História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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— Desapareceu mesmo? É verdade?

— Sim — Ele tornou a virar-se para Allegra e pegou-lhe a mão, levando-a aos lábios. — Obrigado, milady. Pela primeira vez em anos, minha dor se foi.

Embora a esposa relutasse em tocar uma feiticeira, conseguiu inclinar de leve a cabeça.

— Eu lhe agradeço.

Um murmúrio percorreu a multidão no salão principal e, de repente, todos tentavam se aproximar da mesa alteada do senhor do castelo.

— E quanto a mim? — Uma das mexeriqueiras do vilarejo abriu caminho até a frente da multidão, afastando a cotoveladas vários membros idosos e enfermos da comunidade.

— Ainda não nos conhecemos. — Allegra estudou a matrona metida num vestido de seda rosa, a cintura amarrada, o peito arfando, fazendo-a lembrar inevitavelmente de uma grande salsicha rosada. — Meu nome é Allegra Drummond.

— Eu sou Lissa MacDermott. — A mulher, que estava ofegante e enxugava a fronte com um lenço rendado, sorriu para os demais, obviamente se regozijando com a oportunidade de estar no centro das atenções.

— Onde é sua dor? — perguntou Alegra.

— Aqui. — A mulher tocou o peito voumoso, desfrutando a maneira como os homens ficaram de queixo caído. — A cada passo que dou, mal posso respirar.

Allegra pegou as mãos da mulher e fitou-a fixamente nos olhos

— Você realmente deseja ser curada?

Lissa abriu um sorriso triunfante na direção das amigas antes de tornar a voltar a atenção para ea.

— Sim, desejo.

— Então deverá fazer exatamente o que eu disser. Quando for para casa esta noite, deverá retirar o espartilho que a aperta tanto e abrir as costuras de seus vestidos. Eu lhe asseguro que nunca mais terá problemas para respirar.

Diante das palavras, a multidão explodiu em gargalhadas.

— Oh! Sua bruxa cruel e horrível! — Constrangida com os risos, a horrorizada mulher abriu caminho por entre os vizinhos e deixou abruptamente o salão principal, com o marido correndo para alcançá-la.

Merrick enxugou do canto do olho uma lágrima provocada pelo riso e sussurrou ao ouvido de Allegra:

— Eu estava enganado em me preocupar com você. Eu deveria ter sabido que você não toleraria tolos.

Ela limitou-se a percorrer a multidão com o olhar, perguntando-se se mais alguém ousaria testá-la.

Vendo Hamish conter um bocejo, Merrick passou o braço em torno dele.

— Está ficando cansado, meu filho?

— Sim, pai.

— Então irei buscar a sra. MacDonald. Ela poderá levá-lo até sua cama.

Allegra aproveitou a oportunidade para escapar.

— Sua governanta está ocupada demais para isso, milorde. Tem que atender seus convidados. Se não fizer objeção, ficarei contente em levar Hamish para seu quarto e lhe fazer companhia até que adormeça.

A voz de Merrick soou um tanto ríspida:

— Não haverá mais poções?

— Não esta noite. Embora eu não possa prometer para além disso.

Ele lançou-lhe um olhar demorado e pensativo antes de menear a cabeça.

— Muito bem. Pode ir cuidar do menino.

Beijou o filho e o observou dando a mão a Allegra. Enquanto ela e Hamish deixavam o salão principal, pescoços se esticaram e, como antes uma onda de euforia percorreu a multidão.

Mordred observou até que a mulher e o menino deixaram o salão. Virou-se, então, para o primo.

— É melhor tomar cuidado. Seu filho parece estar se afeiçoando à curandeira.

— E o que há de errado nisso?

— Você não sabe nada a respeito dela. Seria prudente em não confiar naquelas poções que lhe administra.

— Manterei a atenção redobrada.

Desmond aproximou-se mais, a voz trêmula de inquietação.

— O que descobriu a respeito da jovem, Merrick?

— Isto é, além do fato de que ela sabe como divertir uma multidão. — Mordred soltou um riso breve.

Merrick estreitou os olhos com raiva.

— Aquilo foi uma insensatez de sua parte, primo. Eu não trouxe a curandeira até aqui para ser motivo de chacota

— Não tive má intenção. — Mordred e o irmão trocaram um olhar. — Desmond teme e desconfia da feiticeira. Para tranquilizá-lo, diga-nos o que descobriu a seu respeito, primo?

