Português: contexto, interlocução e sentido



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(acesso em: 4 mar. 2016).

Atividades (p. 238)

1 O anúncio apresenta os seguintes elementos visuais: veem-se, em primeiro plano, duas mãos enluvadas que fazem desenhos em uma folha de papel onde se pode ver o esboço de um veículo. Do lado da mão esquerda vê-se uma roda; do lado da mão direita, uma alavanca. Imediatamente à frente da folha de papel aparece o que se pode reconhecer como sendo o “nariz” do famoso 14 Bis. Em segundo plano, vê-se parte da Torre Eiffel, de Paris.

> O autor do texto espera que os leitores reconheçam as pistas oferecidas (o bico do 14 Bis e a Torre Eiffel) e identifiquem as mãos que aparecem no desenho como sendo as de Santos Dummont, famoso inventor brasileiro considerado o “pai” da aviação. Como se sabe, o primeiro voo do 14 Bis foi feito ao redor da Torre Eiffel.

2 O anúncio se dirige a pessoas que costumam teclar no celular enquanto dirigem.

> O texto que aparece no canto inferior direito (“Não escreva enquanto dirige”) faz uma recomendação direta que sugere serem as pessoas que costumam enviar mensagens de texto de seus celulares enquanto estão dirigindo. Além do texto, deve-se considerar a própria imagem como um elemento que contribui para definir o perfil do interlocutor, porque ela sugere que, se Santos Dummont estivesse desenhando o projeto do 14 Bis enquanto pilotava o avião, provavelmente colidiria com a Torre Eiffel.

3 Como o anúncio faz parte de uma campanha de conscientização sobre o perigo de as pessoas escreverem enquanto dirigem, o enunciado destacado procura deixar claro que nenhum texto — nem mesmo os planos de um Santos Dumont — justifica os riscos associados à atividade de teclar enquanto se dirige um veículo.

4 Sim. Tanto o texto (uma marchinha de carnaval) como as imagens indicam que o interlocutor específico é o folião carioca (incluídos nessa imagem todos aqueles que vão brincar o carnaval na cidade do Rio de Janeiro).

5 O anúncio tem a finalidade de promover uma campanha para evitar a violência durante o Carnaval no Rio de Janeiro.

> A letra da marchinha explicita a finalidade da campanha com os versos: “tapa na cara do pandeiro / evite briga pro bloco ficar maneiro”.

6 Tapa na cara do pandeiro.

> O slogan explora o duplo sentido associado à ideia de “brincar”. A expressão “brincar o Carnaval” faz referência à diversão sadia dos foliões.

“Brincar com o Rio”, por outro lado, significa agir de modo irresponsável com relação à cidade e os episódios de violência seriam uma forma de irresponsabilidade, porque comprometem a imagem do Rio e do seu Carnaval, o mais famoso do mundo.



CAPÍTULO 24

Os gêneros do discurso

Análise (p. 245)

1 A imagem apresenta um cachorrinho que, ao escavar a terra, encontra um osso. Pode-se ver ainda que, em uma parte mais profunda ainda não descoberta pelo cão, há um esqueleto humano ao lado de um baú cheio de moedas de ouro. O gancho na mão esquerda do esqueleto sugere tratar-se de um pirata.

2 A associação entre o enunciado e a imagem dá a entender que os animais de estimação têm o poder de mudar para melhor a vida das pessoas. A imagem é necessária para a construção desse sentido, porque ela sugere que o dono do cachorrinho ficará rico com a descoberta de um tesouro enterrado. Essa descoberta só acontecerá porque o cãozinho escava a terra e encontra os ossos do pirata.

> Deve-se interpretar a descoberta do tesouro como a representação dos efeitos positivos da adoção de um animal de estimação na vida de seus donos. Não é possível imaginar que todos os futuros donos desses animais serão conduzidos por seus bichinhos a tesouros enterrados, mas é bastante razoável supor que a convivência com eles trará alegria e afeto, “tesouros” metafóricos desejados por todos nós.

