Português: contexto, interlocução e sentido



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2 As cores fortes dão alegria ao quadro. Ao mesmo tempo, a total despreocupação com a perspectiva no modo como os elementos da natureza foram retratados (nada foi desenhado para guardar uma proporção com a dimensão real desses elementos), a forma estilizada das folhas da árvore (parecem corações) revelam um olhar mais ingênuo para a natureza. A Cuca lembra um desenho de criança, que usa a cor e o tamanho para chamar a atenção para aquilo que considera mais bonito ou mais importante.

3 O título do quadro — A Cuca — e o destaque dado à personagem fantástica sugerem que Tarsila reivindica elementos da cultura popular brasileira como marcas tão importantes da nossa identidade quanto a natureza.

4 Rugendas, viajante europeu que vem ao Brasil no início do século XIX, tem a intenção de retratar fielmente as características da natureza exuberante do novo mundo. Por isso, seu quadro apresenta árvores, indígenas e rio desenhados de modo a garantir que o observador reconheça a pintura como uma espécie de retrato da realidade.

Não é essa a intenção de Tarsila do Amaral. Em A Cuca, a artista retrata a natureza de modo estilizado, levando o observador a reconhecer alguns aspectos da natureza tradicionalmente vistos como característicos do Brasil, mas sem considerá-los um retrato da realidade. A intenção da artista parece ser provocar uma releitura da ideia de exuberância da natureza como único elemento da identidade brasileira.


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Da imagem para o texto (p. 45)

5 Não. O eu lírico começa destacando elementos da natureza (a pureza do sol, a claridade, as cintilações) e depois fala a respeito da diversidade de cenários que são encontrados no país. O Brasil que é apresentado no poema tem características muito distintas e a enumeração de muitas delas sugere que não há um único símbolo para determinar sua identidade. Ela é o resultado de toda essa diversidade.

6 A imagem de um país vibrante, vivo. Os verbos fazem referência aos sons produzidos pela natureza (cantando, zumbindo, gritando, vociferando) e também pela ação humana (o balanço das redes, o apito das sereias e todos os ruídos das usinas). O resultado é a ideia da vida que pulsa.

7 São conversas de fazendeiros, mineiros, operários, garimpeiros e coronéis. As conversas acontecem nos cafezais, nas galerias de ouro, nos fornos de aço, nos garimpos, nas varandas das roças.

a) Agricultura (café, cacau — não está explícito, mas a referência aos coronéis leva a essa inferência), extração de minerais preciosos, indústria.

b) As atividades, tão diversificadas (agricultura, riqueza mineral, indústria), demonstram o potencial econômico do país.

8 “Vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no sertão!”. Nesse verso, o eu lírico usa os portos (os imigrantes vinham de navio da Europa para cá) para representar a chegada das “vozes de todas as raças” ao Brasil. Além disso, ao afirmar que a maresia dos portos os “joga no sertão”, alude à participação dessas pessoas na agricultura.

a) O verso “Vaias de Bolsas empinando números como papagaios” usa a metáfora das pipas (papagaios) que sobem no céu para fazer referência às altas do café na Bolsa de Valores, uma das principais fontes de riqueza do Brasil no início do século XX. O verso “Tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus” refere-se ao desenvolvimento dos centros urbanos, principalmente Rio e São Paulo, com a construção de grandes prédios e avenidas. Em São Paulo, esse desenvolvimento foi trazido pela riqueza do café. No Rio, pela decisão do prefeito Pereira Passos, que resolveu “civilizar” a capital do país.

b) O eu lírico, depois de falar das belezas e riquezas “naturais” do país (coxilhas e planaltos, Ouro Preto, Bahia etc.), passa a falar das transformações trazidas por essas riquezas: o desenvolvimento das cidades e a chegada de imigrantes, que se integram ao povo brasileiro, transformando a paisagem e interagindo com a cultura nacional.

9 O termo “berço” e o pronome que a ele se refere aparecem no plural porque precisam resgatar todos os aspectos que definem a identidade do povo e do país. Trata-se de um berço marcado pela multiplicidade de riquezas naturais e artifi ciais, sacudido por sons que sugerem alegria e agitação, onde dorme “moreno, confiante, o homem de amanhã”.

a) A cor morena sugere a mistura de raças que caracteriza o brasileiro: índio, europeu, negro e imigrante se uniram na construção do país e na formação do povo.

b) A confiança no “homem do amanhã” é uma alusão ao futuro, à grandeza que o Brasil pode alcançar. É importante notar que essa referência é feita no último verso do poe ma, depois de serem enumeradas todas as riquezas do país. É como se a grandeza futura do país fosse uma conse quência natural das riquezas que possui.

Texto para análise (p. 49)

1 O poema se dirige ao “seringueiro brasileiro”.

> O poema é dirigido ao seringueiro porque o eu lírico deseja dedicar a esse trabalhador brasileiro uma canção que o faça dormir, falar de seu desejo de conhecê-lo, manifestar sua preocupação e desejar-lhe “o bem da felicidade”.

2 O seringueiro é caracterizado como pálido, baixinho, desmerecido, magro (“troncudo você não é”) e com cabelos que escorrem na testa. Não é bonito ou elegante, mas é um “cabra resistente”.

> A extração de borracha, realizada pelo seringueiro, é um trabalho braçal pesado e cansativo, em uma região distante da industrialização e do desenvolvimento. Isso faz com que o seringueiro seja pálido e magro, mas também explica o fato de ser descrito como “cabra resistente”.

3 O olhar dirigido ao seringueiro é o de um homem que se define como um “poeta do sul”. Ele destaca que vive cercado de um “despotismo de livros” e que se sente solitário “no mutirão de sabença” em que vive, sugerindo, com essas expressões, que exerce um trabalho intelectual.

a) Porque o homem caracterizado no poema é urbano, provavelmente mora em uma grande cidade, em um cenário muito distante daquele em que se encontra o seringueiro (“na escureza da floresta”).

b) Porque ele constata a diversidade cultural e social que existe em nosso país. O “poeta do sul” se dá conta de que alguém tão diferente dele, vivendo outra realidade, é também um brasileiro. Seu espanto é tão grande que ele afirma não saber nada, pois, ainda que esteja cercado de “livros geniais”, ele não conhece os seus “patrícios” e não sente os seringueiros.

4 O eu lírico reflete que, muito provavelmente, o seringueiro ignora que alguém se preocupa com ele ou que lhe deseja “o bem da felicidade”. Destaca ainda que, para o seringueiro, as preocupações e desejos manifestados em seu “acalanto” devem ser de uma “indiferença enorme”.

> Segundo o eu lírico, esse “poeta do sul” gostaria de não passar na vida do seringueiro “numa indiferença enorme”, pois, apesar de seus desejos e pensamentos serem ignorados por seu interlocutor, considera-o seu amigo e por ele nutre amor.

5 a) A reflexão feita pelo eu lírico não é apenas a de que o seringueiro é um homem diferente do “poeta do sul”, mas a de como essa diferença representa o real sentido da nacionalidade brasileira, que até então era ignorada ou “esquecida” por esse homem urbano, que não sente os seus patrícios ou os seringueiros. A constatação de que tem a mesma nacionalidade que o seringueiro que dorme “na escureza da floresta” amplia a percepção do que significa a nossa “brasilidade”. Nesse sentido, o poema tematiza um processo de redescoberta de uma nação e seu povo, simbolizado pelo seringueiro brasileiro, tão diferente do “poeta do sul”, mas igualmente brasileiro.

b) A constatação feita pelo eu lírico (de que ele e o seringueiro são brasileiros) e a reflexão que resulta dela podem ser interpretadas como um novo “descobrimento” do Brasil. Nesse sentido, relacionam-se à intenção modernista de mostrar que há “Brasis” ignorados, esperando ser descobertos.



Literatura e contexto histórico (p. 50)

> Espera-se que os alunos percebam que as manifestações artísticas desse período são marcadas pela inovação: é o caso do cinema, que deixa de ser mudo com a invenção do vitafone. Além disso, o escândalo na exposição dadaísta ilustra o caráter mais revolucionário desse período. O que se percebe na identificação desses acontecimentos é o germe da mudança abrupta que marcará a produção da primeira geração moder-
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nista, e o desprezo a tudo o que representa uma perspectiva tradicional nas manifestações artísticas.



Texto para análise (p. 52)

1 As montanhas, os profetas, as cúpulas das igrejas, as palmeiras.

> Ele pretende enfatizar a grandiosidade e a beleza da paisagem e da obra de Aleijadinho. Algumas expressões que traduzem essa ênfase: “anfiteatro”; “monumentalizam”; “degraus da arte de meu país”.

2 O eu lírico estabelece uma comparação entre as copas das palmeiras da paisagem e cocares indígenas. As palmeiras, com suas folhas, seriam semelhantes a cocares de cabeça para baixo. Por isso, o eu lírico usa a expressão “cocares revirados”.

> Sim. Os cocares representam a cultura indígena, o elemento nacional aqui relembrado e colocado em condição de igualdade com outros aspectos culturais e artísticos valorizados pelos primeiros modernistas.

3 Referem-se às “cúpulas brancas dos Passos” (isto é, as cúpulas das capelas consagradas aos passos da paixão de Cristo) e às palmeiras.

a) As estátuas de pedra-sabão dos doze profetas, esculpidas por Aleijadinho.



b) Ele é uma afirmação da grandiosidade da arte nacional: nada pode ser comparado a ela.

4 Os versos fazem referência à riqueza, advinda da exploração do ouro, que caracterizou o período em que viveu Aleijadinho, ao valor inestimável (comparável ao ouro) da obra de Aleijadinho, à religiosidade, que definiu muito da arte barroca, época de maior opulência da região, e à pedra-sabão, material utilizado por Aleijadinho para esculpir os profetas, bastante comum em Minas. A expressão “minas” também pode ser interpretada de duas formas: designação das minas em que o ouro era extraído e referência à região (Minas Gerais).

5 A valorização de elementos da cultura e da arte nacionais está na referência aos cocares (cultura indígena) e na apresentação da obra de Aleijadinho e da paisagem de Minas de forma grandiosa, descrevendo-as como “degraus da arte” do nosso país “onde ninguém mais subiu”. Dessa maneira, o eu lírico deixa evidente a supremacia da arte nacional sobre qualquer outra manifestação artística já produzida.

Texto para análise (p. 54)

1 Macunaíma é preguiçoso: vivia deitado e ficava olhando o trabalho dos outros. Era peralta, interesseiro (só fazia alguma coisa para ganhar dinheiro), malicioso (gostava de ver os outros nus e mexia nas “graças” das cunhatãs) e grosseiro com os homens.

> O respeito aos mais velhos, o interesse em aprender os rituais de sua cultura, inteligência (elogiada na pajelança) e astúcia.

2 Termos (cunhatã, jirau, paxiúba etc.) e costumes indígenas: a maloca em que vivia; os banhos no rio de toda a família; as danças religiosas da tribo; a figura do pajé e a alusão ao ritual de pajelança; o trabalho das mulheres de ralar a mandioca para fazer farinha.

3 No momento em que Macunaíma é levado por Sofará ao rio e se transforma em príncipe assim que é colocado no chão.

4 Em primeiro lugar, destaca-se no trecho a grafia do pronome se (“si”), escrito de forma a reproduzir a maneira como é pronunciado na linguagem coloquial. Além disso, o uso dos termos indígenas (mucambo, cunhatã) e expressões mais próximas da linguagem cotidiana, como “festinha” e “graças”.

5 Macunaíma é um herói às avessas: está distante das figuras idealizadas apresentadas no Indianismo. Nesses romances, os heróis eram perfeitos, dotados de nobreza de caráter, força e coragem. Em Macunaíma, embora haja características positivas, o que sobressai são os seus defeitos, sua falta de caráter.

> A combinação dos defeitos e qualidades da personagem representaria a dualidade da própria nação: os seus defeitos seriam os nossos defeitos (a preguiça, o interesse, a malícia), assim como suas qualidades (a inteligência, o respeito pela cultura, a esperteza). O Brasil, da mesma forma que o herói que o representa, é marcado por contradições, por manifestações que, muitas vezes, se opõem, está distante do retrato idealizado da nação brasileira e dos heróis presentes nas obras românticas.

Texto para análise (p. 57)

1 Ele destaca o “escuro” da manhã, embora “já estivesse avançada”, e a chuva.

> Sim. A referência à manhã escura e à chuva contribui para marcar a melancolia do eu lírico.

2 O estado de espírito do eu lírico. Ele atribui à chuva os seus sentimentos nesse momento: a sua tristeza e a sua resignação.

a) Conformidade, aceitação (ainda que triste) por parte do eu lírico dos acontecimentos de sua vida.

b) A associação da chuva ao sentimento de resignação simboliza a aceitação do eu lírico e, nesse caso, do próprio Bandeira, da doença que tinha e da ameaça constante da morte. Por meio do poema, percebemos que o eu lírico se conforma com seu destino, aceita-o: a morte, aqui, é vista de forma tranquila, resignada.

3 O calor “tempestuoso”.

> Porque traz junto a resignação. É importante observar que esse consolo é melancólico, vem associado à tristeza da chuva e à resignação.

4 Ao utilizar a expressão destacada, o eu lírico deixa claro que está sozinho: não há alguém que prepare o café para ele. Com esse verso, a dimensão de sua solidão parece ser maior: de forma simples, por meio de ação cotidiana (preparar o próprio café), o eu lírico revela o quanto está sozinho.

> A referência à sua reflexão sobre a vida e sobre as mulheres que amou.

5 O uso do advérbio reflete a postura do eu lírico diante da vida que teve: ao pensar sobre a própria vida e sobre as mulheres que amou, sua atitude é também resignada, ciente das limitações que lhe foram impostas. Não há revolta ou tristeza, apenas a consciência tranquila do que viveu.

CAPÍTULO 4

Segunda geração: misticismo e consciência social

Leitura da imagem (p. 60)

1 Espera-se que o aluno identifique um amontoado de soldados e de corpos, além de pedaços de corpos. Vivos e mortos são representados juntos (há, em primeiro plano, no canto direito, um corpo sem cabeça e, logo abaixo, um braço que foi arrancado do tronco). Ao fundo, veem-se árvores, nuvens carregadas, que podem ser parte de um céu tempestuoso ou, o que é mais provável, fruto de explosões.

a) Espera-se que o aluno perceba que não. Não há diferenças entre os uniformes, emblemas ou bandeiras.


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b) Espera-se que os alunos percebam que os soldados estão em postura defensiva. Protegem o rosto e, ao mesmo tempo, parecem abrir caminho com os cotovelos. Pode-se dizer que empurram uns aos outros, como se quisessem sair desse “mar de corpos”.



2 Essa representação dá ênfase ao fato de os soldados serem pessoas anônimas, sem identidade, igualados pela brutalidade do conflito de que participam. Tornam-se “corpos” a serviço da guerra.

a) Resposta pessoal. Possibilidade: o rosto voltado para cima sugere a impossibilidade de encontrar, na Terra, uma solução para a guerra. É como se a solução para a violência e para os conflitos tivesse que vir de “cima”, de um ser superior, capaz de controlar a insanidade dos seres humanos. Também se pode supor que a morte singulariza as pessoas, porque põe fim a uma vida particular e afeta todos aqueles cujas vidas se entrelaçavam com a de quem morreu. Uma terceira possibilidade seria pensar que as cabeças, assim como as pessoas, desejam “respirar” fora da guerra. Como os soldados parecem mergulhados em um mar de morte, as cabeças parecem buscar o ar acima desse mar.

b) Espera-se que o aluno perceba que o fato de os soldados usarem apenas os próprios corpos pode indicar que a violência da guerra provém do próprio ser humano. Ele mesmo pode causar a morte e o sofrimento que aparecem na tela.

3 Espera-se que o aluno perceba que a figura sem cabeça parece “olhar” para o observador, como se estivesse perdido ou fugindo.

> Resposta pessoal. Possibilidade: a figura representa o fato de os soldados lutarem sem saber por quê. Vão à guerra, mas estão perdidos, sem direção.

4 a) No quadro predominam tons escuros, como o cinza, o terra, o ocre, o vermelho-escuro.

b) O uso da cor, no quadro, cria uma atmosfera pesada, lúgubre, própria de uma cena de guerra em que há corpos espalhados e a presença constante da morte e da dor. Nesse sentido, realmente a obra ilustra o “horror das cores radiantes e felizes” que acabou por se tornar um traço característico da pintura de Segall.



5 A guerra aparece como um acontecimento sombrio, destrutivo, que dilacera física e emocionalmente as pessoas. O dilaceramento físico é representado pelos pedaços de corpos espalhados pela tela; o dilaceramento espiritual é sugerido pelo amon toado de soldados sem rosto (sem identidade), sem bandeira, e pelos mortos que se voltam para o céu como a pedir ajuda. Essa imagem é construída pela combinação do uso de cores mais escuras, pelo destaque dado às partes de corpos estraçalhados e pelo céu meio tempestuoso em que as nuvens sugerem incêndios ao longe.

Da imagem para o texto (p. 61)

6 a) A “noite” apresentada, além de trazer a escuridão, que impede o eu lírico de ver seus “irmãos”, também abafa os rumores, espalha o medo e a incompreensão. Ela paralisa os guerreiros, elimina a esperança, é “mortal, completa, sem reticências”; dissolve homens e pátrias.

b) A noite simboliza a guerra. Isso fica evidente pelas ações a ela atribuídas pelo eu lírico: tirar a esperança, espalhar o medo e a incompreensão, dissolver homens e pátrias. Ela é muito mais do que o tempo transcorrido entre o ocaso e o nascer do sol. Seu poder de destruição não existe na natureza, ele é fruto da ação humana.



7 A primeira parte do poema corresponde à chegada da noite (guerra). A segunda, ao nascer do dia (aurora).

a) A primeira parte é marcada pela desesperança e pelo medo. A segunda parte assinala a volta da esperança.

b) A aurora (o nascer do dia) representa o fim da guerra, o momento em que a luz do sol afasta a “treva noturna”; representa a esperança de uma vida mais fraterna e mais justa.

8 Na primeira parte, predomina a flexão dos verbos no pretérito (perfeito ou imperfeito) e no presente do indicativo. Como exemplos de pretérito, temos: desceu, perturbavam, espalhou, caiu, apagou, anoiteceu, tinham. São exemplos do presente: enxergo, acusam, paralisa, abre, é, dissolve, tem. Na segunda parte, são empregados o futuro e o presente do indicativo. O primeiro verbo — divisar — aparece no presente. Depois dele, há uma alternância entre verbos no futuro (simples e composto) — vais acender, repartirás, encontrará, havemos de amanhecer — e no presente: adivinho-te, sobes, (se) decompõe, avançam, estremece, é, enlaçam, adquirem, tinge.

a) A primeira parte apresenta os acontecimentos “reais” que estão associados à guerra. Os que são vistos como uma possibilidade futura aparecem na segunda parte, associados ao fim da guerra, à aurora.

b) Os tempos do modo indicativo fazem referência, na língua portuguesa, a fatos reais. Como predomina, na primeira parte do poema, o uso de verbos no presente e no passado, devemos entender que a guerra é uma realidade. A segunda parte começa com o uso do futuro associado à chegada da aurora, que simboliza a paz. Esse uso coloca a aurora como uma possibilidade, não como uma realidade. O tempo presente é marcado pela guerra. O futuro traz a promessa da paz.

c) O uso da primeira pessoa do plural faz referência a toda a humanidade e não apenas ao eu lírico. É necessário que todas as pessoas acreditem na possibilidade de paz para que ela ocorra. O uso do verbo na primeira pessoa do plural ocorre na última parte do poema, porque todas as qualidades da aurora (paz) já foram apresentadas. É como se, após fazer uma caracterização do poder libertador da paz, o eu lírico “conclamasse” seus irmãos a acreditarem na mesma ideia: “havemos de amanhecer”, ou seja, havemos de terminar com a guerra e alcançar a paz.



9 “O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos”.

> A referência é à Segunda Guerra Mundial, quando Alemanha e Itália marcharam sobre a Europa sob a liderança do ditador nazista Adolf Hitler e do fascista Benito Mussolini.

10 Foram atribuídas a ela a possibilidade de subir, expulsar a treva noturna, decompor o triste mundo fascista.

a) “Teus dedos” e “teus dedos frios”.

b) Metonimicamente representada por seus “dedos róseos”, a aurora levanta delicadamente o véu das “raivas, queixas e humilhações” que, trazido pela noite (guerra), leva os seres humanos ao conflito. Por meio dessas figuras, acentua-se a imagem da paz como algo delicado, que protege as pessoas, quase como uma figura materna que acolhe os filhos assustados pela noite sem fim.

11 O quadro apresenta a guerra como um evento destruidor, que despersonaliza os soldados e traz a morte e a escuridão. Nesse sentido, é semelhante à imagem da “noite” que desce sobre o mundo na primeira parte do poema de Drummond.

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Literatura, arte e contexto histórico (p. 63)

a) Espera-se que os alunos identifiquem os acontecimentos relacionados à Segunda Guerra Mundial, às bombas atômicas ou aos conflitos nacionais apresentados no capítulo. Com base nesses acontecimentos, espera-se também que percebam que esse contexto determinará a produção de obras que procuram retratar, artisticamente, o horror causado pela guerra e pelos conflitos, como é o caso de Guernica, Guerra e do poema “A noite dissolve os homens”.

b) Tanto os quadros quanto o poema de Drummond indicam que algumas das manifestações artísticas do período refletem a postura crítica de seus autores diante da brutalidade desse tipo de situação. O artista, em tempos tão violentos, toma para si a tarefa de refletir sobre o destino da humanidade e de fazer sua voz ser ouvida por todos. A obra passa a ser quase um manifesto contra os horrores que seu tempo testemunha e uma proposta de reflexão sobre o destino da humanidade.

Texto para análise (p. 67)

1 As luzes se apagaram, não há mais ninguém ali e a noite esfriou.

a) Podemos dizer que, em uma primeira interpretação, a cena simboliza o fim das esperanças ou perspectivas do indivíduo. Aquilo que foi positivo, alegre (a festa) deixou de existir; aquilo que José imaginava que teria não veio e ele se encontra sozinho, sem saber para onde ir. Considerando o contexto em que foi produzido o poema, é possível afirmar que a festa simboliza a ilusão, provocada pelas descobertas e invenções do final do século XIX, de que o progresso, a ciência, a humanidade caminhavam para uma evolução progressiva. A Primeira Guerra Mundial, o crescente fortalecimento do totalitarismo, a percepção de que a ciência não teria todas as respostas causaram dúvidas e incertezas: acabaram com a festa “prometida” no século anterior.

b) Possibilidade: pode estar se sentindo só, deprimido, angustiado. A situação sugere sentimentos sombrios.

2 José é anônimo, desconhecido, zomba dos outros, faz versos, ama e protesta.

a) A sua atuação no mundo, seus sentimentos e atitudes diante da realidade cotidiana. José é alguém que se manifesta, que se posiciona diante do mundo em que vive. Ele tem voz (faz versos), sente e protesta.

b) José não pode mais se manifestar, não pode mais viver: está sem saída. Aquilo que o caracteriza (suas ações e sentimentos) não tem mais espaço no cenário que é descrito: ele se encontra só e sem perspectivas diante da vida. Assim, ele não vive um momento cotidiano, mas um momento de confronto, em que é obrigado a refletir sobre sua experiência e seu destino.

c) Podemos dizer que o nome José não se refere a alguém específico, mas simboliza todos os seres humanos que se veem diante de uma situação sem saída. O nome do interlocutor, por ser bastante comum entre os brasileiros, sugere que “José” é uma pessoa qualquer. Representa o anônimo. Uma outra possibilidade de interpretação é compreender que “você” refere-se ao leitor, como se o eu lírico quisesse enfatizar que o leitor também é um “José”.

d) Ao caracterizar José dessa maneira, o eu lírico estabelece uma identificação entre todos aqueles que fazem versos, que se dedicam à poesia, e o interlocutor, já que, como eles, também faz versos. José, metaforicamente, sintetiza as esperanças e as angústias da humanidade, inclusive as do próprio eu lírico, que se dirige a ele.

3 O paralelismo é construído por estruturas negativas em que a preposição “sem” e o advérbio “não” são repetidos, associados a elementos que constituem a “vida” de um indivíduo ou refletem suas expectativas com relação a ela.

a) A estrutura paralelística utilizada revela que a vida de José é caracterizada pela ausência (sem) e pela negação (não) do que esperava ou desejava, simbolizando a frustração de todas as expectativas do indivíduo. Ele não tem ou perdeu as coisas mais simples e cotidianas que caracterizam a “existência” humana: não tem amor, voz, “prazeres” (beber, fumar, cuspir); o dia, o bonde, o riso e a utopia não vieram.

b) O bonde é um elemento cotidiano; o riso e a utopia referem-se a uma esfera existencial, já que riso aqui pode ser entendido como alegria ou felicidade. Ao colocar esses elementos no mesmo plano, o poema intensifica a frustração de José, já que tudo, em qualquer plano, lhe parece ser negado.

c) A enumeração do que é “negado” a José, daquilo que não se concretizou, é o recurso utilizado para mostrar um sujeito que vai sendo “encurralado” pela vida, desiludindo-se a cada instante. No seu percurso, nada do que poderia representar alguma esperança aconteceu. Não há mais o que esperar: “tudo acabou”, “tudo fugiu”, “tudo mofou”. Essa pressão é reforçada pelo questionamento da expressão E agora, José?. Nada mais resta a ele, que está em um “beco sem saída”.



4 Podemos dizer que os verbos indicam as possibilidades de “ação” de José diante do dilema que vive; representariam as suas “saídas” para a situação em que se encontra. O modo subjuntivo, porém, indica tratar-se de hipóteses, mas não de certezas. São ações que José poderia realizar, mas que não concretiza.

a) O verbo “gritar” evoca a reação do eu lírico, que se rebelaria contra a situação, recuperando o “discurso” que perdeu; o verbo “gemer”, apresentado a seguir, sugere um enfraquecimento dessa reação: sua voz ainda é ouvida, mas agora simboliza o lamento; os outros dois que se sucedem (“tocasse/ dormisse”) trazem a ideia de acomodação ou de alienação diante dessa realidade. Os dois últimos representam o processo de desistência que começa a se instalar: primeiro a percepção de que não adianta lutar (“cansasse”), depois o “abandono” completo, trazido pela morte.



b) A gradação reforça a ideia de que não há como fugir dessa situação: qualquer reação de José está fadada ao fracasso. A única possibilidade que ele tem de dar fim à situa ção em que se encontra é a morte, mas, mesmo assim, sem resolver seus problemas.

5 José resiste, contra todas as expectativas, mesmo não tendo saída. Ele insiste em “continuar vivo”.

> Embora tudo lhe tenha sido tirado e ele tenha sido encurralado pela falta de perspectiva, José insiste em ter esperança: não morre e continua a “marchar”, mesmo que, como indica o último verso, não saiba para onde vai. Por outro lado, é possível também entender que o eu lírico se irrita com José, justamente por ele ser tão resistente, por não sucumbir às adversidades, mesmo não sabendo para onde ir. É como se ele dissesse: se você protestasse ou morresse, mas nem isso, José!

Texto para análise (p. 69)

1 A busca por um direcionamento e por um sentido para a vida, para a existência.

> Espera-se que os alunos percebam que os versos podem ser compreendidos como o desejo do eu lírico feminino do poema “traçar”, “desenhar” a existência, isto é, encontrar um sentido para a vida e para as relações que nela se encerram.
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2 A leitura do poema revela que os resultados dessa busca existencial são frustantes, já que, apesar de seus esforços, a mulher cujo olhar é assumido pelo eu lírico não consegue superar as dificuldades que enfrenta e se desaponta. Dá-se, então, por vencida e lamenta a impossibilidade de encontrar “um espaço para o desenho da vida”.

> Possibilidades: “Em números me embaraço / e perco sempre a medida.”; “em vez de abrir um compasso, / protejo-me num abraço / e gero uma despedida.”; “Se volto sobre meu passo, / é distância perdida.”; “Já por exausta e descrida / não me animo a um breve traço”.

3 O eu lírico se configura como uma mulher exausta e descrente, já que não consegue superar as dificuldades durante a sua busca de espaço para a construção de sua vida. Por isso, desiste de sua busca (“não me animo a um breve traço”), revelando sua angústia diante do desencontro entre aquilo que deseja e não consegue alcançar (“saudosa do que não faço”) e o que de fato realiza (“do que faço, arrependida”).

4 Os verbos estão, predominantemente, no presente do indicativo (ando, embaraço, penso, gero etc.).

> Resposta pessoal. Espera-se que os alunos percebam que o uso do presente sugere a ideia de que a busca ocorre na etapa de vida em que essa mulher se encontra. Por meio dos verbos, ela evidencia sua relação com o momento, que motiva sua busca. Outra leitura possível é que se trata de um questionamento constante: essa mulher tenta, cotidianamente, garantir algum sentido para a sua existência, embora se frustre durante o processo.

5 Porque é marcado pela contradição, pelos opostos: “quando a sente alegre / fica triste”; “se a vê descontente / dá risada”.

> Que esse tipo de amor se alegra com o sofrimento do ser amado, como se isso desse ao sentimento um valor maior.

6 Possibilidades: “louco amor”; “desassombrado”; “doido”; “delirante”.

a) Essas palavras e expressões enfatizam as contradições desse amor, porque ele só sobrevive se não possuir o objeto de seu amor.

b) Espera-se que o aluno perceba que as palavras e expressões que caracterizam o amor somente reforçam a ideia apresentada pela palavra estranho, já que conferem a esse sentimento características incomuns.

7 Sim. Porque essa resistência proporciona a “eterna aventura em que persiste” quem ama. Segundo o poema, essa situação é preferível a uma “vida mal-aventurada”.

> Podemos dizer que há uma influência da visão neoplatônica do amor, desenvolvida no Renascimento, que vê como perfeição o sentimento idealizado. O “jogo amoroso” é que mantém o sentimento vivo: se o amado sucumbe, o amor desaparece.

8 Para que possa existir. Retoma-se, nesses versos, a ideia de que o amor não deve se concretizar. Por isso, ele prefere “ferir” o ser amado, como uma forma de garantir que não será correspondido e, assim, permanece no plano da idealização. Do contrário, acabaria (feneceria).

> Espera-se que o aluno perceba que um amor que não “fere”, que é correspondido, que é comum seria um amor menor.

9 O que é importante nesse “maior amor” não é o ser amado, mas o próprio sentimento, o estar apaixonado. Por isso, a realização faria o amor acabar.

Texto para análise (p. 71)

1 O primeiro se refere à época anterior à chegada do novo século (ao passado). O segundo, ao século XX.

2 O eu lírico não andará mais de bicicleta; não conversará mais no portão “com meninas de cabelos cacheados”; deverá dizer adeus à valsa, às “tardes preguiçosas”, “aos cheiros do mundo”, “aos sambas” e ao amor puro.

a) Todas as situações mencionadas evocam um mundo em que a vida era mais simples e prazerosa; parece ser um mundo de inocência e ingenuidade.

b) Em primeiro lugar, elas indicam a perda, a negação e a despedida do que era prazeroso ou que simbolizava esse tempo de tranquilidade e inocência. Em segundo, sugerem o caráter definitivo dessas mudanças: não há mais espaço para essas situações no novo século e o eu lírico deve dar adeus ao mundo que conhecia porque ele nunca mais será o mesmo.

3 Possibilidades: “gases venenosos”; “barricadas”; “fuzilamentos”; “mortos”; “voos destruidores”.

a) O novo século é caracterizado pela dor, pelo sofrimento, pela violência e a morte, ou seja, trata-se de um mundo que se esfacela, que se desmonta em cenas de desesperança.

b) A repetição da expressão “é a hora”, retomada cinco vezes no poema, associada aos termos “barricadas”, “fuzilamentos”, “raiva”, “vingança”, “protesto geral”, “voos destruidores”. Dessa forma, o eu lírico, por meio da reiteração, enfatiza a desordem e destruição que caracterizam o novo século.

4 O século XX seria uma metáfora para o inferno.

a) A descrença espiritual ou o abandono da religião. Com a nova situação, nem mesmo a fé traz qualquer consolo ou esperança ao eu lírico. Também seria possível afirmar que, diante desse novo mundo, a fé de nada adianta, considerando a realidade que se impõe.

b) Ele perde suas forças e não consegue esboçar qualquer reação diante do “apagamento” do mundo que conhecia (“não tenho forças para gritar um grande grito”).

5 Pode-se considerar que o verbo cair é usado para indicar que o eu lírico acaba “derrubado” pelas mudanças ocorridas no mundo que conhecia. Ele “cai”, depois que perde tudo o que o sustentava em pé. Pode-se pensar também que a escolha do verbo cair esteja relacionada à queda do céu (passado) para o inferno (século XX).

a) Chão foi usado para fazer referência a todos os acontecimentos que constroem a base sobre a qual se ergueu o século XX.

b) O “chão” do século XX é caracterizado pelas multidões famintas e justiceiras, pela violência e pela guerra (gases venenosos, barricadas, fuzilamentos), pela destruição, pela raiva, pelo protesto e pela falta de esperança.

6 As misérias seriam “as fomes, desejos ânsias sonhos perdidos”. O eu lírico sugere a elas que se unam.

> Os anjos-aviões podem representar os aviões de bombardeio empregados na guerra, que fogem a galope, aludindo, metaforicamente, aos anjos cavaleiros do apocalipse: como eles, espalham o sofrimento e partem levando consigo a esperança, simbolizada pelo “cálice”.

7 Espera-se que o aluno perceba que o último verso do poema é uma referência a essa passagem bíblica. O último verso sugere que o eu lírico, assim como Jesus, dirige-se a Deus para se referir, de forma afirmativa e não interrogativa (como no trecho bíblico), ao fato de ter sido também abandonado.

a) Possibilidade: considerando toda a sequência do poema, a perda de ilusões e de esperança levam o eu lírico a pedir a Deus que firme, ou seja, fixe, pare, o tempo espaço, porque o abandonou. Ao contrário de Jesus que questiona Deus, o eu lírico afirma o abandono.


Página 407

b) Poderíamos dizer que o eu lírico, sentindo-se abandonado, já não se sente, como Jesus, filho de Deus, mas filho do século XX ao qual foi entregue.



CAPÍTULO 5

O romance de 1930

Leitura da imagem (p. 74)

1 Vemos, em primeiro plano, o chão todo gretado. Ao fundo, à esquerda, há ruínas de uma edificação, em torno da qual podem ser vistos galhos finos com algumas poucas folhas. À direita das ruínas, vê-se uma canoa amarrada sobre o chão seco. O céu claro tem pouquíssimas nuvens. O solo arenoso, rachado, e os galhos secos dominam a cena.

2 Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que, desde a canoa amarrada sobre o solo seco até a vegetação rala, tudo na foto sugere que a vida não prospera nesse espaço. As ruínas da edificação acrescentam a ideia de abandono: onde um dia houve uma construção sólida, hoje só há escombros. Os alunos podem, portanto, sugerir que a imagem provoca a impressão de morte, de desolação, de seca, aridez etc. Mantido esse campo semântico, as respostas serão aceitáveis.

3 Não é possível olhar para essa foto e não notar o destaque dado ao solo rachado pela seca. Pode-se supor que a intenção do fotógrafo, ao oferecer ao olhar do observador uma cena onde predomina o chão gretado em primeiro plano, foi determinar que a leitura de sua foto principiasse pelo reconhecimento dessa imagem que, no Brasil, tornou-se símbolo da seca. Com isso ele parece sugerir que o fator determinante naquele espaço é a seca: ela controla todos os destinos, por isso, “domina” a cena criada pela imagem.

Da imagem para o texto (p. 74)

4 a) O espaço é o da catinga (a planície avermelhada).

b) As personagens parecem andar sem direção pela longa planície.



5 Os adjetivos são os seguintes (sempre associados aos substantivos a que se referem): “planície avermelhada”, “duas manchas verdes”, “areia do rio seco”, “galhos pelados” e “catinga rala”.

a) Eles são importantes porque sugerem as condições predominantes nesse espaço: o vermelho da planície introduz a ideia de calor extremo; a secura do rio, os galhos desfolhados e a vegetação rala criam, para o leitor, a imagem de um lugar muito quente e seco, onde a vegetação é praticamente inexistente: só as manchas “verdes” dos juazeiros aparecem como algo vivo em meio ao sertão.

b) O narrador, depois de voltar a usar a cor vermelha para sugerir o calor, recorre às ossadas de animais e ao voo dos urubus sobre animais moribundos para caracterizar o espaço desolado, onde a vida parece não ter lugar. Tudo a que se refere está morto ou morrendo.

6 O adjetivo substantivado é infelizes.

a) Em lugar de nomear as personagens, o narrador deseja destacar sua condição: são infelizes.

b) O cansaço e a fome podem ser vistos como um estado resultante das circunstâncias específicas em que as personagens se encontram. Atravessando a catinga rala, sem abrigo, água ou alimento, essas personagens podem ser vistas como um produto do meio onde estão.

c) A estética é o Naturalismo, que expressa a visão determinista de que o ser humano é um fruto do meio. Por esse trecho de Vidas secas, percebe-se que, como nos romances naturalistas, a vida dessas pessoas também é determinada pelo meio em que vivem: o sertão nordestino.



7 Embora não esteja explícito, tudo indica que essas personagens constituem uma família de nordestinos: os pais (Fabiano e sinha Vitória), os filhos (não nomeados) e a cachorra Baleia.

a) O fato de elas estarem caminhando o dia inteiro debaixo de um sol inclemente em meio à catinga e de estarem carregando os poucos pertences que têm deixa claro que são retirantes à procura de um lugar melhor para viver.

b) Sim. É irônico que um animal que vive em meio à catinga seca, árida, sem uma gota de água, receba o nome do maior mamífero aquático do planeta.

8 Primeira ocorrência: “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes”. Segunda ocorrência: “A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala”. Terceira ocorrência: “Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se”.

> Os juazeiros são usados para indicar o progresso da andança das personagens pelo sertão, sugerindo a longa caminhada que fazem durante esse dia. Primeiro, eles são apresentados como “manchas verdes”, indicando que a distância não permite às personagens avistá-los direito. Em seguida, sua folhagem aparece através dos galhos pelados, sugerindo que houve uma aproximação. Na terceira menção, o narrador usa os verbos para atribuir um deslocamento aos juazeiros (“aproximaram-se, recuaram, sumiram-se”). Na verdade, são as personagens que, ao atravessarem o sertão, aproximam-se e afastam-se dos juazeiros, até perdê-los de vista.

9 Essa ênfase ao espaço sugere que, nessa obra, ele será o fator determinante na vida das personagens. Pelo trecho lido, realmente é isso que acontece: elas são apresentadas como infelizes, cansadas e famintas, destacando o impacto das condições adversas da seca sobre suas vidas.

Literatura e contexto histórico (p. 77)

a) Espera-se que o aluno perceba que a seca e os seus graves efeitos sobre a população nordestina determinaram a criação de órgãos estatais (Caixa Especial de Obras de Irrigação de Terras Cultiváveis do Nordeste Brasileiro e DNOCS) responsáveis por prestar socorro às populações afetadas por ela, além de atuar para minorar os problemas causados pelo ciclo de secas na região.

b) A criação desses órgãos não alterou significativamente a realidade do sertão. O drama dos retirantes, obrigados ao êxodo, continua o mesmo.

c) A criação da Sudene, anos mais tarde, foi um dos indicadores da pouca eficiência da ação desses órgãos. A vida de famílias como a de Fabiano continua nas mesmas condições: a cada nova seca, vários retirantes fogem do sertão em busca de melhores condições de vida.



Texto para análise (p. 80)

1 Como uma pessoa boa em demasia, mas a quem não conheceu inteiramente.

> Ele atribui a culpa a si mesmo e à vida agreste, que gerou uma alma também agreste.

2 Ao qualificar o substantivo vida, o adjetivo assume o significado de difícil, dura, repleta de obstáculos. Já ao caracterizar a alma do narrador, o adjetivo refere-se ao seu embrutecimento, à sua aspereza ou falta de polidez.
Página 408

a) A sua trajetória de vida difícil é o que determina o seu temperamento duro, sua secura, e o impede de conhecer e compreender verdadeiramente a esposa.

b) Madalena, apresentada como muito boa, é oposto do narrador, endurecido pela vida. Paulo Honório, em sua reflexão sobre sua relação com a esposa, começa a ter cons ciência dessa característica dela e, consequentemente, de seu próprio embrutecimento.

3 Paulo Honório afirma que, já que não consegue compor o retrato moral de Madalena, sua narrativa não serve para nada. Dessa forma, sugere que a sua incapacidade de conhecer a esposa inviabiliza sua tarefa.

a) A necessidade de tentar compreender o seu embrutecimento.

b) Ele é tomado pela inquietação, pelo desejo de retornar ao passado, de conversar novamente com a esposa.

c) Ele atribui esses sentimentos à raiva, ao desespero, ao “peso enorme no coração”.



4 “As minhas palavras eram apenas palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores, e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir.”

a) Porque, segundo sua percepção, as suas palavras eram “reprodução imperfeita de fatos exteriores”, enquanto “as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir”.

b) No momento em que deixa claro o seu desagrado quanto ao que escreveu.

5 Essa sensação é provocada pelo conflito em que se encontra ao refletir sobre sua vida.

> Paulo Honório deixa evidente que sabe que a imagem não é real ao afirmar que “não é aos ouvidos” que a voz da esposa lhe chega e que também já não a vê “com os olhos”. É em sua consciência que Madalena retorna.

6 Embora tenha adquirido posses, Paulo Honório continua sendo alguém que se sente desvalorizado em virtude de sua origem, que lhe impossibilitou uma educação semelhante àquela que caracteriza a elite de que tanto quer fazer parte. Nesse trecho, essa inferioridade social, essa incapacidade de integrar-se à classe a que sempre almejou se manifesta na comparação que faz com a esposa: ao contrário dela, é incapaz de exprimir-se, de usar as palavras com a mesma habilidade que vê em Madalena. Sua prosperidade econômica, portanto, não lhe garante uma real ascensão social do ponto de vista pessoal.

Texto para análise (p. 81)

1 Ele lamenta sua condição, o fato de ter uma filha triste, de trinta anos, que só lhe dá desgosto, e uma mulher de língua solta. Gostaria de ter um filho que fosse “homem macho” e que enfrentasse os poderosos.

> A relação é evidenciada pela “reflexão” amarga que faz da própria vida.

2 A cada contrariedade vivida por José Amaro (o gemer da filha; a riqueza do coronel Lula), ouve-se o bater de seu martelo na sola. Essa ação repetida indica o seu temperamento agressivo, que deseja “mandar em tudo como mandava no couro que trabalhava, queria bater em tudo como batia naquela sola”. Seu desejo de reagir ao mundo de forma violenta contra aquilo que considera injustiça é sugerido pela força que emprega ao bater no couro.

3 A ação de José Amaro “domina” o espaço à sua volta e sobrepõe-se aos sons desse espaço (ou à ausência deles). Todo o espaço está condicionado à personagem e ao seu trabalho.

4 Ele seria um “homem macho, de sangue quente, de força no braço”, que enfrentaria os mais poderosos e não aguentaria desaforo de ninguém.

> As características desse filho indicam a reação de que o mestre não é capaz: embora se ressinta da sua sina e do poder do coronel Lula, ele não reage, apenas bate com mais força na sua sola. Na fantasia do pai, o filho, se existisse, realizaria aquilo que ele mesmo não conseguia ou não podia fazer.

5 O trecho mostra essa relação de subserviência pela forma como se refere ao coronel: “senhor de suas terras”, “dono de sua casa”.

a) O cabriolé simboliza a classe social do coronel, representa a sua superioridade econômica em relação ao seleiro, o seu status.

b) O trecho associa a grandeza ao cabriolé e, por extensão, ao coronel Lula e relaciona a pobreza à estrada da região. O cabriolé representa o engenho e as riquezas de seu senhor; a estrada simboliza o local miserável em que o Santa Fé se localiza e, por extensão, as condições de vida do restante dos habitantes, como é o caso do mestre Amaro.

Texto para análise (p. 83)

1 São meninos de raças e idades variadas (entre 9 e 16 anos), vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados e agressivos, que vivem do furto.

2 Porque o trapiche abandonado não oferece qualquer proteção contra a chuva ou o vento, é um lugar sujo, infestado de ratos e abriga mais de quarenta garotos. O fato de essas crianças viverem em um local como esse dá a ideia exata da negação de condições dignas de sobrevivência a que são submetidas. Algumas expressões que indicam essas condições são: “em companhia dos ratos”; “se estendiam pelo assoalho”; “indiferentes ao vento que circundava o casarão uivando, indiferentes à chuva que muitas vezes os lavava”.

3 As habilidades de liderança de Pedro Bala (sabia “planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe”) ajudaram a fazer a “fama” dos Capitães da Areia.

4 Os garotos contam com a simpatia do narrador. Embora sejam caracterizados como ladrões e tenham comportamentos agressivos, são aqueles que, segundo o narrador, verdadeiramente conhecem e amam a cidade.

5 A vida dos Capitães da Areia e suas dificuldades retratam a situação dos menores abandonados em geral. As condições indignas são as mesmas, a caracterização das crianças corresponde à de qualquer garoto de rua, em qualquer lugar do Brasil. Assim, embora escrito em 1937, o romance retrata uma mazela social que ainda permanece presente no cotidiano das cidades brasileiras.

Texto para análise (p. 85)

1 Na primeira fala de Rodrigo, fica claro que Bento Amaral deu um tapa no rosto do capitão. Por isso, o duelo.

2 a) A fúria dos oponentes, a provocação entre eles e a tensão pelo combate.

b) Pelas expressões que descrevem as ações e o “espírito” de cada um deles: “mirar, negaceantes”; “respiração arquejante”.



3 Pelo motivo que o leva a duelar com Bento Amaral: ter levado um tapa na cara. Um homem, principalmente um gaúcho, jamais admitiria uma ofensa como essa. Sua honra só seria restituída com a luta com aquele que o ofendeu.
Página 409

> A valentia de Rodrigo, sua habilidade no combate e seu prazer com ele, que associam o gaúcho ao “homem macho”, valente. Ele é tão poderoso que faz questão de deixar sua marca no rosto do adversário, que sempre se lembrará da derrota.

4 a) Sugere medo, covardia ou espanto diante do que ocorreu. Ele não se levanta para voltar ao ataque; ao contrário, coloca a mão no rosto e fica “atarantado”, olhando para os lados.

b) Simboliza a derrota do poder e do autoritarismo pela coragem e pela bravura. Sozinho, sem a proteção do pai ou de seus empregados, em uma luta corporal, ele é vencido e humilhado por aquele que ofendeu.



Enem e vestibulares (p. 86)

1 Alternativa E.

2 Alternativa B.

3 Alternativa D.

4 Alternativa B.

5 Alternativa E.

6 Alternativa B.

7 Alternativa B.

Jogo de ideias (p. 88)

> A atividade proposta tem por objetivo, além de aprofundar a discussão apresentada na unidade, levar os alunos a refletir sobre a produção literária modernista, bem como compreender os antecedentes e os ecos desse movimento. Além disso, estimular a análise dos aspectos presentes nos textos desse período que permitem identificar como as diferentes gerações modernistas foram influenciadas pelos autores pré-modernistas e pelos artistas das vanguardas europeias de forma a criar uma produção artística inovadora, além de garantir, por meio de sua vasta produção, uma definição mais clara da nossa identidade nacional. Acreditamos, também, que a tarefa de organizar um evento intitulado Modernismo: antecedentes e ecos, em que os alunos farão leituras dramatizadas de textos de autores do Pré-Modernismo, das Vanguardas e do Modernismo, selecionados previamente, contribuirá para o desenvolvimento da expressão oral dos alunos, além de outros aspectos importantes para a realização da produção proposta, como o preparo e a organização de sua participação, seja na função de apresentadores ou de participantes do evento. Além disso, o fato de escolherem canções que se relacionem aos ideais e temas da estética modernista permitirá que eles percebam de que forma o espírito de ruptura e de inovação que caracterizou a produção dessa época ecoa em outras manifestações artísticas contemporâneas. A seguir, apresentamos algumas sugestões para realização da atividade:

1ª etapa: Preparação do evento

Nessa 1ª etapa, sugerimos que a definição dos grupos que representarão os autores do Pré-Modernismo, das Vanguardas e do Modernismo seja feita por sorteio. Feito isso, cada grupo deverá selecionar o texto e a canção que serão apresentados. No que diz respeito à escolha das obras, é importante que os alunos selecionem exatamente um texto que represente o movimento ou manifestação artística que coube ao grupo no sorteio. Por exemplo, se a um grupo couberam autores que representem a 1ª geração modernista, os participantes deverão escolher um texto que retrate a ousadia e a inovação que caracterizou a produção dessa geração. Para isso, sugerimos que os alunos sejam orientados a reler os capítulos da unidade para relembrar os elementos e temáticas que caracterizam os autores do Pré-Modernismo, das Vanguardas e de cada uma das gerações modernistas. Com relação à seleção das canções, há duas possibilidades: um ou dois grupos ficarão responsáveis pela seleção e interpretação das canções que se relacionem ao Modernismo ou cada grupo, além de preparar a leitura dramatizada, deverá também selecionar e apresentar (depois de finalizadas as leituras de todos os textos) uma canção que se relacione a esse movimento estético. Além das indicações presentes nos boxes Trilha sonora e na seção Conexões: encontro de linguagens, sugerimos que os alunos pesquisem canções de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Elis Regina, entre outros.



2ª etapa: Organização da realização do evento

Nessa etapa, é fundamental orientar os alunos a preparar o “cenário”, organizando o espaço escolhido de forma a garantir que haja um palco ou um espaço central para as apresentações, de frente para a plateia. Além disso, será necessário dispor as cadeiras aos espectadores para garantir que todos tenham uma boa visão do evento.

É importante que os alunos que ficarão responsáveis por falar em público treinem as suas falas, sendo orientados quanto ao contato visual que devem estabelecer com seus interlocutores, à clareza da leitura, à intensidade e ao tom de voz ideal para serem ouvidos por todos e garantir que a apresentação dramatizada do texto tenha a expressividade necessária. Além disso, os apresentadores devem estar atentos a outros detalhes: é preciso olhar para o(s) interlocutor(es) e enfatizar determinados momentos da apresentação dos participantes por meio de expressões orais, faciais e também pela modulação da voz.

Os alunos que ficarão responsáveis pela execução das canções deverão se reunir previamente para ensaiá-las. Se a escola contar com professores de música e de teatro, seria interessante que eles colaborassem com a atividade proposta, auxiliando os alunos nessa tarefa.

Quanto ao tempo de duração, sugerimos que a atividade seja concluída, em até, no máximo, uma hora, para que não se torne cansativa.

UNIDADE 2 O Pós-Modernismo

CAPÍTULO 6

A geração de 1945 e o Concretismo

Leitura da imagem (p. 92)

1 Resposta pessoal. Espera-se que o aluno mencione, em sua descrição, o jogo de formas e cores (branco e vermelho) formado pelos quadrados que, cuidadosamente dispostos na tela, produzem uma sensação de movimento. Quanto à interpretação, a obra apresenta inúmeras possibilidades e é interessante estimular os alunos a trocarem impressões.

2 Resposta pessoal. A obra produz um jogo óptico: o primeiro e último quadrados de cada “linha” e de cada “coluna” da tela se encontram na mesma posição. Os demais quadrados, dispostos entre essas duas extremidades horizontal e vertical, são deslocados como se estivessem girando sobre o próprio eixo, criando uma impressão de movimento no interior do quadro. Ao mesmo tempo é possível observar que alguns quadrados dispostos na mesma posição formam linhas diagonais no interior do quadro, criando uma impressão de contenção tridimensional dos outros quadrados que se movimentam.

> A obra tem uma composição rigorosamente controlada que evidencia o planejamento do artista. O cuidado com a
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disposição dos quadrados, com a distância entre eles, com a ligeira alteração de posição, de modo a sugerir um giro completo sobre o próprio eixo entre a posição inicial e final de cada linha e coluna, são aspectos que revelam a execução de um projeto minucioso do artista.



3 Espera-se que o aluno perceba que o objetivo da composição cuidadosa de Sacilotto é justamente realizar a concreção, ou seja, tornar concreto, sólido, algo que, tomado isoladamente (um quadrado vermelho), seria visto como uma forma plana, estática.

Da imagem para o texto (p. 93)

4 a) Na primeira parte, o eu lírico constrói a imagem de um rio que tem o seu fluxo de água interrompido (a água fica presa em poços e perde a ligação que fazia o rio correr). Na segunda, o processo é o inverso: o eu lírico fala da possibilidade de reconstrução do fluxo do rio através da religação entre os diferentes poços de água.

b) O eu lírico cria uma associação, por semelhança, entre a água do rio, estancada em poços, e as palavras do discurso, isoladas dentro de um dicionário.

c) A ideia é a de que a comunicação só ocorre quando as palavras estão em relação umas com as outras. Nesse sentido, se elas estiverem isoladas, “em situação dicionária”, perdem a própria voz, emudecem.

d) A “água paralítica” é a água parada, que não corre no leito do rio, não se associa à água paralisada em outros poços. A “palavra em situação dicionária” é a palavra sem uso, guardada dentro de um livro, com seu sentido isolado, sem se relacionar a outras palavras para formar o “fluxo” da fala ou da escrita, ou seja, o discurso. Nesse sentido, é como se a água e a palavra estivessem impedidas de cumprir sua função essencial, estivessem “presas”, paralisadas.



5 O fluxo do rio seria o discurso; a interrupção do fluxo seria discurso interrompido; a água em poço seria a palavra no dicionário; a água em fio seria a frase; a cheia representaria a grandiloquência; e a seca, a ausência de discurso.

> Espera-se que o aluno perceba que o rio significaria uma comunidade, ou uma população, um grupo de pessoas. A água em fio representaria o encontro de pessoas que um dia estiveram isoladas do grupo. A sentença-rio do discurso único seria a manifestação do grupo, de maneira coesa, em busca de um ideal. A seca seria algo a ser combatido: ela mesma, os prejuízos por ela causados ou outra questão em torno da qual pessoas pudessem se organizar.

6 Espera-se que o aluno perceba que o corte da sintaxe significa a quebra da possibilidade de articulação entre palavras e/ou pessoas, impossibilitando assim a formação do discurso ou a manifestação em torno de um ideal. O corte da sintaxe impediria, portanto, o combate à seca.

a) Espera-se que o aluno identifique os quatro primeiros versos da segunda estrofe.

b) Espera-se que o aluno perceba que a articulação entre as pessoas não se dá do dia para a noite e que, uma vez interrompida, requer todo um processo de pequenas articulações até ser restabelecida.

7 Na primeira parte, é como se, por meio dos sinais de pontuação, o poema levasse o leitor a passar pela experiência de um discurso truncado, que se interrompe a todo instante, como aquele a que se refere o texto. Na segunda parte, o poema apresenta menos sinais de pontuação, porque a leitura dos versos deve acontecer de modo mais livre e o encadeamento do discurso do texto deve fluir mais facilmente e, assim como o poema, sugere que o rio fluiria.

a) A relação é de reforço da ideia central. Os particípios verbais, que predominam na primeira estrofe, dão a ideia de um estado, portanto, de algo mais estático, imóvel. Quando os verbos são flexionados no presente ou no gerúndio, traduzem a ideia de ação, de movimento. É justamente essa a ideia central associada a cada uma das partes: a estaticidade das palavras ou das pessoas (mudas, estancadas) na primeira estrofe, e a possibilidade de retomada do movimento, do fluxo do discurso, na segunda.

b) Espera-se que os alunos concluam que o trabalho com a forma é um importante elemento de construção do sentido do texto, porque o poema produz, por meio do uso de elementos formais (verbos, sinais de pontuação), efeitos de leitura que ilustram a ideia que ele desenvolve.

Pós-Modernismo: a arte procura novos rumos (p. 94)

Parece haver um consenso entre os críticos literários de que a partir de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, o projeto literário do Modernismo começa a sofrer modificações significativas. As obras produzidas a partir de então manifestam tendências bastante diferentes, ilustrando algo que Antonio Candido define como uma “relativa crise das formas escritas de expressão, ante a concorrência dos meios expressivos novos”. Embora a tradição crítica tenha, durante muitos anos, agrupado essas várias tendências no que seria uma terceira geração modernista brasileira, achamos que a adoção de um paradigma diferente pode ajudar o aluno a compreender melhor a origem dessa “relativa crise” e os novos rumos literários por ela descortinados. Estamos nos referindo ao Pós-Modernismo.

Como afirma um estudioso do assunto, o crítico literário português Carlos Ceia, no verbete “pós-modernismo” do E-dicionário de termos literários:

“[...] o prefixo [pós-] empurra-nos para a frente, para um momento posterior à modernidade estética” (cf.


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