1 Luiz Fernandes de Oliveira



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Aprendendo com jogos



Criando possibilidades

RESPEITAR DIFERENÇAS É QUESTÃO DE JUSTIÇA.



FONTE: Divulgação: Cimac Noticias

Você deve pegar uma bexiga e colocar mensagens em seu interior. O conteúdo das mensagens será elaborado por suas próprias ideias e percepções acerca da diversidade sexual. Após encher as bexigas e ao sinal do(a) professor(a), jogue-as para o alto com o intuito de misturá-las. Cada um deve apanhar então um novo balão, mas não pegue o seu de volta. Estoure a bexiga. Leia as mensagens contidas em seu interior em voz alta para todos e discuta com os seus colegas sobre essas mensagens. Este jogo foi adaptado de http://goo.gl/07zF8F

Como jogar:



1. Leia o capítulo 23, "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Debatendo a diversidade sexual e de gênero.

2. Após todos os participantes jogarem e depois de todos terem lido os papéis com as impressões de cada um com relação ao tema "diversidade sexual", aguarde o(a) professor(a) fazer um círculo com todos da classe.

3. Relate suas impressões individuais acerca do jogo.

4. Encontre em revistas, livros, jornais, matérias da internet etc., distribuídos pelo(a) professor(a), episódios de violência sexual ou de gênero considerando a reflexão anterior sobre a diversidade sexual.

5. Crie painéis com recortes de jornais, revistas etc. para retratar essas violências.

6. Crie frases curtas e criativas que estimulem a reflexão sobre as razões desses eventos. A exposição dos painéis pode ser feita na escola em locais de grande circulação.

7. Jogue novamente a adaptação do jogo de tabuleiro Detetive por um dia.

8. Imagine um jogo similar ao Lutas simbólicas para pôr em discussão especificamente a violência de gênero. Crie um esboço, algumas cartas e uma descrição geral de como funcionaria o seu game.

9. Pesquise a publicidade em revistas semanais e identifique ao menos três matérias publicitárias em que papéis, qualidades ou características são associadas a gênero, principalmente, as publicidades que dizem o que é ser homem e o que é ser mulher. Analise tanto o texto publicitário quanto as imagens utilizadas e o que elas sugerem. Recorte os três exemplos encontrados e escreva um breve texto com suas análises para compartilhar com seus colegas de turma.

10. Socialize com os seus colegas em sala de aula o que a experiência significou para você e o que aprendeu com a mesma.

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Capítulo 24 - "Tudo se chama nuvem, Tudo se chama rio": nossos ancestrais, primeiros habitantes do Brasil

LEGENDA: Brasileiros que moram em nossas terras há milhares de anos: os povos indígenas. Na foto, uma cerimônia indígena xinguana sendo filmada por um indígena da etnia Yawalapiti, em julho de 2004. Esse povo vive ao sul do território Indígena do Xingu, em Mato Grosso.

FONTE: Kelly Russo

Talvez o que vamos dizer agora nesta primeira frase deste capítulo seja muito, mas muito estranho!!! Antes dos portugueses chegarem às terras brasileiras, não existiam índios.

Agora você talvez pense: "impossível, pois quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, em 22 de abril de 1500, encontrou muitos índios nas praias brasileiras". Mesmo assim, continuamos a afirmar: não existiam índios no Brasil antes de 1500. Não, não estamos tentando lhe confundir! Pedimos a você que leia com calma e depois debata com os seus colegas os nossos argumentos.

O nome "índio" surgiu com os colonizadores portugueses e espanhóis. Como você aprendeu no Ensino Fundamental, um dos objetivos das Grandes Navegações era encontrar uma nova rota de comércio com o Oriente. Assim, quando esses europeus chegaram ao continente americano achavam que estavam "nas Índias" (atualmente, apenas " Índia", país pertencente ao continente asiático). Assim, na chegada em nossa terra, os europeus adotaram o termo "índios" como nome para TODOS os povos que aqui viviam. Portanto, antes da chegada dos europeus, os povos que habitavam o território que depois veio a ser o Brasil e o continente americano não tinham um nome comum que os definissem. Pelo contrário, cada povo tinha sua própria denominação, que o diferenciava dos demais. Existiam, por exemplo, os Pataxó, os Tupinambá, os Temiminó, os Potiguara, e muitos outros.

