Língua Portuguesa volume 1



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3. (Enem, 2015)

Aquarela

O corpo no cavalete

é um pássaro que agoniza

exausto do próprio grito.

As vísceras vasculhadas
principiam a contagem regressiva.

No assoalho o sangue

se decompõe em matizes

que a brisa beija e balança:


o verde — de nossas matas

o amarelo — de nosso ouro

o azul — de nosso céu

o branco o negro o negro

CACASO. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.

Situado na vigência do Regime Militar que governou o Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando:

a) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura.

b) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado.

c) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura.

d) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do medo e da violência.

e) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado.

4. (Enem, 2012)

Labaredas nas trevas

Fragmentos do diário secreto de Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski

20 DE JULHO [1912]

Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre Stephen Crane. Ririam da sugestão. [...] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba quem é Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe”.

20 DE DEZEMBRO [1919]

Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escritor vivo da língua inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros também não. The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que, segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me pediram um artigo.

FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmentado).

Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar o enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de:

a) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a consequência.

b) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas partes em questão.

c) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende de circunstâncias apresentadas à outra.

d) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta uma orientação argumentativa distinta e oposta à outra.

e) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da mesma.



Produção de texto

Poema

A palavra poesia, às vezes, é empregada como sinônimo de poema. Entretanto, a poesia não é privilégio dos poemas: pode haver poesia em paisagens, fotos, filmes, pinturas, etc.

Observe a foto ao lado e identifique os elementos que, para você, são responsáveis por torná-la poética.

Em sua estrutura, um poema é composto de versos e de estrofes. Isso, porém, não basta para fazer de um texto um poema. A linguagem em si é matéria de um poema; daí o uso intenso da conotação (conjunto de sentidos de uma palavra que vão além do seu significado literal) e de figuras de linguagem como metáforas e antíteses, entre outras. Tudo está a serviço da expressividade, da construção de imagens e ritmos, da riqueza de sentidos. Observe, por exemplo, estes dois enunciados:

Penso tanto à noite que perco o sono.

“Meu pensamento em febre é uma lâmpada acesa a incendiar a noite.” (Henriqueta Lisboa)


Os dois enunciados dão praticamente a mesma informação, mas as metáforas do segundo nos levam a formar imagens mentais inusitadas que intensificam o sentido do que é dito. Por isso é poético.

Atividade — Como praticar a linguagem dos poemas

A linguagem dos poemas é marcada pela conotação, ou seja, pela linguagem figurada.

Para você ser capaz de produzir um poema, seu primeiro exercício é o de construir expressões que sugiram ideias para além do que está escrito. Por isso, seu trabalho será o de escrever frases em sentido figurado.

Veja a imagem ao lado e produza cinco frases sobre ela, usando metáforas, comparações metafóricas, hipérboles e/ou antíteses.



Produção de autoria

Com base em tudo o que foi estudado neste capítulo, elabore um poema. O tema e a forma de desenvolvê-lo são livres — mas você pode inspirar-se nos poemas lidos até aqui. E não deixe de empregar as figuras de linguagem: metáfora, hipérbole e antítese.

©Shutterstock/kenny1

©Shutterstock/Jodie Nash

Moa/Arquivo da editora

Várias metáforas, por muito óbvias ou excessivamente empregadas, perderam seu valor expressivo e tornaram-se clichês. Por isso, se procuramos alguma originalidade, devemos evitá-las. Por exemplo: lágrimas amargas; lágrimas de crocodilo; nó na garganta; formigueiro humano; pessoa que é uma víbora; coração ferido; primavera da vida; etc.



Preparando a segunda versão do texto

Releia seu texto. Analise:

o desenvolvimento do tema: há palavras que retomam termos anteriores e, ao mesmo tempo, acrescentam informação?

os recursos poéticos utilizados: há rimas? Os versos têm ritmo e estão organizados em estrofes? Você usou figuras de linguagem?

Guarde seu poema para a antologia a ser produzida no fim do ano.

No mundo da oralidade

Apresentação oral

1. Prepare a leitura expressiva de um dos poemas estudados neste capítulo — “Amor” ou “A mulher que passa” — para fazer uma apresentação aos colegas da classe quando o professor solicitar.

