Geografia Espaço e identidade Levon Boligian, Andressa Alves 2 Componente curricular Geografia



Yüklə 2,22 Mb.
səhifə25/55
tarix09.01.2019
ölçüsü2,22 Mb.
#94464
1   ...   21   22   23   24   25   26   27   28   ...   55
. Acesso em: 16 jan. 2016.

0145_002.jpg

Gráfico: ©DAE

Fonte: ONU. Food and Agriculture Organization (FAO). Statistics Division. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

Analise a evolução da produção dos gêneros agrícolas apresentados nos gráficos. O que é possível notar com relação ao desempenho da produção de cada um dos grupos de gêneros agrícolas: os de exportação e os alimentares?


Página 146

Processo de modernização desigual

Nas últimas décadas, a maior parte dos créditos bancários destinou-se principalmente aos produtores rurais individuais ou cooperados que produzem para o agronegócio (reveja o conteúdo da página 64, no Capítulo 4).

De um lado, essa política agrícola do governo federal acaba por beneficiar, principalmente, os grandes proprietários rurais, já que a produção de boa parte dos gêneros agrícolas e pecuários para as agroindústrias e para exportação (commodities), é viável, sobretudo, por meio do sistema de monocultura, ou seja, do cultivo de um único gênero agrícola ou da criação de gado em largas extensões de terras. Esse fato explica a ocupação de áreas cada vez maiores do território brasileiro por lavouras monocultoras e por pastagens e o aumento da participação desses gêneros na produção agropecuária nacional nas últimas décadas, como bem mostraram os gráficos do tópico anterior.

Por outro lado, essa mesma política agrícola prejudicou os pequenos e médios produtores rurais que, em geral, recebem recursos financeiros insuficientes para fomentar sua produção e modernizar suas propriedades. As exceções ficam por conta daqueles pequenos proprietários associados a cooperativas agrícolas ou que trabalham dentro do sistema de integração com indústrias de processamento, as agroindústrias, como vimos na página 67, do Capítulo 4.

Embora enfrentem grandes dificuldades, esses agricultores e criadores são atualmente responsáveis por cerca da metade da produção de gêneros agrícolas alimentares, como mandioca, milho, feijão, frutas, verduras, legumes, aves e porcos, e empregam uma parcela significativa da mão de obra no campo brasileiro.



0146_001.jpg

Ricardo Teles/Pulsar Imagens

O suco de laranja, sobretudo processado em indústrias localizadas no interior do estado de São Paulo, é um dos gêneros de exportação mais expressivos atualmente. Na imagem acima, descarga de laranja em carroceria na zona rural do município de Matão (SP), 2012.

0146_002.jpg

Ernesto Reghran/Pulsar Imagens

Colheita de mandioca para produção de farinha em Paranavaí (PR), 2015
Página 147

Mecanização desigual entre regiões

Nas últimas décadas, a formação na Região Centro-Sul de um complexo agroexportador baseado principalmente em grandes propriedades rurais acabou concentrando a maior parte das lavouras mecanizadas do país. Observe, no gráfico a seguir, como a mecanização do campo evoluiu de forma desigual entre as grandes regiões brasileiras e, no mapa, a situação atual desse processo.

0147_001.jpg

Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: IBGE. Atlas do espaço rural brasileiro. Rio de Janeiro, 2011. p. 144. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

0147_002.jpg

Gráfico: ©DAE

Fonte: IBGE. Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro, 2006. p. 559. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

Concentração fundiária

O apoio estatal dispensado à modernização das monoculturas colaborou para que, nas últimas cinco décadas, ocorressem importantes transformações na estrutura fundiária brasileira, ou seja, na composição do número ou quantidade de propriedades rurais e no tamanho ou área ocupada por elas. Vamos entender os motivos dessas mudanças.

Sem o apoio financeiro necessário por parte do Estado, uma parcela significativa dos pequenos proprietários rurais enfrenta grandes dificuldades, não podendo investir em técnicas e equipamentos mais modernos. Por isso, eles produzem com recursos rudimentares, obtendo uma baixa produtividade agrícola média por hectare cultivado. Em muitas situações, a produção não supre nem mesmo as necessidades de subsistência dos próprios minifundiários, que não conseguem gerar excedentes para serem comercializados.

Existem ainda situações em que os pequenos proprietários contraem dívidas na esperança de pagá-las com boas safras. Quando isso não ocorre, para saldar os débitos contraídos muitos deles são obrigados a entregar suas terras aos bancos (hipoteca) ou vendê-las para empresas agrícolas ou grandes fazendeiros.