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LEGENDA: Quando os europeus chegaram às Américas, o primeiro ato foi classificar todos os povos indígenas como índios - termo genérico que perdura até hoje. Tela de Oscar Pereira da Silva. Desembarque de Cabral em Porto Seguro (1922).

FONTE: Acervo Museu Paulista, SP.

Desde o início da colonização portuguesa houve muita especulação sobre a origem dos povos indígenas e até mesmo se eles eram seres humanos. A hipótese mais difundida pelos estudos mais tradicionais da Arqueologia é de que esses povos que habitavam as Américas eram provenientes do continente asiático. Nesse sentido, a teoria que se tornou mais comum é que eles teriam atravessado o estreito de Behring (entre a Sibéria e o Alasca) e se espalhado pelo continente há cerca de 14 a 12 mil anos atrás. Por outro lado, pesquisas mais recentes questionam essas interpretações (cf. FUNARI; NOELLI, 2005). Um exemplo é o trabalho da arqueóloga brasileira Niéde Guidon (1992), que identificou ao sul do continente datas mais antigas do que a apontada acima, contrariando essa hipótese mais difundida. Para tornar essas interpretações ainda mais inconclusivas, estudos linguísticos, como os desenvolvidos por Nichols (1990; 1992) avaliaram o início do povoamento da América entre 30 e 35 mil anos atrás (cf. CARNEIRO DA CUNHA, 2012, p. 10).

Mas como poderíamos definir o conceito de índio? O que significa ser um indígena?

Segundo o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro (2006), " índio é qualquer membro de uma comunidade indígena, reconhecido por ela como tal. 'Comunidade indígena' é toda comunidade fundada em relações de parentesco ou vizinhança entre seus membros, que mantém laços histórico-culturais com as organizações sociais indígenas pré-colombianas" (p.1).

Isto significa dizer que essas comunidades já existiam antes da chegada dos europeus - antes de Cristóvão Colombo - e se identificam simbólica e culturalmente de forma diferente da sociedade brasileira.

Essa definição é muito semelhante àquela adotada no Estatuto do Índio (Lei 6.001/73) que define, em seu artigo 3º, indígena como:

Boxe complementar:

"...todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional."

(BRASIL, 1973)

Fim do complemento.

Assim, o que percebemos é que esse conceito tenta diferenciar os indígenas da sociedade branca e essas marcas diferentes se caracterizam predominantemente em relação às suas culturas, línguas e raízes históricas. Vamos ver algumas dessas características mais adiante.

Com o passar dos séculos esses povos decidiram adotar o termo genérico "índio" como forma de fortalecimento de identidade comum e de unidade na luta contra a opressão branca e por direitos à terra.

No Brasil, foi ao longo da década de 1970 que começou a se formar um movimento indígena de configuração nacional - algo inédito e muito difícil de acontecer, haja vista a grande diversidade de povos aqui existentes e pelas distâncias de nosso país - na busca por reconhecimento cultural e pelo direito à terra. Aliás, a luta por territórios ainda é a principal luta dos povos indígenas no Brasil, ou seja, a reivindicação junto ao Estado pelo reconhecimento de suas terras originárias que foram tomadas e ainda são disputadas por não indígenas desde 1500 até hoje.

Outra questão importante que precisamos refletir é que, em muitos livros de História, os estudantes e os atuais professores aprendem ou aprenderam algumas coisas sobre os povos indígenas somente em relação ao seu passado, ou seja, nas histórias contadas e escritas, os povos indígenas apareciam quase sempre a partir da chegada dos portugueses e espanhóis em nossas terras do oeste do Oceano Atlântico e depois sumiam.

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Sempre se contou uma história do passado, dando a impressão de que os "índios" são pessoas pertencentes a uma cultura congelada no tempo, como se eles não existissem mais, ou até existem, mas estão isolados nas florestas e no "meio do mato". Outras ideias e imagens que se aprendem desses povos é a propaganda da grande mídia, principalmente na TV e no cinema, que retrata o "índio" de forma folclórica e exótica, de pena na cabeça, portando arco e flecha, e com roupas que se assemelham aos "índios" norte-americanos.



