. Acesso em: 8 fev. 2016.
Fábio Eugênio
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• A Amazônia e sua biodiversidade
Observe as fotografias a seguir.
Jose Roberto Couto/Tyba
Fabio Colombini
Ricardo Oliveira/Tyba
Marcos Amend/Pulsar Imagens
Ricardo Oliveira/Tyba
Marcos Amend/Pulsar Imagens
Além da enorme diversidade de espécies da flora, o bioma amazônico apresenta milhares de espécies da fauna que vivem só lá, ou seja, são endêmicas. Observe alguns exemplos nas imagens, de cima para baixo e da esquerda para a direita: o boto cor de rosa (Inia geoffrensis), que vive principalmente no Rio Negro, fotografado na Comunidade São Tomé, próximo a Manaus (AM), em 2015; o tamacuaré (Uranoscodon superciliosus) ou tamaquaré, lagarto que se alimenta de insetos nas árvores às margens dos igarapés; o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), sagui ameaçado de extinção fotografado na região de Manaus (AM), em 2015; o papagaio papa-cacau (Amazona festiva) ou papagaio-da-várzea, fotografado perto de Parintins (AM), em 2015; o uacari-vermelho (Cacajao rubicundu), fotografado perto de Manaus (AM), em 2014; e a saripoca-de-gould (Selenidera gouldii), ou tucaninhio-da-serra, fotografada na RPPN Cristalino, em Alta Floresta (MT), em 2015.
Além da interdependência dos elementos naturais, outra particularidade significativa do bioma amazônico está em sua espetacular biodiversidade. Entende-se aqui por biodiversidade ou diversidade biológica a variedade de espécies da fauna, da flora e de microrganismos, assim como a variabilidade relativa a cada espécie e também a variedade de funções ecológicas dos organismos vivos dentro de um ecossistema. Dessa forma, os especialistas estimam que, de 1,5 milhão de espécies de organismos catalogadas até o momento em todo o planeta, aproximadamente 10% vivem na Amazônia. Cerca de 80% dessas espécies, que incluem árvores, arbustos, plantas, fungos, insetos, répteis, aves, peixes, mamíferos, entre outras formas de vida, são endêmicas, ou seja, encontram-se exclusivamente nesse bioma, e boa parte vive em ecossistemas próprios no interior da floresta.
Entretanto, como vimos, essa diversidade biológica não ocorre de forma homogênea. Existem regiões da Amazônia que concentram um número maior de espécies do que outras. Esse é o caso, por exemplo, do trecho de floresta localizado na bacia hidrográfica do rio Juruá, no estado do Amazonas. O texto a seguir trata das particularidades dessa área.
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Onde há mais vida
Lá [em Juruá] está a maior concentração de espécies numa mesma área. Ela supera com folga outras regiões de Floresta Amazônica, como Cacaulândia, em Rondônia, Pakitza e Tambopata, no Peru, tidas até agora como campeãs em variedades de seres vivos na Amazônia, que é, por sua vez, a maior extensão de mata para a sobrevivência de espécies animais e vegetais do planeta. No Juruá, foram contadas 616 espécies de aves, pelo menos seis delas raras e outras duas completamente novas para a ciência. Nas outras áreas são pouco mais de 550. Em se tratando de borboletas, os cientistas já registraram 1620 tipos, mas há indícios de que o número poderá chegar a 2000. Há ainda cinquenta espécies de répteis, 300 de aranhas, 140 de sapos e 64 variedades de abelhas.
A explicação dos pesquisadores para tamanho volume de vida é surpreendente. Ao contrário das demais regiões estudadas na Amazônia, todas elas paraísos intocados com acesso restrito, os arredores do alto curso do Rio Juruá são habitados. Ocupada desde o século XIX por caboclos que vivem dos seringais, a região tem aproximadamente 8000 moradores isolados em pequenos vilarejos no meio da mata. Esse seria um dos motivos de tamanha variedade. Os cientistas acreditam que reviravoltas ambientais e climáticas são fatores determinantes para a riqueza biológica. Isso porque elas rompem a hegemonia de espécies mais fortes, dando espaço para que outras formas de vida prosperem. No Alto Juruá, as pequenas alterações na natureza causadas pelo homem também fazem o papel de pequenas catástrofes naturais. [...]