Nesse sentido, a expropriação da terra, ou seja, a perda das propriedades pelos pequenos e médios produtores rurais tem sido a principal causa da concentração da estrutura fundiária, isto é, do aumento da área ocupada pelos grandes estabelecimentos rurais do país.


Página 148

Os dados do gráfico abaixo evidenciam esse processo.



0148_001.jpg

Gráfico: ©DAE

Fonte: MINISTÉRIO DO DESENVOLVI- MENTO AGRÁRIO. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

Mudanças nas relações de trabalho no campo

A modernização das atividades agrícolas alterou significativamente as relações de trabalho no campo. Com a mecanização das lavouras monocultoras, grande parte da mão de obra antes empregada nas fazendas – de funcionários assalariados ou parceiros e arrendatários – acabou sendo dispensada, já que as máquinas e os equipamentos utilizados passaram muitas vezes a substituir o trabalho humano.

Parceiros e arrendatários são trabalhadores rurais que utilizam a terra de outros proprietários para desenvolver suas lavouras ou criações. Quando existe uma relação de parceria, o proprietário da terra geralmente fornece algum subsídio inicial ao lavrador que nela vai trabalhar, como sementes e adubo. Já no caso de um arrendamento, o lavrador interessado “compra” o direito de uso da terra por determinado período de tempo, como se fosse um aluguel. Nos dois tipos de relação, o pagamento pode ser feito em dinheiro, em produtos ou mesmo com o próprio trabalho.

A dispensa de empregados rurais e as mudanças nessas relações de trabalho no campo foram agravadas no começo da década de 1960. Nessa época, entrou em vigor o chamado Estatuto da Terra, lei federal que estendeu aos empregados rurais os benefícios trabalhistas conquistados anteriormente pelos trabalhadores urbanos (piso salarial, 13º salário, férias remuneradas etc.). Muitos empregadores preferiram despedir a maior parte de seus funcionários a arcar com as despesas geradas pelos benefícios aos quais eles passaram a ter direito.

Para aquelas culturas que ainda demandavam mão de obra numerosa, sobretudo nas fases de plantio e de colheita, como a cana-de-açúcar, a laranja, o café e o algodão, os grandes proprietários rurais valeram-se dos trabalhadores temporários volantes, chamados no Centro-Sul de boias-frias. A maior parte desses trabalhadores, remunerados por dia de serviço prestado, passou a viver na periferia de pequenos e médios centros urbanos do interior, sendo recrutada para tarefas específicas, como a preparação do solo, o plantio, a adubação e a colheita das lavouras.

Na maioria das vezes, os volantes trabalham em péssimas condições e em longas jornadas diárias, que podem durar até 12 horas. Além disso, não têm suas carteiras de trabalho assinadas, sendo-lhes negado, dessa forma, os direitos trabalhistas e benefícios sociais, o que coloca esse tipo de trabalhador na situação de completa informalidade e ilegalidade.

De acordo com estatísticas recentes, os trabalhadores temporários informais somam uma legião que representa, em boa parte das regiões brasileiras, a maioria dos trabalhadores empregados nas atividades agropecuárias e extrativas. Observe o mapa.
Página 149

0149_001.jpg

Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: DIEESE. O mercado de trabalho assalariado rural brasileiro. Estudos e Pesquisas, n. 74, out. 2014. p. 12. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

0149_002.jpg

Delfim Martins/Pulsar Imagens

Trabalhadores volantes na colheita da cana-de-açúcar no município de Piracicaba (SP), 2013. Calcula-se que no interior dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro cerca de 1,5 milhão de boias-frias trabalhem no campo, sobretudo nos canaviais.

Reforma agrária

O intenso processo de concentração de terras, assim como as mudanças nas relações de trabalho no campo ocorridas nas últimas décadas, deu origem a um grande contingente de trabalhadores rurais expropriados. Embora haja registros de movimentos sociais no campo, no século XIX e na década de 1940, foi especialmente na década de 1980 que os agricultores e trabalhadores rurais passaram a se organizar em torno de movimentos sociais camponeses, com o objetivo de pressionar o Estado a acelerar os processos de reforma agrária.

Na década de 1980, esses agricultores e trabalhadores rurais passaram a se organizar em torno de movimentos sociais camponeses, com o objetivo de pressionar o Estado a acelerar os processos de reforma agrária.