Entretanto, o que vamos conversar aqui com vocês é outra ideia que leva em conta não só o passado, mas também o presente dos povos indígenas. E a leitura que fazemos do passado não é a mesma que nossos pais e avós aprenderam, mas sim um passado que não foi contado pela sociedade branca, por ignorância ou de forma proposital. Sobre o presente, vamos descrever e estudar - tomando como base os estudos desenvolvidos pela Etnologia Indígena, uma área da Antropologia que estuda os grupos indígenas - o que fazem esses povos, quais são suas lutas e conhecimentos. Além disso, ao contrário do que sempre vemos na mídia, esses povos não estão somente em aldeias distantes nas florestas; há grupos indígenas também entre nós, nas cidades, trabalhando, estudando, utilizando-se das novas tecnologias e, uma das coisas mais significativas, nossa cultura brasileira é repleta de símbolos e modos de viver de origem indígena. Talvez você descubra, depois de estudar neste capítulo, que muitas coisas que você faz no seu cotidiano, provêm das culturas milenares indígenas. Vamos começar?

"Nos deram espelhos, e vimos um mundo doente"

Quando os portugueses chegaram nesta terra, os povos indígenas estavam organizados e divididos entre os diferentes grupos étnicos que aqui viviam (retorne ao Capítulo 6 para ver o significado de grupos étnicos).



LEGENDA: Um dos desenhos de J. B. Debret ( Cabeças de Índios), que em 1834 tentou retratar os diferentes povos existentes no Brasil desde a chegada dos portugueses. (Fonte: DEBRET, 1978)

FONTE: www.brasiliana.usp.br

Estes povos falavam uma diversidade de línguas e, através delas, davam nomes e entendiam o mundo à sua volta. Opa! Se até hoje existem povos indígenas, essa terra que hoje conhecemos como Brasil tem na verdade muitos nomes e muitas línguas. Como assim? No Brasil não se fala só o português? Bom, vamos tentar entender o que é esta pluralidade de povos que habitam este lugar a partir da diversidade de línguas existentes até hoje no país.

Existem muitos estudos de antropólogos e historiadores que afirmam que, à época da chegada dos europeus, existiam milhões de indígenas. Uns falam em 20 milhões, outros em 10 milhões, outros, ainda, em 4 ou 5 milhões. Não há um consenso entre os especialistas, entretanto, o etnólogo Curt Nimuendaju (1981) catalogou um montante de 1.400 povos que eram divididos em grandes famílias linguísticas denominadas troncos linguísticos.

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Os grupos que foram contatados primeiro foram os povos de línguas provenientes do Tupi, localizados no litoral, que chamavam este território de PINDORAMA (Pindó Rama ou Pindó Retama), cujo significado é "Terra das Palmeiras". Mas as informações acima demonstram a grande diversidade étnica e linguística e também nos oferece algumas pistas sobre a riqueza cultural, social e política que existia nesse território antes da chegada dos portugueses.

Quando os europeus chegaram por aqui, encontraram milhares de povos. Se, num primeiro momento, houve admiração e encantamento, anos depois, com a ocupação do território, vieram as doenças e a escravidão. As doenças eram a varíola, o sarampo, a tuberculose, a gripe etc., que foram uma das principais causas da diminuição progressiva das populações indígenas até o século XX. O primeiro registro de varíola ocorreu em 1562, na Bahia, quando foram dizimadas aldeias inteiras dos Tupinambá.

A escravidão também foi outro fator de extermínio de povos inteiros. Com o início da exploração colonial, os indígenas foram muito utilizados na extração do pau-brasil e em muitos outros trabalhos exigidos pelos portugueses. Claudio Figueiredo (2009) relata que:

Boxe complementar:

"O missionário francês Claude D'Abeville reproduziu a seu modo, em um relato publicado em 1614, as palavras de um velho chefe Tupinambá do Maranhão, mostrando como, aos olhos dos indígenas, a escravidão foi sendo imposta na sua relação tanto com os portugueses (os "peró") como com os franceses: 'Vi a chegada dos peró. Começaram eles como vocês, franceses, fazem agora. De início queriam apenas comerciar, sem morar aqui. (...) depois mandaram vir os padres, e estes levantaram cruzes. Mais tarde afirmaram que nem eles, nem os padres podiam viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. (...) Não satisfeitos com os escravos capturados em guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda a nação; e com tal tirania e crueldade que os que ficaram livres foram forçados a deixar a região'".

Fim do complemento.



LEGENDA: Famoso quadro de Victor Meirelles retratando a primeira Missa em território brasileiro, 1861.

FONTE: Acervo Museu Nacional de Belas Artes/Rio de Janeiro

Este relato e muitos outros são importantes para nos lembrar que não foram somente os africanos escravizados que foram vítimas da empresa colonial europeia. A escravidão indígena foi anterior e inclusive concomitante à africana.

