Igor moreira



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© ACNUR/L. F. Godinho

© ACNUR/L.F.Godinho

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), Guterres (à direita) pediu à comunidade internacional que dedicasse mais atenção aos refugiados climáticos. Rio de Janeiro (RJ), 2012.

Perdas culturais

As consequências da mudança do clima da Terra não se restringem à perda da biodiversidade do planeta, aos milhões de refugiados, às doenças ambientais, etc. Culturas ameaçadas pela mudança climática permeiam o mundo. Elas incluem habitantes de florestas tropicais, como os Kamaiurá, que vêm enfrentando graves problemas em seu cotidiano.

Os Kamaiurá vivem no Parque Indígena do Xingu, num vasto território que já foi escondido pela floresta, mas que hoje é cercado de fazendas. Com o desmatamento do entorno, a umidade do ciclo da água regional diminuiu. Com temperatura mais alta, menos chuva e umidade, os níveis da água nos rios ficam mais baixos, dificultando a chegada dos peixes a locais de desova. Desse modo, a pesca quase desapareceu e o plantio da mandioca foi afetado.

Há outras comunidades tradicionais espalhadas pelo mundo que dependem dos ciclos da natureza para manter sua cultura e suas tradições. Muitas estão tendo de se adaptar às estações secas, à presença constante de furacões, etc.

Outro exemplo são os assentamentos de inuítes, como Kivalina e Shishmaref, no Alasca. Eles estão literalmente sendo varridos do mapa. É que o gelo do mar, que protegia sua costa, está derretendo, e os mares ao redor estão aumentando. Sem gelo endurecido fica difícil, quando não impossível, caçar focas, um pilar da alimentação tradicional. Seu estilo de vida está ameaçado.

O mesmo está acontecendo com várias comunidades árticas remotas que vivem da caça e da pesca. Rios congelados que eram utilizados como estradas hoje fluem a maior parte do ano. Se o gelo marítimo derreter, a população de focas e ursos-polares será afetada, e o deslocamento das áreas de vegetação para o norte poderá levar consigo outras fontes tradicionais de alimento, como caribus e renas. Em nível local, as mudanças no clima talvez exijam adaptações em antigas tradições culturais e releguem à história características climáticas que reforçavam os valores e as memórias comuns.

Além da destruição de culturas tradicionais, as mudanças climáticas estão gerando perdas incalculáveis em sítios arqueológicos e monumentos históricos, muitos deles tombados como patrimônio da humanidade pela Unesco.

O centro histórico de Praga, na República Tcheca, é um exemplo. Na cidade, existem edificações dos séculos XI a XVIII que são protegidas há muito tempo. As inundações que afetaram a Europa oriental no verão de 2002 provocaram danos significativos a esse local. Alguns edifícios ficaram submersos e outros desmoronaram. Em 2013, Praga voltou a sofrer com as fortes chuvas, que causaram a elevação do nível do rio Moldávia. Na ocasião, autoridades locais, com a ajuda do exército, levantaram barreiras contra as águas.

Outro exemplo é Tombuctu, no Mali, capital intelectual e centro de propagação do islamismo na África durante os séculos XV e XVI. Essa cidade foi declarada patrimônio mundial da Unesco em 1988, com destaque para as três mesquitas – Djingareyber, Sankoré e SidiYahia –, 16 mausoléus e cemitérios e milhares de manuscritos. Hoje, a desertificação ameaça esse local.

Glow images/SuperStock



Mesquita de Sankoré, na cidade de Tombuctu, no Mali, construída por volta do século IX. Foto de 2012.

Marcas na Terra

Todos os seres vivos necessitam de alimentos para sobreviver. Terras agrícolas férteis, trabalho, água e energia são fundamentais para a produção da maioria dos alimentos que chega à nossa mesa. É necessário, por exemplo, um grande volume de água para se produzir um quilo de carne. Desmatamentos para a criação de gado e monoculturas são exemplos de exploração do meio ambiente. Quanto mais o exploramos, mais deixamos marcas visíveis na Terra.

Assim, torna-se essencial avaliar até que ponto o impacto das atividades humanas já ultrapassou os limites que o meio ambiente terrestre pode suportar. Além disso, é preciso garantir espaço às próximas gerações e a outras espécies. Com base nisso, os ecologistas William Rees (1943-) e Mathis Wackernagel (1962-), em 1996, criaram a expressão “pegada ecológica”, que revela o impacto produzido pelas atividades humanas (agricultura, consumo, comércio, indústria, transportes) no meio ambiente. Assim, podemos perceber quanto de recursos da natureza utilizamos para sustentar nosso modo de vida.

A pegada ecológica pode ser calculada levando-se em conta as diversas regiões, cidades ou povoados do planeta. Esse cálculo envolve uma série de elementos: os tamanhos das populações, os diferentes tipos de territórios produtivos (agrícola, pastagens, florestas, áreas construídas, oceanos, etc.); as várias formas de consumo (alimentação, energia, transporte, etc.); as tecnologias empregadas; entre outros. Cada tipo de consumo é convertido em uma área medida em hectares (ha). Consideram-se ainda a capacidade de biorregeneração do sistema, a quantidade de florestas e de água doce e a biodiversidade, ou seja, a saúde do ecossistema da região em questão. Observe, no mapa a seguir, o consumo de recursos ecológicos no planeta.


Pegada ecológica e sustentabilidade humana

Genebaldo Freire Dias. São Paulo: Gaia, 2006.

Explica como é feito o cálculo da pegada ecológica e aponta caminhos para um desenvolvimento que traga impactos menores ao planeta.

Mundo: pegada ecológica (2011)

João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora

Fonte: GLOBAL Footprint Network. Disponível em:


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