— Não muito. — Merrick olhou para sua caneca de cerveja, o tom brusco com impaciência. — Ou ela é a donzela mais inocente de toda a Escócia, ou a mais esperta das feiticeiras.

Ficaram, então, em silêncio, enquanto o menestrel do vilarejo posicionava-se no centro do salão e começava a tocar seu alaúde.

A multidão ouviu atentamente, enquanto ele cantava sobre grandes batalhas, bravos guerreiros e donzelas apaixonadas. Embora Merrick costumasse gostar de tal entretenimento, naquela noite viu-se absorto em pensamentos em torno da curandeira. Ela vira o cansaço de seu filho como o pretexto perfeito para escapar daquela multidão de curiosos. Mas a verdade era que, no minuto em que deixara o salão o encanto da noite desaparecera.

Naquele breve espaço de tempo, ele começara a pensar em tornar a revê-la logo. Em estar perto dela, ouvir sua voz e o som musical e cristalino de seu sorriso.

Não era apenas seu filho que havia se afeiçoado à curandeira.

Perceber aquilo não lhe deu satisfação. Na verdade, envergonhava-o admitir que estava caindo de bom grado sob o encanto de uma mulher a qual ele sabia ser uma feiticeira.

CAPÍTULO 9

— Você me contaria uma história, Allegra? — Hamish estava deitado em meio ao calor e aconchego das mantas de pele de sua cama.

— Claro. Sobre o que você gostaria de ouvir?

— Fale-me de sua casa.

Ela ajeitou melhor o xale em torno dos ombros e sentou-se na beirada da cama, pegando as mãos do menino nas suas.

— Eu moro num lugar chamado Reino Místico. É um lugar grande com um tempo ameno, agradável, e cores tão intensas que ofuscam os olhos. A relva é viçosa, muito verde, e as flores crescem até a altura de um homem.

— Quem mora lá com você?

— Minha mãe, minha avó e minhas irmãs, Kylia e Gwenellen, como também uma doce mulher idosa chamada Bessie e um troll que atende pelo nome de Jeremy.

— Um troll? Como ele é?

Allegra sorriu diante do súbito interesse do menino.

— Ele não é menor do que você, com brilhantes olhos negros, e cabelos escuros e longos que devem ser aparados com frequência para que Jeremy não tropece neles.

Aquilo fez Hamish soltar um riso.

— O que mais?

— Ele usa uma casaca e uma cartola que minha lhe fez — contou Alegra com um sorriso saudoso, enquanto se recordava dos seus. — E embora possa parecer assustador para algumas pessoas, ele tem um coração puro como o de uma criança e uma natureza boa e generosa.

Hamish levou um momento para assimilar aquilo e enfim, perguntou:

— Você não tem pai?

Ela sacudiu a cabeça, uma expressão reverente passando por seus olhos verdes.

— Ele morreu quando eu e minhas irmãs erámos ainda bem pequenas— contou.

— E como seu pai morreu?

— Ele morreu defendendo minha mãe.

O menino arqueou as sombrancelhas ainda delicadas.

— Alguém queria matá-la? — perguntou, admirado.

Allegra confirmou com um gesto de cabeça, um ar melancólico fechando-lhe o semblante por um momento.

— Sim, é verdade.

— Por quê? — quis saber Hamish. — Ela era má?

— Não — assegurou-lhe Allegra. — Mas outras pessoas pensavam que ela era má. Estavam enganadas, claro. Existem uma diferença sabe? Há aqueles que são realmentes maus e existem aqueles que são tidos como maus apenas porque seguem um caminho diferente dos demais na vida. Minha mãe, assim como a mãe dela, tem dons que fazem com que algumas pessoas a temam.

— Que tipo de dons?

— Ela tem conhecimento sobre plantas e ervas que curam. Tem também o poder de acalmar o vento e agitar as águas do lago. E quando eu, ou uma de minhas irmãs estamos em perigo, nossa mãe pode sentir isso.

— Você também tem esses poderes?

— Eu tenho alguns desses poderes especiamente aqueles relacionados à cura. Minhas irmãs também têm os seus.

— E as pessoas têm medo de você?

— Algumas sim.

— Elas tentariam matar você?

Inevitavelmente, Allegra lembrou-se do momento em que fora empurrada do alto da escadaria e tentou reprimir um calafrio.

— Possivelmente.

O menino ficou pensativo, sua voz adquirindo um tom de tristeza de repente.

— Minha mãe morreu.

— Sim, eu ouvi dizer.

— Ela não era má, sabe? Por que, então, tinha que morrer?

— Todos nós morremos um dia, querido.

— Você acha que minha mãe tinha algum dom?

— Tenho certeza que sim.

— Eu numca a vi acalmando o vento, nem agitando as águas. — O rosto de traços bonitos de Hamish animou-se diante da ideia. — Que tipo de dons você acha que minha mãe tinha?

— Minha mãe me disse que o maior dom de todos é o amor.

Prontamente, Hamish meneou a cabeça, os olhos azuis brilhantes, expressivos.

— Minha mãe me amava.

— Está vendo? Esse é um maravihoso dom que ela deu a você. E um que você mesmo pode passar adiante.

— Posso? De que maneira?

Allegra abriu-lhe um sorriso terno.

— Amando tão aberta e generosamente quanto sua mãe amou você

O menino pensou a respeito por instante antes de dizer com timidez:

— Eu amo meu pai.

— Eu não disse? Você já transmitindo o dom de sua mãe para outra pessoas.

A ideia fez Hamish sorrir.

— Eu amarei outras pessoas da maneira como amo meu pai e minha mãe.

Ela deu-lhe um tapinha de leve na mão.

— Talvez você ame algum dia.

— Você ama alguém? — perguntou o menino num tom solene.

Alegra confirmou com um gesto de cabeça, novamente a nostalgia passando por sua expressão. Sentia tanto a falta de sua famíia. De seu lar. Esperava que todos ficassem mais tranquilos com a mensagem que enviara.

— Eu amo minha mãe, minha avó e minhas irmãs.

— Você não tem marido, nem filhos?

— Não.


Ele imitou-a, dando-lhe um tapinha na mão com gentileza.

— Talvez você tenha algum dia.

— Oh, Hamish. — Ela se inclinou, enternecida, e depositou-lhe um beijo na face. — Você é um menino adorável. Agora... — Alisando as cobertas, endireitou as costas, mantendo-se sentada na beirada da cama do menino. — Feche os olhos e eu ficarei bem aqui a seu lado até que você adormeça.

— Você cantaria para mim?

— Se você quiser. — Allegra começou a entoar uma canção de ninar que a mãe costumava cantar com frequência. A voz baixa e melodiosa envolveu o menino, embalando-o, afastando o restante de seus medos.

Em questão de poucos minutos, sua respiração se tornara tranquila e regular, enquanto mergulhou num sono reparado.

Allegra levantou-se da beirada da cama. Ajeitando as saias, virou-se e soltou uma exclamação de surpresa ao se deparar com um vulto junto à porta.

— Milorde. — Levou a mão aos lábios. Por quanto tempo, perguntou-se, Merrick MacAndrew estivera parado ali à porta, observando e ouvindo. Por que não lhe sentira a presença na entrada do quarto?

Enquanto ela fazia menção de sair, ele deteve-a pousando a mão com gentileza em seu braço. Sua voz soou sincera, carregada de sentimento.

— Jamais foi minha intenção que você fosse humihada pubicamente, nem a de exibi-la diante dos aldeões por diversão.

Allegra ergueu a cabeça com altivez.

— Se é o que você está dizendo.

—Sim, é. Eu lhe dou minha palavra como lorde. Eu queria você lá esta noite pelo bem do menino. — E pelo meu, acrescentou uma voz provocadora na mente de Merrick.

— Muito bem. Eu acredito em você. — Mais uma vez, Allegra tentou passar por ele.

Merrick tornou a detê-la com um toque. Um simples toque, mas ele pôde sentir o calor percorrendo-o instantaneamente, subindo por suas veias como uma trilha incandescente.

Deu um passo atrás, os olhos azuis intensos.

— O que devo fazer a seu respeito, Allegra?

— Fazer, milorde? — Ela manteve-se imóvel de repente, perguntando-se sobre as estranhas sensações que a percoriarriam e tinham sido provocadas por aquele toque.