RYDLE, Carlos. Biodiversidade no Acre: região de maior diversidade da Amazônia. In: MIRANDA, Jorge Babo. Amazônia: área cobiçada. Porto Alegre: AGE, 2005. p. 112.
Vicente Mendonça
• A ocupação e a transformação do espaço amazônico
Vimos no início do capítulo que, até o século XVIII, a Amazônia permaneceu praticamente intocada, ocorrendo apenas algumas incursões para a coleta das chamadas drogas do sertão, por parte dos exploradores europeus.
Look and Learn/Bridgeman Images/Keystone Brasil
Cartão postal comercial da empresa Liebig, do final do século XIX, mostra cenas da extração e preparação do látex na Amazônia brasileira. Impresso na França, em cromolitografia.
No final do século XIX houve um lampejo de desenvolvimento na região, decorrente do emprego do látex (extraído das seringueiras) como matéria-prima na fabricação de borracha para a emergente indústria automobilística. A efervescência econômica atraiu a primeira grande leva de migrantes em direção à Amazônia, composta basicamente de cerca de 400 mil famílias de nordestinos, atraídas sobretudo pelo trabalho nos seringais (veja a imagem ao lado), mas também pela exploração de outros produtos, como plantas medicinais, castanha-do-pará, babaçu e frutos da floresta (como o açaí).
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Contudo, já na década de 1910 a economia da borracha entrou em decadência, fazendo com que a Amazônia permanecesse desarticulada do restante do país.
Ismar Ingber/Pulsar Imagens
O teatro Amazonas, em Manaus, é um símbolo da riqueza produzida pela economia da borracha na região amazônica, na virada do século XIX para o século XX. Foto de 2015.
O Plano de Integração Nacional
A articulação da Amazônia ao espaço geográfico nacional ocorreu, de fato, em virtude das ações promovidas pelos governos militares brasileiros durante as décadas de 1960 e 1970. Esses governos viam a integração da Amazônia ao restante do território como uma questão de segurança e uma solução para a distribuição irregular da população brasileira. Estabeleceu-se, portanto, o Plano de Integração Nacional (PIN), voltado a uma espécie de colonização da Amazônia, com o intuito de diminuir a pressão demográfica e os conflitos sociais no Nordeste e no Sul-Sudeste, as regiões mais populosas do país. Nesse sentido, a integração da Amazônia à economia nacional seguiu sob o lema “integrar para não entregar”, fortemente difundido naquela época.
Durante muitos anos, antes desse período, a Amazônia foi considerada uma região isolada. Em razão da densa floresta da região, o acesso a ela só era possível por via aérea ou fluvial – devido à ampla rede hidrográfica. Predominavam atividades econômicas primárias ligadas ao extrativismo vegetal, ao extrativismo mineral e à pesca. Quando se iniciaram as ações dos governos militares, a Amazônia atraiu a atenção das comunidades nacionais e internacionais, que viram na região uma imensa área à espera de incorporação ao espaço produtivo mundial, ou seja, à Divisão Territorial do Trabalho (DTT) e à Divisão Internacional do Trabalho (DIT).
A primeira ação do Estado para consolidar o projeto de integração da Amazônia foi construir rodovias que a interligassem às demais regiões do país. Entre as décadas de 1960 e 1980, foram construídas as rodovias Belém-Brasília, Cuiabá-Porto Velho e Cuiabá-Santarém, exemplos dos chamados eixos de integração, no sentido sul-norte. O governo federal criou também projetos de frentes terrestres de penetração no sentido leste-oeste, com as rodovias Transamazônica e Perimetral Norte, as quais deveriam percorrer, respectivamente, as margens direita e esquerda do rio Amazonas. No entanto, desses projetos, somente o da Transamazônica foi concretizado, ligando o Maranhão ao estado do Amazonas.
Alfredo Obliziner/CB/D.A Press
Trecho da rodovia Transamazônica nas proximidades de Altamira, Pará, em 1972.
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Para executar esses e outros projetos de ocupação e povoamento da região, o governo federal instituiu órgãos de planejamento, entre os quais se destacou a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Esse órgão estatal era responsável pela execução de projetos de colonização e exploração agropecuária e mineral, e pela criação de uma região de planejamento estabelecida para ser o principal alvo de investimentos estatais e privados: a Amazônia Legal (veja o mapa ao lado).
Mapa: ©DAE/Allmaps
Fonte: IBGE. Mapas. 2015. Disponível em:
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