Reforma agrária é uma operação coordenada pelo Estado que visa promover a justa distribuição de terras, por meio da desapropriação de grandes áreas improdutivas, sejam elas fazendas particulares ou terras devolutas. Em geral, após a desapropriação são formados os chamados assentamentos rurais, áreas de terras subdivididas em lotes e distribuídas aos camponeses cadastrados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Terra devoluta: área rural sem uso econômico, pertencente ao Estado.

De acordo com especialistas e os movimentos camponeses, o ritmo dos processos de desapropriação e criação dos assentamentos pelo governo federal tem sido muito vagaroso e insuficiente (veja o gráfico ao lado). Levantamentos atuais mostram que ainda há cerca de 2 milhões de famílias aguardando uma fração de terra para plantar.



0149_003.jpg

Gráfico: ©DAE

Fonte: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 20116.
Página 150

Conflitos pela terra

A demora na implantação de um programa de reforma agrária mais amplo e moderno tem aumentado o estado de tensão no campo, colocando em conflito direto os trabalhadores rurais expropriados, as empresas agrícolas e os fazendeiros, proprietários de grandes extensões de terras, em geral subaproveitadas.

Somente nos 30 anos que se estenderam de 1985 a 2014, ocorreram no Brasil 28805 conflitos no campo, envolvendo principalmente trabalhadores rurais sem terra, jagunços (contratados por latifundiários) e a polícia militar (veja o mapa a seguir). Essa realidade evidencia que os programas de reforma agrária promovidos pelo Estado não têm cumprido sua principal função social: restaurar a dignidade dos trabalhadores rurais, oferecendo-lhes condições de voltar a produzir de forma eficaz e duradoura.

0150_001.jpg

Mapa: ©DAE/Allmaps

Fonte: CANUTO, Antônio; LUZ, Cássia Regina da Silva; COSTA, Edmundo Rodrigues (Coord.). Conflitos no campo: Brasil 2014. Goiânia: CPT Nacional, 2014. p. 70. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.

0150_002.jpg

Bruno Poletti/Folhapress

Na imagem, protesto de trabalhadores sem terra por novos assentamentos, em São Paulo (SP), 2015.
Página 151

Reforma agrária no Brasil: diferentes visões

A definição do modelo de reforma agrária a ser implementado no Brasil tem criado um embate entre representantes do governo, grandes proprietários de terras, líderes camponeses e especialistas técnicos. Os textos a seguir apresentam dois pontos de vista a respeito da estrutura fundiária e da reforma agrária em nosso país. Leia-os com atenção.

Texto 1

Muita gente, quando ouve falar de conflitos no campo, passeatas e acampamentos de sem-terra, acha que esse é um problema apenas dos pobres do campo. Poucos se dão conta de que a maioria dos problemas que existem na sociedade brasileira, em seu conjunto, tem sua origem no latifúndio. [...]

A concentração da propriedade da terra no Brasil é a causa geradora de inúmeros outros problemas que afetam toda a sociedade. Primeiro: a desigualdade social. Em nenhum lugar do mundo, os ricos são tão ricos e os pobres, tão pobres. [...] Também têm origem no latifúndio o desemprego, a fome e a marginalidade social. [...]

No final do século passado [século XIX] e início deste século [século XX], a maioria das sociedades hoje desenvolvidas do Hemisfério Norte perceberam que a concentração da propriedade da terra restringia o desenvolvimento do mercado interno e da sociedade. Por uma razão muito simples: mantinha a população do meio rural pobre, sem poder de compra. Para resolver esse problema, realizaram a reforma agrária, ou seja, a distribuição de todas as grandes propriedades de terra. Lá, a reforma agrária foi rápida (realizada em apenas dois, três anos), maciça (atingiu todas as grandes propriedades) e procurou beneficiar o maior número possível de camponeses. [...]

Os trabalhadores rurais brasileiros, reunidos nas suas organizações e movimentos, defendem que é necessário fazer uma verdadeira reforma agrária com as seguintes características:

1. Democratizar o acesso à terra, desapropriando todos os latifúndios existentes, e mudar o texto da Constituição, estabelecendo um tamanho máximo da propriedade da terra (como existe em diversos países). Ninguém pode dizer, por exemplo, que não conseguiria enriquecer com uma área de mil hectares.

2. Democratizar o acesso ao capital. Camponeses, pequenos agricultores e os beneficiários da distribuição de terras devem contar com empréstimos do capital necessário aos investimentos na produção, de tal forma que possam, inclusive, instalar suas agroindústrias em cooperativas. Em cada município brasileiro onde forem instaladas agroindústrias haverá emprego para os jovens. Essa é também uma forma de combater o oligopólio agroindustrial que existe hoje.

3. Democratizar o acesso à educação, para que o povo do meio rural possa ter escolas, em todos os níveis. Um povo sem educação será sempre um povo subjugado.

4. Mudar o atual modelo tecnológico, totalmente dependente de agrotóxicos e das empresas multinacionais, e desenvolver um novo modelo, que preserve o meio ambiente e a saúde dos camponeses e dos consumidores.

5. Reorganizar a agricultura brasileira, casando com um novo modelo econômico, que priorize o mercado interno e a distribuição de renda. Assim, todos os brasileiros poderão se alimentar melhor, a preços mais baratos e em maior quantidade. Esses são os pilares básicos da reforma agrária que defendemos. Talvez pareça um sonho. Mas, como dizia o poeta, todo sonho sonhado coletivamente um dia será realidade. E o MST é esse esforço de sonhar coletivamente as mudanças sociais no Brasil.

STÉDILE, João Pedro. Cinco séculos de latifúndio. Disponível em:. Acesso em: 16 jan. 2016.

0151_001.jpg

Vicente Mendonça


Página 152

Texto 2

O Brasil hoje é reconhecido, em tamanho e em tecnologia, como um dos gigantes globais da agropecuária, ungido a celeiro do mundo. Afora manter a liderança nas commodities tradicionais, bate constantemente recordes na safra de grãos, avança no domínio do mercado das carnes, e assusta os concorrentes gerando tecnologia tropical com elevada produtividade. [...] Essa inédita e impressionante realidade produtiva que passou a dominar o campo se construiu a partir de um persistente processo de modernização capitalista, que tirou o país da condição de subdesenvolvimento e o integrou, como uma economia emergente, no mundo globalizado. [...] O resultado desse processo histórico é o surgimento de uma nova realidade: de essencialmente rural, meio século atrás, o Brasil se transformou em uma nação urbanizada; e sua agricultura, antes primitiva e centrada na cafeicultura, alçou-se à posição de maior produtor mundial de alimentos. Adentramos um novo padrão de estruturação econômica, essencialmente urbano-industrial, no qual, contudo, a agropecuária ocupa lugar destacado. Processos tecnológicos modernos e intensos, forte competição no mercado, imperiosa integração nas agroindústrias e o comando implacável da produtividade – somados todos esses processos novos, percebem-se as novas lógicas de produção ligadas ao que convencionou chamar de agronegócio. Mais do que uma lógica de produção, forma-se uma nova sociabilidade (capitalista) nas regiões rurais de todo o país.[...]

Movidos pela inquietação de entender todos esses acontecimentos, vivenciamos, de perto, esse processo de mudanças que revolucionou a agropecuária brasileira. Quando começávamos nossas respectivas carreiras profissionais, já formados em Agronomia, observamos o forte processo de modernização da agricultura brasileira. Como estudiosos da questão agrária, fomos percebendo sua superação. Em certo momento, começamos a defender – e agora o fazemos explicitamente – que chegara a hora de mudar a predominância do paradigma dominante, centrado largamente na tradição marxista, que influencia, há muitas décadas, os pesquisadores da socioeconomia rural.

Começamos por nós mesmos. Nossos primeiros movimentos intelectuais, bem como suas decorrências políticas, cumpriam de perto o receituário clássico, alicerçado no arsenal marxista sobre o campo. [...] Nós acreditávamos, piamente, que, sem profundas “transformações estruturais” – o que necessariamente passava pela reforma agrária –, o Brasil não conseguiria romper a barreira da pobreza e do subdesenvolvimento, promovendo a justiça social.

Mas nós nos curvamos à realidade. Nossas percepções prévias, moldadas nos livros clássicos, se alteraram, pois não era mais possível fechar os olhos às mudanças em curso. Preferimos abrir mão das nossas antigas teorias do que permanecer obsessivamente presos às ideias que se mostravam refratárias aos fatos, incapazes de explicar as novidades concretizadas pelos processos sociais e econômicos. [...] Bastava abrir os olhos para divisar um novo mundo rural que então se materializava.

GRAZIANO, Xico; NAVARRO, Zander. Novo mundo rural: : a antiga questão agrária e os caminhos futuros da agropecuária no Brasil. São Paulo: Editora da Unesp, 2015. p. 11 e 12.



0152_001.jpg

Vicente Mendonça

Responda

Resolva os exercícios no caderno.



1. Em quais aspectos históricos o autor do texto 1 se baseia para justificar a realização de uma “verdadeira reforma agrária” no Brasil?

2. Quais são os pilares da reforma agrária defendida pelo autor do texto 1?

3. Por que o autor do texto 2 acredita ser dispensável a “reforma agrária” para que o Brasil saia da condição de pobreza e subdesenvolvimento? Qual é esse “novo mundo rural” que ele vislumbra?

4. Converse com os colegas e o professor sobre a posição e os argumentos apresentados pelos autores dos dois textos em relação à atual realidade do campo no Brasil. Reflita a respeito e escreva, em seu caderno, suas conclusões sobre o tema.
Página 153

Competência de área 3: Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.

Habilidade 14: Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.

De olho no Enem – 2013



Texto I

A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais concentrada em nosso país. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras. Fazemos pressão por meio da ocupação de latifúndios improdutivos e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina a Constituição de 1988. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas.

Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2011 (adaptado).

Texto II

O pequeno proprietário rural é igual a um pequeno proprietário de loja: quanto menor o negócio mais difícil de manter, pois tem de ser produtivo e os encargos são difíceis de arcar. Sou a favor de propriedades produtivas e sustentáveis e que gerem empregos. Apoiar uma empresa produtiva que gere emprego é muito mais barato e gera muito mais do que apoiar a reforma agrária.

LESSA, C. Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2011 (adaptado).

Nos fragmentos dos textos, os posicionamentos em relação à reforma agrária se opõem. Isso acontece porque os autores associam a reforma agrária, respectivamente, à:

a. redução do inchaço urbano e à crítica ao minifúndio camponês.

b. ampliação da renda nacional e à prioridade ao mercado externo.

c. contenção da mecanização agrícola e ao combate ao êxodo rural.

d. privatização de empresas estatais e ao estímulo ao crescimento econômico.

e. correção de distorções históricas e ao prejuízo ao agronegócio.

Gabarito: E

Justificativa: A alternativa a está incorreta, pois o texto I não trata sobre o posicionamento do MST em relação ao inchaço urbano, mas sim contra os latifúndios, ao passo que o texto II critica os minifúndios. A alternativa b está incorreta, pois estabelece uma relação inválida entre o posicionamento do MST e a ampliação da renda nacional, além de também relacionar incorretamente a crítica apresentada aos minifúndios no texto II à questão do mercado externo. A alternativa c está incorreta, pois o texto I explicita a crítica do MST às grandes propriedades e não à mecanização em si, além disso a interpretação do texto II também não está correta, pois o êxodo rural seria contido se houvesse maior apoio aos minifúndios, e não o oposto. A alternativa d, embora esteja correta em relação ao texto II, interpreta incorretamente o texto I, uma vez que através dele o MST critica a grilagem de terras e não necessariamente as privatizações. A alternativa correta está na letra e, que interpreta adequadamente a argumentação apresentada em cada um dos textos.
Página 154

Revisitando o capítulo

Resolva os exercícios no caderno.



1. Liste três ações do Estado que possibilitaram, a partir da década de 1950, o processo de modernização do campo brasileiro.

2. Por que, nas décadas de 1970 e 1980, se priorizou a liberação do crédito rural para a produção de commodities?

3. Nas últimas décadas, quem mais tem se beneficiado com a política agrícola do governo federal? Por quê?

4. Qual é a atual importância dos pequenos e médios proprietários rurais na produção de alimentos e no emprego de mão de obra no Brasil?

5. O que é o Estatuto da Terra? Quais foram as consequências do seu estabelecimento para os trabalhadores do campo?

6. Explique o que são:

a. parceiros;

b. arrendatários;

c. trabalhadores temporários volantes.



7. O que é reforma agrária?

8. Quais são os principais objetivos dos movimentos sociais camponeses na atualidade?

9. O que são assentamentos rurais? Existem assentamentos rurais em seu estado ou município? Comente sobre eles.

10 O que se refere à estrutura fundiária brasileira, responda:

a. O que é o processo de expropriação de terras?

b. Que relação existe entre a expropriação de terras e a atual estrutura fundiária no país?

ANÁLISE DE TEXTO

Leia o depoimento de um morador de assentamento rural.

