Língua Portuguesa volume 1



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. Acesso em: 16 mar. 2016.

Texto 2
http://super.abril.com.br/blogs/supernovas/2015/09/04/7-filmes-e-series-que-escorregaram-feio-na-ciencia/



7 filmes e séries que escorregaram feio na ciência

Por Fábio Marton

É verdade: cinema é fantasia, cinema é imaginação. Mas é um problema quando um filme se apropria da ciência, usando ela como ponto central no roteiro, e troca os pés pelas mãos. Causando urticária a chatos como eu (e Neil deGrasse Tyson), mas também prestando um desserviço ao respeitável público, que só ouve falar de evolução e wormholes diante da tela, grande ou pequena.

[...]

Walking Dead (e qualquer filme de zumbi)

Gente morta não se mexe (dã). Mesmo se algum tipo milagroso de vírus devolvesse a vida (desvida?) a elas, isso ainda seria impossível. Horas após a morte, os músculos travam no rigor mortis, causado pela ausência do ATP, o combustível das células. Sem ele, eles não podem relaxar. O corpo só pode ser movido novamente dias depois, quando a decomposição simplesmente quebra as fibras dos músculos. Zumbis, assim, seriam mais moles que o arroz da Tia Clélia.

Tem mais. Por que os urubus ignoram os zumbis? Mesmo sem os urubus, depois de um ano, só resta a caveira — que também se decompõe um dia. Então, de onde vêm as centenas de corpos recentes, quando sobrou meia dúzia de desesperados no mundo (cada vez que alguém tropeça num galho, é um a menos)? Ou nos velhos clássicos, nos quais centenas de corpos recentes brotam de um cemitério?

[...]
GlowImages/AMC/Photo 12/Archives du 7e Art

Cena da série estadunidense The Walking Dead (título em inglês que poderia ser traduzido por “Os mortos-vivos”), quinta temporada, 2014.
Neil deGrasse Tyson: astrofísico estadunidense dedicado, entre outras coisas, ao trabalho de divulgação científica.

wormhole (buraco de minhoca ou buraco de verme, em tradução literal): atalho hipotético que liga duas regiões de um espaço-tempo (ou hiperespaço).


Superinteressante. São Paulo, Abril, 4 set. 2015. Disponível em: . Acesso em: 16 mar. 2016.

a) Que relação há entre os dois textos?

b) Em sua opinião, qual dos dois textos é mais técnico e obedece à modalidade formal da língua? Explique sua resposta com elementos do texto escolhido.

c) Qual texto apresenta exemplos de linguagem informal? Dê exemplos.

d) Como você explicaria as escolhas de linguagem feitas em cada texto a partir do suporte de publicação?

2. A matéria acima foi publicada em uma revista voltada para a divulgação de curiosidades científicas, sobretudo para o público jovem. Por isso sua linguagem tem características particulares. Releia com atenção o trecho inicial desse artigo para responder às questões propostas na sequência.

“É verdade: cinema é fantasia, cinema é imaginação. Mas é um problema quando o filme se apropria da ciência, usando ela como ponto central do roteiro e troca os pés pelas mãos”.



  1. O pronome pessoal destacado se refere a qual termo?

Refere-se ao termo ciência.

  1. Qual é a função sintática desse pronome, no trecho acima?

O pronome pessoal reto ela está funcionando como objeto direto do verbo usar.

c) Considerando o que você estudou nesta unidade, reescreva a frase no caderno usando a variedade-padrão.

d) Em sua opinião, a escolha dessa construção pelo autor torna o texto mais próximo do seu público? Explique.
Pesquisas linguísticas apontam que, no Brasil, os pronomes pessoais oblíquos o, a, os, as não pertencem à gramática que é usada nas interações sociais. Acrescentam ainda que, atualmente, pessoas com um bom índice de escolaridade e em situações formais também não recorrem a tais pronomes nem em textos falados nem em textos escritos.

Fábio Marton, ao substituir, em seu texto, o pronome pessoal oblíquo a pelo pronome pessoal reto ela com a função de objeto direto, fornece um exemplo dessa tendência atual da língua.


3. Releia outras frases retiradas do texto 2.

“Gente morta não se mexe (dã). Mesmo se algum tipo milagroso de vírus devolvesse a vida (desvida?) a elas, isso ainda seria impossível. Horas após a morte, os músculos travam no rigor mortis, causado pela ausência do ATP, o combustível das células. Sem ele, eles não podem relaxar.”

a) O termo a elas refere-se a outro já citado. Qual palavra o termo substitui?

b) Procure explicar a razão do uso do pronome elas no plural.

Prof., espera-se que os alunos percebam que o sujeito gente morta está no singular, mas o substantivo gente carrega valor semântico de plural — daí o uso do pronome no plural.

c) Na frase “Sem ele, eles não podem relaxar”, o uso de dois pronomes muito próximos pode causar certo estranhamento. Vamos analisar.



Os pronomes se referem a quais termos?

Ele se refere a ATP, o combustível das células; eles, a músculos.