3 O texto faz parte de uma campanha, realizada pela Prefeitura de São Paulo, para estimular a adoção de animais de estimação. Tem o objetivo de conquistar futuras famílias para animais que estão sob os cuidados do Programa de proteção e bem-estar de cães e gatos (Probem) da Prefeitura de São Paulo. Sua função, portanto, é persuasiva.

> Imagem e enunciado apresentam, para os leitores do texto, um contexto simpático e positivo associado à ideia da adoção de um animal de estimação. Como a função a ser desempenhada pelo texto é de natureza persuasiva, investe-se na ideia de que todas as pessoas gostariam de ter suas vidas mudadas para melhor. Nesse sentido, a imagem do baú cheio de moedas de ouro evoca os tesouros imateriais (afeto, bem-estar, vida saudável, etc.) associados a uma vida compartilhada com animais de estimação.

4 A segunda imagem apresenta, em primeiro plano, um golfinho morto, já em processo de decomposição. De diferentes orifícios em seu corpo saem minúsculas figuras humanas. Em segundo plano, ao fundo, podem ser vistas labaredas de fogo que produzem uma fumaça negra.

5 O texto que aparece no boxe informa sobre as consequências do acúmulo de plástico nos oceanos: milhares de espécies marinhas são ameaçadas pelos detritos plásticos. A imagem do golfinho morto sugere que ele pereceu em consequência da presença desse tipo de poluição no oceano.

> Sim. As figuras humanas que saem dos orifícios do corpo do golfinho morto representam os vermes que participam do processo de decomposição das espécies animais. O fato de terem forma humana cria uma relação direta entre a ideia de consumo irresponsável (que não se preocupa com o descarte adequado dos detritos), praticado em larga escala pelos seres humanos, e o acúmulo de plástico nos oceanos que vem provocando a morte de milhares de espécies marinhas.

6 Como fica claro no enunciado “Pelo consumo consciente”, o texto 2 pretende sensibilizar seus interlocutores para a necessidade de levar em consideração a maneira como os produtos (e/ou suas embalagens) que adquirem serão descartados. Trata-se, portanto, de uma campanha de conscientização que tem uma função claramente persuasiva.

7 O primeiro texto investe na criação de uma cena alegre, criada não só pelo traçado dos desenhos do cãozinho e do esqueleto do pirata, como também pela escolha das cores de tonalidades suaves, que sugerem um dia ensolarado e tranquilo. No texto 2 vemos uma cena impactante marcada pelo uso de cores escuras e fortes: tons de verde, vermelho e marrom criam um cenário de destruição. Em segundo plano, o céu escuro, no qual se destacam as labaredas e a fumaça evoca imagens apocalípticas. O traçado do desenho investe em um hiper-realismo que obriga o interlocutor a reconhecer não só o golfinho morto que se decompõe, mas também as figuras humanas que saem como vermes de seu corpo.
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> Resposta pessoal. Espera-se que os alunos reconheçam que as diferentes estratégias formais relacionam-se à natureza de cada uma das campanhas e que, nesse sentido, são ambas muito eficazes. Enquanto o primeiro texto procura criar uma cena agradável, que evoque sentimentos positivos, alegria, afeto, de modo a incentivar a adoção de animais de estimação, o segundo texto procura criar em seu interlocutor uma sensação de responsabilidade por um processo de destruição da vida marinha que não é visível para a maioria das pessoas. Nesse caso, o incômodo provocado pela imagem tem justamente a função de levar o interlocutor a se dar conta de que todos os consumidores precisam se interessar e responsabilizar pelo modo como os detritos são descartados.

8 Nos dois textos a articulação entre imagens e enunciados breves produz o sentido desejado. É importante destacar, porém, que há um grande investimento na imagem, que ocupa a maior parte do texto. Além disso, também é possível reconhecer uma mesma função associada aos textos: persuadir o interlocutor a agir de determinada maneira (aderindo a campanhas ou comprando serviços).

Diversidade de gêneros: produção de painel (p. 247)

Sugestão

O objetivo desta atividade é levar os alunos a procurar, ainda que de modo mais intuitivo, aspectos que definem diferentes gêneros discursivos. Nesse sentido, não se espera que sejam capazes de identificar todos os gêneros presentes em uma revista, mas é provável que saibam separar os principais deles: notícia, texto de opinião, reportagem, crônica, cartas, anúncios publicitários, etc. No momento de avaliar os painéis preparados pelos alunos, portanto, o importante é verificar se conseguiram coletar exemplos de diversos gêneros e se identificaram algumas das características formais e temáticas que os definem.

Seria interessante que, após a montagem de todos os painéis, os grupos fizessem uma leitura dos trabalhos uns dos outros para discutirem os critérios utilizados na identificação dos gêneros.

CAPÍTULO 25

Leitura e gêneros do discurso

Análise (p. 248)

1 Pode-se imaginar que, ao ler o título, as pessoas o interpretem literalmente, ou seja, esperem encontrar no texto alguma explicação relacionada ao sucesso na tarefa de lavar a louça.

> Não. Ao concluir a leitura do texto, percebe-se que o título faz referência a uma importante imagem construída pelo autor para defender sua tese sobre a capacidade de transformação das pessoas.

2 Não. O subtítulo trata de questões relacionadas a um sentimento humano, a compaixão. Não há nele qualquer menção ao ato de lavar louça.

a) O subtítulo tem a função de oferecer informações mais específicas sobre o assunto tratado no texto.

b) Sim. Nesse caso específico, o leitor terá a informação de que o texto vai tratar das condições para os seres humanos serem capazes de sentir compaixão pelos seus semelhantes.

3 “sempre perguntamos se somos inerentemente bons e generosos ou maus e egoístas.”

4 a) Porque os biólogos, como os cientistas em geral, desenvolvem um olhar analítico e descritivo com relação aos fatos que estudam. Em termos discursivos, ao falarem sobre suas observações e conclusões, referem-se aos fatos, dados e fenômenos em 3ª pessoa (falam sobre X, Y ou Z). A psicanálise, por outro lado, investe na interlocução entre psicanalista e paciente. Em termos discursivos, por basear-se no diálogo, a perspectiva construída é de 2ª pessoa (o analista fala com o paciente).

b) Usando a própria mente para pesquisar a mente, os “cientistas contemplativos” descobriram que “todas as maldades são artificiais, construídas, e até mesmo o mais violento dos seres humanos pode, sim, erradicar completamente aflições e confusões, até se tornar veículo de inteligências benéficas”.



c) O aspecto revolucionário seria a afirmação do potencial de todas as pessoas para florescerem internamente, ou seja, de passarem por uma transformação. Nessa perspectiva, não existem pessoas intrinsecamente más.

5 A generalização de que aceitamos como verdades inquestionáveis duas visões, apresentadas em programas de TV: 1) “há pessoas boas e há pessoas essencialmente más”; 2) “o ciúme, a raiva, o orgulho, a inveja, o preconceito são humanos e não podem ser superados”.

> Ao aceitar essas visões, segundo o autor, abrimos mão da possibilidade de “acordar”, ou seja, de ver as coisas sob uma perspectiva diferente, que pressupõe a possibilidade de transformação individual.

6 Essa condição natural de liberdade é representada, no texto, pela imagem de alguém fixado em videogames que, de uma hora para outra, pode “levantar os olhos e fazer outra coisa”. Em outras palavras, essa pessoa não está condenada a jogar videogame pelo resto da vida.

> Assumir como verdade a possibilidade de transformação dos outros, ainda que, no presente, eles se comportem de modo negativo ou condenável, é o que nos permite sentir compaixão. Se, por outro lado, assumimos a visão estereotipada de que algumas pessoas são intrinsecamente más, não teríamos como sentir compaixão por elas.

7 A imagem criada pelo autor é a da “sujeira incrustada na louça”.

> Essa imagem tem a função de “traduzir” para os leitores o que significa ser capaz de perceber “a natureza mais profunda do outro”, a sua potencialidade de transformação. Em outras palavras, como lembra o autor no 6º parágrafo: do mesmo modo como temos dificuldade em olhar para uma taça de vinho suja e ver o cristal puro de que é feita, também não conseguimos reconhecer a possibilidade de boas ações em pessoas que julgamos serem más em função dos comportamentos que apresentam.

8 A imagem da “sujeira incrustada na louça”, no parágrafo final, cumpre a função de ampliar o sentido do que é dito sobre os outros (devemos reconhecer seu potencial de transformação) para incluir a nós próprios.

> O sentido da imagem é, essencialmente, o mesmo, com a ressalva de que, agora, passa a fazer referência à capacidade de mudarmos o nosso próprio comportamento: “Podemos nos aproximar de nossas aflições [...] com a mesma confiança inabalável que brota ao encararmos uma pia cheia de pratos imundos.”.

9 Resposta pessoal. Os alunos podem questionar o alcance absoluto da afirmação feita no texto. O autor, com essa generalização, parece excluir, por exemplo, todos os casos em que as pessoas, motivadas por doenças mentais graves (a esquizofrenia, por exemplo), cometem atos violentos, como assassinatos. Ainda que se possa afirmar que esses indivíduos não são intrinsecamente maus, não basta a compaixão ou a decisão individual para eles se transformarem ou se verem livres do problema que os leva a agir de modo incontrolável.

10 Dada a intenção clara do autor de convencer seus leitores de um ponto de vista específico sobre a compaixão, o texto tem natureza predominantemente argumentativa. Essa intenção se concretiza no modo como ele estrutura seu texto; no uso que faz da referência a biólogos, psicanalistas e “cientistas contemplativos” para introduzir o ponto de vista que pretende defender; na criação de uma imagem (a sujeira incrustada na louça) para garantir que os leitores compreenderão o que significa o potencial de transformação a ser reconhecido em todas as pessoas.
Página 403

UNIDADE 8

Narração e descrição

CAPÍTULO 26

Relato oral e escrito

Análise (p. 259)

1 O fato principal relatado no texto 1 é o resgate de uma surfista brasileira, Maya Gabeira, depois de ela sofrer um acidente ao tentar surfar uma onda gigante na praia do Norte, em Nazaré (Portugal). No texto 2, o fato principal relatado é a experiência vivida pelo jornalista Edney Silvestre ao cobrir o ataque terrorista às torres gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro de 2001.

2 Texto 1: Maya entra em uma onda gigante e, no terceiro voo com a prancha, perde o controle e afunda. Leva um caldo e fica um longo tempo debaixo d’água. Carlos Burle perde a surfista de vista e decide esperar que o corpo dela apareça na beira da praia. Quando avista a prancha e o colete, vai em direção a Maya, que havia submergido e afundado novamente. Burle joga a prancha de resgate, mas a surfista não consegue segurá-la. Ele tenta segurar a mão dela, mas também não é bem-sucedido. A terceira tentativa é feita com uma corda, que Maya consegue agarrar e assim sair do redemoinho. Burle consegue encontrar Maya, se joga no mar e a pega.

Texto 2: Às 8h20 da manhã do dia 11 de setembro de 2001, Edney Silvestre, correspondente da TV Globo em Nova York, chega da academia, liga a televisão e vê as imagens do atentado terrorista às torres gêmeas; dirige-se imediatamente para o World Trade Center com o cinegrafista Orlando Moreira; encontra, no caminho, muitos brasileiros em meio à multidão que fugia do local do atentado; vários brasileiros param para relatar o que viram na hora do ataque terrorista; o prefeito de Nova York vê o jornalista e o cinegrafista e pede que coloquem máscaras contra a poeira e a poluição; Orlando Moreira faz imagens impressionantes, que seriam utilizadas, à noite, na abertura do Jornal Nacional.