No início da colonização o contato com os europeus foi tratado como uma relação de troca e negociação de mercadorias - a mesma que se realizava no continente americano entre os diversos povos que aqui viviam. A partir do momento que os europeus começaram a empreitada da colonização, parte dos povos indígenas tentou fugir para o interior do país, passando a resistir de várias formas. Nem todos os povos fugiram; muitos foram dizimados, tendo suas línguas completamente extintas; outros tantos foram escravizados. Muitos também foram catequizados, passando a viver parcialmente "protegidos" nas missões comandadas pelos jesuítas.

LEGENDA: Pouco se conta nos livros escolares sobre a história de extermínio e das lutas de resistência dos povos indígenas nas Américas.

FONTE: Latuff

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Atualmente, existem 305 povos indígenas espalhados pelo Brasil, segundo o Censo 2010 (IBGE). Não constam desse levantamento os povos isolados - ou "resistentes" (cf. BANIWA, 2006, p. 51-55) - que vivem na Região Amazônica e que ainda resistem aos contatos com a nossa sociedade. Portanto, temos poucas informações sobre quantos são esses povos, assim como suas línguas e organizações sociais. De qualquer forma, os últimos censos do IBGE apontam um crescimento da população indígena no país. Em 1991 eram 294.131, em 2000, 734.127 e em 2010 foram identificados 817.963 indivíduos indígenas. Esses dados mostram como os povos indígenas não serão extintos ou irão desaparecer, como se pensava há décadas atrás: eles estão crescendo e cada vez mais se organizando para que o Estado brasileiro possa reconhecê-los a partir de sua grande diversidade cultural, linguística e social.

Segundo especialistas no tema (COLLET; PALADINO; RUSSO, 2014), os principais fatores que explicam este crescimento populacional entre as populações indígenas foram o aumento da taxa de natalidade, a diminuição da mortalidade infantil, e, principalmente, o maior número de pessoas e comunidades que estão reivindicando suas origens e o reconhecimento de suas culturas e terras. Após a promulgação da Constituição de 1988, muitas comunidades reivindicaram seu reconhecimento enquanto povos indígenas.

Como assim? Uma comunidade pode virar indígena de uma hora para outra? Não, esse é um processo muito longo e antigo, visto que muitas dessas comunidades ocultavam suas línguas e suas práticas culturais ancestrais para se protegerem da violência das políticas de colonização branca e de tomada de suas terras. Você sabia, por exemplo, que até a Constituição de 1988, era proibido falar línguas indígenas no país? Pois é, a partir do momento que o Estado brasileiro reconheceu os direitos desses povos, muitas comunidades puderam, então, reconstruir suas histórias para iniciarem um processo de reconhecimento étnico (MORELLO, 2012).

E onde estão e como vivem as populações indígenas no país? Vejamos alguns dados e mapas que ilustram como se encontram os atuais povos indígenas no Brasil, segundo o Censo demográfico de 2010 (BRASIL, 2011):



FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Tabela: equivalente textual a seguir.

FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2010.

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FONTE: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Podemos perceber, principalmente no Mapa 1, que os povos indígenas estão presentes em todo o Brasil e em todas as capitais dos estados. Esses atuais números são bem diferentes daqueles identificados nos dois Censos anteriores. Aliás, o mapeamento das populações indígenas pelo IBGE só se iniciou em 1991. No Censo demográfico de 2010, ocorreu um aprimoramento da pesquisa sobre populações indígenas, identificando os povos, suas línguas, além da população residente em suas terras e fora delas, com o acréscimo da pergunta: "Você se considera indígena?" Veja na Tabela 2 alguns dados comparativos de 1991, 2000 e 2010.

Tabela: equivalente textual a seguir.



Tabela 2







1991

2000

2010

Total(1)

146.815.790

169.872.856

190.755.799

Não indígena

145.986.780

167.932.053

189.931.228

Indígena

294.131

734.127

817.963

Urbana(1)

110.996.829

137.925.238

160.925.792

Não indígena

110.494.732

136.620.255

160.605.299

Indígena

71.026

383.298

315.180

Rural(1)

35.818.961

31.947.618

29.830.007

Não indígena

35.492.049

31.311.798

29.325.929

Indígena

223.105

350.829

502.783

FONTE: IBGE, Censo Demográfico 1991/2010.