Baseando-se na resposta ao item anterior, procure reescrever a frase citada sem usar os pronomes ele e eles. Depois, conclua: a construção “Sem ele, eles não podem relaxar” está adequada?

Produção de texto

Texto jornalístico de divulgação científica

Embora tenham intenção parecida — expor os resultados de uma pesquisa —, o artigo científico e o texto jornalístico de divulgação científica são produzidos em situações diferentes e com objetivos diferentes. O primeiro é concebido no âmbito acadêmico, para leitores cientistas da mesma área que partilham conhecimentos comuns e, portanto, são capazes de construir o sentido do texto. Já o texto jornalístico de divulgação científica é elaborado para o público comum, leigo: o da revista, o do jornal. Isso implica, como vimos, uma grande mudança na forma de usar a linguagem.

O texto jornalístico de divulgação científica pode ser escrito por um jornalista ou por um cientista com habilidade para fazer a adequação da linguagem do texto de modo a torná-lo mais acessível ao grande público. Nesse processo de adaptação, há algumas regras textuais, como o uso de linguagem mais simples, do cotidiano. Para isso, o ideal é evitar o emprego de fórmulas ou de expressões específicas da ciência, que devem ser substituídas por paráfrases, numa linguagem próxima do leitor imaginado.

Para despertar o interesse do leitor pelo texto, a linguagem deve ser direta e informal. Se algum termo mais técnico tiver de ser empregado, é preciso recorrer à exemplificação ou à explicação, para que o leitor compreenda

o que está sendo exposto. Dessa forma, explicações, exemplificações, comparações, definições, expressões explicativas (isto é, ou seja) ou construções problematizadoras (“Por que é difícil terminar uma relação?”) são comuns no discurso do texto de divulgação científica.

Além desse cuidado com a linguagem, a estrutura do texto jornalístico de divulgação científica é outro ponto que merece atenção. Em um conto, por exemplo, deixar a informação essencial para o final é uma estratégia interessante; já no texto de divulgação científica esse talvez não seja um dos melhores caminhos. É necessário que se conquiste a atenção do leitor logo no início do texto e, para isso, o ideal é que o produtor comece com uma informação impactante, como em “7 filmes e séries que escorregaram feio na ciência”, que, nesse caso, é a afirmação de que alguns filmes e séries erram ao abordar temas científicos.

Outro recurso bastante utilizado em textos jornalísticos de divulgação científica é a presença de diálogo com o leitor. Por exemplo, o texto de Fábio Marton começa antecipando uma possível dúvida do leitor a respeito da importância da “veracidade” em obras de ficção científica — “É verdade: cinema é fantasia, cinema é imaginação” — para, logo em seguida, desenvolver seus argumentos: “Mas é um problema quando um filme se apropria da ciência...”.

O recurso ao diálogo ocorre por causa da intenção principal desse gênero textual: a de divulgar a ciência para aproximar o leitor leigo dos conhecimentos científicos. A conversa aproxima o escritor do leitor e garante certa humildade daquele, pois, dessa forma, o leitor não tem a sensação de que alguém que sabe está escrevendo para quem não sabe, mas sim a de que alguém que pesquisou está mostrando suas descobertas para quem quer saber sobre elas.

Prof., sugerimos que, antes de iniciar as atividades de produção, seja apresentada aos alunos a proposta de autoria. Assim, os alunos fariam a pesquisa e as atividades de escrita concomitantemente

Atividade — Como construir a linguagem do texto de divulgação científica

Como você estudou neste capítulo, a linguagem do texto jornalístico de divulgação científica é um dos fatores mais importantes para a caracterização desse gênero.

No quadro a seguir, vamos expor alguns recursos usados em diferentes textos. Isso porque o mesmo artigo não precisa conter todos esses recursos. Além dos exemplos, vamos apontar que elementos linguísticos são comuns a esses recursos.


Recurso

Exemplo

Uso linguístico

definição

A coceira é uma sensação aparentada à dor, mas diferente desta por evocar comportamentos distintos e por ser veiculada e processada por neurônios diferentes.1

O verbo mais usado para definição é o ser.

Note o uso do verbo ser no presente do indicativo: é. Nas definições, o verbo costuma ser usado nesse tempo e modo, o que garante a ideia de certeza.

Mais uma característica da definição é a presença de recursos como a descrição de detalhes ou o uso de confrontos, como no exemplo ao lado, em que
a coceira é definida no confronto com a noção
de dor.

exemplificação

Quem já se apaixonou bem sabe [...] tudo gira em torno da pessoa amada. É quase uma mania, um vício, uma obsessão.

Quem assistiu ao filme ou leu O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez, pôde avaliar um magnífico exemplo do grau de obsessão que pode assumir um sentimento de amor.2



A exemplificação pode ser usada quando, ao redigir uma ideia, se recorre a outro texto, algo de fora, que não fazia parte do que estava sendo escrito, para exemplificar a ideia inicial. Nesse caso, são utilizadas as expressões por exemplo, é o caso de, etc. Note que, se você eliminar essas expressões, o texto continua com sentido.

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