— Se você fosse uma simples mulher, eu poderia confiar em meus sentimentos. Mas você é uma... — Merrick viu-a apertar os lábios e conteve a palavra ofensiva. — Perdoe-me, milady. — Fazendo-lhe uma leve mesura colocou-se de lado para lhe dar passagem. — Eu a estou impedindo de ir se deitar.

Ela ergueu a cabeça daquela maneira exasperante e passou por ele altiva feito uma rainha. Merrick achara que poderia deixá-la ir. E o teria feito se sua raiva não houvesse sobrepujado o bom senso.

Quando ela chegava à porta dos próprios aposentos, ele segurou-a pelos ombros e virou-a para que o encarasse.

Seu próprio rosto estava tenso com mal contida raiva quando a fitou.

— Você lançou um feitiço sobre mim?

— Um feitiço? — Allegra arregalou os olhos. — O que está dizendo?

— Eu acredito que você me enfeitiçou. É a única explicação para o que aconteceu com minha mente.

Ela desvencilhou-se das mãos em seus ombros.

— O que se passa em sua mente é um problema seu, milorde.

— É mesmo? É o que você acha? Não estou mais tão certo disso. —.Merrick deu um passo à frente com um ar ameaçador e continuou se aproximando, e Allegra foi recuando para dentro do quarto até que se viu de encontro à parede. — Desde Catherine não houve nenhuma mulher cujo o nome eu pudesse sequer lembrar por mais de uma noite. E, ainda assim, deixei meus convidados no salão porque eu não conseguia parar de pensar em você. Por que Allegra?

A expressão nos olhos dele era assustadora para sustentar. Por ter recuado o máximo que pudera, ela ergueu o queixo numa tentativa de demonstrar uma coragem que não sentia.

— Por que você pergunta a mim? Com certeza não pode estar acreditando que eu consigo controlar o seu comportamento.

— Se ao menos eu conseguisse acreditar nisso. — Merrick estendeu o braço, segurando-a pelo pulso. Aquele foi seu primeiro erro. Agora que a tocava, parecia não conseguir mais se conter. Tocou-lhe o ombro com a outra mão, mas, em vez de mantê-la distante, puxou-a para mais perto de si, os olhos azuis fitando-a com intensidade. — Preciso sentir a doçura de seus lábios outra vez.

— Não. — Allegra tentou recuar, mas não havia como lutar contra toda aquela força. Num movimento rápido, Merrick puxou-a para si, moldando-a no calor de seu corpo, quase erguendo-a do chão quando lhe tomou os lábios com um beijo sôfrego.

Havia também raiva naquele beijo. De ambas as partes. E era avassalador, tão potente quanto um golpe da espada de um inimigo. Merrick intensificou-o deixando o beijo alimentar o misto de paixões que vinha crescendo dentro de si até então. Sentia o fogo percorrendo suas veias e, quando, enfim, ergueu a cabeça para fitar Allegra, mal podia acreditar no que acabara de experimentar. Sua cabeça ainda rodopiava. Beijá-la fora como provar do mais doce néctar. Seu corpo vibrava de desejo. Como uma quase estranha era capaz de lhe causar sentimentos tão fortes?

Allegra manteve-se imóvel, esforçando-se para recobrar o fôlego, esperando que o ritmo descompassado de seu coração voltasse ao normal. Como seria possível lutar contra a magia daquele homem? Com um simples toque ele despertava-lhe sensações como nunca conhecera, era capaz de vencer-lhe a resistência por competo. Com um simples beijo conseguia deixar seu corpo em brasa. Ele tinha o poder de roubar-lhe a força de vontade de maneira que era impossível resistir.

Mas ela precisava resistir. Tinha de fazê-lo.

Jogue a cabeça para trás.

— Você não tem o direito de tomar tais liberdades — disse num tom indignado. — Retire-se dos meus aposentos imediatamente.

Em vez de dar uma resposta, Merrick puxou-a para seus braços mais uma vez, determinado a silenciar-lhe o protesto. Mas daquela vez, quando lhe tomou os lábios com os seus, as mãos que a seguravam pelos ombros tornaram-se mais gentis, como também o beijo.

Novamente, provou-lhe da incrível doçura até que se sentiu inebriado. Beijou-lhe os lábios com todo o vagar, estimulando-os com os seus até que ela, sem se dar conta, soltou um suspiro deliciado e abraçou-o com força pela cintura.

O quarto estava rodopiando languidamente, perguntou-se Allegra, ou era sua mente lhe pregando uma peça? O chão se movia sob seus pés, ou era seu corpo vibrando? Na verdade não sabia, nem se importava. Tudo o que importava no momento era aquele homem, aquele beijo, o momento completamente surpreendente.

Se ele tivesse continuado a tratá-la com arrogância, com raiva, ela poderia ter lutado contra aquilo. Mas aquele lado terno do homem deixava-a indefesa, vulnerável. Enquanto correspondia instintivamente ao beijo, tinha de se conter para não gemer de puro prazer diante das sensações abrasadoras que a percorriam.

Merrick sentiu a mudança na mulher em seus braços e regozijou-se. Apesar da inocência dela, podia lhe perceber o despertar do desejo. Podia sentir o calor que a percorria, o coração pulsando forte de encontro ao seu.

Merrick inclinou um pouco a cabeça para intensificar o beijo. Depois segurou os baços de Allegra e ergueu-os, fazendo com que o abraçassem pelo pescoço. Quando deslizou as mãos pelos baços dela, por seu corpo, seus dedos roçaram-he os seios arredondados.

Notou-lhe a reação quando ela estremeceu e começou a afagar-lhe as costas com gentileza, o tempo todo banqueteando-se com aqueles doces lábios, até senti-la relaxando novamente e deixando-o tocá-la a seu bel-prazer.

Allegra era um verdadeiro deleite. Hesitante, mas, por outro lado, ousada. Uma sedutora inocente. Uma feiticeira que parecia competamente alheia ao poder que lhe exercia.

Naquele momento, tal poder o conduzia por um caminho perigoso. A intensa onda de desejo apanhou-o de surpresa. A necessidade de possuí-la era premente, quase lhe roubando a capacidade de pensar com clareza. Um homem sensato encerraria aquilo agora, antes que ambos ultrapassassem o limite. Mas como conseguiria ser sensato com aquela mulher fascinante em seus braços? Como podia raciocinar quando o beijo que partilhavam o deixava inebriado de desejo?

Ele prolongou o beijo um pouco mais e, enfim, reunindo todas as suas forças, ergueu a cabeça, interrompendo o contato.

Ouviu-lhe o discreto suspiro de frustração e sentiu-se satisfeito com a demonstração de uma emoção que se espelhava a sua. Ela também estava desapontada com o fim do beijo. Talvez ele não tivesse sido o único a se deixar arrebatar pelo momento.

Merrick deu um passo atrás.

— Eu a deixarei agora como ordenou, milady, e voltarei para meus convidados no salão.

Virando-se sem aguardar uma resposta, deixou o quarto e seguiu pelo corredor em direção à escadaria. Seu corpo, notou, ainda vibrava depois de tê-la beijado com tanto ardor, de a ter estreitado em seus braços e acariciado.

Allegra fechou a pesada porta de seu quarto e recostou-se nela, esperando que a fraqueza que a tomou passasse. Depois, adiantou-se com pernas trêmulas até a cadeira diante da lareira, onde afundou gratificada.

A cada vez que Merrick a tocava e beijava, sua magia ficava mais forte e a dela enfraquecia. Não tinha a menor defesa contra aquilo. E o que a envergonhava ainda mais, não se importava.

Fechou os olhos e deixou a cabeça pender para trás, absorta em pensamentos. Se Merrick não tivesse encontrado forças para se retirar, ela teria lhe permitido que ficasse, que tomasse qualquer liberdade que tivesse desejado. Pois havia forças ali que iam além de seu controle. Era ele que tinha o poder. E ela estava completamente à sua mercê.

No corredor escuro, um vulto parou do lado de fora do quarto de Allegra. Acontecera o que fora temido. Merrick MacAndrew estava atraído pela feiticeira.

Mais uma complicação.

A esposa fora uma questão simples o bastante de resolver. Ela havia sido fraca e tola. O filho não era melhor. Um menino com o qual as ervas logo teriam acabado. Mas aquela mulher tinha poder e magia a seu lado. Grandes forças.

