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Sugestões de respostas das atividades
INTRODUÇÃO
Procedimentos pedagógicos
A Introdução apresenta conceitos centrais para a discussão sobre a natureza do conhecimento histórico, destacando suas relações com o tempo presente e os processos sociais que resultaram no mundo em que vivemos. Para isso, está dividida em 11 partes. A primeira delas discute a importância do estudo da História a partir do exemplo da formação da cultura juvenil ao longo do século XX. A segunda parte aborda o tema das diferentes visões historiográficas, enquanto a terceira parte relaciona o estudo do passado com a reflexão sobre o presente. Em seguida, na quarta parte, há uma reflexão sobre o conceito de processo histórico a partir do exemplo do processo de abolição da escravidão no Brasil, durante o século XIX. As partes cinco, seis e sete discutem conceitos relacionados com a marcação do tempo, o tempo histórico e a duração dos fatos históricos, contribuindo para refletir sobre a dimensão temporal do conhecimento histórico. Um tema correlato ao da marcação do tempo é abordado na parte oito, quando se discute a questão da periodização da História. Finalmente, as partes nove, dez e onze abordam a questão dos sujeitos históricos, da construção dos fatos por meio das interpretações do historiador e a relação entre história, memória e cidadania.
Para iniciar a discussão do capítulo, é possível abordar o conceito de cultura juvenil a partir da experiência dos alunos. Nesse sentido, pode-se questionar os alunos sobre o que caracteriza a cultura juvenil no presente, destacando hábitos, práticas sociais, comportamentos, objetos utilizados, a vestimenta, a linguagem e o uso de gírias, as festas, a comunicação, entre outros elementos. Pode-se também questionar se a cultura juvenil é idêntica àquela praticada por outros grupos etários, como os adultos ou idosos de nossa sociedade. É possível que os alunos afirmem que, ainda que existam pontos de contato, a cultura juvenil possui uma identidade própria que distingue o jovem ou adolescente do adulto e do idoso. Essa reflexão permite introduzir o tema da importância do estudo da História, destacando que para compreender o surgimento dessa cultura juvenil, que se diferencia da cultura de outros grupos etários existentes no interior de nossa sociedade, é necessário compreender processos históricos que se desenvolveram a partir da segunda metade do século XX, originando novas práticas sociais que culminaram no que chamamos de cultura juvenil.
Desse modo, pode-se afirmar que, para a compreensão de processos sociais do presente, é importante uma reflexão histórica, a fim de recuperar a dinâmica social que originou tais processos. Além disso, o estudo da História permite identificar relações de ruptura e permanência ao longo do tempo, tornando possível a comparação de diferentes práticas sociais entre os jovens ao longo do tempo. Nesse caso, é possível propor a realização de uma Atividade Alternativa para explorar essa temática. Pode-se pedir aos alunos que realizem entrevistas com adultos e idosos com o objetivo de traçar um perfil da cultura juvenil que fora vivenciada por tais pessoas quando eram adolescentes. Com base nesse perfil, é possível comparar, em sala de aula, as práticas dos jovens de gerações anteriores com as dos jovens atuais, identificando elementos que se transformaram e outros que permaneceram similares.
Além disso, a discussão proposta na atividade trata de outro tema relacionado com a natureza do conhecimento histórico. Trata-se da temática da multiplicidade de sujeitos históricos presente na narrativa historiográfica contemporânea. Os historiadores, especialmente a partir do século XX, destacaram os papéis históricos de diferentes sujeitos sociais. Isso possibilitou o alargamento do conhecimento histórico, já que novas temáticas foram incorporadas aos estudos realizados por historiadores, destacando que a História não é feita apenas por "grandes homens ou líderes políticos". Nesse caso, pode-se destacar que isso contribuiu para afirmar o papel social de diferentes sujeitos históricos, além de provocar mudanças na maneira como a História é construída e narrada.
Para reforçar isso, é possível explicar aos alunos que a temática dos sujeitos sociais permite abordar a experiência de múltiplos pontos de vista quando se analisam os processos históricos, evitando com isso a construção de uma narrativa que só defenda a perspectiva de um grupo determinado. Pode-se apontar como exemplo a questão da escravidão, que por muito tempo foi analisada apenas da perspectiva dos senhores de escravos e da opressão. Porém, posteriormente, especialmente a partir das décadas de 1980 e 1990, os historiadores passaram a questionar essa perspectiva e incorporar elementos que permitiram construir uma história do ponto de vista das pessoas escravizadas e que ressaltava a luta desses indivíduos contra o regime escravista. Da mesma forma, pode-se apontar o exemplo da história das mulheres, das crianças, dos idosos, dos trabalhadores, dos grupos indígenas, dos afrodescendentes, dos homossexuais e transexuais, das pessoas com deficiência e muitos outros grupos.