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Visitando a página do IBGE (http:// indigenas.ibge.gov.br/ ) você terá acesso a vários dados das populações indígenas em diversas regiões do Brasil e também de seu estado.

Entretanto, nem sempre tivemos esses dados, pois a história da população indígena no Brasil, como afirmamos anteriormente, sempre foi, e continua sendo no século XXI, de massacres, extermínio e tomada de suas terras com extrema violência por parte dos brancos.



Ninguém conta essa história: que história?

A visão europeia sobre os povos indígenas, quando chegaram ao Brasil, reflete aquilo que já discutimos no Capítulo 6 sobre o tema etnocentrismo. Relembrando: etnocentrismo significa considerar a sua etnia como o centro ou eixo de tudo, a base que serve de referência ou ponto de vista de onde se deve olhar e avaliar o mundo ao redor. E os europeus fizeram isso muito bem: afinal, até hoje a grande maioria dos conteúdos que aprendemos nas escolas nos apresenta uma visão eurocêntrica - ou seja, o etnocentrismo sob o ponto de vista europeu - sobre o nosso país.



FONTE: Verve Comunicação/Adilson

Por exemplo: que os indígenas são selvagens, ignorantes, ou que estão congelados no tempo, fadados ao desaparecimento, entre outros preconceitos.

Importante entendermos que essas visões deturpadas dos povos indígenas, que encontram infinitas dificuldades para encontrar espaços para divulgarem seus próprios pontos de vista, vieram de uma política implementada há muitos anos no Brasil e que ainda perdura nos dias de hoje.

Falamos um pouco sobre o período colonial, a partir do século XVI, mas vejamos o que o Estado brasileiro defendia em tempos mais recentes.

Segundo Bessa Freire (2016), nos idos de 1900, Paulo de Frontin, engenheiro, que nessa época era presidente da Comissão do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, fez uma afirmação pública na inauguração do Monumento ao Descobrimento do Brasil, na Praia do Russel, na cidade do Rio de Janeiro:

Boxe complementar:

O Brasil não é o índio; os silvícolas, esparsos, ainda abundam nas nossas majestosas florestas e em nada diferem dos seus ascendentes de 400 anos atrás; não são nem podem ser considerados parte integrante da nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não o conseguindo, eliminá-los.

(citado por BESSA FREIRE, 2016)

Fim do complemento.

O que fica evidente, neste discurso e em outros que ouvimos nas ruas atualmente, é o incômodo em relação aos povos indígenas, relacionado à posse das terras e aos modelos de organização comunitária que esses povos defendem, que se contrapõe à ampliação do latifúndio e do agronegócio que concentram as terras existentes em nosso país. Sem resistência indígena, as terras passam a ficar disponíveis para o mercado.

Essa comparação com a dinâmica de exploração presente na sociedade capitalista fica muito evidente quando as sociedades indígenas são chamadas de "primitivas". Na verdade, segundo o antropólogo Marshall Sahlins, trata-se de "sociedades afluentes", isto é, de abundância (cf. SAHLINS, 1978), pois - diferentemente do capitalismo - seus membros trabalham somente o necessário para suprir suas necessidades, não havendo vontade de acumular, e não por incapacidade ou preguiça, como o senso comum costuma afirmar.

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Isto não esconde o fato de que muitos povos indígenas apresentaram e apresentam uma realidade de escassez. Mas deve-se registrar que isso somente ocorreu a partir da colonização europeia (ver COLLET; PALADINO; RUSSO, 2014, p. 58). Portanto, os preconceitos e o desconhecimento que existem ainda hoje sobre os povos indígenas no país têm uma origem histórica e são justificados pelos interesses de alguns grupos que pretendem eliminar qualquer resistência aos seus projetos de desenvolvimento. A violência praticada contra esses povos e o preconceito que os meios de comunicação difundem contribuem para a desvalorização dessas populações que se quer dominar, desqualificando suas culturas, seus saberes, para depois desumanizá-los e tornar aceitável o seu extermínio físico, cultural e simbólico.



FONTE: Latuff

Entretanto, em outros lugares e em determinados livros, podemos conhecer uma história diferente dessas visões, distintas daquelas que denominamos como eurocêntricas, como explicamos anteriormente, que nada tem a ver com a realidade dos povos indígenas.

Começaremos então a refletir sobre as línguas dos povos indígenas.



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