Língua Portuguesa volume 1



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. Acesso em: 14 abr. 2016.

Pulsar Imagens/Cassandra Cury
Parque Indígena do Xingu (PIX)

O PIX engloba, em sua porção sul, a área cultural conhecida como alto Xingu, formada pelos povos Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Yawalapiti. A despeito de sua variedade linguística, esses povos caracterizam-se por uma grande similaridade no seu modo de vida e visão de mundo. Estão ainda articulados em uma rede de trocas especializadas, casamentos e rituais interaldeões. Entretanto, cada um desses grupos faz questão de cultivar sua identidade étnica e, se o intercâmbio cerimonial e econômico celebra a sociedade alto-xinguana, promove também a celebração de suas diferenças.

Os povos Ikpeng, Kaiabi, Ksêdjê, Tapayuna e Yudja não fazem parte do complexo cultural alto-xinguano e são bastante heterogêneos culturalmente. Foram integrados aos limites da área demarcada por razões de ordem administrativa, em alguns casos implicando o deslocamento de suas aldeias.

Há, contudo, casamentos frequentes entre esses grupos, que acarretam uma maior articulação entre eles.

Um movimento recente vem ainda fazendo convergir todos os povos do Parque em nome de interesses comuns. As organizações indígenas (sobretudo a Associação Terra Indígena do Xingu) têm se estabelecido como um importante meio de interlocução com a sociedade nacional e fomento de projetos de educação, alternativas econômicas e proteção do território.

O que é a PEC 215

É uma emenda que propõe alterar a Constituição transferindo a decisão final sobre a demarcação de territórios indígenas, terras quilombolas e unidades de conser-vação no Brasil ao Congresso Nacional. Atualmente apenas o Poder Executivo, munido de seus órgãos técnicos, pode decidir sobre essas demarcações. Muitos consideram esse texto uma ameaça aos direitos indígenas.

Em 27 de outubro do ano de 2015, a Comissão Especial da Demarcação de Terras Indígenas aprovou o substi-tutivo sobre a PEC 215/2000, proibindo as ampliações de terras indígenas já demarcadas.
CPI do Genocídio

No Mato Grosso do Sul, deputados estaduais investigam ação e/ou omissão do estado em atos de violência contra indígenas. A criação da CPI foi determinada em 2015 pelo então presidente da Assembleia Legislativa, deputado Junior Mochi, após parecer favorável da Comissão de Constituição de Justiça e Redação (CCJR).

O objetivo da CPI do Genocídio é apurar atos praticados contra os povos indígenas no período de 2000 a 2015.

BIANCHI, Paula. Índios que vivem em reservas estão confinados, diz líder guarani-kaiowá.


Disponível em: . Acesso em: 22 mar. 2016.

1. A compreensão de um texto pode ser observada por meio da elaboração de síntese das partes ou dos parágrafos que o compõem. Identificar as palavras fundamentais de um trecho e sintetizá-lo é um modo de apreender os sentidos do que se lê. Em duplas, sintetizem em uma frase as respostas de Tonico Benites às questões indicadas a seguir evitando mudar as palavras. O item a deve servir de exemplo. Escrevam no caderno.

a) 1. UOL — Qual a situação dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul?



Tonico Benites — O Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do Brasil [em primeiro lugar vem o Amazonas]. São 77 mil indígenas, cerca de 47 mil apenas guarani-kaiowá, concentrados no sul do Estado, na fronteira com o Paraguai. O principal problema é a disputa pela terra, que já é demandada há muito tempo. Frente à demora na regularização dos territórios, os indígenas reocuparam uma parte.

Síntese: O principal problema é a disputa pela terra e, frente à demora na regularização dos territórios, os indígenas reocuparam uma parte.”



  1. Qual o problema das reservas (pergunta 3)?




  1. Como você vê a PEC 215 (pergunta 5)?




  1. Como você vê a CPI do Genocídio (pergunta 7)?




  1. E qual seria a solução para o conflito no Estado (pergunta 8)?


2. O título da matéria jornalística e os dois parágrafos iniciais procuram atrair o leitor para o texto destacando o tom de gravidade da situação. Fala-se em mortes e em confinamento. De que modo Tonico Benites explica o que chama de confinamento dos Guarani-Kaiowá? Aponte o trecho do texto que justifica sua resposta.
Produção de texto dissertativo-argumentativo

Você leu uma entrevista que trata da questão dos indígenas do Mato Grosso do Sul. Que tal expandir essas informações e ajudar a comunidade escolar a conhecer a situação desse povo? Para isso, escreva um texto dissertativo-argumentativo apresentando as dificuldades enfrentadas pelos povos indígenas no Mato Grosso do Sul no que diz respeito a seu espaço e sua relação com o tekoha. Antes de escrever, reflita e escolha um ponto de vista para tratar desse assunto.

a) Ao elaborar uma dissertação argumentativa é preciso expor com clareza o conhecimento do assunto tratado. Para fazer essa exposição, é fundamental buscar informações que possam ampliar a compreensão do tema e atualizar os dados. Portanto, antes de planejar seu texto, pesquise:

a história de luta dos povos indígenas por suas terras;

a intenção dos governos ao criar as reservas;

o conteúdo da PEC 215 e os grupos sociais que ela parece favorecer;

a situação de CPIs envolvidas no assunto;

as soluções para o conflito propostas por indígenas e por representantes do Poder Legislativo.

b) Sugestão de planejamento do texto:

1o parágrafo: contextualização histórica da luta por terras dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, seguida de um posicionamento acerca da questão.

