Dois biblioclastas
O filósofo Metrocles de Maronea queimou seus próprios escritos por considerá-los meras fantasias. Segundo outra versão, o que incinerou foram as lições de seu mestre Teofrasto. Verdade ou não, lembrou-se de umas palavras de Platão e, enquanto acendia os papiros, disse: "Hefesto, vem logo, Tetis necessita de ti."
O filósofo e poeta Bion de Borístenes (cerca de 335 a.C.-246 a.C.) foi, segundo fontes autorizadas, um dos pensadores mais escandalosos de seu tempo, qualidade com que competia acirradamente com outros hoje mais famosos do que ele. Pomposo, versátil, inepto em geral, forjou um estilo de vida e de escrita com base na variedade e no fausto.
Hoje não há um só escrito seu completo, mas há fragmentos e se conhecem os títulos de algumas de suas obras. Escreveu Comentários, Diatribes cínicas, Paródias e Sátiras. Iniciou todo um gênero em sua fase de adesão ao cinismo e estimulou o Spoudogéloion, em que as ambigüidades, as alegorias, as anedotas e as paronomásias entretinham os leitores que buscavam moralidades mais exaustivas.
Em algum momento da vida sentiu necessidade de queimar livros e o confessou abertamente numa carta irônica, conservada por Diógenes Laércio, que pode servir como autobiografia de sua juventude. Escreveu para o general Antígono: "E eu, que não era um jovem sem graça, fui vendido para certo orador, que, ao morrer, me legou tudo o que era seu. E queimei seus livros e recolhi tudo, vim para Atenas e me dediquei a filosofar."
Bion considerava que queimar os livros do orador era uma maneira de dizer que já os absorvera e que não necessitava deles em sua viagem a Atenas, onde se dedicaria à filosofia. De fato, foi um verdadeiro sábio. Uma de suas frases favoritas era: "O pior mal é não sofrer nenhum mal na vida."
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