3 Trechos como “Mas todo mundo bota no piloto automático”; “O Burle já entrou acelerando, botou o Gordo na corda...”; “A gente estava num negócio que era outra dimensão. fiquei quieta, ele me levantou, entrou uma onda muito maior do que as duas que eu tinha perdido e, cara, depois da chamada do Burle...”; “Na segunda porrada, de uma onda ainda maior”; “O problema maior foi que eu peguei a primeira onda da série, entende?”; “Nessa segunda porrada, o Burle me perdeu”; “Pensei, juro que pensei isto”; entre outros.

> Nos trechos transcritos, há termos e estruturas característicos da linguagem coloquial oral: o uso do verbo botar; a palavra para estabelecer uma relação de continuidade narrativa; termos bastante coloquiais, como porrada; a marcação de interlocução por meio do termo cara e da pergunta entende?.

4 A apresentação dos acontecimentos, no texto 2, é feita de modo mais articulado, inclusive em termos sintáticos. Nota-se que seu autor procura evitar repetições e organizar as informações de modo claro. Também são feitas as identificações dos locais e das pessoas que participam dos acontecimentos relatados. No texto 1, observa-se uma justaposição de acontecimentos, que vão sendo relatados à medida que a autora vai se recordando dos fatos, mas sem que tenha a preocupação, por exemplo, com o estabelecimento de relações coesivas mais bem articuladas.

> A principal diferença é o contexto em que se dá a interlocução. No caso do texto 1, a autora do relato oral está falando diretamente com sua interlocutora (a entrevistadora da revista TPM). Caso haja alguma dúvida ou informação pouco clara, essa interlocutora pode interromper o relato e pedir um esclarecimento. No caso do texto 2, como se trata de um relato escrito para uma revista, os fatos e as experiências vividas pelo jornalista precisam ser suficientemente detalhados para que os leitores compreendam o que está sendo relatado, já que não teriam como perguntar nada a quem conta o episódio.

5 Nos dois casos, fica bastante evidente que as pessoas que contam as histórias estão preocupadas em relatar alguns fatos. Em ambos, a ênfase está na ação.

CAPÍTULO 27

Carta pessoal e e-mail

Análise (p. 263)

1 Os dois textos são cartas pessoais.

> Tanto o texto 1 como o texto 2 apresentam uma estrutura idêntica no início e no fim: seus autores começam por identificar o local de onde escrevem (Vitória, Guarapari) e a data em que o texto foi escrito (10 de janeiro de 1944, 13 de janeiro de 1944); logo em seguida, definem o interlocutor a quem estão se dirigindo (Maria, Emílio); e terminam o texto com uma despedida (“... para você, toda a saudade do seu Emílio”; “Com saudades se despede a sua Maria”). No texto 1, vemos o autor, Emílio, se dirigir a sua interlocutora com bastante intimidade: “Escrevo-lhe ainda sob a impressão encantadora do agradável e inesquecível domingo que aí passei em sua companhia”; “Apesar de ter daí saído ontem, ela já me proporcionou alegria, porque eu já sentia saudade”; “para você, toda a saudade do seu Emílio”. A resposta, no texto 2, mantém o tom de intimidade: “Nas cartas que lhe escrevo não sou muito extensa, é verdade, porém você me conhece muito bem e por isso não deve estranhar”; “Atraem-me esses lugares onde estivemos juntos e que me fazem recordar-lhe mais visualmente”; “Com saudades se despede a sua Maria”. Os assuntos tratados são claramente pessoais: locais por onde passearam juntos, fotografias tiradas durante o passeio, familiares dos interlocutores. Todos esses elementos confirmam tratar-se de cartas pessoais.