Meu nome é César Matochek Moreira e [...] faço aniversário em 21 de dezembro. Nasci em São Paulo, em Itapevi. Lá eu só nasci, me criei no Paraná. Dos dois meses até os 25 anos morei no Paraná. Era arrendatário, na lavoura. Junto com meus avós. Fui criado com a minha tia e meus avós no Paraná, até a idade que vim ser assentado, aqui no assentamento dos sem-terra. Eu casei e tenho quatro filhos.

Dos 14 anos até os 25 mais ou menos, a maior parte do tempo trabalhei de empregado na roça. Também trabalhei de metalúrgico, de guarda, vigilante... Várias coisas na cidade. Em Osasco... em Carapicuíba... Nessa época tinha 18 anos.

Depois vim para o assentamento aqui dos sem-terra... Estou até agora aqui... Faz dez anos... Casei aqui no assentamento, mas a Teresinha, minha esposa, é de lá do Paraná. Conheci ela lá e casamos aqui.

No Paraná a gente plantava milho, feijão, arroz. A mesma coisa que planta aqui. Arroz é só para a despesa. Não vende o arroz, é só para consumo.

Aqui a gente acorda de manhã, toma café, normalmente é um leite...

Depois vai servir lá pra roça. Vai carpir, limpar o feijão, esses negócios. Quase todo dia tem serviço na roça. Esse tempo agora, de colheita de feijão, tem direto.
Página 155

Antes da colheita quase não tem, fica aí um tempo parado. Aí vai pescar, vai passear... O que mais gosto de fazer é pescar. E tem rio bom para pescar perto daqui. Não tem muito peixe, mas é bom. Quando pesca, traz o peixe para casa e come. A mulher é que limpa.

Não estou desde o começo do acampamento, eu vim depois de mais ou menos um ano que estavam na terra. Estávamos acampados na beira da estrada... Fiquemos ali uns 15 dias e aí viemos para a terra... Comecei a plantar um pouco e assim fui caminhando... Hoje a gente tem o módulo completo! De cinco alqueires e meio, porque foi um acordo para ficar na terra. [...]

Tenho casa, estou sossegado... Está dando para sobreviver, para comer e beber. Quando cheguei aqui, não tinha casa, não tinha nada. No começo moramos na barraca de lona. Um ano mais ou menos... Depois da lona fomos para casa... [...].

Ainda estamos fazendo... Não está bem acabada, mas dá para morar. Minha casa tem cinco cômodos. Dois quartos, cozinha, sala e banheiro. Quando vim para cá já tinha uns amigos, conhecidos, que moravam aqui pela região. Uns parentes... não estavam acampados, mas eram vizinhos. Então eles deram a ideia pra mim de pegar a terra aqui... [...] Daí me falaram: “Tem uma terra assim e tal, pode sair, mas não é certeza. É difícil, mas tem que ter paciência...”. Entrei no assentamento e estou aqui até hoje.

0155_001.jpg

Vicente Mendonça

IOKOI, Zilda Márcia Grícoli et al. (Org). Vozes da terra: histórias de vida dos assentados rurais de São Paulo. São Paulo: Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes da Silva”, 2005. p. 55. Disponível em:. Acesso em: 16 jan. 2016.

a. O que César fazia antes de ser assentado?

b. O que é módulo? Qual é o tamanho do módulo que César e sua família ocupam?

c. O que ele planta em seu módulo?

d. Com base no relato, como você avalia a vida de César e sua família no assentamento?

e. Como se encontra o processo de implantação de assentamentos rurais atualmente no Brasil? Faça uma pesquisa a respeito e confronte o resultado com as informações que os demais colegas encontraram.

DEBATE

Leia as questões:

a. Com base no estudo do capítulo, sobretudo nos dados fornecidos pelo mapa da página 149, a questão da informalidade entre os trabalhadores volantes é uma realidade? Explique por quê.

b. Por que todo trabalhador deve ter seus direitos trabalhistas assegurados? Reúna-se com seus colegas em sala de aula e realizem um debate abordando as questões propostas. Anotem em seus cadernos as conclusões do debate.


Página 156

Enem e Vestibulares

Resolva os exercícios no caderno.



1. (Enem – 2009)

Apesar do aumento da produção no campo e da integração entre a indústria e a agricultura, parte da população da América do Sul ainda sofre com a subalimentação, o que gera conflitos pela posse de terra que podem ser verificados em várias áreas e que frequentemente chegam a provocar mortes.

