. Acesso em: 22 abr. 2016.
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
O autor
Aryon Dall’Igna Rodrigues (1925-2014), etnolinguista, natural de Curitiba (PR). Atuou como professor na Universidade de Brasília, na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Estadual de Campinas. Foi pioneiro nos estudos das línguas indígenas no Brasil. Fotografia de 2007.
D.A Press/CB/Marcelo Ferreira
No Brasil são faladas mais de 250 línguas
Você tem ideia de quantas línguas são faladas no Brasil? Leia esta matéria para ter noção das diversas línguas, além do português, que são praticadas no país.
Estima-se que mais de 250 línguas sejam faladas no Brasil entre indígenas, de imigração, de sinais e afro-brasileiras, além do português e de suas variedades. Esse patrimônio cultural é desconhecido por grande parte da população brasileira, que se acostumou a ver o Brasil como um país monolíngue. O resultado da mobilização que envolveu setores da sociedade civil e governamentais interessados em mudar esse cenário é o Decreto Nº 7.387, de 9 de dezembro de 2010, que instituiu o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) como instrumento oficial de identificação, documentação, reconhecimento e valorização das línguas faladas pelos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
O Decreto, assinado pelos Ministérios da Cultura (MinC), Educação (MEC), Planejamento e Gestão (MPOG), Justiça (MJ), Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), permitiu a constituição de uma política específica para a salvaguarda da diversidade linguística brasileira, coerente com a natureza transversal das línguas, que participam de várias dimensões da vida social. Não é possível, por exemplo, pensar ações de fortalecimento de línguas sem considerar as políticas educacionais. De forma semelhante, uma das maiores demandas dos grupos de falantes de línguas minoritárias está relacionada ao direito de acesso a serviços públicos na sua língua de referência.
O Iphan incluiu no INDL, até março de 2015, três línguas: a língua Talian, uma das autodenominações para a língua de imigração falada no Brasil onde houve ocupação italiana, desde o século XIX, nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Espírito Santo; a língua Asurini do Trocará, que pertence ao tronco Tupi, da família linguística Tupi-Guarani. Os Asurini do Trocará ou Auiu no Surini do Tocantins habitam a Terra Indígena Trocará, localizada às margens do rio Tocantins, em Tucuruí (PA); e a língua Guarani Mbya, identificada como uma das três variedades modernas da língua Guarani, da família Tupi-Guarani, tronco linguístico Tupi — as outras são o Nhandeva ou Chiripá/Txiripa/Xiripá ou Ava Guarani e o Kaiowa.
Disponível em: . Acesso em: 22 abr. 2016.
Samuel Casal/Arquivo da editora
Interpretação do texto
1. Na abertura da entrevista, ou seja, ao apresentar o entrevistado, o que o entrevistador procura destacar?
2. Ao responder à primeira questão, o entrevistado afirma que a atitude decisiva para o reconhecimento e a preservação das línguas indígenas se encontra, no Brasil do século XX, na Constituição de 1988. Por quê?
3. No século XVI, os portugueses conquistaram e desbravaram terras, escravizaram e dizimaram povos impondo sua língua e sua cultura. Que resposta do entrevistado aponta esse desastre cultural e linguístico?
4. Para colonizar o Brasil, os portugueses exterminaram parte dos nativos e ainda submeteram alguns dos que restaram ao serviço escravo. De que modo extermínio e submissão se relacionam com a resposta do professor Aryon sobre o desaparecimento de 85% das línguas indígenas faladas no Brasil?
5. O título da matéria e a terceira pergunta ao entrevistado estabelecem relações entre a língua e a pátria. Em sua opinião, por que isso pode acontecer?
6. Você conhece moradores de sua região que falam habitualmente outras línguas?
a) Em caso positivo, de que modo essa língua está relacionada com a história da região?
b) Em caso negativo, você conhece pessoas que são descendentes de estrangeiros? De onde? Sabe alguma coisa sobre suas histórias? Se souber, conte aos colegas.
7. Leia a notícia abaixo.
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,AA1346303-5598,00-MUNICIPIO+DO+AMAZONAS+OFICIALIZA+LINGUAS+INDIGEN
Município do Amazonas oficializa línguas indígenas
O prefeito de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, Juscelino Gonçalves, assinou nesta sexta-feira (10) decreto que regulamenta o reconhecimento do tukano, baniwa e nheengatu como línguas oficiais do município, ao lado do português. O decreto foi votado na Câmara Municipal na semana passada, mas a lei (nº 145), que estabelece as três línguas indígenas como idiomas co-oficiais, foi aprovada em 2002.
É a primeira vez no Brasil que idiomas indígenas são considerados co-oficiais — a Constituição Federal estabelece que o português é o idioma oficial do país. São Gabriel da Cachoeira fica na região do Alto Rio Negro, a 847 quilômetros de Manaus. É o município brasileiro com maior população indígena: 73,31% dos 29,9 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com a regulamentação, todas as repartições públicas em São Gabriel da Cachoeira serão obrigadas a prestar atendimento também em nheengatu, tukano e baniwa, e os documentos públicos e campanhas publicitárias institucionais deverão ter versões nos três idiomas. Além disso, a prefeitura deverá incentivar o aprendizado dessas línguas e uso nas escolas, meios de comunicação e instituições privadas.
[...]
Apesar de ser hoje considerado língua materna por diversos povos indígenas que habitam a Amazônia, como os Barés, em São Gabriel da Cachoeira, as origens do nheengatu estão no processo de catequização. O nheengatu surgiu a partir do tupi e foi introduzido pelos jesuítas na região. Muitos povos que perderam sua língua original durante o processo de colonização adotaram o nheengatu como língua principal.
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