2 Os dois são provavelmente namorados. Pelo tom adotado nas cartas, que falam de saudade, do desejo de saber notícias um do outro, da busca por lugares que tragam de volta à memória momentos que passaram juntos, fica evidente o envolvimento sentimental entre Emílio e Maria Angélica. A intimidade entre os dois fica evidente, por exemplo, na maneira como se despedem: “... para você toda a saudade do seu Emílio”, “Com saudades se despede a sua Maria”.

> As cartas resgatam uma proximidade entre os interlocutores, que estão em cidades diferentes. Nesse sentido, funcionam como uma extensão das conversas que costumam manter quando se encontram pessoalmente.

3 Logo no início, Emílio afirma: “Da minha partida, às 9h20, até a chegada, às 10h45, quase nada há de interessante a relatar”. Em seguida, começa a contar como foi a viagem de volta de Guarapari a Vitória: “Todos vinham cansados e o jogo continuado do carro, provocado pela irregularidade da estrada, convidava para um cochilo. Acabaram todos cochilando mesmo, exceto eu, a princípio”. Conta também o que fez no dia seguinte: “Hoje, pela manhã, depois de dormir bem e de ter sonhado, desci para o banco, a fim de reencetar a vida banal e insípida de todo dia. [...] Ao chegar ao banco, encontrei, sobre a mesa, a sua carta do dia 6”; “À tarde fui ao Empório apanhar as fotografias!”).

a) Sim. Maria Angélica conta a Emílio como têm sido os dias em Guarapari, após a sua partida: “Isso por aqui anda movimentado: bailes quase toda noite, serenatas... Segunda-feira à noite fizeram uma lá perto da rebentação”.

b) É natural, em cartas pessoais, a ocorrência de trechos em que são relatados acontecimentos, porque esse gênero apresenta uma estrutura que reflete um olhar particular para eventos cotidianos.

4 A descrição.

a) No texto 1, logo após narrar o que aconteceu quando partiu de Guarapari, Emílio recorre à descrição: “Deliciava-me a


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contemplar o espetáculo deslumbrante que proporcionava a lua, projetando seus abundantes e luminosos raios pelos campos e montes que desfilavam céleres, numa formatura desalinhada, à proporção que o automóvel devorava a estrada. E, enquanto uma brisa, fresca e suave, entrando pela janelinha semiaberta, fustigava-me a fronte, eu via, dançando no pensamento, a sua figura sorridente, sempre meiga e cheia de encantos”. Maria Angélica também associa, no texto 2, trechos de caráter narrativo, quando relata acontecimentos a algumas passagens descritivas: “A lua refletindo-se nas ondas, quebrando-se nas pedras, prateando todo o mar!”.

b) Porque escolhemos o tipo de composição a ser utilizado em função dos objetivos do texto que está sendo produzido. No caso das cartas, seus autores desejavam, além de narrar, descrever cenários que tornam mais real o que contam um para o outro.

Análise (p. 264)

1 Como aconteceu nos textos 1 e 2, os autores dos textos 3 e 4 também se dirigem a um interlocutor específico (Leticia, Marcelo). O tom dos textos é informal, denotando intimidade. A intenção de Marcelo e Leticia é recuperar, por meio dos e-mails, uma proximidade que lhes permita “conversar”, já que se encontram afastados pelo espaço. No final das mensagens, os dois se despedem carinhosamente: “Até mais, mulher. Marcelo”, “Beijos mil, Leticia”.

> Não vemos, nos e-mails, a identificação inicial do local, e a data vem incluída em um conjunto de informações que são automaticamente inseridas no cabeçalho-padrão do programa de composição de e-mails, que também identifica o assunto da mensagem, quem a enviou, endereço eletrônico e a hora do envio. Também não ocorre, nos textos 3 e 4, a identificação inicial do interlocutor. Tanto Marcelo quanto Leticia começam suas mensagens como se fossem turnos de uma conversa: “Olha só, Leticia...”; “Você também está ensolarando a minha vida”. Outra diferença evidente é a da extensão dos textos. As cartas de Emílio e Maria Angélica são bem mais longas que as duas mensagens eletrônicas.


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