Para sua apresentação, fique atento às seguintes sugestões:

O poema “Amor”, de Adélia Prado, pede uma leitura que comece pausadamente, com a pronúncia bem marcada de cada sílaba. À medida que avança, a voz pode ficar mais intensa e a leitura mais veloz, até chegar à palavra fala, a qual deve ser lida carregada de autoridade e com certa urgência. Os versos seguintes poderão ser lidos como se fossem o apelo de uma pessoa segura do que deseja.

A leitura do poema de Vinicius de Moraes exige respeito ao ritmo das rimas internas ou finais, ou seja, ao ritmo já dado pelos próprios versos. A estrofe formada por um só verso deve ser lida entre pausas mais longas, observando a pontuação. É importante a entonação adequada para as interrogações e as exclamações.



Leitura para benefício de todos

Você conhece os Doutores da Alegria? Trata-se de um grupo de artistas que, influenciados pelo trabalho do palhaço estadunidense Michael Christensen, se apresenta para crianças internadas em hospitais. O responsável por essa atividade aqui no Brasil é Wellington Nogueira. Esse artista fazia parte da trupe estadunidense até 1991, quando trouxe essa ideia para alegrar as crianças que precisam de cuidados médicos em hospitais de nosso país.

Como o próprio grupo diz no site , sua missão é “promover a experiência da alegria para estimular relações saudáveis por meio da atuação profissional de palhaços junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde”. Alegres e fortes como só um grupo com essa missão pode ser, esses artistas oferecem apresentações teatrais e brincadeiras.

Criativos, eles inventaram uma maneira diferente de cuidar das feridas do corpo por meio da arte e da poesia: os poemas esparadrápicos.



2. Você já pensou que apresentar poemas também pode ser uma forma de solidariedade?

Preparem uma apresentação oral dos poemas dos quais vocês gostam e que poderiam ser lidos para um grupo especial: pensem em abrigos para idosos, creches, orfanatos, hospitais, etc.

Além disso, produzam “curativos poéticos” com os poemas ou inventem uma forma lúdica de apresentá-los: “lenços de papel poéticos”, “guardanapos poéticos”, “fita adesiva poética”, etc.

Flickr.com/Doutores da Alegria/Tom Lisboa



Os “poemas esparadrápicos” dos Doutores da Alegria são compostos de diversos autores, ilustrados e colocados em divertidos esparadrapos. Na foto, momento do espetáculo Poemas esparadrápicos, organizado pelos Doutores da Alegria sob direção de Fernando Escrich e apresentado no Circuito Sesc das Artes, em junho de 2011.

Sugestão de material

fita adesiva branca comum ou dupla face;

suporte vazio de plástico para esparadrapo;

caneta hidrocor colorida (também podem ser usadas figuras adesivas para complementar);

curativos prontos (curativo adesivo do tipo poroso e transparente).

Preparo

Desenrole a fita e vá escrevendo e ilustrando o poema escolhido. Depois, enrole a fita ilustrada por você no suporte para esparadrapo.

Use esse mesmo roteiro para guardanapos ou lenços.

Para curativos prontos, recorte a fita branca dupla face no formato do curativo e, então, faça as ilustrações e escreva os trechos do poema escolhido.



Aproveite para...

... ler

©Editora Record/Reprodução

©Editora Global/Reprodução

A duração do dia, de Adélia Prado, editora Record.

Nesse livro, a escritora Adélia Prado reuniu poemas que falam de amor, desejos, frustrações, sonhos. Trata de temas recorrentes em sua obra: a vida provinciana, a religiosidade, as cores do campo. Acervo PNBE.



Baú de espantos, de Mario Quintana, editora Alfaguara Brasil.

O poeta gaúcho, nos poemas reunidos nesse livro, faz um exercício de memória, provocado pela observação das mudanças provocadas pela modernidade.



Melhores poemas de Cora Coralina, de Cora Coralina, editora Global.

A obra reúne poemas da escritora goiana Cora Coralina organizados por temas: Nos reinos de Goiás, Canto de Aninha, Criança no meu tempo, Paraíso perdido, Entre pedras e flores, Canto solidário e Celebrações. Acervo PNBE.



Poemas, sonetos e baladas e Pátria minha, de Vinicius de Moraes, editora Companhia das Letras.

