Samantha James Alana, a Bruxa



Yüklə 1,18 Mb.
səhifə6/12
tarix22.11.2017
ölçüsü1,18 Mb.
#32605
1   2   3   4   5   6   7   8   9   ...   12
Capítulo XI

O dia pareceu interminável e a noite foi ainda pior. Alana almejava a santidade de um local onde não pre­cisasse ver ninguém. Não queria encarar os outros. Ainda não havia esquecido como os normandos e saxões a tinham condenado.



Você não engana ninguém, sussurrou uma voz dentro dela. É ele quem você quer evitar... Merrick.

As horas passaram carregadas de medo. Alana não duvi­dava de que a noite lhe traria mais pavor.

Porém, foi Geneviève que apareceu para resgatá-la. Insistiu para que Alana jantasse no hall e, tão logo desce­ram, ela a fez sentar-se ao lado de Sybil. Merrick já esta­va acomodado à mesa alta. Alana ousou fitá-lo rapidamente, mas depois preferiu evitá-lo, já que sentiu o olhar intenso do guerreiro sobre si a noite toda.

Ela comeu e bebeu, sem saber o quê. Falava quando soli­citada, mas, segundos depois, nem sequer lembrava que pala­vras havia pronunciado. Risadas masculinas ressoaram. A seu lado Geneviève se mostrava somo sempre simpática. Sybil sorria e conversava como se fosse a senhora do feudo.

Algum tempo depois, Geneviève pediu licença e cami­nhou até a mesa do irmão. Alana ficou perturbada ao ver a boa mulher se aproximar de Merrick. Os dois começaram a conversar, mas não conseguia escutar o que diziam.

Do outro lado do hall, Geneviève, sempre graciosa, abaixou-se e disse a Merrick:

— Pensei, irmão, que estivesse ansioso para voltar por causa de sua nova propriedade. Mas, após observar você e a jovem saxã, Alana, percebi que estava enganada. Toda vez que a olha, ela vira o rosto.

Geneviève não duvidava da própria percepção. No momento em que Alana adentrara o hall, os olhos de Merrick se fixaram somente nela. Aliás, pensou com satisfação, des­confiava de que o irmão não se deitara com outra mulher desde o dia em que conquistara Brynwald.

— Devo lembrá-la — ele sorriu — de que não sou o pri­meiro homem a dormir com uma camponesa.

Pensativa, Geneviève o estudou. Apesar da circunstância de seu nascimento, Alana não era uma humilde camponesa. Pelo menos, não aos olhos de Merrick nem aos dela. Talvez ele ainda não estivesse ciente do fato, mas o tempo certamen­te o faria ver a realidade.

— Mas ainda não dormiu com ela, não é, irmão?

Merrick quase engasgou com a cerveja. Praguejando, olhou com reprovação para a irmã.

— Está se metendo onde não deve, Geneviève. Ela riu.

— Nunca, Merrick.

— Sempre, irmã.

— Aceite um conselho, irmão. Não a apavore.

— Apavorá-la! Não faço outra coisa a não ser cuidar des­sa mulher! E garanto que a recíproca não é verdadeira.

— Merrick, por favor. Não estou brincando. Se Alana for virgem, você precisa ser cuidadoso.

— Sei o que fazer, irmã. E estou certo de que aprendi muito antes de você.

Enfim, Geneviève corou. Já ouvira histórias ao longo dos anos acerca das paixões que o irmão perseguira.

— Disso não duvido. No entanto, peço-lhe que me escute. Se as expectativas temerosas forem concretizadas logo na primeira vez, ela terá medo todas as vezes.

— Nunca houve queixas a meu respeito, Geneviève.

— Claro que não, mas você nunca se deitou com virgens. Precisa ser gentil. Tem de ser carinhoso, Merrick.

— Está passando dos limites, Geneviève! Cuide de sua vida e eu cuido da minha.

Os olhos de Geneviève pareciam soltar faíscas.

— Não é pelo meu bem ou pelo seu que ofereço tal conse­lho, Merrick. É por Alana. Ela merece mais do que ser con­fundida com uma qualquer que é capaz de abrir as pernas para qualquer um.

Curiosa, Alana ainda observava a dupla. Sybil, minutos atrás, havia se retirado com Raoul. De repente, Merrick a encarou abertamente.

O coração de Alana disparou. Não sabia o que se passa­va entre os irmãos e temia o que estava por vir, porque tinha certeza de que não haveria salvação para si naquela noite. Estava nervosa, incomodada e, por Deus, petrificada!

Não queria que Merrick a tocasse. Contudo, sabia que ele faria o que bem entendesse porque, afinal, era seu senhor e conquistador.

E ela era sua... posse.

Mas o interior de Alana era um tumulto só. Por mais que desprezasse tanto controle, não podia negar que Merrick jamais a acusara de ser uma bruxa. Tampouco a condenara. Não a depreciara por ser diferente. Sentia-se dividida. Se ele não tivesse ficado tão furioso ao deixá-la no quarto, talvez o medo fosse ínfimo.

E agora o normando a fitava com aquela intensidade séria de sempre. Era como se Merrick conseguisse enxergar a alma de Alana.

De súbito, sentiu um toque gentil no ombro. Assustada, notou que Geneviève se sentava a seu lado.

— Você nunca sorri, Alana?

Por impulso, ela voltou a fitar Merrick. Ambos se entreolharam.

— Ele não é um ogro — Geneviève disse.

Alana pensou nas mãos fortes e ásperas. O pensamento progrediu. Visualizou as mãos acariciando seu corpo e for­çando a abrir as pernas para que pudesse...

— Talvez você enxergue um lado dele que nunca conse­gui ver — ela comentou.

— Sei que meu irmão não tem paciência com aqueles que atravessam seu caminho — Geneviève disse. — É uma carac­terística comum entre os homens, imagino.

— Ele alega que eu o provoco demais. Geneviève riu a valer.

— Ele diz o mesmo a meu respeito, porque posso ser mui­to franca. E, às vezes, Merrick detesta isso. — Ela fez uma pausa. — Ele não é cruel, Alana. Na batalha, um cavalei­ro faz o que é preciso para salvar a si e a seus homens. Mas Merrick é um homem que sabe dosar a própria força. Jamais tiraniza os mais fracos.

— Ele matou meu pai — Alana alegou, sem hesitar. — Tiranizou aqueles que se opuseram a ele em Brynwald.