Um dos fatores que explica a subalimentação na América do Sul é

a. a baixa inserção de sua agricultura no comércio mundial.

b. a quantidade insuficiente de mão de obra para o trabalho agrícola.

c. a presença de estruturas agrárias arcaicas formadas por latifúndios improdutivos.

d. a situação conflituosa vivida no campo, que impede o crescimento da produção agrícola.

e. os sistemas de cultivo mecanizado voltados para o abastecimento do mercado interno.



2. (Enem – 2010)

0156_001.jpg

Gráfico: ©DAE

Fonte: Incra, Estatísticas cadastrais 1998.

O gráfico representa a relação entre o tamanho e a totalidade dos imóveis rurais no Brasil. Que característica da estrutura fundiária brasileira está evidenciada no gráfico apresentado?

a. A concentração de terras nas mãos de poucos.

b. A existência de poucas terras agricultáveis.

c. O domínio territorial dos minifúndios.

d. A primazia da agricultura familiar.

e. A debilidade dos plantations modernos.

3. (Enem – 2009) O gráfico mostra o percentual de áreas ocupadas, segundo o tipo de propriedade rural no Brasil, no ano de 2006.

0156_002.jpg

Gráfico: ©DAE

MDA/INCRA (DIEESE, 2006) Disponível em: . Acesso em: 6 ago. 2009.

De acordo com o gráfico e com referência à distribuição das áreas rurais no Brasil, conclui-se que

a. imóveis improdutivos são predominantes em relação às demais formas de ocupação da terra no âmbito nacional e na maioria das regiões.

b. imóveis improdutivos são predominantes em relação às demais formas de ocupação da terra no âmbito nacional e na maioria das regiões.

c. o percentual de imóveis improdutivos iguala-se ao de imóveis produtivos somados aos minifúndios, o que justifica a existência de conflitos por terra.

d. a Região Norte apresenta o segundo menor percentual de imóveis produtivos, possivelmente em razão da presença de densa cobertura florestal, protegida por legislação ambiental.

e. a Região Centro-Oeste apresenta o menor percentual de área ocupada por minifúndios, o que inviabiliza políticas de reforma agrária nessa região.
Página 157

4. (Uespi – 2014) Sobre a formação do território brasileiro e a questão fundiária, leia e assinale a alternativa que se apresenta corretamente.

a. A monocultura é uma prática que ocupa pequena extensão territorial voltada para a agricultura de subsistência.

b. As capitanias hereditárias apresentavam grandes extensões de terra e formaram a base para os latifúndios.

c. No processo de formação do território as culturas do gado e do algodão se desenvolveram de forma intensiva.

d. A cultura cafeeira alterou as relações de trabalho e de uso da terra por meio dos processos migratórios gerando mais concentração de terras.

e. A pequena produção rural familiar coexistiu juntamente com os minifúndios e representam o módulo rural dos grandes produtores.

5. (Uern – 2015) A respeito dos padrões de uso da terra e da política agrícola brasileira, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

() O protecionismo e os fortes subsídios agrícolas dos EUA, da EU e do Japão constituem um fator de estrangulamento das exportações brasileiras e de outros países.

() O Brasil possui condições estruturais para se tornar o maior exportador mundial de alimentos, tais como extensa área agricultável, condições naturais favoráveis e formação de mão de obra qualificada em universidades e escolas técnicas.

() A modernização das técnicas agrícolas não permitiu a subordinação da agropecuária ao capital industrial. Com isso, as pequenas propriedades familiares puderam aumentar suas produções.

() A configuração dos complexos agroindustriais desacelerou a valorização da terra e o aprofundamento da concentração fundiária.

A sequência está correta em

a. V, F, F, V.

b. V, V, F, F.

c. F, V, F, V.

d. F, F, V, F.



6. (Fuvest-SP – 2015) O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi criado em 1984, inserido em um contexto de

a. abertura política democrática no Brasil e de crescente insatisfação com as políticas agrárias nacionais então vigentes.

b. fortalecimento da ditadura militar brasileira e de aumento da imigração estrangeira para o país.

c. declínio da oposição armada à ditadura militar brasileira e de aumento da migração das cidades para o campo.

d. aumento da dívida externa brasileira e de disseminação da pequena propriedade fundiária em todo o país.

e. crescimento de demanda externa por commodities brasileiras e de grandes progressos na distribuição de terra, no Brasil, a pequenos agricultores.