A obra reúne dois livros de Vinicius de Moraes. Um deles, Poemas, sonetos e baladas, de 1946, com poemas que se tornaram bem conhecidos ao longo do tempo, como “Soneto de fidelidade”, “Soneto do maior amor”, “Balada do mangue”, “Poema de Natal” e “Soneto de separação”. A esse livro soma-se o poema “Pátria minha”, lançado em 1949 em edição produzida pelo poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto quando este morava em Barcelona. Ao final do volume, há textos críticos. Acervo PNBE.



Traçados diversos: uma antologia da poesia contemporânea, de diversos autores, editora Scipione.

Apresentando o trabalho de treze poetas, essa antologia mostra um pouco da diversidade da criação poética contemporânea. Acervo PNBE.

©Editora Alfaguara/Reprodução

Companhia das Letras/Reprodução

©Editora Scipione/Reprodução

... assistir a

O corvo, de James McTeigue (EUA, 2012).

O nome desse filme de suspense é o de um dos mais conhecidos poemas já escritos, “O corvo”, de Edgar Allan Poe (1809-1849). A história mistura enredos de contos desse escritor estadunidense e fatos hipotéticos de sua atormentada e misteriosa vida.



Shakespeare apaixonado, de John Madden (EUA, 1998).

Shakespeare precisa escrever uma nova peça, mas está passando por um bloqueio criativo. A inspiração só vem quando ele se apaixona.



... acessar

www.vivaedeixeviver.org.br



Site da Associação Viva e Deixe Viver, que treina e capacita voluntários para se tornarem contadores de histórias para crianças e adolescentes internados em hospitais de vários estados do Brasil. Acesso em: 9 mar. 2016.
Literatura

Colhe o dia, porque és ele”

Não escreva neste livro.

Interdisciplinaridade com: Arte, Filosofia, Física, História.



Para começar

A passagem do tempo é implacável. Na correria do dia a dia, no entanto, não percebemos as transformações sofridas até que alguém nos diga: “Nossa, como você cresceu!”. Quem não se voltou para o espelho só para ver algo que passara despercebido em todos os dias vividos: a transitoriedade da vida? O que somos hoje não seremos mais amanhã.

Mudamos um pouco por hora, por dia, por mês, por ano. Toda mudança nos faz crescer e tira de nós o que tínhamos, trazendo com ela o novo, o desconhecido. É por essa razão que mudar pode parecer tão vivo e assustador. Observe a sequência de fotos a seguir para refletir sobre o tempo que passa e sobre as marcas que vai deixando. Constate as transformações externas e procure observar vestígios do amadurecimento interno pela mudança das expressões.

Matt Lankes/www.mattlankes.com

O ator Ellar Coltrane dos 6 aos 18 anos, ao longo das filmagens de Boyhood: da infância à juventude, de Richard Linklater, filmado de 2000 a 2012. O filme conta a história de um casal de pais divorciados que tenta criar os filhos, um deles representado por Ellar Coltrane. A narrativa percorre a vida do menino e dos demais personagens durante 12 anos, ou seja, de sua infância à juventude, mostrando a relação do garoto com os pais. As filmagens aconteceram durante esse período, permitindo a quem assiste ao filme acompanhar o amadurecimento dos personagens e dos atores que os representam.

1. Depois desse momento de reflexão e de leitura da linguagem fotográfica, produza um painel com uma linha do tempo que reflita a passagem do tempo em sua vida: você pode trazer fotografias suas ou de sua família. Se preferir, pode selecionar fotos que mostram a passagem do tempo em um espaço geográfico ou em um espaço de sua casa, desde que eles sejam significativos para você.

2. Observe seu painel e, em uma folha avulsa, produza um pensamento sobre isso, ou seja, um parágrafo reflexivo que apresente seu sentimento sobre essa ideia do tempo e de suas mudanças.

Comparando textos

A seguir você vai ler um poema escrito pelo poeta baiano Gregório de Matos, no início do século XVII, e uma letra de música composta por outro baiano, Gilberto Gil, na segunda metade do século XX, mais especificamente na década de 1980. Analise as duas produções e verifique sua semelhança temática.



Texto 1
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”

Gregório de Matos

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

depois da Luz se segue a noite escura,

em tristes sombras morre a formosura,

em contínuas tristezas a alegria.