— Tratou-se de uma batalha, Alana, não de uma carnifici­na. Se já viu homens, mulheres e crianças serem mortos sem motivo ou piedade, você sabe a diferença.

— O quê? — Alana se espantou. — Já viu algo tão vil?

— Meu marido, Philippe, foi morto dessa maneira — Geneviève contou. — Morávamos em Marnièrre, perto da Bretanha. Um conde da região cobiçava as terras de Philippe. Usou de artifícios para invadir nosso castelo. E quando anoi­teceu, seus homens derrubaram as muralhas e mataram a todos.

— Mas você e Simon foram poupados — Alana pronunciou.

— Não. Simon e eu estávamos no castelo de meu pai em d'Aville. Se estivéssemos em Marnièrre, também morrería­mos. — Ela estremeceu. — Nunca esquecerei a carnificina que vi ao voltar para casa. Nunca.

O coração de Alana se compadeceu. Geneviève era tão moça para já ter testemunhado tamanha crueldade.

— O que aconteceu depois?

— Meu pai e irmãos não permitiram que a morte de Philippe fosse em vão. Exigiram Marnièrre — uma tristeza profunda anuviou os olhos de Geneviève —, mas tudo estava diferente demais sem Philippe. Não consegui viver lá. Meu irmão, Henri, administra Marnièrre para Simon. Quando for maduro o bastante para defender as terras e o castelo, Marnièrre será dele.

Foi então que Alana entendeu tudo. Geneviève fora para Brynwald a fim de fugir das lembranças que ainda deviam assombrá-la. Sem dúvida, a boa mulher ainda lamentava a morte do marido.

Embora não soubesse o que dizer, Alana fez questão de tentar consolá-la.

— Sinto muito. Eu não sabia. Geneviève sorriu.

— Claro que não. Como poderia?

Cerca de duas horas depois, a irmã de Merrick resolveu se recolher. Alana também se levantou. Sybil havia sumido e não queria ficar sozinha no hall.

Do outro lado, o olhar sombrio de Merrick fixou-se em Alana. Mantivera distância dela, pois não queria se aborre­cer novamente. Ela o fazia sentir-se vil. Irritava-o saber que Alana se convencera de que ele não passava de uma criatura pútrida, que saíra das entranhas da terra.

Não quisera ir a Londres ter com Guilherme. Mas nin­guém podia desdenhar o chamado do homem que se torna­ria rei. Preocupara-se com ela dia após dia e sonhara com a beldade loira durante a noite. Ah, como bancara o tolo!

Na verdade, não entendia a fascinação por aquela mulher descalça. Podia ser altiva como uma rainha para, no minuto seguinte, ser vulnerável como uma criança.

Mas o que ele dissera a Geneviève era verdade: demons­trara um cuidado para com Alana que jamais oferecera a ninguém. Esperara o momento certo. Pensara em lhe dar tempo para se acostumar à nova vida e aceitar o que vies­se a acontecer.

Observou-a subir a escadaria ao lado de Geneviève. Tomou outro gole de cerveja. Parte dele ainda se espanta­va com o fato de ela ser uma donzela. Mas talvez não fosse tão bizarro. Se os aldeões a tinham como bruxa, deviam evi­tar tocá-la. Ou talvez temessem o pai dela. Pelo pouco que deduzira, Kerwain a apontara como filha desde o nascimen­to de Alana.

Somente agora Merrick considerava as implicações da espantosa descoberta. Alana era virgem. Nenhum homem jamais a tocara, exceto ele próprio. Uma sensação absurda de posse o dominou, somada ao calor que começava a aque­cer seu sangue.

Agradava-o saber que era virgem, percebeu de repente. Aliás, havia poucas coisas nela que o desagradavam... como a língua afiada.

O que tinha de fazer então? Cortejá-la? O orgulho saxão o desafiava. A beleza rara o atraía. Devia esperar mais para possuí-la? Tudo que era masculino e primitivo nele pro­testou contra a possibilidade. Se esperasse mais, a mulher obstinada sempre o combateria.

Foi então que notou o par de olhos amarelados sob o ban­co em que Alana se sentara. O gato Cedric! Aquele felino miserável o atormentava, tal qual a dona o fazia.

Em questão de segundos, o gato correu até ele, eriçou os pelos e arqueou as costas. Merrick fingiu chutá-lo, espantando o bichano que desapareceu após um longo miado.

Decidido, ele se levantou. Havia feito sua escolha. Não esperaria mais.

Ele a teria agora mesmo!

No quarto, Alana caminhava de um lado a outro, nervosa demais para se sentar. Como gostaria de bloquear a entrada! Mas infelizmente Merrick veio e antes do que ela previra. Tão logo escutou o ranger da porta, sentiu a presença máscula e familiar preencher o cômodo.

— Folgo em saber que ainda está acordada, saxã. Alana se virou. A presença de Merrick era tão considerá­vel que o quarto parecia ridiculamente pequeno.

— Venha aqui, saxã.

Ela não conseguia se mexer. As pernas estavam imó­veis. Olhou para a cama e depois para Merrick, que franziu o cenho, intrigado. Alana desprezava-se pela própria pasmaceira e porque ele a fazia sentir-se tola, covarde e fraca.

— Sei que está com fome — ela enfim se pronunciou. — Não duvido que vá me punir. Aliás, estou preparada. Porém, tenho algo a lhe pedir. Não ligo para o que fará a mim, só lhe rogo que não condene Sybil por minha causa — Alana se apressou em dizer. — Prometa que não a obrigará a servir seus homens novamente só porque está bravo comigo.

— Devo lembrá-la mais uma vez de que a decisão é minha, saxã.

— Por favor, não faça isso — ela implorou.

— Está me pedindo um favor, saxã? Se assim for, creio que pedirei algo em troca.

A boca de Alana ficou seca.

— E o que pediria?

Que pergunta idiota! O olhar azulado se deteve nos lábios de Alana.

— Acho que sabe, saxã.

Sim, ela sabia e tal idéia a fez tremer de pavor.

— Diga-me, saxã. Vai me retribuir esse favor?

Alana continuou calada. Como poderia concordar? E como poderia discordar?

— O que via ser, saxã? Posso ter você toda... ou nada de você?

— É meu senhor e conquistador — ela afirmou, amarga. — Tenho escolha, por acaso?

Apesar da tensão, Merrick conseguiu rir.

— Vejo em seus olhos que continua a recusar. E tem razão. Sou seu senhor e conquistador e você é minha.

Tamanha arrogância a irritou.

— Você, normando, é um bárbaro...

— Se eu fosse bárbaro, já teria tirado proveito de você, saxã. Eu a forçaria a abrir as pernas para...

As lágrimas marejaram os olhos de Alana.

— Do jeito que fará agora!

Merrick praguejou. As lágrimas não o fariam recuar, des­sa vez. O medo, entretanto, que ela não conseguia esconder o perturbava.

— Eu queria que tivesse ficado em Londres e tirasse pro­veito das mulheres de lá! — Alana exclamou.

— Ah — ele forçou um sorriso —, mas você não saía da minha cabeça, saxã. Não me deitei com nenhuma mulher desde o dia em que cheguei a Brynwald. E é verdade, vou possuí-la, mas não à força.

Alana estremeceu. Ele tripudiava, como se ela fosse sua presa.

— Não haverá outro jeito! — alegou, desesperada.

— Está enganada, saxã. Haverá outro jeito, sim. Merrick deu um passo à frente. Um brilho de pânico cintilou nos olhos dela ao notar a expressão determinada. Alana sentiu os joelhos bambearem.

Mas, embora a atitude fosse ríspida, o toque foi suave. Os dedos acariciaram os cabelos cacheados e se detiveram na nuca.

— Não precisa temer, saxã.

— Preciso, sim! — ela gritou com a vez trêmula.

— Não — Merrick murmurou e a abraçou pela cintura. Com uma pressão sutil, puxou-a para si. Alana prendeu a res­piração quando ele a beijou.

Não havia como evitar aquele beijo. Não havia meios de evitar Merrick. E, por mais raivosa e confusa que estivesse, os lábios afoitos não eram tão desagradáveis como ela dese­jara. Ele a beijou de forma interminável e doce até ela sen­tir a cabeça girar.

A entrega foi tão involuntária que ela nem sequer se deu conta de que Merrick tirava o vestido. Em seguida, a combi­nação tombou no tapete e ele a tomou nos braços para dei­tá-la na cama.

Foi então que Alana abriu os olhos. Merrick tinha acaba­do de tirar a túnica. O tórax avantajado era a prova cabal da masculinidade e força do guerreiro. Ela desviou o rosto e se encolheu na cama.

Mas Merrick não se deitou, a seu lado. Sentado na cama, acariciou de leve as marcas nas costas de Alana.

— Ainda sente dor, saxã?

— Não. — Ela mordeu o lábio para evitar que tremesse.

— Felizmente, não ficará com cicatrizes.

— Bem que eu gostaria!

— Por quê? — Agora Merrick acariciava o ombro nu e o braço fino.

Alana rezou para que ele parasse. Sentia arrepios pelo corpo todo.

— Porque assim você não me... — Ela não conseguiu pôr em palavras o que estava prestes a acontecer.

— Eu não a desejaria?

— Sim!


— Está enganada outra vez, saxã. — Merrick a fez virar-se e beijou-a uma, duas, três vezes. Então se levantou para tirar a calça.

Incapaz de se mover, Alana observou Merrick se livrar de última peça de roupa. Sentiu um mal-estar súbito ao divisar o membro ereto agora tão letal quanto uma lâmina.

— Jesus... — Alana murmurou, atônita. — Já vi outros homens. Mas você é diferente. Certamente é... deformado!

Merrick riu. O cretino riu a valer.

Ela se sentou, indignada. Mas Merrick a puxou e obri­gou-a a se deitar de costas. Alana não ousou pensar no que estava acontecendo. Pelo que podia perceber, os corpos de ambos se tocavam em todos os lugares.

Envergonhada ao extremo, fechou os olhos, certa de que uma noite de horror a aguardava.

Merrick se ergueu um pouco a fim de encará-la.

— Não é de mim que tem medo — ele concluiu. — É do que não sabe.

Alana abriu os olhos.

— Do que não sei? Sei o que pretende fazer comigo. — Ela estremeceu. — Vi um de seus homens com Hawise, a filha do leiteiro. Ela gritava e gritava e ele não a solta­va. Estava deitado sobre a moça e... não parava. Ele a fez sangrar.

— Não farei nada disso com você — Merrick declarou. — E não é tão avessa a mim quando a beijo, saxã.

— Sou, sim. Você me fez sentir estranha.

A negação tão fervorosa quase o fez rir novamente.

— Mas meus beijos não a desagradam. — Como ela nada dissesse, Merrick insistiu. — Ou estou errado?

Alana meneou a cabeça.

— Não faz diferença. Quando fizer o que quer — ela corou —, vai me machucar. Sei que me odeia, normando. Sem dúvida, quer me ferir.

— Eu não a odeio, saxã. E não vou machucá-la, a menos que lute contra mim. — Merrick sorriu. — Aliás, há certas coisas que posso fazer para facilitar.

— Está mentindo. Isso é um truque.

— Não é um truque, saxã. E não estou mentindo.

— Então fale.

Ele nada disse. Simplesmente beijou a protuberância de cada seio.

— Fale, normando — Alana pediu com o coração em dis­parada. — Que coisas?

Quando Merrick voltou a fitá-la com aqueles olhos inten­sos, Alana não estava preparada para tanta franqueza.

— Vou tocá-la aqui com minha mão, saxã. Meus lábios e língua vão prová-la. — Ele afagou um mamilo, fazendo-a estremecer. — Vou acariciá-la até que seu corpo fique úmi­do e pronto. Quero lhe dar prazer, saxã. Quero satisfazê-la como nunca.

O corpo de Alana queimava. Sua mente estava confusa. Não, pensou, arfante. Ele não faria nada. Certamente aquilo era pecaminoso.

Merrick se inclinou e beijou,a curva do pescoço.

— Pensando bem — ele disse —, vou lhe mostrar. Se fosse capaz, Alana saltaria da cama.

— Você não ousaria... Ele ousou, de fato.

A princípio, ela ficou tensa, tão tensa que os músculos retesavam a cada toque. Mas Merrick não se deixou dissua­dir. Cobriu os lábios carnudos com os dele até senti-la estre­mecer, como se lutasse para não perder o controle.

Alana estava zonza quando o beijo terminou. Ela virou o rosto, ainda resistente. Merrick tocou-lhe o queixo.

— Não — sussurrou. — Não me rejeite. Renda-se a mim, saxã. Renda-se...

Veemente, ela meneou a cabeça.

— Então deixe-me conquistá-la — ele disse antes de bei­já-la outra vez.

Mas Merrick não conquistou. Ele seduziu.

As mãos moviam-se com extrema ternura. Explorava o corpo feminino conforme o próprio capricho ou vontade. E durante todo o tempo beijava-a lenta e profundamente. As carícias não eram forçadas, mas ele as fazia como queria. Por fim, a batalha que Alana lutava não era mais com ele, era consigo mesma.

O mundo girava loucamente. Aos poucos, entregou-se ao beijo. Hesitante, acariciou o peito musculoso, o que o fez aprofundar ainda mais as carícias. Com uma das mãos, Merrick afagava os seios. Parecia estranho demais, ela pen­sou, sentir a mão quente sobre a pele.

A respiração tornou-se ofegante. Era surpreendente sen­tir as pontas dos seios túrgidas. E à medida que Merrick esti­mulava os mamilos enrijecidos, Alana percebeu que o toque contínuo instigava prazer.

A boca quente deslizou pelo pescoço. Quando ele parou, o coração de Alana disparou. Então Merrick fez o que para ela era impensável. Como havia prometido, passou a excitar os seios com os lábios e a língua. O tempo pareceu parar. Um dilúvio de sensações rompeu-se dentro dela.

Merrick escondeu a satisfação. Sentiu que a resistência se desfazia porque quando voltou a beijá-la, os lábios rubros se apossaram dos dele. Embora o coração de Alana batesse com fervor, o resto do corpo se fundia ao de Merrick.

Deus, a pele de Alana era como a mais fina seda! Ele cerrou os dentes para conter a necessidade explosiva de se perder dentro dela, de penetrá-la profundamente.

Empolgado, começou a acariciar a região entre as pernas.

Alana arregalou os olhos. As pernas esguias prenderam a mão de Merrick e ela cravou as unhas nos ombros largos.

— Deixe-me, querida — ele pediu, sabendo que a assus­tara. — Não vou machucá-la. Juro...

Merrick reprimiu um protesto frágil beijando-a. Com gen­til insistência, continuou a explorar a feminilidade até sen­ti-la estremecer, até sentir a paixão umedecê-la e levá-lo ao auge do desejo de querê-la.

O sangue pulsava alucinadamente em sua masculinidade. Ele se posicionou entre as pernas esguias e abriu-as. Dessa vez, nada o impediria. Nada poderia impedi-lo.

Sem saber ao certo como, Alana conseguiu enxergar o bri­lho sexual nos olhos azuis. Sentiu o membro pulsante fazer pressão para penetrá-la. Prendeu a respiração, certa de que a potência de Merrick a romperia ao meio.

Quando enfim a penetração se deu, ela emitiu um grito de dor. Então cravou novamente as unhas na pele quente dos ombros musculosos. Uma lâmina afiada parecia cortá-la por dentro, mas sabia que Merrick não se deteria, como não se detivera ao tomar Brynwald para si.

Lágrimas ofuscaram sua visão.

— Não agüento — ela murmurou, chorosa. — Meu Deus, não agüento...

— Calma — ele pediu, tocando-lhe o rosto. — Calma.

Merrick traçou a face delicada, como se quisesse memo­rizá-la. Então enxugou uma única gota de lágrima que havia rolado e beijou-lhe os olhos. Nesse ínterim, ele não se mexia. Permitia a Alana se acostumar à sensação de tê-lo dentro de si. A dor dilacerante começou a fenecer. Voltou a beijá-la e quando o beijo se tornou fervoroso, começou a se mover devagar, de início, e depois em ritmo frenético.

O sofrimento que, minutos antes, ela imaginara não suportar, agora se transformava em chamas de excitação que a queimavam conforme os quadris de Merrick se moviam. Alana se agarrou a ele quando se viu envolvida pelo mesmo frenesi selvagem. De repente, o tumulto explodiu dentro dela, fazendo-a gritar.

Ofegante, Merrick fez sua última investida. Então seu líquido quente espalhou-se dentro dela.

Instantes depois, Alana, ainda ofegante, esperava que seu coração acalmasse. Possessivo, Merrick a abraçou pela cin­tura e apertou-a contra si.

As chamas da lareira queimavam a madeira lentamen­te. Já era tarde da noite. Mas Alana continuava acordada, fitando a escuridão. Sentiu o peito se apertar.

Ele havia suplicado sua rendição docemente, mas para quê?, refletiu com amargor. Aquele orgulhoso invasor con­quistara o povo saxão e agora o seu corpo... com extrema facilidade.

Mas não a veria como presa fácil outra vez.

Capítulo XII

Como de hábito, Merrick foi o primeiro a acordar. Uma luminosidade tépida penetrava pelas frestas das janelas, banhando o quarto com seu brilho pálido. Mas ele não se levantou imediatamente. Permitiu-se saborear o calor do cor­po feminino.

Moveu-se com cuidado para não despertar sua adorável companheira. Então ergueu as cobertas a fim de apreciar a beleza de Alana. Ela estava deliciosamente nua e relaxada. A pele adquiria uma tonalidade cremosa devido à fraca ilu­minação do cômodo.

Indulgente consigo mesmo, segurou uma mecha dourada que tombava, graciosa, sobre o ombro nu. Acariciou os fios, maravilhado com a textura sedosa. Imaginou-a sobre ele, com aqueles cabelos exuberantes caindo sobre os ombros. Visualizou as mechas suaves roçando-lhe o peito para em seguida, deslizarem pelo corpo, enquanto os lábios deleitáveis, rubros e úmidos, aproximavam-se de seu...

Cerrando os dentes, combateu uma onda abrasadora de desejo. A imagem provocou um efeito imediato e visível. Embora a urgência de deitá-la de costas e mergulhar no calor profundo de Alana fosse poderosa, ele não o fez. A noite o satisfizera como nunca. E, concluiu secamente, mostrava-se tão afoito quanto um garoto inexperiente que acabava de descobrir os prazeres da paixão.

Alana, sem dúvida, devia estar dolorida. Por mais que tentasse, Merrick não conseguira esgotar a intensa pulsa­ção do desejo ao longo da noite. Arrogante, convencera-se de que, após possuí-la, a teia de fascínio que o enredava não mais existiria.

Doce ilusão!

A respiração se tornou ofegante quando as lembranças o excitaram. Precisava se controlar para que Alana dormisse mais um tempo. Afinal, ele a possuíra duas vezes. E, por mais que tentasse refrear a paixão para que o ardor do ato amoroso durasse, a sensação de estar dentro dela fora inebriante. E a última vez...

Ah, a última vez!... Uma satisfação primitiva reverberou dentro dele. Sorrindo, traçou as linhas delicadas do queixo. Alana se entregara, plena, ao prazer. Certamente, a teimosia exacerbada não a deixaria admitir tal libertação. Mas Merrick a satisfizera, ela o satisfizera e assim continuariam.

Suspirando, inclinou-se para beijar a curva do ombro. Quando levantou a cabeça, descobriu-a acordada. Por um instante, pensou em quão disposta ela estaria pela manhã, mas logo descartou a idéia, pois o fitava com explícita cautela.

Na verdade, Alana ficou perplexa ao ver que Merrick optou por não molestá-la outra vez. Claro que temera o ama­nhecer de um novo dia. Perguntava-se ainda como consegui­ria encará-lo sem lembrar-se de tudo o que ele fizera... e tudo que lhe permitira fazer.

Observou-o sair da cama e espreguiçar-se, o que lhe garantiu uma visão ampla do membro consideravelmente ereto. Seu coração disparou. As faces ruborizaram.

Silenciosa, orou em agradecimento quando Merrick se lavou e vestiu-se rapidamente. Mas ficou intrigada ao vê-lo aproximar-se dos baús.

— Já que seu guarda-roupa está vazio, saxã, comprei algumas coisas em Londres para você. — Merrick começou a jogar vestidos, combinações e cortes de tecido sobre a cama. — E isto também. — Ele tirou de um dos baús um pesado manto de lã.

Atônita, Alana sentou-se para olhar de perto o que Merrick havia feito. Hesitante, esticou o braço para tocar o manto. Deus, era forrado de pele!

— E então, saxã? — Merrick a observava. — Tal esforço não merece uma palavra de agradecimento? Ou será que pre­fere desdenhar minha generosidade?

Alana corou, já que o sarcasmo era impossível de igno­rar. Mas não sabia como expressar o que estava em seu cora­ção sem ofendê-lo.

— Estou realmente grata — disse por fim. — Nunca pensei em possuir trajes tão elegantes como esses. — Ela acariciou o manto de lã. Engoliu em seco e obrigou-se a encará-lo. — Mas há algo de que eu gostaria mais que roupas caras. Aliás, é algo que preciso lhe pedir agora.

Merrick cerrou os olhos. Cruzou os braços, tanto furioso quanto surpreso por ela preterir seus presentes.

— O que é, saxã?

Ele estava zangado. Alana pôde perceber através do tom de voz, mas agora era tarde demais para voltar atrás.

— Peço-lhe que me permita sair para visitar Aubrey.

O silêncio que se seguiu pareceu estender-se pela eterni­dade. Quando enfim resolveu fitá-lo, Alana se arrependeu no mesmo instante. O rosto estava rígido e os olhos faiscavam.

— Você é uma idiota — ele explodiu — por pensar que eu sequer consideraria o pedido.

— Ele é velho e quero apenas ver se está passando bem...

— Já lhe disse, saxã, que Aubrey está sendo bem cuidado. Aceite minha palavra.

— E se eu não aceitar? — Alana contestou, ultrajada.

— Vai aceitar. — Ele forçou um sorriso. — Agora me deseje um bom dia para que eu possa manter meu bom humor.

Merrick caminhou até a cama. Mas Alana virou o rosto para que o beijo atingisse a face em vez de os lábios.

— Eu devia saber — Merrick disse. — As mulheres usam o próprio corpo para barganhar o que querem e o que não querem. Mas sua atitude não vai diminuir meu desejo, saxã.

Alana o fitou com frieza.

— De acordo com você, normando, meu corpo não mais me pertence.

— Está aprendendo, saxã. — Um sorriso arrogante cur­vou a boca de Merrick. — Saber disso me agrada e muito. — Em seguida, ele se virou e saiu.

Irritada, Alana fechou os punhos. Foi necessária uma for­ça de vontade gigantesca para reprimir a tempestade de lágri­mas que ameaçou cair. Como ele era odioso! Claro que estava satisfeito com ela e consigo próprio. Se ao menos não tives­se se mostrado tão fraca e tão idiota!

Tivera medo do que não sabia, do desconhecido, do que Merrick lhe faria. E ele encontrara seu triunfo na fraque­za de Alana, porque obtivera tudo que havia desejado e ela permitira.

Uma determinação furiosa emergiu. Não permitiria nova­mente, jurou a si mesma. Nunca mais seria o objeto de pra­zer nas mãos dele. Havia se rendido uma vez, mas ele nunca mais sairia vitorioso.

De súbito, alguém bateu à porta.

— Meu senhor ordenou que trouxéssemos água para seu banho — uma criada disse. — Ele mandou nos apressar para que a água não esfriasse.

Alana pensou seriamente em recusar o banho, porque não estava disposta a se submeter às ordens de Merrick. Mas, no final, resolveu aceitar o banho, sabendo quão gratificante seria. Gemeu um pouco quando entrou na água quente, pois estava dolorida entre as pernas.

Tinha acabado de se vestir quando a porta se abriu. Sentiu o coração disparar, imaginando ser Merrick. Afinal, quem mais entraria sem ser anunciado?

No entanto era Sybil que adentrou os aposentos do senhor de Brynwald, como se fossem dela.

— Alana, vim buscar as agulhas que você pediu empres­tado a Geneviève... — Sybil se calou ao divisar a pilha de roupas que continuava sobre a cama. De repente, os belos lábios retesaram de um jeito peculiar, o que a fez se parecer muito com a mãe, Rowena. Ela apontou os trajes e pergun­tou: — O que é isso?

Alana hesitou. O que poderia dizer para não incitar a rai­va ou a inveja de Sybil? Nada, pensou. Só poderia, portanto, oferecer a verdade.

— Merrick trouxe tudo isso de Londres.

— Para você, Alana? — A voz soou desagradável.

— Oh, acho que é para nós duas — Alana improvisou. — Aliás, não sei o que fazer com tantos tecidos. — Ela ten­tou sorrir. — Papai dizia que você era habilidosa com a agu­lha, um talento que não possuo. Por favor, Sybil, pegue o que quiser.

— Obrigada, Alana. Vou fazer isso mesmo. Gananciosa, Sybil escolheu quatro peças, dentre elas um corte de tecido azul que Alana achara lindo... Ela se recri­minou. A inveja era a maldição do diabo, como dissera sua mãe.

Instantes depois, sua irmã saiu do quarto com os braços repletos de tecidos. Geneviève apareceu em seguida.

— Alana — ela disse com uma expressão estranha no ros­to — creio que Merrick tenha comprado aquelas peças só para você.

Pelo jeito, Geneviève parecia ter escutado a conversa das irmãs.

— Eu sei. Mas a verdade é que Sybil precisa de um ves­tido novo tanto quanto eu. — Alana fez uma breve pausa. — Ela viveu muitas perdas quando os normandos chegaram. Todos os seus pertences. O pai e a mãe. Não foi fácil se trans­formar em criada depois de passar a vida toda como dama. E não quero privar minha irmã desses pequenos prazeres.

Um silêncio desconfortável pairou no ar. Por um momen­to, pensou que Geneviève fosse discordar, mas, no fim, a normanda sorriu.

— É raro encontrar uma pessoa tão altruísta quanto você, Alana.

Como Geneviève a fitasse muito intensamente, Alana nada disse. A vergonha a dominou por completo quando teve a nítida sensação de que Geneviève sabia o que ocorrera entre ela e Merrick na noite anterior.

Mas a boa mulher não tocou no assunto, felizmente.

— Vim lhe convidar para ir comigo à aldeia do sul. O dia está quente para o inverno e uma das criadas me falou do mercado de Fengate. Eu gostaria de dar uma olhada nos pro­dutos que eles têm. O que me diz?

Alana não sabia se Merrick aprovaria o passeio, motivo suficiente para ela aceitar de pronto o convite. E, de fato, uma onda de desafio emergiu velozmente quando ela e Geneviève saíram ao pátio.

Merrick lá estava com um grupo de soldados e um núme­ro significativo de saxões que haviam ganhado respeito do senhor feudal pelo trabalho exemplar que desenvolveram nas paliçadas. Ele se virou ao espiar Alana e a irmã. Concentrado, marchou em direção a elas.

— Precisa de minha assistência, Geneviève? — Merrick se dirigiu apenas à irmã.

— Não. — Ela sorriu com doçura. — Mas já que pergun­tou poderia pedir uma carroça? Alana e eu resolvemos passe­ar no mercado de Fengate, uma aldeia ao sul daqui.

— Não tenho tempo para escoltá-las — Merrick começou.

— E não pensaríamos em incomodá-lo — Geneviève dis­se. — Se puder convocar um saxão, um homem de sua confiança para nos proteger e que conheça bem a região, eu agradeceria. — Alana quase engasgou quando Geneviève apontou Radburn. — Aquele — anunciou. — Ele é confiá­vel, Alana?

Com orgulho, Alana empinou o nariz. Pela primeira vez, Merrick não teria a última palavra. Uma satisfação perver­sa a fez sorrir.

— Extremamente confiável — declarou, ciente de que a expressão de Merrick se tornava tão sombria quanto a do demônio.

Ele chamou Radburn.

— Não estou tão convencido quanto minha irmã — Merrick disse, irritado. — No entanto, permitirei que, dessa vez, as coisas sejam como ela quer. Você vai levar essas duas ao mercado de Fengate e com elas permanecer o tempo todo. Mas saiba que, se quiser conquistar minha confiança, deve provar que é confiável. Então, seu eu fosse você, não consi­deraria a idéia de fugir e garantiria a qualquer custo a segu­rança das duas.

Quando a tensão no ar chegou ao limite, Alana prendeu a respiração. O rosto de Radburn estava tão tempestuoso quan­to o de Merrick e, por um segundo, receou que o cavaleiro saxão pudesse surrar o normando. Contudo, Radburn incli­nou a cabeça e disse educadamente:

— Como quiser, meu senhor.

Merrick o olhou por mais alguns instantes e então se afastou.

Meia hora depois, eles subiram na carroça. Radburn assu­miu as rédeas, enquanto Geneviève se acomodava entre ele e Alana. Quando deixaram Brynwald para trás, ela sentiu um arrepio na nuca. Incapaz de conter a curiosidade, olhou por cima do ombro.

Na entrada do domínio, ao lado dos portões, Merrick os observava. Mesmo de longe, Alana conseguia sentir o desa­grado do normando. Se a culpa era dela, de Geneviève ou Radburn, não sabia. A bem da verdade, acreditava que todos os três eram responsáveis pelo mau humor do homem.

Assim que a carroça tomou a trilha que levava ao sul, Geneviève iniciou uma conversa trivial, fazendo perguntas para Alana e Radburn, e, ocasionalmente, contava histórias da família.

A princípio, as respostas de Radburn soaram vagas e res­tritas. Alana sabia que o cavaleiro desconfiava da viúva normanda. Mas Geneviève não se dirigia a ele como se fos­se um escravo ou servo, embora estivesse claro, através do discurso e modos, que Radburn não era um camponês apesar das roupas maltrapilhas. Na realidade, Geneviève falava com ele em pé de igualdade, o que aumentou ainda mais a admi­ração de Alana.

O charme e a franqueza da normanda foram tão eficien­tes que a rigidez nos ombros de Radburn se foi. Antes que se desse conta, as preocupações de Alana também desapare­ceram, ao menos, por enquanto.

Embora o ar estivesse úmido e frio, a sol brilhava no céu claro como um dia quente de primavera. Em Fengate, caminharam pelas ruas estreitas de terra batida e lamacen­ta, espiando as várias barracas de temperos, tecidos e pro­dutos de toda sorte. Radburn andava em silêncio atrás delas. Geneviève torceu o nariz quando passaram por um cercado de touros, uma reação que fez Alana rir.

Ao final da tarde, o estômago de Alana reclamava de fome. À insistência de Geneviève, os três partilharam um belo pedaço de pão quente e uma extensão de lingüiça tem­perada. Minutos depois, devidamente satisfeita, Alana assistiu à negociação entre Geneviève e um mercador para adquirir um elegante espartilho decorado com rendas e fios dourados.

No final, Geneviève se afastou, toda sorridente. Havia vencido a batalha verbal e agora exibia seu prêmio com orgulho.

— Não é divertido, Alana? Este mercado se assemelha a uma feira de rua que conheci quando menina e...

Ela não prosseguiu. A mão engordurada de alguém a puxou pelo braço com violência. Alana se deteve por um ins­tante só para sofrer um destino semelhante: foi empurrada por trás tão ferozmente que quase colidiu em Geneviève.

Uma risada gutural ressoou.

— Uma é tão bonita quanto a outra, não acha, Etiènne? O corpo de Alana gelou. Etiènne. Normandos, concluiu apavorada. Aquela altura, três deles, gigantes e corpulentos, rodeavam as duas mulheres. Fediam a suor e cerveja. Ela olhou ao redor. Deus, onde estaria Radburn? Certamente não as tinha desertado! Ocorreu-lhe por um segundo que Merrick tinha razão, afinal. Talvez ele tivesse visto aquele passeio como uma oportunidade de fugir.

— Pena que são apenas duas. — O mais corpulento dos três sorriu, mostrando dentes amarelados. — Mas não faz mal. — Ele apontou Geneviève. — Eu começo com aquela e depois, enquanto cuido da outra, é a vez de vocês. — O normando encarou Alana, que empalideceu imediatamente.

Geneviève também estava pálida.

— Deixem-nos em paz — ela ordenou, embora sua voz não soasse firme por causa do medo excessivo. — Se não nos libertarem agora, vão se arrepender porque meu irmão é Merrick...

— O que eu lamento — outro interrompeu — é não termos visto vocês duas antes. Mas não percamos mais tempo...

O homem não terminou a frase. Uma forma escura saltou por trás deles, golpeando o normando mais próximo a Geneviève. Ela gritou e puxou Alana, tirando-a da zona de perigo. Somente então Alana reconheceu o salvador como sendo Radburn.

— Meu Deus! — gritou, alarmada. — Ele está desarma­do. E são três contra um!

Obviamente, os outros dois atacaram Radburn. Um deles ria como se a perspectiva de trucidar mais um saxão lhe des­se extremo prazer. O som do aço saindo da bainha reverberou pelo ar quando seu companheiro puxou um facão de lâmina longa da cintura.

Apesar de estarem embriagados, os normandos ainda assim representavam perigo. Devagar, começaram a circun­dar Radburn. As duas mulheres gritaram quando Radburn se jogou de lado a fim de evitar o golpe vicioso do facão. Ele não escapou ileso porque a lâmina chegou a cortar diago­nalmente sua túnica. Alana sentiu o peito se apertar quando uma linha de sangue escorreu do tecido.

Mas Radburn não se deu por vencido. Ergueu a perna e chutou a peixeira, que tombou no chão. Em seguida, ele esmurrou o queixo do normando. Se a circunstância não fos­se tão pavorosa, Alana teria rido da expressão aparvalhada do homem antes de ele cair na lama.

Contudo, o momento em que Radburn se virou para enfrentar o normando remanescente lhe custou caro. Dessa vez, foi Alana quem berrou quando o homenzarrão cravou sua adaga nas costas de Radburn. Ele curvou-se de dor, mas logo se recuperou. Golpeou a barriga do normando, que tam­bém se curvou, e então voltou a se erguer agora furioso.

No minuto seguinte, os dois estavam rolando e se atra­cando no chão, em uma confusão de movimentos indistinguíveis. Alguém gritava, se ela mesma ou Geneviève, Alana não sabia. O terror travou sua garganta quando viu de relan­ce a adaga circundar uma, duas... três vezes.

O normando tombou sobre Radburn. Então tudo ficou silencioso.

Geneviève soluçava. Os joelhos de Alana estavam bam­bos. Mesmo com a vista enevoada, enxergou Radburn se levantar e trotar até elas. Depois de abraçar Geneviève, Alana correu até ele.

Mas Radburn não conseguiu dar mais nenhum passo. Embora estivesse vivo, os ferimentos o debilitavam.

Assim que chegaram ao pátio de Brynwald, Geneviève começou a dar ordens.

— Você! Você e você! Levem este homem ao cômodo em frente ao meu. Não, cuidado. Sejam gentis. Preste atenção nos ferimento dele, homem, ou vai fazê-lo sangrar de novo!

Semiconsciente, Radburn foi carregado pela escadaria de pedra, sob a supervisão de Geneviève. No quarto, ela tirou a túnica ensangüentada, enquanto Alana buscava as ervas medicinais de sua mãe.

Ao divisar a extensão dos ferimentos ela ficou assusta­da. Logo abaixo da escapula, havia um rasgo considerável na frente do ombro oposto e um corte profundo perto das cos­telas. Sem hesitar, Alana preparou uma poção para ajudá-lo a dormir, pois sabia que precisaria costurar as feridas a fim de evitar qualquer infecção. Tal perspectiva lhe causava náu­sea. Tinha visto a mãe usar agulha e linha para tratar de inú­meros ferimentos, mas nunca empreendera a façanha por conta própria.

Gotas de suor escorriam em sua testa, enquanto trabalha­va o mais rapidamente possível. Sentiu pontadas no estôma­go quando enfim terminou. Puxou e amarrou o último ponto para então soltar um suspiro-profundo e longo.

Geneviève examinou a fileira perfeita de pontos.

— Excelente trabalho.

Alana molhou um pano limpo em água morna para lavar o rosto de Radburn. Intrigada, tocou a testa do enfermo.

— Ele não tem febre, mas está pálido demais — relatou, meneando a cabeça. Agora que a provação havia passado, a magnitude de tudo que acontecera pareceu-lhe sufocante ao extremo.

— Foi minha culpa. Eu só disse que ele devia ir conos­co porque sabia que Merrick não ficaria zangado. — O medo se apossou de seu coração. — Meu Deus, e se Radburn morrer?

Eficiente, Geneviève obrigou Alana a se sentar em um banco.

— Alana, meu conhecimento não é tão vasto quanto o seu, mas olhe! Ele está dormindo com tranqüilidade.

Trêmula de nervoso, Alana fitou o homem diante de si. Radburn estava tão imóvel que parecia... Não, pensou, quase histérica. Não! Não ousaria sequer pensar em tal tragédia.

— A ferida tem de ser tratada adequadamente — anun­ciou em voz baixa. — Principalmente nos primeiros dias. Radburn precisa descansar e os ferimentos devem ser limpos pelo menos uma vez ao dia para que não haja infecção.

— Ele não vai morrer — Geneviève afirmou, convicta.

— Você tem conhecimento suficiente para tratá-lo, se vier a adoecer.

— Por que é tão confiante? — Alana perguntou, curiosa.

— Os outros não são assim. Até meu próprio povo...

Nenhuma das duas sabia que Merrick estava escondido atrás da porta entreaberta. Uma estranha emoção explodiu dentro dele, uma emoção que não podia controlar. Tinha a certeza de que não invejava a vida daquele homem. As feri­das de Radburn eram graves, mas o saxão era forte e sem dúvida se recuperaria. Aliás, Merrick refletiu, ele mesmo havia sofrido coisas piores e sobrevivera.

Entretanto, havia uma parte dele que se ressentia diante do sucesso de Radburn em chamar a atenção de Alana tão completamente, enquanto ele jamais conseguira tal intento.

Ficou irritado consigo mesmo e com Alana.

No fundo, estava horrorizado porque tamanha mesqui­nhez não fazia seu estilo. Desdenhou a idéia de que o char­moso saxão lhe causava ciúme. Porém, não podia negar o óbvio. Desagradava-o sobremaneira ver Alana com aquele homem. A mão pequena e delicada sobre a testa do enfermo e a expressão de ansiedade e medo que ela nunca manifes­taria por ele. Sim, admitiu pesaroso, algo semelhante jamais aconteceria porque sabia que Alana o desprezava acima de tudo e todos.

Tomado pelo despeito, entrou no quarto, parou ao lado de Alana e fitou Radburn com o rosto impassível.

— Ele não vai morrer?

Merrick percebeu a tensão nos ombros de Alana assim que se aproximou dela. Foi Geneviève quem respondeu:

— A perspectiva nos parece improvável, graças a Deus. E ele está repousando confortavelmente, graças a Alana.

— Nesse caso, ela não precisa mais ficar aqui. — Merrick marchou até a porta. — Venha, saxã.

As costas de Alana enrijeceram. Continuou a limpar o rosto de Radburn, como se não tivesse escutado a ordem.

— Saxã!


Alana nem sequer fez menção de responder. Sua expres­são revelava rebeldia e a de Merrick, fúria.

Pelo canto dos olhos, Geneviève fitou o irmão. Uma sim­ples espiadela foi o suficiente para apelar ao bom-senso. Ela tocou o ombro de Alana.

— Está tudo bem. Vou ficar com Radburn a noite toda. Se precisar de sua ajuda, eu irei buscá-la. Prometo.

Alana nem sequer pestanejou.

— Não precisa se incomodar, Geneviève. Ficarei com ele.

— Saxã, não vou repetir minha ordem! Geneviève ficou desesperada.

— Alana, eu lhe imploro — ela sussurrou. — Vá, por favor! Meu irmão tolera muitos dos meus caprichos, mas nem eu teria coragem de desafiá-lo agora.

Mesmo relutante, Alana pressionou os lábios e assentiu. Honraria o pedido de Geneviève, mas, por Deus, Merrick podia arder no fogo do inferno que ela nem se importaria.

De queixo erguido, levantou-se e passou por ele sem olhá-lo ou dizer palavra.

Merrick a seguiu ao longo de todo o corredor. Assim que a porta do quarto se fechou, ela o enfrentou e liberou sua fúria.

— Você não tem compaixão? Nenhuma bondade ou mise­ricórdia?

Os olhos de Merrick cintilaram de ódio.

— Se eu fosse você, saxã, teria cuidado. Meu humor não é dos melhores esta noite.

— Tampouco o meu, normando!

Ele a ignorou. Descartou o cinturão da espada e tirou a túnica. Ao ver o tórax avantajado e moreno, Alana sentiu algo estranho na boca do estômago. Nu da cintura para cima, Merrick parecia mais perigoso que nunca. Fixou o olhar no torso nu e em seguida fitou a cama.

Um sorriso arrogante curvou os lábios de Merrick.

Alana fechou os punhos, colérica.

— Como você é egoísta — acusou-o sem elevar o tom de voz. — Um homem se fere gravemente e você só pensa no próprio prazer!

— E você é uma tola se pensa que vai vencer essa batalha, saxã. Se não tivesse me desafiado, eu talvez a deixasse em paz. Mas agora não mais. Foi você quem causou esse mal a si mesma. Quero saber, saxã, o que vai ser? Pretende se dei­tar comigo por livre e espontânea vontade?

A raiva de Alana era tanta que seus olhos pareciam saltar.

— Nunca! — jurou. — Nunca me deitarei com você por livre e espontânea vontade.

Em um instante, Merrick se postou diante dela. O sorriso pedante havia sumido.

— Que pena — ele disse — porque você vai se deitar comigo.

Com os olhos ele a amaldiçoou. Com as mãos, tirou as roupas que a cobriam. Alana ficou chocada. Sua mente gira­va como um rodamoinho. Mesmo quando um protesto emer­giu em sua garganta, Merrick a jogou na cama.

A boca sequiosa a devorava. Os beijos representavam apenas o selo de uma dominação obstinada. Merrick força­va a própria satisfação. Seu corpo jazia pesado e enrijecido sobre o dela.

O pânico emergiu dentro de Alana, misturado a uma cólera que jamais experimentou. De algum jeito, conseguiu desvencilhar-se dos beijos forçados. Furiosa para além das palavras, ela de repente ficou fora de si.

— Não! — vociferou. — Não vou permitir! Eu odeio você! Escutou? Odeio você!

Merrick praguejou. Alana tinha sido feita para as mãos de um homem. Ele. Fora feita para o prazer. Seu prazer.

Ambos se entreolharam. O brilho esverdeado combatia o brilho azulado.

— Então é assim que vai ser — Merrick alegou. — Maldita seja, saxã. Obrigou-me a usar a força quando tudo podia acontecer naturalmente. Ah, mas você me tenta, você me tenta demasiadamente! Talvez esta noite eu encontre mais diversão em um cálice de vinho do que com você.

Merrick saiu de cima dela e parou ao lado da cama para fitá-la sem emoção.

— Lembre-se de uma coisa, saxã, porque na próxima vez não terá tanta sorte. Você vai me servir. De qualquer jeito. De qualquer maneira. Seu dever é me agradar. Não se esque­ça disso.

Mais uma vez, ele se retirou a passos largos.


Yüklə 1,18 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   2   3   4   5   6   7   8   9   ...   12




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin