Samantha James Alana, a Bruxa



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Capítulo XXII

Enquanto os habitantes de Brynwald colhiam os frutos de um verão generoso, Alana descobria as alegrias de se tornar mãe. O nascimento de uma criança era, sem dúvida nenhuma, algo belo e maravilhoso. Desde o primeiro instante em que segurou o filho nos braços, foi tomada por uma emo­ção incomparável.

Não se importava com o fato de o bebê acordar tantas vezes para mamar. Não podia imaginar nada mais precioso que ter o filho nos braços e vê-lo se alimentar, tendo a mãozinha alva sobre a curva do seio.

Os dias se passaram. Em pouco tempo, Geoffrey comple­tava um mês de vida. Enquanto Alana recuperava a força e a silhueta, o bebê crescia forte e robusto. As bochechas e a barriguinha tornavam-se rechonchudas.

Merrick não se cabia de contentamento. Nos recônditos de seu ser, Alana secretamente temera que ele exibisse pou­co interesse pelo bebê. Mas enganara-se.

Em geral, era Merrick quem levava Geoffrey à cama para mamar no meio da noite e o devolvia ao berço logo depois. Alana sentiu a garganta travar cada vez que testemunhava um guerreiro tão grande e poderoso demonstrar tamanha gentileza para com o filho pequenino.

Geneviève também era uma tia devotada, tão encanta­da por Geoffrey quanto os pais dele. Bastava que o bebê emitisse o menor ruído para um adulto imediatamente tomá-lo nos braços.

Entretanto, não era possível negar a tensão que crescia entre os muros do castelo. Merrick havia ordenado mais guardas para a vigilância noturna, mas ainda assim a popu­lação de Brynwald lançava a Alana olhares desconfiados, como também a encaravam com precaução, já que o assassi­no de padre Edgar permanecia uma incógnita.

Era essa, portanto, a nuvem de incerteza que pairava sobre Brynwald, uma sombra agourenta do passado...

E do que ainda estava por vir.

Em pouco tempo, o clima se tornou cinzento e ameaça­dor, frio, úmido e turbulento. Os mares tornaram-se bravios, jogando suas ondas imensas contra as rochas da costa. Tempestades violentas se formavam no céu, libertando uma torrente de chuva e vento.

Foi em um dia assim que o som abafado de um choro chegou aos ouvidos de Alana. Tinha acabado de amamentar Geoffrey e o embalava para fazê-lo dormir. Uma rápida espiadela revelou uma baba de leite no canto da boquinha, enquanto os olhinhos se fechavam. Depois de beijar a testa do filho, ela o colocou no berço-e saiu pé ante pé.

Inspecionou o corredor nas duas direções. O som sur­giu novamente, vindo do quarto de Geneviève. Preocupada, Alana caminhou até o cômodo.

Bateu à porta da cunhada e a chamou.

— Geneviève? Sou eu, Alana.

Não houve resposta. Alana hesitou e então empurrou a porta. Geneviève estava sentada na cama. Ela ergueu o rosto, aparentemente sobressaltada com a intrusão.

Alana fechou a porta e deteve-se, tanto envergonhada quanto consternada.

— Perdoe-me a invasão — murmurou. — Mas eu bati e ninguém respondeu.

— Não escutei. — Geneviève enxugou os olhos, tão enver­gonhada quanto Alana. Tentou sorrir, mas não conseguiu.

Mais uma vez, Alana hesitou. Mas por pouco tempo. Em um segundo, atravessou o quarto e se ajoelhou diante de Geneviève.

— Precisa me dizer o que a faz chorar, cunhada — pediu, gentilmente.

— Não sei se posso. — Geneviève evitou fitá-la. Alana segurou as mãos da amiga.

— Vou entender, se não quiser me contar. Mas talvez con­siga alívio no coração, se conversar sobre o que a perturba.

— Promete que não vai contar a ninguém?

— Prometo — Alana jurou, solene.

— Nem mesmo para Merrick?

— Nem para ele, se é assim que deseja. —Alana apertou-lhe as mãos. — Geneviève, vou ajudá-la, se eu puder.