É possível articular essa questão à relação entre passado e presente por meio do exemplo das políticas indigenistas proposto no texto Passado e presente, na página 11. Ele destaca o processo histórico de luta das populações indígenas que vivem no Brasil por direitos sociais e pela manutenção de suas práticas e modos de organização social. Por meio disso, é possível refletir sobre a importância do estudo da história indígena segundo uma perspectiva indígena para compreender os conflitos que se desenrolam atualmente e que afetam essas populações, bem como entender o impacto que a longa história de luta dos indígenas teve nas políticas públicas do Estado brasileiro.
Em seguida, pode-se abordar alguns conceitos necessários para o estudo da História: o de processo histórico, o de marcação e periodização do tempo na História e o de duração dos fatos históricos. Esses
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conceitos estão relacionados entre si e destacam a dimensão temporal do conhecimento histórico. Nesse sentido, vale recuperar a afirmação de Marc Bloch, presente na página 9, de que a história é a "ciência dos homens [seres humanos] no tempo". Dessa forma, para o estudo da História, a periodização e a reflexão sobre o tema são fundamentais.
Porém, vale ressaltar que defender a dimensão temporal da História não significa que o trabalho do historiador seja apenas o de indicar as datas em que determinados acontecimentos ocorreram, mas relacionar processos sociais com diferentes temporalidades e durações. Por isso, pode-se dizer que o tempo histórico não se confunde com o tempo do calendário, tampouco com o tempo da natureza. Os historiadores buscam identificar a duração de processos históricos e relacionar isso com permanências e rupturas no modo como as sociedades humanas se organizam em diferentes espaços do planeta. É essa análise das durações que resulta na elaboração do conceito de processo histórico. Esse pode ser definido como o conjunto variado de acontecimentos e fatos que provocam, ao longo do tempo, modificações importantes nas sociedades humanas. Para abordar essa ideia, é possível explorar o exemplo da abolição da escravidão no Brasil mostrado no texto O que é "processo histórico"?, na página 12. Por meio dele, é possível demonstrar que a temática do tempo histórico não consiste simplesmente no registro das datas em que ocorreram determinados acontecimentos, mas na relação de processos que provocaram mudanças sociais. Assim, estudar a abolição não se reduz a saber quando foi criada a Lei Áurea, mas relacionar a criação dessa lei com um conjunto de lutas e processos sociais anteriores, os quais envolveram diferentes grupos sociais que lutavam contra a continuidade das práticas escravistas e enfrentavam aqueles que defendiam sua continuidade no Brasil.
Isso também permite refletir sobre a duração dos fatos históricos, na medida em que um processo histórico combina elementos de curta duração (como a assinatura da Lei Áurea), com elementos de média duração (como a conjuntura política do Segundo Reinado no Brasil) e com fatos de longa duração (como a constituição das relações escravistas no mundo ocidental a partir do início da Idade Moderna). Nesse sentido, pode-se ressaltar que os processos históricos resultam da combinação de diferentes durações e são produzidos por um conjunto muito variado de acontecimentos e fatos e pelas ações de diferentes indivíduos e grupos sociais.
Finalmente, é possível destacar que os historiadores utilizam ferramentas que auxiliam na reflexão sobre o tempo e sobre a duração. Exemplos disso são as linhas do tempo e a periodização. É importante ressaltar que tais ferramentas são convenções estabelecidas pelos historiadores e não são elementos naturais ou universais. A periodização, por exemplo, da História em Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea foi criada pelas sociedades europeias e privilegia acontecimentos que afetaram a história da Europa. Por isso, é possível questionar essa forma de periodização e elaborar outros modos de organizar o tempo em períodos. No boxe Os marcos históricos, localizado na página 17, há um exemplo de outra forma de periodização, elaborada pelo povo indígena Kaxarari, que vive no Amazonas e em Rondônia.
Para encerrar a discussão da Introdução, é possível abordar um último tema relacionado ao conhecimento histórico. Trata-se da questão dos documentos históricos. Nesse caso, pode-se destacar que o trabalho do historiador envolve a análise de diferentes registros para compreender o funcionamento das sociedades humanas ao longo do tempo.
Vale destacar que os documentos históricos não produzem conhecimento histórico por eles mesmos. Na realidade, um documento se torna conhecimento a partir da análise e dos questionamentos feitos pelos historiadores quando estudam tais registros. Para isso, os historiadores elaboram questões para interpretar e analisar os documentos selecionados visando entender as sociedades humanas do passado. É por meio desse trabalho com os documentos que os historiadores produzem os fatos históricos, que serão organizados a partir de diferentes durações e permitirão estudar os processos históricos.
Um exemplo de trabalho com documentos históricos é a análise das memórias individuais e coletivas de uma sociedade. Os historiadores podem, a partir dessas memórias, refletir sobre elementos variados vividos pelos indivíduos ou grupos que produziram tais memórias e relacioná-los com a luta por cidadania e por direitos. Assim, pode-se dizer que o trabalho do historiador e o conhecimento histórico são elementos que possibilitam o fortalecimento de práticas de cidadania e de recuperação da memória, ajudando os grupos sociais do presente a lutar por transformações sociais e melhorias na sociedade. Essa temática pode ser mais bem explorada por meio de uma proposta de Atividade de Inclusão. Para tanto, proponha aos alunos que se organizem em grupos e realizem entrevistas com pessoas com deficiência, de modo a resgatar a memória de luta desses indivíduos por inclusão e direitos sociais. Tais entrevistas podem ser retomadas em sala de aula por meio da produção de um mural com os depoimentos e os relatos de experiências. Vale lembrar aos alunos que esse trabalho com as memórias é um exemplo de análise de documentos históricos, por isso é necessário que eles analisem as informações de uma perspectiva histórica, contextualizando aquilo que foi proposto e fazendo questionamentos aos documentos.
CRONOLOGIA SOBRE POLÍTICAS INDIGENISTAS NO BRASIL
(p. 12)
1. Pretende-se, com essa atividade, que o aluno perceba que houve avanços na política indigenista no Brasil. Os direitos conquistados pelos povos indígenas precisam ser respeitados e cabe ao Estado um importante papel de fiscalização para que não haja violação desses direitos. Percebe-se que ainda há muito a avançar, por exemplo, obtendo a aprovação e implantação do Estatuto das Sociedades Indígenas.
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2. O objetivo é que o aluno compreenda que o estudo da História pode nos ajudar a reconhecer a imensa diversidade de povos indígenas que vivem no país, suas necessidades e direitos à terra e à preservação de sua cultura, colaborando para que possamos ser mais críticos em relação às políticas indigenistas brasileiras.
ATIVIDADES
(p. 20)
Identificação
a) A imagem é uma fonte iconográfica e material.
b) A imagem foi produzida no Reino de Benin, entre os séculos XVI e XVII.
Descrição
a) Na imagem são representados cinco sujeitos históricos: dois guerreiros, trajando saiotes e com bainhas de espadas. Eles sustentam escudos sobre a cabeça do rei. Quanto ao tamanho, os guerreiros são menores que o rei, mas maiores que os criados. Estes encontram-se nas laterais da cena. O rei (oba) usa uma espécie de gola de colares de coral e coroa de contas. Ele é a maior figura e encontra-se no centro da cena. Os criados, que aparecem nus, nas laterais, ao lado do rei e dos guerreiros, são as menores figuras da cena.
b) No centro há um cavalo, montado pelo rei. Existem dois escudos, usados pelos guerreiros como proteção ao rei. Colares de coral e uma coroa de contas que são insígnias reais. Há ainda, no canto superior direito, uma figura pequena com arco e carcás (espécie de estojo para carregar flechas).
c) A imagem é um relevo em placa de latão. Em razão do material usado, predominam tons dourados. Os objetos e as figuras são representados com riqueza de detalhes.
Análise
a) A imagem é uma representação da realeza do Reino de Benin, o oba, com seus guerreiros e criados.
b) A cena apresenta uma estrutura rigidamente simétrica. O rei ao centro e seus quatro acompanhantes em paralelo nas laterais.
c) Tanto a posição do rei como o fato de ele superar em altura os outros personagens denotam o seu poder e autoridade
Interpretação
a) O rei (oba), guerreiros e criados. A figura pequena no lado direito superior não é identificada. Pela imagem não é possível determinar quem ou o que seja.
b) A cena apresenta um cortejo, no qual o rei é acompanhado por guerreiros que o protegem e criados que o servem.
c) A imagem denota a importância do rei como autoridade e poder máximo do reino. Ela também nos dá indícios de uma sociedade desigual, rigidamente hierarquizada, tendo no topo o rei, uma elite formada por guerreiros e, na base, trabalhadores (os criados).
d) Algumas dúvidas que podem aparecer: os criados são trabalhadores livres ou escravos? Que outros grupos sociais existiam nesse reino? Por que o rei usa colares de coral? Qual será a importância dos guerreiros nessa sociedade? Há alguma pista na imagem sobre atividades econômicas? Professor, esses são exemplos de perguntas que os alunos podem fazer. Passe para eles alguns desses exemplos antes de iniciar a atividade.
e) Professor, é muito importante deixar claro para os alunos que eles não têm obrigação nenhuma em acertar as hipóteses. Essas hipóteses são inferências, possíveis respostas às perguntas que foram elaboradas anteriormente. Procure saber se algum aluno já estudou esse assunto e incentive-o a utilizar essas informações para a criação das hipóteses.
Fechamento
1. Depois da socialização, podem ser indicados materiais de pesquisa para a turma a fim de que esclareçam o máximo de dúvidas que persistiram. Uma boa fonte de pesquisa é o livro de Regina Claro. Olhar à África: fontes visuais para a sala de aula. São Paulo: Hedra Educação, 2012. p. 101 a 113.
2. a) Segundo Heródoto, o objetivo da História era "evitar que os vestígios das ações praticadas pelos homens se apagassem com o tempo e que as grandes e maravilhosas explorações dos gregos, assim como as dos bárbaros [persas], permanecessem ignoradas".
b) Para o historiador Peter Burke, o estudo do passado ajuda a desenvolver uma sensibilidade à diversidade humana, ou seja, contribui para que as pessoas aprendam a respeitar as diferentes formas de pensar e de se comportar e os diversos modos de viver. De acordo com ele, essa sensibilidade pode ser útil para orientar nossa ação política.
c) Segundo o historiador, "cada geração, vivendo com os problemas do presente, interroga o passado pensando em suas próprias questões", isto é, o historiador investiga o passado a partir de questões relacionadas ao seu presente. Porém Burke adverte: "Mas ao mesmo tempo que usamos o presente para formular perguntas, temos que deixar o passado dar suas próprias respostas", procurando compreender as especificidades de cada época.
3. A ideia é que o aluno seja confrontado com outras formas de medir o tempo, compreendendo que a contagem do tempo depende das crenças e dos costumes das diversas sociedades.
4. Resposta pessoal.
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5. Existe uma divisão clássica para a história da humanidade - que tem mais de 100 mil anos - entre Pré-História, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Essa divisão é criticada por sua perspectiva eurocêntrica. É possível trabalhar com periodizações alternativas, criando novos temas, como a história indígena.
6. As fontes materiais podem ser escritas, iconográficas (como pinturas e fotografias), ferramentas, armas, utensílios em geral, ruínas de construções etc. As fontes imateriais são lendas, contos e tradições transmitidas oralmente de geração a geração.
7. Fato histórico é um acontecimento no tempo e no espaço. Por exemplo: no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea no Brasil. Processo histórico é um conjunto de fatos inter-relacionados. Para entendermos o fim da escravidão no Brasil, por exemplo, é preciso conhecer e relacionar vários fatos históricos ligados às lutas de resistência dos escravos, às ideias iluministas, às revoluções do século XVIII, às pressões externas inglesas pelo fim do tráfico negreiro, aos interesses de parte da elite brasileira, defensora de uma emancipação lenta e gradual, e aos movimentos abolicionistas do Brasil.
Texto complementar
O texto a seguir é um fragmento do relato do xamã ianomâmi Davi Kopenawa sobre a destruição da Amazônia e o modo como isso afeta a vida e os costumes das populações indígenas que vivem na região. No trecho selecionado, ele fala sobre a importância de os indígenas narrarem a memória de suas experiências como forma de denunciar a exploração predatória dos rios e do meio ambiente das regiões onde vivem. Dessa forma, é possível relacionar a construção da memória indígena, por meio da narração de suas histórias e costumes, com a luta por cidadania e direitos políticos e sociais.
A primeira vez que falei da floresta longe de minha casa foi durante uma assembleia na cidade de Manaus. Mas não foi diante de brancos, e sim de outros índios! Era a época em que os garimpeiros estavam começando a invadir nossas terras, nos rios Apiaú e Uraricaá. Então, Ailton Krenak e Álvaro Tukano, lideranças da União das Nações Indígenas, me convidaram a falar. Disseram-me: "Você deve defender a floresta de seu povo conosco! Precisamos falar juntos contra os que querem se apossar de nossas terras! Senão, vamos acabar todos desaparecendo, como nossos antigos antes de nós!". Mas eu não sabia falar daquele jeito e o sopro de minha palavra ainda era curto demais! Apesar disso, não recuei. [...]. Algum tempo depois, foram os Makuxi que me convidaram a uma de suas grandes assembleias. Foi em Surumu, nas terras deles, nos campos de nosso estado de Roraima. Encorajaram-me de novo a falar: "Venha defender sua floresta entre nós, do mesmo jeito que o fazemos para nossa terra!". Dessa vez era uma reunião bem maior. Havia gente de muitos outros povos e os brancos também eram numerosos. Eu não tinha ideia de como iria conseguir discursar diante de toda aquela gente sentada com os olhos pregados em mim! [...].
Naquela época, eu temia ter de falar diante de um grupo de desconhecidos, longe da minha floresta e, ainda por cima, na linguagem dos brancos! Minhas palavras ainda eram poucas e torcidas. [...] Estava aflito e meu coração batia forte no peito. Ainda não sabia fazer sair as palavras de minha garganta, uma atrás da outra! Dizia a mim mesmo: "Mas como é que vou fazer isso? Como é que os brancos falam nessas ocasiões? Por onde começar?". Eu procurava com ansiedade o começo das palavras que podia dar a ouvir. Minha boca estava seca de medo. E, por fim, chegou a minha vez de falar! Fiquei muito envergonhado e devia dar mesmo dó de ver! Então, falei de repente o que tinha em mente naquele instante: "Eu não sei falar como os brancos! Quando tento imitá-los, minhas palavras fogem ou se emaranham na minha boca, mesmo que meu pensamento permaneça reto! Minha língua não seria tão enrolada se eu estivesse falando aos meus, na minha língua! Mas pouco importa: já que vocês me dão ouvidos, vou tentar! Desse modo minhas palavras se fortalecerão e talvez um dia sejam capazes de deixar preocupados os grandes homens dos brancos!"
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 385-386.
Sugestões de livros
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
· Livro inacabado no qual o historiador francês discute questões relacionadas com a metodologia da História e com o conhecimento histórico. O ponto de partida da obra é a reflexão sobre a importância do estudo da História, a qual é relacionada com diversas questões importantes para a reflexão sobre a natureza do conhecimento histórico e o trabalho do historiador.
HOBSBAWM, Eric J. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
· O historiador Eric Hobsbawm reuniu, nessa obra, 22 ensaios sobre metodologia da História, refletindo sobre as implicações políticas e sociais do discurso historiográfico e também sobre a importância da memória e da História na organização política e social no mundo contemporâneo.
PERROT, Michelle. Excluídos da História. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
· A historiadora francesa reflete sobre o papel de diversos grupos minoritários nos processos históricos, destacando com isso a importância da recuperação da multiplicidade dos sujeitos históricos para o estudo da História em diferentes contextos.
PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria (Org.). Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2012.
· Livro que traz textos de diversas historiadoras que refletem sobre diferentes aspectos da história das mulheres e do seu papel nos processos históricos. Dessa forma, a obra oferece um panorama do tema
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e permite refletir sobre a importância da introdução de novos sujeitos históricos na construção da historiografia.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. Ilustrações de Pedro Rafael. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
· Nesta intrigante obra do sociólogo Reginaldo Prandi, estão reunidos e organizados os mitos dos orixás que fazem parte das tradições afro-brasileiras. O livro conta com importantes informações e comentários, que ajudam a esclarecer e a conhecer melhor essas narrativas.
WITTMANN, Luísa Tombini. Ensino (d)e história indígena. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
· A obra reflete sobre o ensino de história indígena nas escolas, destacando estudos contemporâneos que fornecem elementos para tratar da temática a partir da perspectiva da diversidade cultural e dos contatos entre povos indígenas e não indígenas.
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