. Acesso em: 14 abr. 2016.
GlowImages/AFP Photo/Raphael Alves
Imagem de 14 de outubro de 2014 mostra árvore solitária em lugar devastado pelo desmatamento ilegal na área de floresta amazônica no estado do Pará.
Texto 2
Desmatamento
Os humanos têm impactado as florestas mais do qualquer outro habitat terrestre. O desmatamento de florestas começou com o advento da agricultura, há 10 mil anos; desde então, cerca de 25% da cobertura arbórea desapareceu. O desmatamento agora ocorre mais rapidamente nos trópicos, representando grande ameaça à flora, à fauna e ao ar [...].
Áreas agrícolas
[...] a agricultura transformou paisagens, criando uma das maiores mudanças físicas e ecológicas que a Terra já viu. Hoje, mais de 2 bilhões de pessoas estão ativamente envolvidas na agricultura. A terra que trabalham varia enormemente, desde íngremes terraços de arroz até pradarias, e desde uma intensa mistura de terras cultivadas até extensões de terras áridas, onde vivem animais domésticos bem como seus parentes em estado selvagem. No conjunto, as terras agrícolas do mundo são uma prova da engenhosidade — e perseverança — humana no constante esforço para produzir alimentos.
Crescimento populacional
No início do século 20, havia cerca de 1,5 bilhão de pessoas na Terra. Desde então, a população mundial mais que quadruplicou e hoje ronda 6,8 bilhões de pessoas, e apesar das recentes quedas na taxa de crescimento de alguns países, o total geral ainda está crescendo rapidamente. Para o planeta como um todo, o tamanho da população é de crucial importância, pois esses números estão por trás de muitos problemas ambientais que afetam o mundo hoje.
[...]
IstoÉ. Enciclopédia ilustrada da Terra. São Paulo: Três, 2004. p. 312, 345 e 362.
Texto 3
©Caulos - www.caulos.com
-
No texto 1, você encontrou um levantamento de dados sobre desmatamento feito pelo Imazon, um instituto de pesquisa não governamental. O que esses dados revelam?
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O Inpe, instituto de pesquisa vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, fez avaliação semelhante à do Imazon. Os dados desse instituto contradizem os do Imazon?
3. Por que extensas faixas florestais são derrubadas? Indique algumas causas desse desmatamento apresentadas no texto 2.
4. Você acrescentaria outras causas para a derrubada das matas brasileiras?
5. Tiras de humor, charges, cartuns, histórias em quadrinhos são gêneros que, com base em fatos cotidianos ou em fatos do cenário político, econômico e cultural de um país, veiculam, a partir da interação entre linguagem verbal e não verbal, críticas a certos comportamentos, a certos eventos sociais, procurando divertir o leitor do jornal e levá-lo à reflexão.
A sequência de quadrinhos de Caulos relaciona-se mais diretamente com um dos textos lidos. Com qual deles ela melhor dialoga? Explique sua resposta.
CAULOS. Vida de passarinho. Disponível em: <http://www.memorialda democracia.com.br/resistencia-cultural/caricatura>. Acesso em: 14 abr. 2016.
6. A história em quadrinhos, na página anterior, menciona versos de Gonçalves Dias, escritor representativo da poesia brasileira do século XIX. Naquela época, poetas e prosadores usaram seus textos para declarar seu amor à pátria. Leia, agora, o poema “Canção do exílio”, no qual se inspira a história em quadrinhos.
Canção do exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossas vidas mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
DIAS, Gonçalves. Canção do exílio. In: OLIVIERI, Antonio C.; FACIOLI, Valentim (Org.). Poesia brasileira: Romantismo. São Paulo: Ática, 2011.
Gilberto Miadaira/Arquivo da editora
O poema de Gonçalves Dias mostra o Brasil de forma idealizada, aquele em que todas as pessoas gostariam de viver.
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Segundo o eu lírico, o que pode haver de especial nesse país que o diferenciaria de outros?
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Pelo tom do poema, que sentimento invade o sabiá ao cantar? Esse sentimento também está presente na história em quadrinhos? Justifique sua resposta.
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Na história em quadrinhos, em que quadrinho é possível perceber um choque entre a realidade de nossos dias e aquela vivida no século XIX, tempo de Gonçalves Dias? Explique sua resposta.
7. Compare o desenho que ilustra o último quadrinho da história de Caulos com a fotografia que aparece na notícia (texto 1). Indique semelhanças e diferenças.
8. O que a história em quadrinhos pretende criticar?
Comparando textos
Texto 1
A história em quadrinhos a seguir é uma sátira, ou seja, uma obra que busca criticar comportamentos de uma determinada sociedade, em geral de modo bem-humorado. Leia-a e responda às questões propostas.
GONSALES, Fernando. Aventuras na História. São Paulo: Abril, maio 2006.
©Níquel Náusea de Fernando Gonsales
O autor
Fernando Gonsales, cartunista brasileiro nascido em São Paulo, graduou-se em Veterinária e em Biologia nessa cidade. Essa formação decerto influenciou a criação de seus personagens, como o rato Níquel Náusea. Iniciou sua carreira como cartunista no jornal Folha de S.Paulo, em 1985.
©WikimEdia Commons/Victor Lopes
1. A história em quadrinhos refere-se a um importante momento da história do Brasil.
a) Que momento é esse?
b) Que informações do texto verbal e do texto não verbal ajudaram você a responder ao item a?
2. Reescreva a frase no caderno completando-a adequadamente.
No primeiro quadrinho, Cabral pede ao escrivão da frota que escreva uma carta. Pelas atitudes do escrivão, nos quadrinhos seguintes, percebemos que ele é uma pessoa que:
a) pensa sempre no que é coletivo, de todos, e não só em seus próprios assuntos.
b) prioriza as próprias necessidades e interesses.
c) adia o dever.
d) adia o prazer.
e) não ouve bem.
f) tem grande interesse pela cultura indígena.
g) tem grande interesse em servir ao rei.
h) tem grande interesse em servir a si mesmo.
i) ao cumprir sua obrigação no trabalho, busca uma vantagem para um parente.
j) é muito apegado à família.
3. No último quadrinho, o siri diz “Começou mal!”. O que teria começado mal e por quê? Que diferentes sentidos essa frase pode ter?
4. Em sua opinião, as atitudes do escrivão português são comuns no Brasil atual? Em que situações? Quais as consequências desse tipo de comportamento para o país?
5. Leia o trecho a seguir, retirado do livro Casa-grande & senzala, do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987).
O ambiente em que começou a vida brasileira foi de grande intoxicação sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua. Os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala. São Paulo: Global, 2006.
Companhia: Companhia de Jesus, ordem religiosa constituída por padres missionários — os jesuítas —, que no Brasil tiveram papel marcante na catequização dos nativos.
a) Autor de Casa-grande & senzala, um livro atualmente controvertido, embora de relevância fundamental nos estudos sobre a formação da nação brasileira, Gilberto Freyre expõe no trecho lido uma visão semelhante à destacada em determinados momentos da história em quadrinhos. Em que quadrinho ou sequência de quadrinhos essa relação é percebida?
b) Considerando que a história em quadrinhos usa o humor como uma crítica a ideias e modos de agir ainda atuais no Brasil, é possível afirmar que a referência à nudez no texto é uma forma de evidenciar pontos de vista preconceituosos presentes na sociedade? Explique sua resposta.
©WikimEdia Commons/Jean de Léry
Benedito Calixto/Coleção João Calixto
Texto 2
Textos sempre influenciam a produção de outros textos. A história em quadrinhos lida na página 161, em certa medida, é inspirada no conteúdo da carta enviada ao rei de Portugal, em 1500, por Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.
Nessa época, os escrivães eram funcionários do rei, encarregados de registrar por escrito os feitos e as conquistas das navegações, para que ficassem documentados e para que o rei pudesse avaliar se as conquistas poderiam ou não valer investimentos futuros.
Caminha foi então incumbido de escrever ao rei de Portugal, dom Manuel I (1469-1521), uma carta contando o "descobrimento" da nova terra.
Leia a seguir um trecho da carta que ele escreveu, considerada um documento desse fato que certamente imprimiu sua marca na história do país.
©Wikimedia Commons/Tony Jeff
Página da carta de Caminha sobre o achamento (descobrimento) do Brasil. Escrita em 1500, ela permaneceu desconhecida do público até 1773, quando foi identificada na Torre do Tombo, em Lisboa. Foi publicada pela primeira vez no Brasil em 1817.
Carta de Pero Vaz de Caminha
Pero Vaz de Caminha
[...]
E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que
terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra [...]. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos.
Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!
Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. [...]. Ali
ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante — por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças — até meia légua
da terra, onde todos lançamos âncoras, em frente da boca de um rio. [...].
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
[...] E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar âncoras e fazer vela. [...]
E velejando nós pela costa, na distância de dez léguas do sítio onde tínhamos levantado ferro, acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. E as naus foram-se chegando, atrás deles. [...]
E estando Afonso Lopez, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, foi, por mandado do Capitão, [...] meter-se logo no esquife a sondar o porto dentro. E tomou dois daqueles homens da terra que estavam numa almadia: mancebos e de bons corpos. Um deles trazia um arco, e seis ou sete setas [...] Logo, já de noite, levou-os à Capitaina, onde foram recebidos com muito prazer e festa.
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.
Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como de cera, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem-vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. E Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele íamos, sentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!
Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo;
tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.
Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.
Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.
Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.
[...]
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. São Paulo: Dominus, 1963.
mar de longo: mar ocidental.
oitavas: período de oito dias durante os quais é celebrada uma festa religiosa.
horas de véspera: fim da tarde.
haver vista de: avistar.
terra chã: terra plana.
prumo: instrumento constituído de uma peça de metal ou de pedra, suspensa por um fio.
braça: antiga medida equivalente à extensão que vai de uma mão aberta à outra, em um adulto com os braços estendidos horizontalmente para os lados.
direitura: direção.
batel: barco usado para navegar do navio a terra e vice-versa.
esquife: pequeno barco de mesma utilidade que o batel, porém menor.
levantar ferro: levantar a âncora.
amainar: recolher a(s) vela(s) da embarcação.
almadia: embarcação comprida e estreita, fabricada com um só tronco de árvore.
mancebo: jovem, moço.
capitaina (mesmo que capitânia): em um conjunto de navios, aquele em que se acha embarcado o comandante (capitão).
vergonhas: os órgãos genitais humanos.
mão travessa: medida equivalente à largura da palma da mão.
roque de xadrez: a torre do jogo de xadrez.
magoar: ferir, machucar.
corredio: liso.
tosquiado: que tem o cabelo cortado rente.
sobre pente: de leve, por alto.
solapa: cavidade encoberta, escondida de modo que não se consegue ver.
coto: objeto de pequenas dimensões.
toutiço: parte posterior da cabeça, nuca.
confeição: confecção.
alcatifa: tapete.
fartel: doce feito com amêndoas e açúcar.
O autor
Pero Vaz de Caminha nasceu na cidade do Porto, em Portugal, no século XV. Escrivão oficial da companhia comercial na colônia de Calicute, na Índia, partiu, em 1500, na frota de Pedro Álvares Cabral.
Em sua carta ao rei de Portugal, Caminha relata o que os navegantes portugueses fizeram em sua chegada às novas terras e procura descrevê-las de modo a valorizar a descoberta. Portanto, esse texto pode ser visto como um relato de viagem.
No capítulo anterior, você observou que, ao ler um relato de viagem, ficamos conhecendo não só o povo e a cultura do lugar visitado, mas também a visão de mundo daquele que viaja e faz o relato.
1. A Carta de Pero Vaz de Caminha apresenta trechos descritivos e trechos narrativos.
a) Responda no caderno: no trecho citado, que elementos (lugares, pessoas) Caminha descreve ao rei?
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Resumidamente, que acontecimentos e ações dos portugueses e dos nativos são narrados?
-
A carta do achamento é um dos poucos documentos de que dispomos para saber como foi a chegada dos portugueses às terras que hoje fazem parte do Brasil e como os indígenas os receberam. De acordo com o trecho lido, a frota portuguesa foi recebida com hostilidade?
3. O texto de Caminha revela que os portugueses se surpreenderam com o comportamento dos indígenas e que eles tinham algumas expectativas em relação à nova terra. Copie no caderno as deduções que podem ser confirmadas pelo conteúdo da carta.
a) A cor da pele dos habitantes da nova terra e o fato de andarem nus chamam a atenção de Pero Vaz de Caminha, que relata essa observação na carta.
b) Caminha surpreende-se com a falta de cerimônia dos dois nativos para com o capitão (Cabral), sem imaginar que a hierarquia dos tripulantes portugueses não tinha validade alguma para eles.
c) O escrivão percebe e valoriza o fato de que os portugueses são recebidos pelos habitantes do lugar de maneira pacífica, e essa percepção ganha grande destaque em sua carta.
d) O fato de os dois nativos apontarem para o colar de ouro do capitão e para o castiçal de prata é interpretado pelos portugueses como uma possibilidade de esses minérios serem encontrados nas novas terras.
4. Em sua opinião, os habitantes da terra também devem ter estranhado o comportamento dos portugueses? Explique sua resposta.
5. Reescreva a frase no caderno completando-a:
Se Caminha estranhou a nudez dos indígenas e sua falta de cerimônia, isso mostra que ele:
a) pertencia a uma cultura em que a nudez era vista com naturalidade, como expressão da beleza humana.
b) pertencia a uma cultura em que a nudez era escondida, cercada de tabus e motivo de vergonha.
c) julgava os costumes dos nativos pelo ponto de vista dos costumes europeus.
d) tinha consciência de que a cultura europeia não era a única legítima e que outros povos tinham costumes tão válidos quanto os seus — ainda que muito diferentes.
6. A sátira é uma obra que censura, de forma irônica, costumes e instituições. Entre os quadrinhos de Fernando Gonsales (p. 161) e a carta de Caminha (p. 163 e 164) existe um diálogo, ou seja, uma relação de intertextualidade. É possível também afirmar que os quadrinhos satirizam a carta? Explique sua resposta.
Oscar Pereira da Silva/Museu Paulista, São Paulo
Texto 3
O texto a seguir é parte de um capítulo do livro Ponto de cultura – O Brasil de baixo para cima, escrito pelo historiador brasileiro Célio Turino. Nele o autor conta histórias de um “Brasil escondido”, isto é, um Brasil pouco conhecido pelos brasileiros. Uma das histórias diz respeito aos Yawalapiti (ou Yawalapíti). Leia a seguir.
Os Yawalapíti — Cultura, sustentabilidade e resiliência no canto de uma mulher
Célio Turino
No princípio as mulheres tocavam jacuí (flauta sagrada) e cantavam para toda a aldeia; aos homens, cabia ouvi-las com reverência. Certo dia, os homens rebelaram-se, não queriam mais as mulheres no centro da aldeia. Tomaram-lhes as flautas sagradas e criaram a Casa da Música, construída na uikúka (praça, centro). Desde então, as mulheres foram proibidas de tocar a jacuí ou mesmo entrar na Casa da Música, que se transformou em um ambiente restrito aos homens. [...]. Mas se os homens as impediram de tocar, não puderam impedi-las de cantar [...].
Esta história foi-me contada pelo putaki wikiti (dono da aldeia, chefe) Aritana, o líder dos yawalapíti. Filho de Kenato, o lendário cacique que ajudou os irmãos Villas Bôas na criação do Parque Nacional do Xingu, Aritana é um líder, não apenas de seu povo, mas dos muitos povos que habitam aquele imenso território de 2,6 milhões de hectares de diversidade biológica e cultural. No Parque vivem 5 mil índios de 14 diferentes etnias. Chamamo-los de índios generalizando diferentes povos, pois quando os europeus aportaram por aqui pensaram estar chegando às Índias do Oriente. Eram muitos os povos que habitavam a terra que viria a ser chamada de Brasil; no Xingu: kalapalo, wauja, meniako, kuikuro, kamaiurá…, várias etnias, troncos linguísticos, culturas. Para ser líder no meio de tanta diversidade, é preciso compreender o outro, ser tolerante, aprender a ouvir, falar muitas línguas [...].
Os yawalapíti habitam a região desde tempos imemoriais e seu território fica entre os rios Tuatuari e Kuluene. O primeiro contato registrado entre eles e o homem branco foi em 1887, com a expedição chefiada pelo alemão Karl von den Steinen. Os líderes yawalapíti eram Mapukayaka e Moritona, descendentes diretos do primeiro putaki wikiti, Tatiwãlu. Naquele encontro, ficou registrada a extrema pobreza em que viviam. Pobreza sob o olhar do europeu, pois todos eram fortes e saudáveis. Após esse contato, aí sim, a miséria se abateu sobre os descendentes de Tatiwãlu.
Os yawalapíti são descendentes diretos de Kuamuti ou Mavutsinim, o criador de diversos povos do Alto Xingu, e que plantou os troncos do Kuarup fazendo gente renascer a cada ciclo de morte, brotando do tronco. Renascer a partir das dificuldades, até mesmo da morte, foi um dos sábios ensinamentos que Mavutsinim deixou como herança. Ensinamento que foi de grande valia quando a presença do homem branco se tornou mais frequente. Peste, vírus e bactérias tomaram conta do lugar e, com eles, gripe, sarampo, diarreia… Boi, pasto, soja, muita carne criada e comida plantada e, com elas, fome, sujeira, terra cercada… Pressão, assédio, sedução. Ataques de todo tipo, com armas letais ou com açúcar, bem doces, e com eles, mortes, cárie, desespero…
[...]
Os povos do Xingu podem não conhecer as leis da física ocidental e o conceito de resiliência, mas conhecem os ensinamentos de Mavutsinim e a força do Kuarup. Mesmo quando submetidos a todo tipo de deformações e à adversidade, obrigados a recolher-se, encolher-se, dobrar-se e recuar, mesmo assim sua capacidade de recuperação faz com que retornem à forma original. São resilientes os yawalapíti. São resilientes porque fazem o Kuarup.
Para ser resiliente no mundo de hoje e brotar de novo é preciso transitar entre mundos, dominar códigos, ter conhecimento. [...] O grande desafio para que o povo yawalapíti brote com força é recuperar seu idioma. Apesar dos casamentos interétnicos terem sido fundamentais para o renascimento do povo yawalapíti, a linha de transmissão de cultura foi quebrada. Junto a isto, a pressão do mundo exterior ao Parque do Xingu, as tentações da televisão, do consumismo. [...]
“Você sabe como era antes, quando você chegava numa aldeia. Todo mundo pintado, tudo muito bonito. Não era assim como hoje. Antigamente, de tardezinha, o centro da aldeia estava cheio de gente. Velhos, jovens, meninos, todos reunidos, conversando sobre o que tinha feito, o que ia fazer, contando alguma história, conversando sobre o dia… hoje não, só os velhos vão no centro. Parece que aquela alegria acabou.” (Ichimã Kamayurá).
Mesmo o processo de educação indígena, tão fundamental para que transitem entre mundos, gera dúvidas. [...]
O professor indígena, por ser jovem, é visto com desconfiança pelos mais velhos e a própria relação política interna na aldeia vai sendo subvertida. Mas são fortes as raízes dos yawalapíti, eles conhecem suas histórias e as mantêm vivas em suas danças e cantos cotidianos. Com isso cantam: Awapá (nosso canto).
“Então eu estive pensando muita coisa à noite, como é que se pode fazer isso agora. Porque só uma pessoa tem os cantos. Só ele tem? E o resto? Não pode… Ele tem de passar isso já, para os mais jovens. Essa música da jacuí é mais e mais importante, a gente não pode perder isso. Meu pai tinha tanta música, já levou. Não passou para ninguém. Por que não passou para ninguém? Porque ninguém se interessou… É muito importante agora a gente gravar essa música, o rapaz novo aprender, não ficar só ouvindo esse tum tum [se referia às batidas eletrônicas que já começam a ser escutadas no Parque Nacional do Xingu]. Pode ter tum tum, mas pouquinho. Isso que eu fiquei pensando à noite. Como é que se pode fazer tudo isso?” (Aritana Yawalapíti).
São espertos os yawalapíti. Entre eles há um que ganhou o apelido de MacGyver (personagem de um seriado americano de televisão que construía engenhocas apenas com um grampo, cola, arame ou fósforo) por parte dos visitantes, é o cientista da aldeia, opera aparelho de rádio, conserta motor de carro, inventa coisas. A cultura também se preserva na invenção e no contato com o que vem de fora. E se recria. Assim eles se propuseram formar um Ponto de Cultura.
[...]
No Kuarup de que participei (2007) não eram apenas os velhos que cantavam o repertório da festa. O jovem Ianukulá surgia, como resiliente que é, do tronco do Kuarup e encantou a todos com a música tradicional dos yawalapíti. Mas o repertório dos yawalapíti é grande e está se perdendo, e cantar uma música não depende apenas de decorar a letra, é preciso conhecer os contos, os ritos, emoções, tudo isto está contido numa cultura. Como são poucos os que dominam plenamente o idioma yawalapíti [...] é necessário aprimorar o uso da língua, do contrário a raiz fica fraca.
Antes desta minha segunda viagem, já no processo de discussão do Ponto de Cultura, eles aplicaram mais um ensinamento que Mavutsinim deixou para o mundo dos homens. Desde muito tempo, o centro da aldeia cabe aos homens, assim como o direito exclusivo de tocar a jacuí. As mulheres só chegam mais próximo quando chamadas, pois todas conhecem o castigo a que estarão submetidas se infringirem as regras, e apenas se aproximam do centro para seguir os homens na dança, e cantam. Durante dez dias, uma equipe de gravação e pesquisa acompanhou o repertório de dança e música da aldeia. Foi um grande momento, jovens, adultos e crianças esforçavam-se para que sua língua fosse registrada plenamente por Jaqueline, uma doutoranda em linguística pela Unicamp. Mas, apesar do esforço, nem todos dominam a música.
De repente, um canto sai de dentro de uma das casas.
Para surpresa de todos, a voz saía da menor das casas, a mais pobre e esquecida, a menos conservada. O canto vinha bem do fundo escuro da casa de palha. Ali morava uma velha, Wantsu. Uma das cinco Yawalapíti a ter pleno domínio do idioma. Para os mais jovens, algumas estrofes pareciam incompreensíveis. Era yawalapíti clássico. Sim, clássico, porque clássico é tudo aquilo que serve de modelo para o novo. Wantsu cantou músicas que nem os homens mais velhos se lembravam, tirou do fundo de sua alma, como que vindo do tempo em que as mulheres, além de cantar, tocavam a jacuí.
[...]
Como no Kuarup, os yawalapíti revivem. E revivem pelo canto de uma mulher. Como com os yawalapíti, a cultura brasileira, apesar da pressão, resiste. É resiliente, encontra pontos de apoio e alavancas. E, ao se mover, se recria.
TURINO, Célio. Ponto de cultura — O Brasil de baixo para cima. São Paulo: Anita Garibaldi, 2010. Disponível em:
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