7. (FGV – 2004) “A violência e a impunidade no campo estão presentes em todo o país e casos como o massacre de Eldorado dos Carajás, que completou quatro anos de impunidade, não são fatos isolados. O Setor de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), fez um levantamento sobre assassinatos no campo de 1985 a 2002. Nesse período, foram registrados 1.280 assassinatos de trabalhadores rurais, advogados, técnicos, lideranças sindicais e religiosas ligados à luta pela terra. O estado onde mais se matou foi o Pará com 492 mortes, seguido pelo Maranhão, com 107 assassinatos.” Comissão Pastoral da Terra. Violência e impunidade no campo. 10/04/2004. Entre as causas prováveis desses conflitos, especialmente no Pará, está:

a. A formação de colônias agrícolas de pequenos agricultores, para acelerar a reforma agrária.

b. A grilagem de terras para atividades agropecuárias e a extração de madeira ilegal.

c. A compra de terras sem incentivos fiscais, com o intuito de formar complexos agropecuários.

d. A construção de rodovias, visando a criar uma saída da Amazônia para o Oceano Pacífico.

e. O aumento do número de posseiros, estimulados por créditos oficiais para ali se instalarem.


Página 158

CAPÍTULO 10 URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

Leia


o relato seguinte, em forma de poema, escrito por um migrante brasileiro que deixou o campo para viver em um grande centro urbano.

Benedito: um homem da construção

Meu nome é Benedito.


Sou do interior.
Moro na capital.
No interior o trabalho era pouco,
As cercas eram muitas,
A seca era grande.
Às vezes, trabalhava na cana.
Às vezes, trabalhava de servente.
Às vezes, fazia bico brocando mato.
Eu não tinha terra.
Vim para a capital.
Aqui trabalho na construção civil.
Levanto edifícios,
Levanto casas,
Levanto pontes e cavo galerias.
A minha mão faz a cidade maior.
Sonho construir uma boa casa.
A casa da minha família. [...]

SEZYSTHA, Ariovaldo J.; PESSOA, Verônica. Migrantes da construção civil em João Pessoa. Travessia, São Paulo, ano XIV, n. 40, p. 38, maio-ago. 2001. p. 38. Disponível em: . Acesso em: 16 jan. 2016.



0158_001.jpg

Vicente Mendonça

Resolva os exercícios no caderno.

Em que trabalhava o autor do poema antes de migrar para a cidade? Na cidade, que tipo de emprego conseguiu? De acordo com o que você estudou no capítulo anterior, quais seriam os prováveis motivos que levaram Benedito a deixar o campo? Você acha que ainda hoje muitas pessoas continuam migrando do campo as cidades? Converse com seus colegas sobre isso.

Êxodo rural e urbanização

Como visto no capítulo anterior, com o processo de modernização das atividades agrícolas, grandes contingentes de trabalhadores rurais (assalariados, parceiros, arrendatários ou até mesmo pequenos proprietários) foram dispensados ou expropriados de suas terras.

A falta de perspectiva de trabalho no campo impulsionou boa parte dessas pessoas a se deslocar em direção às cidades em busca de emprego nas indústrias e nas atividades terciárias, visando a melhores condições de vida. Começou assim o mais intenso fluxo migratório da história de nosso país.
Página 159

Essa migração campo-cidade, chamada êxodo rural, contribuiu significativamente para o processo de urbanização brasileiro. Já a partir da década de 1940, a população urbana começou a crescer em um ritmo maior que a rural. Os maiores fluxos, porém, ocorreriam apenas entre as décadas de 1960 e 1980, concomitantemente aos períodos mais intensos de desenvolvimento industrial e de modernização das atividades agrícolas.

Nesse intervalo, a população urbana brasileira ultrapassou a população rural em aproximadamente 50 milhões de habitantes. Calcula-se que o êxodo rural tenha colaborado com cerca de 60% desse contingente populacional. A parcela restante resultou do crescimento natural das populações urbanas. O ritmo em que se deu esse aumento foi considerado um fenômeno ímpar no mundo.

Observe no gráfico seguinte que a diferença de proporção existente entre a população rural e a urbana, considerando-se o total da população brasileira durante as seis últimas décadas, intensificou-se.



0159_001.jpg

Gráfico: ©DAE

Fontes: IBGE. Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, 1998; IBGE. Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro, 2001; IBGE. Sinopse do Censo Demográfico 2010. Disponível em: ; The World Bank. Disponível em:


Yüklə 2,22 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   21   22   23   24   25   26   27   28   ...   55




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin