Benedicto/Futura Press

Lanchonete itinerante de comida mexicana em São Paulo (SP), 2014.

Glossário
Adjacente: diz-se de algo que está próximo, vizinho.
Étnico: relativo à etnia; algo que faz parte das características físicas, culturais e linguísticas de uma comunidade.
Exótico: algo diferente, extravagante, que difere daquilo com que se está acostumado.
Fast-food: “comida rápida”, em inglês. É o nome dado aos alimentos que podem ser preparados e ingeridos em pouco tempo.
Imperativo: imposição, autoritarismo.
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Resgate cultural

Redes sociais virtuais

O enorme avanço tecnológico na segunda metade do século XX implicou transformações bastante profundas nas sociedades; a internet, por exemplo, reúne inovações na informática e nas telecomunicações. Por meio da rede mundial, transita uma infinidade de dados, entre empresas, instituições, governos e também, claro, pessoas.

Há alguns anos, uma parte significativa do fluxo de dados que circulam pela internet entre pessoas é mediada por redes sociais virtuais. Nelas, pessoas, assim como empresas, conectadas entre si de maneiras diversas, trocam informações, comentários e conteúdos audiovisuais.

As redes sociais estão transformando a forma pela qual as pessoas se reúnem e atuam coletivamente. Se, antes, a proximidade geográfica e os encontros presenciais eram essenciais para formar e manter um movimento social, atualmente há experiências muito interessantes de uso das redes sociais virtuais para formar redes de atuação coletiva.

A ocupação de escolas da rede estadual paulista, no fim de 2015, por estudantes da educação básica é um exemplo de rede de atuação coletiva impulsionada pela internet. A decisão do governo do estado de fechar escolas e transferir alunos para outras unidades, chamada de “reorganização escolar”, levou muitos estudantes a ocupar suas escolas como forma de protesto.

• O Facebook, uma das principais redes sociais virtuais, tem uma forma de selecionar o que as pessoas verão em seus respectivos “feed de notícias”. Veja algumas regras na figura a seguir e responda: Qual é a tendência nessa rede social: diversidade ou homogeneidade? Justifique sua resposta.



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Arte AE/Estadão conteúdo

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As empresas multinacionais e as transnacionais

A consolidação do neoliberalismo no final do século XIX e decorrer do século XX transformou as noções de comércio e relacionamento entre os países do globo, interferindo diretamente na estrutura de produção das indústrias e em suas políticas comerciais.

As empresas passaram então a atuar além das fronteiras de seus países de origem. Implantando filiais em outras nações, elas viram a possibilidade de aumentar suas forças na competição com as concorrentes por meio da instalação em regiões com abundância de matéria-prima, mão de obra a menores custos e incentivos fiscais.

Embora estejam presentes em diversas regiões do mundo, as empresas multinacionais têm matrizes bem definidas, das quais parte o planejamento da produção e da participação no mercado, característica mais marcante na diferenciação entre elas e as transnacionais.

Assim como as multinacionais, as transnacionais buscam o controle do mercado e o barateamento dos custos de produção; entretanto, sua organização atravessa as barreiras nacionais não apenas na produção e no comércio, mas também na montagem dos processos.

Essas empresas, apesar de terem filiais, não concentram nelas o controle de sua produção.



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DAE


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DAE


Pausa para investigação

O Brasil também tem empresas multinacionais. Utilizando essa informação, pesquise quais são as principais e em quais ramos atuam. Discuta em sala de aula os resultados de sua pesquisa e identifique os aspectos nos quais essas empresas se diferenciam e se assemelham.

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Aspectos positivos e negativos da globalização

A consolidação da globalização como novo panorama para as relações comerciais e de difusão de informações provocou mudanças em todos os aspectos da vida cotidiana. Isso afetou as populações do planeta com a afirmação de novos hábitos e padrões de consumo e a difusão de informações comuns que vieram para aproximar cada vez mais as distâncias e linguagens no que se refere à economia, política, cultura etc.

Apesar de ter promovido mudanças positivas, a globalização, que por si só passa uma ideia de uniformidade e acessibilidade, tem outro lado, como vimos, que localiza e exclui as iniciativas e os aspectos que se encontram fora do esquema global.

Como aspectos positivos da globalização, podemos citar a expansão dos mercados comerciais e o aumento da facilidade de distribuição de produtos, assim como a disponibilidade de capital para investimento em novas tecnologias de diversas áreas, como a medicina, a física etc.

O aumento da produtividade também é visto como fator positivo, já que a produção em larga escala, especialmente quando realizada nos países em desenvolvimento – com mão de obra e matéria-prima mais baratas e incentivos fiscais –, além de baratear os custos, gera mais empregos e crescimento econômico em diferentes áreas do globo.

O acesso à tecnologia também deu um grande salto com o advento da globalização, sobretudo com a criação da internet, que revolucionou e barateou os meios de comunicação, intensificando as relações internacionais e aproximando distâncias e interesses sociais, culturais, políticos, econômicos e tecnológicos.

Como aspectos negativos, destacam-se a perda de autonomia política e econômica – tendo em vista o aumento crescente da relação entre países – e a necessidade constante de planejar estruturas financeiras sólidas com base em investimentos de longo prazo e ideias cada vez mais inéditas, já que a concorrência entre as companhias por mercados consumidores aumenta a cada dia no mundo global.

A crescente necessidade de atualização da mão de obra empregada no processo de produção global desencadeou uma onda de desemprego mundial, tendo em vista que a automação dos processos exige cada vez menos pessoas trabalhando diretamente na produção, gerando a falta de mão de obra especializada.



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Eduardo Zappia/Pulsar Imagens

Casas construídas com material de pré-moldagem de concreto. São João da Boa Vista (SP), 2014.

No campo econômico, inúmeros processos foram intensificados com a globalização da produção e das relações econômicas, como as grandes mudanças cambiais, o aumento da inflação, a elevação de juros e o crescimento da dívida externa, já que, para entrar no esquema global de consumo e fornecimento de materiais e informações, os países precisam fazer grandes adequações.

A população dos países que se enquadram nas especificações exigidas pelo novo mundo global desfruta os benefícios da comunicação espontânea e o acesso aos mais variados e modernos produtos. Entretanto, quem vive nas nações que se encontram à margem do processo não tem acesso algum às condições mínimas de sobrevivência, quanto mais à internet e aos bens de consumo tão populares nos países centrais.

A automação é o processo de substituição da mão de obra humana por máquinas, com o intuito de tornar a produção mais precisa, rápida e econômica.


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De fato, o que impede a globalização de alcançar o sucesso absoluto é a existência de países totalmente excluídos e marginalizados do processo, uma vez que o intuito dela é o rompimento de fronteiras como o excesso de impostos e as barreiras alfandegárias. Mesmo assim, os produtos e serviços fornecidos pelas nações em desenvolvimento ainda enfrentam muitos obstáculos criados pelas nações mais ricas, os quais pesam sobre as populações carentes dos países excluídos.

As barreiras alfandegárias são exigências comerciais impostas pelos governos para controlar o intercâmbio internacional de mercadorias. Entre as formas mais comuns de barreiras estão as tarifas e licenças de importação, que acarretam certa dificuldade às transações e maior domínio para alguns países.

Organizando ideias

Analise a charge a seguir e responda às questões.



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Moisés


Fonte: . Acesso em: out. 2008.

1. Que situação está representada? Explique.

2. Que aspectos da globalização podem provocar a situação descrita? Escolha um deles e explique.

3. Analisando esses aspectos, responda:

a) Quais são os limites da globalização?

b) Quem ela alcança e quem é deixado de fora? Em outras palavras, quem ganha e quem perde com a globalização?

c) A globalização afeta todas as pessoas da mesma maneira?

Professor, as orientações e respostas referentes a esta seção estão no Manual do Professor.


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O Brasil na era da globalização

O Brasil sempre esteve presente no processo histórico da globalização. A colonização o inseriu em uma rede de mercado, de movimentação de pessoas e fornecimento de matérias-primas ao extrair seus recursos naturais para a exportação.

Após a Independência, em 1822, o Brasil passou do jugo português para o inglês, atendendo às demandas de uma nova ordem de mercado. Posteriormente, o Brasil tornou-se um dos maiores exportadores de café. Hoje há uma economia no país que se destaca pelo desenvolvimento social, político e cultural.

Para o Brasil se inserir no fenômeno da globalização, foi preciso provocar algumas mudanças radicais em sua base política e econômica.

Com a criação do Plano Real, em 1994, o país tornou-se atrativo para investimentos diretos de estrangeiros, conseguindo ao longo dos anos financiar os crescentes déficits existentes.

A economia brasileira é aberta, o que integra o país ao mercado financeiro internacional, aumentando o investimento externo. Isso representa uma alternativa para financiar o desenvolvimento, criar novas vantagens competitivas, desenvolver projetos de exportação, expandir a produção e diminuir a importação.

O acesso aos mercados internacionais gera a entrada de produtos no país, que muitas vezes são mais baratos ou mais aprimoradas que os fabricados aqui. Isso, por um lado, aumenta a possibilidade de consumo para a população, mas, por outro, cria grande concorrência para as indústrias nacionais, que nem sempre conseguem se manter no mercado.

Culturalmente, a globalização e, sobretudo, a internet facilitaram o acesso dos brasileiros a manifestações artísticas de diferentes partes do mundo, proporcionando o intercâmbio cultural com outros países.

O acesso ao conhecimento científico também foi bastante beneficiado com as facilidades de comunicação e difusão de informações.

Organizando ideias

Com base nos dados apresentados na tabela a seguir, faça o que se pede.



EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS EM 2015

Produto

Participação nas exportações (%)

Produto

Participação nas exportações (%)

Soja em grão

11,9

Café em grão

2,9

Minério de ferro e seus concentrados

9,2

Celulose

2,9

Petróleo bruto

6,3

Carne bovina

2,4

Carne de frango

3,3

Milho em grão

2,2

Farelo de soja

3,1

Aviões

1,8

Açúcar

3,0

Automóveis

1,7

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