Ainda assim, se a curandeira fosse encontrada morta no próprio castelo do lorde, talvez em sua cama, restaria alguém para acreditar nas alegações dele de inocência?

Talvez fosse bom que Merrick tivesse sobrevivido aos perigos do Reino Místico e houvesse retornado ao castelo com a curandeira. Agora, seria humilhado perante seu próprio povo e desprovido de todo o poder antes de enfrentar seu maior desafio.

Em seus aposentos,Allegra sentiu uma sombra passando sobre ela, deixando-a gelada até os ossos. Levantando-se depressa, adiantou-se até a porta e espiou a escuridão do corredor, mas não conseguia ver nada. Ainda assim, a tenebrosa sensação permanecia. O mal estava ali, naquele lugar.

Ela se despiu depressa e, então, deitou-se em sua cama, cobrindo-se com mantas de peles para afastar o frio que ainda perdurava.

Quando começou a pegar no sono, sentiu que havia alguém no quarto. Amedrontada, sentou-se e observou a escuridão. Enquanto se levantava e atravessava o quarto, ouviu passos além dos seus. Erguendo um pedaço de madeira longo e incandescente do meio das brasas na lareira, virou-se para confrontar o intruso.

O quarto estava vazio.

Correu até a porta e olhou para o corredor escuro, mas não conseguiu ver nada.

Bem mais tarde naquela noite, Allegra permanecia deitada em sua cama, incapaz de dormir. Parte de sua insônia devia-se ao medo do mal que podia sentir ali no Castelo de Berkshire. Mas outra parte de sua inquietação, sabia, devia-se ao que acontecera entre ela e Merrick.

O que iria fazer a respeito do lorde? Pior, o que deveria fazer em relação àquelas sensações novas e estranhas que a haviam desconcertado tanto?

A magia do homem estava fazendo a sua diminuir. E aquilo poderia ser letal, especialmente porque ela tinha a nítida impressão de que alguém ali no castelo desejava lhe fazer um grande mal.

Poderia partir a qualquer momento que quisesse. Não era prisioneira ali. E por outro lado de modo estranho, ainda era cativa de Merrick. De alguma maneira, ele lhe roubara a força de vontade, fazendo-a abraçar cegamente sua causa e a de seu doce e inocente filho.

Se fosse sensata, colocaria um escudo em torno de seu coração antes que fosse tarde demais. Mas, levando em conta como seu coração se comportava sempre que o senhor do Castelo de Berkshire estava por perto, provavelmente já era tarde demais para aquilo.

CAPÍTULO 10

— Bom dia, milady. — A governanta levantou os olhos para ver Allegra descendo as escadas de mãos dadas com o pequeno Hamish. — Aonde vai com essa cesta no braço?

— Pensei em levar Hamish para caminhar pelo jardim. E, se ele estiver disposto a mais, talvez possamos andar até o campo logo além à procura de ervas.

— Mara poderia buscar ervas se você lhe dissesse de quais gostaria.

— Mara?


— A jovem tem algum conhecimento sobre ervas silvestes usadas para cozinhar. Ela poderia buscar o que você precisa.

Allegra sacudiu a cabeça.

— Eu lhe agradeço, senhora. Mas eu acho o ar fresco revigorante. Creio que será bom para Hamish também.

Lembrando-se da última caminhada do menino pelo jardim, a governanta não pôde esconder a preocupação.

— Não acho prudente. Nem milorde acharia, se soubesse.

— Manterei o menino perto de mim, sra. MacDonald — assegurou Allegra, tentando tranquilizá-la com um sorriso gentil. — Hamish não sairá da minha vista.

A governanta olhou-a com ar desconfiado antes de passar a mão pelos cabelos loiros do menino.

— Façam sua caminhada, então. Pedirei à cozinheira que prepare canja e seus biscoitos favoritos — disse-lhe.

Hamish abriu-lhe um sorriso e segurou-se à mão de Allegra com força quando ambos deixaram o castelo.

Allegra podia sentir os olhares hostis dos criados enquanto passavam. Ninguém, ao que parecia, estava disposto a confiar-lhe o filho do lorde. Ou talvez, a preocupação de todos fosse, na verdade, em relação a eles próprios. Encaravam-na como uma inimiga e tinham fomado uma barreira para mantê-la afastada.


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