5 Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosa a Luz é, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,

10 na formosura não se dê constância,

e na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

e tem qualquer dos bens por natureza

a firmeza somente na inconstância.

transfigurar-se: converter-se, transformar-se.

constância: continuidade, imutabilidade.

In: Amado, James (Org.). Gregório de Matos ­— Obra poética. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992.

Luciano Tasso/Arquivo da editora

Entre o céu e a terra

O tempo em que viveu Gregório de Matos — século XVII — foi repleto de conflitos que giravam em torno da relação do ser humano com os valores defendidos pela Igreja, mas nem sempre respeitados por seus representantes. Essa questão ganhou corpo na Europa do século XVI, chegando ao Brasil pouco depois.

Em 1517, o teólogo alemão Martinho Lutero (1483-1546) denunciou a prática corrupta adotada por alguns representantes da Igreja católica, que vendiam o perdão e a passagem para o céu. Tinha início o movimento da Reforma Protestante, que defendia a ideia de que o indivíduo — sem a necessidade de intermediários — poderia se aproximar de Deus e obter o perdão e a salvação por meio da moral e da fé.

Lutero não foi o único a criticar a Igreja católica. O teólogo francês João Calvino (1509-1564) pregava que a prosperidade obtida por meio do trabalho era um reconhecimento de Deus por esse trabalho, e não um pecado, conforme dizia a Igreja.

Tais ideias favoreciam comportamentos que se reproduziam cada vez mais, como o da busca pelo lucro por meio do comércio. Assim, muitos começaram a preferir o protestantismo ao catolicismo.

Preocupada com a perda de fiéis, a Igreja reagiu emitindo decretos disciplinares com o objetivo de recuperar os cristãos perdidos para a Reforma Protestante e para deixar clara a doutrina católica.

As decisões da Igreja nesse momento influenciaram a vida religiosa de Portugal, da Espanha e da Itália. Ao Brasil chegaram os reflexos dessa disputa, sobretudo o esforço de captação de novos católicos.
O autor

De família rica, o baiano Gregório de Matos Guerra (1636?-1696) recebeu formação humanística. Cursou Direito na Universidade de Coimbra e viveu em Portugal até 1681, quando voltou para a Bahia, onde levou uma vida desregrada, escrevendo poemas em que satirizava o clero, os governantes e toda a sociedade baiana. Era tão mordaz que recebeu o apelido de “Boca do Inferno”.

Biblioteca Nacional, rio de janeiro/M. J. Garnier

1. A palavra inconstância significa falta de continuidade, instabilidade. Esse é o tema do poema e, para marcá-lo claramente, o autor usou um recurso linguístico particular: a antítese. Assim, ele explora a união de ideias opostas não só para trazer expressividade ao texto, mas também para dar ideia de como o eu lírico se sente. No caderno, destaque da primeira estrofe os pares de palavras ou expressões que se opõem.

2. A segunda estrofe apresenta uma sequência de perguntas que revela um tema essencial para o eu lírico. Qual é ele? Copie o item que o expressa.

a) A aceitação pacífica das mudanças que acontecem no mundo.

b) O inconformismo do eu lírico com a efemeridade das coisas do mundo.

c) A preferência do poeta pela escuridão e pela tristeza.
3. No caderno, reescreva a frase abaixo completando-a com o(s) item(ns) adequado(s).

As duas últimas estrofes reforçam a ideia da inconstância e da transitoriedade “dos bens do mundo” por meio de alguns recursos, como:

a) a repetição da palavra firmeza.

b) o emprego de antíteses (“na alegria sinta-se a tristeza”, “a firmeza somente na inconstância”).

c) o uso de expressões que negam a fixidez, a imutabilidade do mundo (“falte a firmeza”, “não se dê constância”, “firmeza somente na inconstância”).

4. No último verso do poema, o eu lírico apresenta a conciliação entre elementos opostos (firmeza e inconstância). Explique o sentido desse verso.