2o parágrafo: consequências das ações que retiraram os povos indígenas de suas terras.
- parágrafo: os dois lados da questão — os indígenas têm razão, mas os fazendeiros que adquiriram legalmente as terras também têm.

- parágrafo: proposta de solução do impasse.

c) Revise seu texto observando se:

o primeiro parágrafo apresenta o assunto e sua opinião sobre ele;

os parágrafos de desenvolvimento recuperam as informações do parágrafo inicial do texto e acrescentam informações a fim de tornar a opinião convincente;

o parágrafo de conclusão traz uma proposta de solução para o problema destacado ao longo do texto e esta não fere os direitos humanos.

a ortografia, a concordância e a estrutura das frases estão adequados.

o vocabulário é rico e não há imprecisão no emprego dos termos;

você usou palavras que relacionam as frases entre si dentro de um parágrafo e os parágrafos entre eles.

Fotos Públicas/Agência Brasil/Marcelo Camargo



Grupo de rap Brô MC’s, com integrantes da etnia guarani-kaiowá, se apresenta nos Jogos Mundiais Indígenas, em Palmas, Tocantins, em 2015.

Aproveite para...

... ler

Cronistas do descobrimento, organização de Antonio Carlos Olivieri e Marco Antonio Villa, editora Ática.

A obra reúne textos de autores do século XVI e várias visões sobre os primeiros contatos dos europeus com as terras brasileiras.



Índios no Brasil, organização de Luiz Donisete Benzi Grupioni, editora Global.

Essa obra reúne textos de especialistas de diversas áreas, convidados a produzir textos sobre diferentes aspectos das culturas indígenas no Brasil.

©Editora Ática/Reprodução

©Editora Global/Reprodução



... assistir a

Doc Xingu — Etnias indígenas, de Joelma Klaudia (Brasil, 2014)

A cantora Joelma Klaudia produziu esse documentário que reúne cinco filmes de curta-metragem, que retratam o cotidiano de cinco aldeias próximas do rio Xingu.



... acessar

https://www.socioambiental.org/pt-br

O Instituto Socioambiental (ISA) tem como objetivo propor soluções a questões sociais e ambientais com foco na defesa de bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos. Acesso em: 14 abr. 2016.

Unidade 5

Profusão de imagens e significados
Nesta unidade, você vai ler alguns poemas e observar o uso de figuras de linguagem nessas construções. Vai poder identificar em criações poéticas a expressão de emoções e de certa ideia da identidade nacional. Observará um modo de a linguagem visual também expressar sentimentos e ideias.

Objetivos

Ao final desta unidade, verifique o que você aprendeu em relação aos seguintes objetivos:

Ler textos poéticos e identificar neles estas figuras de linguagem: metáfora, hipérbole e antítese.

Empregar recursos da linguagem poética na produção de poemas.

Produzir textos poéticos em versos e leituras expressivas de poemas.

Reconhecer a expressão de emoções e da ideia de identidade nacional em textos poéticos.

Observar a expressão de emoções e de ideias por meio da linguagem visual.

Museu Bispo do Rosário

Arthur Bispo do Rosário. Manto de apresentação, sem data. Tecido, metal e linha. Dimensões: 118,5 cm × 141 cm × 20 cm. Bispo do Rosário passou parte da vida bordando a peça acima para usá-la no dia do Juízo Final. Na imagem ao lado, o forro (face interna) do Manto de apresentação, composto de algodão, lã, linha, papelão e metal. Bordados nesse forro, o nome das pessoas — em sua maioria mulheres — que Bispo do Rosário julgava merecedoras de subir ao céu. O pernambucano Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) foi marinheiro, pugilista e guarda-costas. Nas vésperas do Natal de 1938 internaram-no no Hospital Nacional dos Alienados, no Rio de Janeiro, após um delírio místico. Com diagnóstico de paranoico- esquizofrênico, foi transferido no ano seguinte para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Viveu mais de 40 anos nessa instituição, onde executou, com o material que encontrava no local, como o próprio uniforme que vestia, a maior parte de sua obra.

Museu Bispo do Rosário

©Shutterstock/Nagib
Língua e produção de texto

O poema

Não escreva neste livro.

Interdisciplinaridade com: Arte.

Para começar

Já aconteceu de você ouvir uma música e imediatamente se lembrar de alguém? Você já sentiu determinado cheiro — de terra molhada pela chuva, ou de comida, ou de casa limpa — e então se lembrou de uma época da sua vida, de quando era criança, por exemplo? Alguma vez você já ficou comovido, triste ou alegre só de olhar para o céu e ver a cor do dia? Esse tipo de associação mental é muito comum e absolutamente pessoal. Pode haver semelhanças, mas ninguém sente o mesmo que o outro. Se você tivesse de associar cores, sons ou objetos a seus sentimentos, veria que também essas associações são pessoais.

A seguir você vai fazer uma atividade diferente: vai relacionar elementos concretos (partes do rosto, instrumentos musicais, etc.) a elementos abstratos, como sensações e sentimentos. Nesta atividade, não há “certo” ou “errado”; sua liberdade para responder é total, pois o que importa é perceber que existe uma maneira só sua de representar emoções.

pablo Picasso. Museu de arte moderna, nova york, eua



Pablo Picasso. Mulher em frente ao espelho, 1932. Óleo sobre tela. Dimensões: 162,3 cm × 130,2 cm. A obra é simbólica. Apresenta duas imagens diferentes. Embora a vista no espelho devesse ser o reflexo da modelo, isso não acontece. Entre as diferentes possibilidades de interpretação, pode-se considerar a busca pela identidade como causa de dilemas na sociedade contemporânea

Escreva as respostas das atividades a seguir no caderno.



1. Associe uma parte do rosto:

a) à timidez;

b) ao amor correspondido;

c) ao amor não correspondido.



2. Associe um alimento às sensações de:

a) cansaço;

b) amor;

c) expectativa.



3. Associe um objeto:

a) ao medo de ser rejeitado;

b) à expectativa de uma declaração de amor;

c) ao desejo de ter seu amor correspondido.



4. Associe um instrumento musical:

a) à euforia;

b) à saudade;

c) ao medo.



5. Que elementos da natureza você associa:

a) à paixão?

b) à tranquilidade?

c) à fuga?

d) ao encontro?

O poema a seguir foi escrito pela poetisa mineira Adélia Prado. Ao lê-lo, observe que aspecto do amor o eu lírico retrata e que elementos são usados para traduzir suas ideias.



Texto 1

©Shutterstock/agsandrew

Amor

Adélia Prado

A formosura do teu rosto obriga-me

e não ouso em tua presença

ou à tua simples lembrança

recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.

5 Quisera olhar fixamente a tua cara,

como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.

Mas não tenho coragem,

olho só tua mão,

a unha polida, olho, olho, olho e é quanto basta

10 pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável

que tudo rói e banha e torna apetecível:

caieiras, desembocaduras de esgotos,

ideia de morte, gripe, vestido, sapatos,

aquela tarde de sábado,

15 esta que morre agora antes da mesa pacífica:

ovos cozidos, tomates,

fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.

Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas,

rispidez de teu lábio que suporto com dor

20 e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,

lâmina encostada em teu peito. Fala.

Fala sem orgulho ou medo

que à força de pensar em mim sonhou comigo

e passou um dia esquisito,

25 o coração em sobressaltos à campainha da porta,

disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.

Nem é preciso que amor seja a palavra.

“Penso em você” — me diz e estancarei os féretros,

tão grande é a minha paixão.

PRADO, Adélia. Terra de Santa Cruz. Rio de Janeiro: Record, 2006.

apetecível: apetitoso, desejável.

caieira: forno ou fogueira onde se cozem tijolos.

resina: substância viscosa e odorífera produzida por alguns vegetais.

retábulo: estrutura de madeira ou outro material que fica por trás ou acima de um altar.

benignidade: qualidade do que ou de quem é benigno, bondoso.

estancar: fazer parar, deter.

féretro: caixa longa de madeira em que se colocam os mortos para que sejam enterrados.



A autora

Adélia Prado (1935-), poeta, romancista e contista, nasceu em Divinópolis (MG). Considera o livro de poemas Bagagem, lançado em 1966 por sugestão de Carlos Drummond de Andrade, sua estreia na vida literária. Sua prosa chegou ao público apenas em 1979, com o livro de contos Solte os cachorros, e com o romance Cacos para um vitral, publicado no ano seguinte. Tanto em sua produção em versos quanto no trabalho em prosa destaca-se o modo lírico de observar os elementos do cotidiano e da condição feminina. Fotografia de 2010.

Futura Press/Christyam de Lima



Interpretação do texto

1. Esse poema de Adélia Prado foi publicado no livro Terra de Santa Cruz, que costuma ser interpretado como uma obra reveladora de um eu lírico feminino.

a) Esse contexto de produção pode, em alguma medida, levar o leitor a concluir que o eu lírico é uma mulher? Explique.




  1. Fora desse contexto, entretanto, o poema pode ganhar novas possibilidades de leitura? Explique.




  1. A quem o eu lírico se dirige?




  1. O que o eu lírico pede a essa pessoa?

A primeira impressão que temos de um poema independe de qualquer análise ou estudo. Logo à primeira leitura, você já pode dizer se gostou ou não dele, se se identificou com o tema, se achou inusitada a forma como o eu lírico se expressou. Essas percepções iniciais são importantes e não devem ser desprezadas, mas, como em tudo na vida, para se chegar a uma opinião mais consistente e definitiva, é preciso analisar, conhecer melhor.

A sonoridade dos versos, o ritmo, as repetições, as combinações inesperadas de palavras e versos, as palavras empregadas, o conteúdo (a ideia traduzida), todos esses itens, combinados, contribuem para a construção da ideia geral do poema. Vamos nos concentrar em um deles: as combinações inesperadas de palavras e versos.

2. Releia os quatro primeiros versos do poema, pensando no sentido das palavras ousar, esmero e contemplável.

ousar: arriscar-se, atrever-se.

esmero: grande cuidado; apuro.

contemplável: aquilo que se pode contemplar, olhar com admiração; admirável.


  1. No contexto do poema, o que é “permanecer contemplável”?

b) Reescreva esta frase no caderno completando-a adequadamente:

De maneira bem simplificada, podemos dizer que os quatro primeiros versos revelam que o eu lírico:

se recusa a fazer-se atraente para a pessoa amada.

tem necessidade de permanecer admirável.


  1. Por que o eu lírico não ousa deixar de ser contemplável? Copie no caderno o trecho que confirma sua resposta.


3. Releia o trecho que vai do quinto ao décimo sétimo verso. Destaque nesse trecho alguns versos que, em sua opinião, exprimem o amor de uma forma inusitada, surpreendente. Explique por que você os considera surpreendentes.

4. Entre o décimo segundo e o décimo quinto versos estão enumeradas coisas que, para o eu lírico, o amor torna apetecíveis, desejáveis.

caieiras

desembocaduras de esgotos

ideia de morte

gripe


vestido

sapatos


aquela tarde de sábado

esta [tarde de sábado] que morre



a) Todos esses elementos são geralmente considerados positivos, desejáveis?

b) Ao dizer que o amor torna esses elementos apetecíveis, o que o eu lírico enfatiza?


5. Releia agora do décimo oitavo ao vigésimo primeiro verso. Nesse trecho, há outra enumeração: tamancos, flauta, molho de flores, resinas, rispidez, retábulos, faca, lâmina.

a) Todos esses elementos são comuns em poemas de amor? Você espera ver tamancos e resinas, por exemplo, associados ao amor?




  1. Em sua opinião, a enumeração que aparece nesses versos pode representar o uso de recursos diversos para obrigar a pessoa amada a falar aquilo que o eu lírico deseja ouvir? Se sua resposta for sim, comente um desses recursos.




  1. Releia os versos a seguir e complete a frase no caderno.

“‘Penso em você’ — me diz e estancarei os féretros,

tão grande é a minha paixão.”

No contexto do poema, o que “estancar os féretros” significa? Copie a resposta adequada.

a) Enterrar-se, ou seja, desistir.

b) Deter a morte, ou seja, fazer o impossível.

c) Fazer o inevitável.



7. Em seu caderno, copie os versos do poema de Adélia Prado e complete as lacunas com outros termos pensados por você e que sejam compatíveis com o contexto dado. Se precisar, recorra às palavras que você anotou nas atividades da página 180.

“[...]


Quisera olhar fixamente a tua cara,

como fazem comigo ___ e ___.

Mas não tenho coragem

olho só ___,

___, olho, olho, olho e é quanto basta

pra alimenta r ___, ___ e ___ deste amor incansável

que tudo rói e banha e torna apetecível:

___, ___,

___, ___, ___, ___,

___,


esta que morre agora antes da mesa pacífica:

___, ___,

___.

Recolho ___, ___, ___, ___,



___

e mais ___, faca, tudo serve e é estilete,

lâmina encostada em teu peito. Fala.

[…]”


©Shutterstock/agsandrew

Habilidades leitoras

Para ler o poema “Amor”, você:

buscou maior identificação com o conteúdo do texto;

reconheceu combinações surpreendentes de palavras;

interpretou essas combinações e outras informações, considerando o sentido geral do texto.

Texto 2

O poema a seguir é de Vinicius de Moraes. Compare-o ao poema de Adélia Prado.

A mulher que passa

Vinicius de Moraes

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.

Seu dorso frio é um campo de lírios

Tem sete cores nos seus cabelos

Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como és linda, mulher que passas

Que me sacias e suplicias

Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia

Teus sofrimentos, melancolia.

Teus pelos são relva boa

Fresca e macia.

Teus belos braços são cisnes mansos

Longe das vozes da ventania.


Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas

Que vens e passas, que me sacias

Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?

Por que me odeias quando te juro

Que te perdia se me encontravas

E me encontravas se te perdias?


Por que não voltas, mulher que passas?

Por que não enches a minha vida?

Por que não voltas, mulher querida

Sempre perdida, nunca encontrada?

Por que não voltas à minha vida

Para o que sofro não ser desgraça?


Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Eu quero-a agora, sem mais demora

A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio

Do teu martírio que nunca cessa

Meu Deus, eu quero, quero depressa

A minha amada mulher que passa!


Que fica e passa, que pacifica

Que é tanto pura como devassa

Que boia leve como cortiça

E tem raízes como a fumaça.

MORAES, Vinicius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.

©Shutterstock/Kudryashka



O autor

Vinicius de Moraes (1913-1980), poeta, compositor, cronista, dramaturgo, crítico de cinema e diplomata, do Rio de Janeiro (RJ). Em 1933, formou-se em Direito e lançou seu primeiro livro de poemas, O caminho para a distância. Ingressou na carreira diplomática em 1943 e prestou serviços nessa área até 1968, quando foi exonerado do cargo por se opor à ditadura militar. Começou a dedicar-se à composição musical na década de 1950. Junto com Tom Jobim, João Gilberto e outros representantes da MPB, deu início à bossa nova, movimento musical de grande sucesso. Em 1959, a peça Orfeu da Conceição, de sua autoria, ganhou adaptação para o cinema. O filme, premiado no Festival de Cannes, recebeu também o Oscar de melhor filme estrangeiro. Fotografia de 2008.

Futura Press/Ag. O Dia/Paulo de Araújo


Interpretação do texto

  1. Destaque a semelhança entre o poema “A mulher que passa”, de Vinicius de Moraes, e o poema “Amor”, de Adélia Prado.


2. Considere a forma como o eu lírico revelou seus sentimentos. Com qual deles você se identificou mais? Por quê?

3. Releia o título e o primeiro verso do poema, que trazem a forma escolhida pelo eu lírico para referir-se à mulher desejada.

a) A oração “que passa” funciona como um adjetivo que caracteriza o substantivo mulher. Tal adjetivação atribui a essa mulher uma qualidade temporária ou uma qualidade permanente? Justifique sua resposta.

b) Explique por que essa qualidade é o principal obstáculo à realização do encontro de amor desejado pelo eu lírico. Como a falta desse encontro o afeta?

4. O jogo de aproximação e distanciamento que perpassa todo o poema reforça a expectativa do eu lírico por um encontro definitivo com sua amada.

a) Que versos revelam a aproximação concreta entre o eu lírico e a mulher desejada?




  1. Que versos revelam a tensão entre aproximação e distanciamento?




  1. Que versos revelam a expectativa pelo encontro com a amada?


5. Releia:

“No santo nome do teu martírio

Do teu martírio que nunca cessa

Meu Deus, eu quero, quero depressa

A minha amada mulher que passa!”

Proponha uma interpretação para esses versos considerando o estudo feito até agora. Na redação da sua resposta, procure explicitar os seguintes tópicos:


A que nome (ou a que expressão) o eu lírico se refere quando escreve “no santo nome do teu martírio”?

Que relação há entre o verso “do teu martírio que nunca cessa” e o nome que ele atribui à amada?

Em que medida essa constatação reforça a impossibilidade de que o desejo do eu lírico seja atendido?

6. Em um poema, pode-se eleger uma ideia e desenvolvê-la por meio dos mais variados recursos: construção de imagens sugestivas, reforço da mensagem mediante retomadas constantes e diferenciadas da mesma informação, entre tantos outros. No poema “A mulher que passa” isso ocorre, como observado na análise, com o reforço da ideia encerrada na oração adjetiva “que passa”.

Além de todos os versos identificados nessa análise, há outros dois que evidenciam a fluidez, a liberdade da mulher que passa por meio de imagens bastante representativas. Identifique-os.


Conhecimentos linguísticos

O predicado nominal e a construção das figuras de linguagem: metáfora, hipérbole e antítese

Para relembrar

Predicado é tudo o que se diz sobre o sujeito. Portanto é o que resta na oração quando tiramos dela o sujeito.

Exemplo: “A formosura do teu rosto obriga-me”

Sujeito = A formosura do teu rosto

Predicado = obriga-me

O predicado pode ser nominal, verbal e verbo-nominal.



1. Nominal: um predicado classifica-se como nominal quando é formado por verbo de ligação e núcleo predicativo (representado por adjetivo, locução adjetiva, etc.). O predicativo indica uma qualidade, um estado ou uma mudança de estado do sujeito.

Exemplo: “Seu dorso frio é um campo de lírios”

verbo de ligação = é

predicativo do sujeito = um campo de lírios


Veja alguns verbos que geralmente funcionam como de ligação: ser, estar, ficar, parecer, permanecer, tornar-se, continuar.

2. Verbal: um predicado é verbal quando tem por núcleo um verbo significativo (transitivo ou intransitivo).

Exemplo: “Penso em você”

verbo significativo = Penso

complemento verbal = em você


3. Verbo-nominal: um predicado verbo-nominal apresenta dois núcleos: um é o predicativo e o outro é o verbo significativo.

Exemplo: O amor riu de mim despreocupado

verbo significativo = riu

predicativo = despreocupado



1. Compare os versos:

“‘Penso em você’ — me diz e estancarei os féretros,”

“tão grande é a minha paixão.”


  1. Qual verso é formado por orações que apresentam predicados verbais?




  1. Em um dos versos há um predicado nominal, mas seus termos foram invertidos criando assim um hipérbato.

Reescreva esse verso usando a ordem direta.
Você deve ter notado que, na nova construção, perde-se o efeito pretendido pelo eu lírico. Explique a intenção do eu lírico ao usar o hipérbato.
Leia a resposta ao segundo item da atividade b para responder. Qual a relação entre “estancar os féretros” e o uso do hipérbato?
2. Na construção do poema “A mulher que passa” apareceram casos de predicado nominal. Observe.

“Teus belos braços são cisnes mansos”

“Como és linda”

“Teus sentimentos são poesia”

a) Que predicativos atribuem características à mulher, aos sentimentos e ao corpo dela, respectivamente?

b) Os verbos de ligação estabelecem uma associação entre o sujeito e a característica atribuída a ele. Além dessa função, é preciso perceber a importância semântica desses verbos, que podem indicar também um estado permanente ou transitório. Leia um exemplo disso:

“Não sou boy, estou boy.”

Fala de personagem do programa Zorra total, rede Globo, 17 abr. 2009.

Qual oração do exemplo indica estado permanente? E qual indica estado transitório?


  1. Os versos destacados na atividade a indicam estado permanente ou transitório?


3. Releia este verso retirado do poema de Vinicius de Moraes.

“Seu dorso frio é um campo de lírios”



  1. No verso há uma comparação implícita, isto é, a qualidade comum aos elementos comparados não foi dita de modo claro. Que atributos (qualidades, características) são comuns entre o dorso frio da mulher e o campo de lírios?




  1. Na terceira estrofe, quando o eu lírico diz “Teus sentimentos são poesia / Teus sofrimentos, melancolia”, ele também faz uma comparação implícita. Que elementos são comparados?




  1. Analise a resposta da questão b e explique: o que pode haver em comum entre os termos destacados?

Ao escrever que os sentimentos da mulher amada são poesia e que os sofrimentos dela são melancolia, o poeta produziu uma metáfora. Metáfora é uma figura de linguagem que pode ser definida como o emprego de um termo no lugar de outro por haver, entre eles, alguma relação de semelhança.

Empregar metáfora significa criar semelhanças e, para isso, podemos utilizar estruturas mais simples ou mais complexas. Observe a sequência a seguir:

1. Na comparação metafórica, os elementos comparados e a(s) característica(s) comum(ns) são ligados pela conjunção como:

Aquele menino é bonito e sedutor como um gato.

1o elemento= Aquele menino

conjunção comparativa = como

características comuns aos dois elementos = é bonito e sedutor

2o elemento = um gato

Moa/Arquivo da editora

Moa/Arquivo da editora


2. Metáfora em que aparecem os dois elementos comparados, mas sem o atributo que é comum a eles e sem a conjunção como:

Aquele menino é um gato.

1o elemento = Aquele menino

2o elemento = um gato



3. Metáfora em que não aparece nem o segundo elemento da comparação nem o atributo comum aos dois elementos:

— Oi, gato, tudo bem?



4. Interprete as metáforas, descobrindo os atributos e os termos elípticos (não mencionados). Para isso, indique:

o 1º- termo comparado;

o 2º- termo comparado;

o que é comum aos dois termos e não está explícito.



  1. “Teus belos braços são cisnes mansos”




  1. Teu corpo é uma ilha.




  1. O amor da gente é uma semente.


5. As frases a seguir não apresentam metáforas, mas comparações metafóricas. Em uma comparação metafórica tanto os termos comparados como o atributo comum a eles são explícitos e, além disso, usa-se a conjunção como. No caderno, transforme as comparações metafóricas em metáforas, eliminando essa conjunção e tornando implícito o atributo que permite a comparação.

a) Seu adeus foi tão doloroso como o golpe de um punhal em meu peito.


b) Seus olhos são negros e sombrios como noites sem luar.
c) Seu olhar é profundo como o abismo do mar.
6. Leia uma estrofe do poema “Exilada”, de Elias José:

D.A Press/EM/Jair Amaral

Diabo de desprezo

ninguém lembra que eu existo,

ninguém pensa em mim

nem vem me ver

Meu quarto é meu país

de exílio,

sem sabiás nem palmeiras

Luciano Tasso/Arquivo da editora

JOSÉ, Elias. Cantigas de adolescer. 6. ed. São Paulo: Atual, 1992. p. 5.

Elias José (1936--2008), contista, romancista, poeta, professor e autor de livros didáticos, nasceu em Santa Cruz da Prata (MG). Tem contos e poemas traduzidos em várias línguas. Fotografia de 2003.



  1. Procure explicar com suas palavras os sentimentos que o eu lírico revela nesses versos.

Os sentimentos revelados pelo eu lírico são o de desprezo e o de solidão.

b) A associação entre quarto e país de exílio não é gratuita. Pense em algumas características do exílio: lugar distante, isolamento do convívio social, solidão, lugar para onde alguém foi mandado contra sua vontade. Quais dessas características também poderiam ser associadas ao quarto?


Ao vincular o exílio ao quarto, o eu lírico deixa claro o tamanho e a profundidade de seu sentimento. Trata-se, sem dúvida, de um exagero, porém um exagero altamente expressivo e poético.

Como a significação de um termo (quarto) foi atribuída a outro termo (exílio), podemos dizer que “meu quarto é meu país / de exílio” é uma metáfora, mas uma metáfora de um tipo especial, que torna a significação de um dos termos comparados extrema, exagerada.

Esse tipo de metáfora corresponde a outra figura de linguagem, a hipérbole.

7. Identifique a hipérbole nas frases a seguir:

a) Os atletas chegaram ao final do circuito olímpico mortos de sede.


b) Fulano é magrinho, mas come até explodir!

Moa/Arquivo da editora



8. Releia estes versos e reescreva a frase mais abaixo completando-a adequadamente.

“Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas,”

“rispidez de teu lábio que suporto com dor”

Pode-se identificar uma antítese no trecho “molho de flores, resinas”, pois:

a) o molho de flores é algo irreal, enquanto as resinas realmente existem na natureza.

b) molho de flores remete a algo colorido e perfumado, portanto agradável, enquanto resinas são secreções viscosas, que nos remetem a sensações desagradáveis.


9. Na base da construção de uma metáfora, de uma comparação metafórica ou de uma hipérbole, você poderá encontrar um predicado nominal. Veja estas sequências:

I. Ele é magro.

II. Ele é muito magro.

III. Ele é magríssimo.

IV. Ele é magro como uma tábua.

V. Ele é uma tábua. (hipérbole)


A. A nossa separação foi dolorosa.

B. O golpe de um punhal no peito é doloroso.

C. A nossa separação foi tão dolorosa como o golpe de um punhal no peito. (comparação metafórica)

Agora, escreva no caderno uma sequência de frases com predicados nominais que constroem a hipérbole e a comparação metafórica dadas a seguir.

IV. Ela é brava como uma fera.

V. Ela é uma fera. (hipérbole)

C. Sua palidez era tão estranha como o silêncio em uma noite de tempestade. (comparação metafórica)

Conclusão

Metáfora é o emprego de um termo no lugar de outro, por haver entre eles alguma relação de semelhança:

Seu olhar é a brasa do lume.

Na comparação metafórica, a qualidade que permite a comparação entre os termos está presente e há o emprego da conjunção como:

Seu olhar tem um brilho intenso como a brasa do lume.

Hipérbole é um tipo de metáfora em que a significação de um dos termos comparados se torna extrema, exagerada:

Seu olhar é a única ilha no oceano do meu viver.

Antítese é uma figura de linguagem em que se empregam na mesma frase ou verso palavras, expressões ou ideias de sentidos opostos:

Coitado! que em um tempo choro e rio;

espero e temo, quero e aborreço;

juntamente me alegro e entristeço;

de uma cousa confio e desconfio.

[…]

CAMÕES, Luís de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1997.


Atividades de fixação

Leia o poema a seguir para responder às questões 1 e 2.



Amor

Elisa Andrade Buzzo

Frasco garrafal

de perfume

adoro


tirar

a tampa


©iStockphoto.com/Pimonova

BUZZO, Elisa Andrade. Poesia do dia: poetas de hoje para leitores de agora. São Paulo: Ática, 2008. p. 40.



1. Identifique a metáfora para o amor escolhida pelo eu lírico.

2. Considere a metáfora e os três últimos versos e complete, no caderno, esta frase:

Para o eu lírico:

a) é muito bom deixar-se envolver pelo amor.

b) é muito perigoso deixar-se envolver pelo amor.

c) o exagero do amor pode não fazer bem.

d) amor em exagero precisa ficar guardado.

e) é bom contagiar as pessoas com nosso amor.

Leia este poema para responder às questões 3 e 4.

Elisa Andrade Buzzo (1981-), jornalista e poeta, nasceu em São Paulo (SP). Em 2005, publicou seu primeiro livro de poemas, Se lá no sol. Seus últimos livros são Vário som e a antologia de crônicas Reforma na Paulista e um coração pisado.

Alberto Krone-Martins

Esses copos de leite

vão ter uma duração mínima.

Logo que o prédio inaugurar

vão tombar a golpes de machado.

©iStockphoto.com/beastfromeast

BUZZO, op. cit., p. 40.



  1. O poema está baseado numa relação de desproporcionalidade entre dois elementos. Quais são eles? Explique sua resposta.




  1. Qual é a figura de linguagem que mais claramente evidencia essa relação de desproporcionalidade?


5. (Fuvest, 2005)

Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. É de crer que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: — Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: — Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia.

MACHADO DE ASSIS. Memórias póstumas de Brás Cubas.

Consideradas no contexto em que ocorrem, quais das expressões abaixo exemplificam antíteses? Transcreva-as no caderno.

a) “disse-lhe alguma graça” — “pisou-lhe o pé”.

b) “acercaram-se” — “amaram-se”.

c) “os dedos nos tachos” — “os olhos na costura”.


X
d) “logo desesperada” — “amanhã resignada”.

e) “na lama” — “no hospital”.



Atividades de aplicação

1. Leia os parágrafos abaixo e responda à questão a seguir.

“Quando se faz uma comparação, não se toma o objeto em si, expondo suas características ou suas funções, mas se escolhe outro objeto mais conhecido e se fazem aproximações entre eles. Camilo Castelo Branco, em Mistérios de Lisboa (cap. XVI do Livro Quatro), depois de definir o coração de uma mulher como um abismo, compara a sondagem desse abismo às viagens ao polo com suas dificuldades e seus perigos. Observe-se que uma comparação, como a que vem a seguir, reflete as concepções correntes numa dada época. Elas não têm a objetividade que alguns pretendem atribuir-lhes:

‘O coração de uma mulher é um abismo. Este axioma é já tão velho que não há habilidade nenhuma em repeti-lo. Habilidade é sondar o dito abismo e adivinhar a mulher. [...] É uma exploração perigosa como a dos exploradores. É como as viagens ao polo, em cujos gelos ficam sepultados os nautas atrevidos. E, se não fosse assim difícil a conquista, a mulher não valia nada. O que a faz preciosa é o segredo.’”

axioma: proposição que se admite como verdadeira sem exigência de demonstração; máxima, provérbio, sentença.

nauta: navegante.

contingência: possibilidade de que algo aconteça ou não; fato imprevisível que escapa ao controle.

FIORIN, José Luiz. A tentação do paralelo. Revista Língua Portuguesa. São Paulo, Segmento, ano 9, n. 109, nov. de 2014.

De acordo com o autor, o que é importante para se elaborar ou interpretar uma comparação metafórica ou uma metáfora?


2. Em novembro de 2015, um acidente ambiental de proporções incalculáveis ganhou as manchetes dos jornais: rompeu-se a barragem da mineradora Samarco, na cidade de Mariana (MG). Toneladas de lama com rejeitos da mineração de ferro foram despejados ao longo de mais de 500 km da bacia do rio Doce, provocando destruição em distritos de Mariana e um grande impacto sobre a fauna e a flora da região. Na época, um editorial do jornal Folha de S.Paulo, intitulado “Véu de lama”, levantava diversas questões que deveriam ser respondidas a fim de esclarecer as causas do desastre. Leia o trecho final do texto:

[...]


Por que inexistia sistema de sirenes para alertar os moradores de Mariana? Por que a Samarco não apresentou o plano de contingência que diz ter e seguir, em observância às normas legais? Por que uma das barragens rompidas continuou em operação mesmo tendo sua licença vencida desde 2013? Por que os órgãos responsáveis permitem essa óbvia imprudência?

A outra barragem também tinha problemas conhecidos. Dois anos atrás, o Ministério Público recebeu um laudo que apontava riscos de deslizamento de um talude próximo ao reservatório. Ainda assim, a Samarco obteve a licença do Conselho Estadual de Política Ambiental.

Há muito a esclarecer acerca das possíveis causas desse desastre, e é preocupante que a desinformação também esteja contaminando suas consequências. Segundo uma força-tarefa do Espírito Santo, a Samarco não tem prestado informações adequadas sobre as providências que estão sendo tomadas para minimizar o problema.

Tal comportamento é inadmissível — e é de esperar que o peso das empresas envolvidas não turve o discernimento das autoridades competentes. As explicações precisam ser dadas quanto antes, para que se apurem as responsabilidades de todos que, por ação ou omissão, sujaram as mãos nessa lama.

Agência Brasil/Antonio Cruz

Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), novembro de 2015.



Folha de S. Paulo. São Paulo, 12 nov. 2015

  1. O termo lama, na frase final do texto, foi empregado em sentido metafórico. Considerando o contexto, esclareça seu sentido.

b) Como você já sabe, um mesmo termo pode servir de metáfora para diferentes textos em diferentes contextos. Nesse caso, haverá alteração do sentido da palavra. Leia o texto a seguir e crie um título para ele combinando os termos lama e corrupção de modo que lama seja empregado em sentido metafórico. Em seguida, explique seu novo significado.

[...]

Quando dizem que a corrupção é sistêmica, não estão se referindo somente à corrupção generalizada no governo, mas sim em toda a sociedade. O motorista é corrupto quando não respeita a faixa de pedestre ou quando estaciona inapropriadamente em local reservado. O funcionário se torna corrupto quando não executa apropriadamente suas atividades. O estudante age de forma corrupta quando utiliza a cola para conseguir boas notas. O mecânico é corrupto quando adiciona à conta alguns serviços de manutenção que não foram executados. O agricultor é corrupto quando desmata inapropriadamente ou quando utiliza defensivos químicos proibidos. O camelô é corrupto quando espirra água com açúcar nas frutas para enganar o consumidor. Quem joga algum resíduo da janela do apartamento ou na casa do vizinho é igualmente corrupto. E, com a mais absoluta certeza, muitos desses corruptos estavam nas fileiras das manifestações contra a corrupção.



São milhares os exemplos de corrupções com que a sociedade brasileira se defronta. [...]

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