5. Gregório de Matos não foi o primeiro nem o último a discutir a brevidade da vida. Por exemplo, Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), célebre filósofo da Roma antiga, é até hoje uma referência quando o assunto é a efemeridade da vida humana. Em cartas dirigidas a Paulino (cuja identidade é controversa), Sêneca discorre sobre o tema. Leia um trecho:


  1. A maior parte dos mortais, Paulino, lamenta a maldade da Natureza, porque já nascem com a perspectiva de uma curta existência e porque os anos que lhes são dados transcorrem rápida e velozmente. De modo que, com a exceção de uns poucos, para os demais, em pleno esplendor da vida é que justamente esta os abandona. No entanto, como se imagina, não apenas o comum dos mortais ou a massa ignorante sofre desse mal geral, pois, ao afetar também os homens cultos, seus efeitos geram muitos lamentos. [...] 3. Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai. [...]

SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. Rio de Janeiro: L&PM, 2006.

A expressão artística da época

A literatura da época expressa o mundo contraditório e instável do período, recorrendo a uma linguagem rebuscada, repleta de figuras de linguagem, e de um raciocínio que, hoje, pode ser visto como tortuoso. A tensão se exprime por meio de contrastes criados em busca de conciliar visões opostas de mundo, como a relação entre o pecado e o perdão, entre o eterno e o passageiro.

Um tema constante nos textos da época é o descontentamento: tudo parece instável, o que está vivo morre, e o ser humano não tem como alterar essa realidade, só vendo como saída o voltar-se para Deus.

Gregório de Matos buscou vários caminhos poéticos para exprimir sua insatisfação e seu tormento. Escreveu poemas líricos e outros em que demonstra sentimento de culpa e fervor religioso, além de ter produzido composições satíricas, em que critica a Igreja ou o comportamento dos políticos da cidade de Salvador.


Diego Velázquez/Museu do Prado, Madri, espanha
Diego Velázquez. O triunfo de Baco, ou os bêbados, 1628-1629. Óleo sobre tela. Dimensões: 165 cm × 225 cm. As contradições da época de Gregório de Matos também são trabalhadas em obras compostas em outras linguagens, como a pintura. Note, por exemplo, o contraste que o espanhol Velázquez cria nessa tela: à direita, os personagens retratados são bêbados, e representam a realidade mundana; à esquerda, o personagem retratado remete à mitologia greco-romana e aos valores clássicos. Mas de alguma maneira o artista reúne as contradições no personagem mais iluminado, à esquerda, coberto com apenas alguns tecidos: ele é Baco (Dioniso, para os gregos), o deus romano do vinho e dos festejos

Gregório de Matos termina o poema observando a constância da impermanência. No trecho da página anterior, Sêneca admite a brevidade da vida, considerando que, na verdade, ela não é breve, os indivíduos é que não a aproveitam bem. O filósofo romano então propõe o que considera um modo significativo de aproveitá-la.

A proposta desta atividade é observar na mídia — revistas, TV, jornais, portais na internet — de que modo se propõe o aproveitamento da vida em nossa sociedade. Em grupos, compartilhem o que descobrirem. Discutam se esse(s) modo(s) de aproveitar a vida é (são) significativo(s) para vocês. Produzam um texto curto defendendo sua opinião.

Texto 2

A preocupação com a efemeridade da vida não se restringe ao passado. Artistas contemporâneos produzem obras sobre esse tema. Leia a seguir a letra da canção "Tempo rei", de Gilberto Gil, e identifique nela a mesma


Tempo rei

Gilberto Gil
Não me iludo

Tudo permanecerá do jeito que tem sido

Transcorrendo

Transformando

Tempo e espaço navegando todos os sentidos

Pães de Açúcar

Corcovados

Fustigados pela chuva e pelo eterno vento

Água mole

Pedra dura

Tanto bate que não restará nem pensamento

Tempo rei, ó tempo rei, ó tempo rei

Transformai as velhas formas do viver

Ensinai-me, ó pai, o que eu ainda não sei

Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei

Pensamento

Mesmo fundamento singular do ser humano

De um momento

Para o outro

Poderá não mais fundar nem gregos nem baianos

Mães zelosas

Pais corujas

Vejam como as águas de repente ficam sujas

Não se iludam

Não me iludo

Tudo agora mesmo pode estar por um segundo

Tempo rei, ó tempo rei, ó tempo rei

Transformai as velhas formas do viver

Ensinai-me, ó pai, o que eu ainda não sei

Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei

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