Os olhos da normanda se encheram de lágrimas.

— Não há nada que possa fazer, Alana. É... Radburn, entende?

— Radburn?

De repente, tudo foi despejado de uma só vez.

— Eu... vim para cá com o objetivo de ficar perto de Simon — Geneviève confidenciou, um tanto chocada. — Nunca imaginei que fosse me apaixonar...

Alana ficou pasma.

— Radburn? Está apaixonada por Radburn?

— Estou — Geneviève assentiu. Alana ainda estava perplexa.

— Quando aconteceu?

— Tudo começou quando tratei dele após o confronto no vilarejo. Na segunda noite, a febre ascendeu. Ele acordou e parecia fora de si. — O rosto de Geneviève corou. — Alana, ele me chamou de beldade e... me beijou. Eu não o impedi. Aliás, foi uma experiência maravilhosa, porque ele despertou dentro de mim uma paixão que não posso mais negar.

— O que aconteceu depois? — Alana a encorajou. Geneviève respirou fundo.

— Tentei esquecer o que ele tinha feito, mas não conse­gui. Eu relembrava a todo momento e almejava que acon­tecesse de novo. E... Oh, é tão ridículo! Eu mudava meu caminho só para poder espiá-lo de longe. Então, certo dia, tivemos a chance de ficar a sós. Esse tipo de encontro ocor­reu várias vezes até que Radburn confessou que se lembrava do beijo. E então tudo se repetiu. Não consegui lutar contra meu desejo. Tampouco ele.

Resignada, ela suspirou.

— Jamais imaginei que pensaria em outro homem depois de Philippe. Mas com Radburn não consigo deixar de sen­tir... Oh, são tantas coisas que nunca pensei em sentir nova­mente. Alana, nós nos encontramos atrás da cozinha todas as noites.

A mente de Alana trabalhava sem cessar.

— Mas por que isso é tão terrível? — Um pensamento repentino lhe ocorreu, o que a fez indignar-se. — Ele a des­prezou? Oh, aquele safardana...

— Não — Geneviève negou, mas continuava trêmula. — Eu o vi esta manhã. Alana, Radburn quer terminar o relacio­namento e não suporto imaginar minha vida sem ele.

— Mas por quê? Se você o ama...

— Amo! — Geneviève reprimiu o choro. — E ele me ama. Mas está convencido de que não há esperança para nós.

— Por quê?

— Porque ele não é mais um cavaleiro. Porque não tem nada a me oferecer. Trata-se de um homem de honra e princí­pios, Alana. Radburn diz não quer me denegrir, caso eu quei­ra me casar outra vez.

Somente agora Alana começava a entender. Talvez no passado Radburn se sentisse em pé de igualdade com a nobre que viera do outro lado do Canal, mas infelizmente não seria mais possível. Um certo amargor invadiu a alma de Alana. Os normandos tinham arrancado os ingleses de seus lares e de suas terras. Além das posses, Radburn também havia per­dido tanto a posição quanto a dignidade.

Ainda assim, Alana não podia fomentar nenhuma malícia contra Geneviève. Amava a cunhada como uma irmã e não suportaria vê-la infeliz.

— Não se desespere. Radburn ainda pode mudar de ideia.

— O orgulho de um homem é sua força maior, como tam­bém seu maior inimigo — Geneviève proclamou, triste. — E não seria bom que ele mudasse de ideia. Merrick jamais permitiria uma união entre nós.

— Por quê? Porque Radburn é saxão? — Alana indagou, inflamada. — Ele se casou com uma saxã. Por que você deve­ria ser condenada por fazer o mesmo que Merrick?

— É diferente com o homem, Alana. Ele pode fazer o que deseja sem precisar agradar ninguém, a não ser ele mesmo... e talvez o duque Guilherme. — Ela se levantou e caminhou até a janela.

Comovida, Alana sentiu o coração de apertar ao ver que a postura de Geneviève, outrora altiva, agora era desoladora.

E, infelizmente, não foi capaz de esquecer o assunto. No dia seguinte, quando teve a oportunidade de ver Radburn sozinho perto da horta, ela correu até ele.

Talvez o saxão soubesse o que Alana pretendia, pois se ela não o tivesse chamado, Radburn teria partido.

— Espere, Radburn! Quero falar com você. Ele se virou devagar.

— É mesmo? — indagou, frio.

— É. Quero lhe falar sobre Geneviève. Radburn ficou tenso.

Somente agora Alana percebia que sua tarefa poderia ser vã. Dada a expressão endurecida do cavaleiro saxão, descon­fiava de que ele não aprovaria a intromissão.

— Sei que deve estar pensando que estou me metendo onde não devo — Alana disse. — Mas Geneviève é muito querida e não quero vê-la magoada.

Radburn apertou o cabo da foice que segurava.

— Ela lhe contou.

— Contou, sim. Só tenho uma pergunta, Radburn. Você a ama?

— Amo — ele respondeu sem hesitar.

— Então por que não faz tudo que está ao seu alcance para ficarem juntos?

— Tudo que está ao meu alcance? — Radburn gargalhou. — Não preciso lembrá-la, Alana, de que sou um escravo, um escravo de seu marido.

A culpa a mortificou.

— E se essa condição pudesse mudar?

— Não vai mudar. Fiquei sabendo que meu pai está mor­to e que seus bens agora estão nas mãos dos normandos. Não sou livre para traçar meu destino como outrora fui. Estou ligado a Merrick tanto quanto você. Não mais empunho uma espada e sim as ferramentas de um fazendeiro. — Ele torceu os lábios. — Não uso correntes, mas ainda sou um escravo. Não sou um homem de honra, sou um homem do campo.

Alana meneou a cabeça.

— Radburn, não insista com essa tolice, porque é fato que vai fazê-la sofrer. Ela já perdeu o homem que amava uma vez. Quer que Geneviève viva a mesma tristeza?

— Se eu pudesse, daria a Geneviève tudo o que tenho. Mas meus cofres estão vazios, foram saqueados pelos normandos. O que quer que eu faça? Ofereça a ela minha cama de palha no estábulo? Acho que não. Pensei que pudesse entender, Alana. Estou fazendo o que é melhor para Geneviève.

O coração de Alana sangrava. Muito havia sido tirado dele. Suas esperanças e sonhos...

— Você me disse uma vez, Radburn, que devíamos acei­tar os normandos porque não podemos derrotá-los. Aceitei seu sábio conselho e sugiro que faça o mesmo. Isso não sig­nifica que tudo permanecerá como está. Talvez você possa servir Merrick de outra maneira...

Ele se mostrou inflexível.

— Merrick nunca me devolverá minha liberdade e não quero ver Geneviève se curvar como eu. Quero que ela me veja como homem, não como um escravo lamacento de seu irmão normando.

— Geneviève não liga a mínima para posses. Você deve saber disso! Disse que lhe daria tudo que tivesse. Entretanto, ela aceitaria tudo que você é. — Alana tocou o braço dele. — Não se esqueça disso, Radburn. Nem tudo está perdido. Eu lhe peço. Não desista. Ela então beijou o rosto do cavaleiro e retornou ao castelo.

O problema ainda pesou no coração de Alana no decorrer do resto do dia.



E se Radburn recuperasse tudo que havia perdido? A hon­ra. O orgulho.

Só existia um jeito de realizar tal resgate.

Merrick se ausentara o dia todo para supervisionar os tra­balhos no campo. Alana o viu entrar no pátio e entregar seu cavalo a um menino. Preparou-se, enquanto ele subia a esca­da até o hall.

Pediu a uma criada que lhe dissesse que desejava jantar a sós com o senhor do castelo nos aposentos do casal. Para tan­to, ordenou um banho quente e uma refeição farta.

Agora que escutava os passos se aproximando e ficou nervosa. Ajeitou a saia do vestido. O tecido cor de violeta mol­dava a protuberância dos seios. Ela escovou os cabelos e os deixou soltos.

A porta se abriu. Alana se levantou. Naquele instante, antes de ele fechar a porta, notou que Merrick estava cansa­do. Sorriu e deu um passo à frente.

— Parece tão exaurido quanto eu imaginei, meu senhor. Seu banho o aguarda. Também pedi comida e vinho para quando tiver terminado. — A voz soou sôfrega. Mãe de Deus, Alana rezou para que não parecesse tão nervosa quan­to estava.

— Pelo jeito, saxã, você antecipou minhas necessidades. Alana soltou uma risada sonora.

Geoffrey dormia em seu berço quando Merrick beijou a testa do filho. Em seguida, despiu-se e entrou na banheira. Ela traçou com os olhos as linhas dos ombros largos. Sentiu a boca ressecar quando uma fome sensual desabrochou em seu interior.

Semanas haviam se passado desde a última vez em que tinham feito amor. Somente no dia anterior, Geneviève supu­sera que Alana estava bem o bastante para retomar os praze­res do casamento. Sentiu o coração disparar ao imaginar que poderiam recomeçar naquela mesma noite.

Certamente, não era avessa a se encarregar de tal tarefa. A possibilidade de senti-lo dentro de si novamente a fazia estremecer de paixão.

Enfim, Merrick terminou o jantar. Recostou-se, satisfeito, na cadeira e a fitou com tanta intensidade, que Alana desper­tou de seus devaneios

— Tenho o pressentimento, saxã, de que quer algo de mim. Se acertei, fale logo.

Lágrimas tolas ofuscaram-lhe a visão. Alana gritava por dentro. O que acontecera? Por que Merrick se mostrava tão frio? Fazia muito tempo que não agia assim e ela odiava tal comportamento! Não planejara nada disso e, por um instan­te, não soube como proceder. Mas não havia escolha. Tinha de falar logo, como ele ordenara

— Peço-lhe um obséquio, meu senhor — ela disse. Eu gostaria que tirasse Radburn dos campos e o inserisse em seu exército.

— Quer que eu entregue uma espada a ele — Merrick declarou em tom mortal.

— Sim. Acredito que ele lhe servirá a contento.

Um manto silencioso os encobriu. Merrick apoiou as mãos na mesa e se levantou. Alana não tirava os olhos dele. Sentiu um aperto no peito ao perceber a tensão que crescia entre ambos.

E sabia, de alguma maneira ela sabia, que Merrick estava dominado por uma raiva insana.

E estava mesmo. Ele vira, sua adorada esposa, tocar mui­to gentilmente o braço do saxão e testemunhara o beijo adocicado ao extremo no rosto do homem.

— Deus do céu, eu não acredito! — ele explodiu. — Quer que eu ponha uma espada na mão dele. Claro, e logo depois encontrarei uma adaga em minhas costas! Mas isso lhe é con­veniente, não é, saxã?

As mãos de Alana se contorciam em seu colo. Estava à beira das lágrimas e odiava a si mesma e a Merrick por ape­lar para tamanha fraqueza.

— Lógico que não! Por que não vê a realidade? Radburn não lhe deu nenhum problema todos esses meses. Não foi fei­to para trabalhar no campo. Foi treinado para ser um cavalei­ro, como você, Merrick. E é isso que ele deveria ser!

— Você o defende arduamente, saxã. Posso saber por quê? Posso saber qual é a natureza do beijo que partilharam?

Por um instante absurdo, Alana ficou boquiaberta.

— Não partilhamos nada...

— Partilharam, sim — Merrick a interrompeu, furioso. — Vi quando tocou o braço dele e o beijou.

Alana desprezava o rubor que agora aquecia-lhe as faces.

— Eu só o confortei...

— Por que ele precisava de conforto? Seu conforto, devo acrescentar.

A verdade quase saiu dos lábios de Alana, mas havia prometido a Geneviève que não trairia seu segredo. Viu-se tomada pela mágoa já que ele pensava tão mal da própria esposa.

— Você se recusa? — Alana o enfrentou. — Vai mantê-lo nos campos?

— Vou!

— Você se recusa só porque eu estou pedindo! — ela exclamou, quase aos prantos.



— Recuso-me porque sou o senhor aqui, saxã. Eu me lem­braria disso, se fosse você. Agora preste muita atenção — Merrick a encarou. — Se eu a vir com Radburn, vocês dois vão se arrepender. Isso eu prometo. Juro por Deus.

Ultrajada, ela se levantou.

— Como fui tola por esquecer! Meu dever é agradá-lo, não é?

— Seu dever e suas afeições pertencem a mim, seu senhor e marido. E, pelo jeito, você precisa ser lembrada disso, saxã.

Os braços fortes a agarraram e a pressionaram contra o tórax musculoso. Alana abriu a boca para protestar, mas não teve chance. Notou o brilho de ódio nos olhos azuis antes de Merrick a beijar com fúria.

O grito se calou dentro de sua garganta. O beijo não foi a carícia suave de que ele era capaz, mas sim um castigo. Embora não a machucasse, Alana sentia a raiva reverberar pelos corpos de ambos.

Lutando para se libertar, virou o rosto e o empurrou.

— Não! Chega!

Merrick ergueu o rosto, tão sombrio quanto a noite.

— Está me rejeitando outra vez, saxã?

— Estou — ela confirmou, profundamente magoada. — Não rejeitaria o homem que é meu marido, pai de meu filho. Mas rejeito o homem que se proclama meu senhor e conquis­tador.

Ele a pegou com uma violência que lhe roubou o ar dos pulmões. Os dedos morenos apertavam com força os braços de Alana. Um gemido emergiu em sua garganta quando o viu abaixar a cabeça.

Mas o beijo doloroso que esperava receber não se deu. Por um longo momento, apenas se olharam. Alana não sabia decifrar que emoções o rosto de Merrick revelava.

Com um grunhido abafado, ele se afastou.

Então restou apenas o som das batidas frenéticas do cora­ção de Alana em seus ouvidos. A tensão anulara a coragem e esgotara suas forças. Ela se sentou no chão, desesperada.

Nada havia mudado, percebeu com extrema clareza. Era sua esposa, mas Merrick ainda não confiava nela. E, para piorar, era ainda seu senhor e conquistador.

Ela não significava nada para Merrick, nada mesmo.

Capítulo XXIII

Talvez a briga tivesse sido inevitável. Mais tarde, quando percebeu que Merrick não voltaria ao quarto, Alana con­tatou a triste verdade. E, naquela noite, seu sonho ressurgiu. Era o mesmo sonho, porém, diferente...



Tudo estava envolto pela escuridão, um infinito mar de negritude. O odor de sangue pairava no ar. Gritos ecoa­vam. De súbito, trovões e raios irromperam no céu. Do alto, ela viu a si mesma, paralisada em meio ao terror e ao demo­níaco. Então estava dentro de si outra vez. Seus pés começa­ram a se mover. Seu coração batia acelerado. Ela corria... de algo... não, de alguém.

Havia corpos por todos os lados. Normandos, saxões... e homens do norte.

Alana abriu os olhos. Sentou-se e levou a mão à testa. Uma sensação nauseante de medo a invadiu até que a com­preensão se deu.

— Dinamarqueses — murmurou.

Uma figura soltou um grito estridente e recuou. Era a criada que tinha acabado de entrar para acordar sua senhora.

— Não! — Alana exclamou. — Não tenha medo de mim. Você não vê? Os dinamarqueses! Eles virão para Brynwald. Vão nos atacar e...

Com outro grito, a mulher correu porta afora.

Ao entardecer, todos comentavam como Alana recebera a visita de outra visão e estava convencida de que os dinamar­queses atacariam.

Após uma semana, todos a tachavam de louca.

Merrick estava mais furioso que nunca.

E, para aumentar ainda mais o desespero de Alana, tudo voltou a ser como era. As atitudes do marido mostravam-se frias e remotas. Ele voltou a dormir no quarto, mas viviam distantes. Nenhuma palavra terna, nenhum esforço para rea­vivar a paixão que fluía tão maravilhosamente entre ambos. Os nervos de Alana estavam à flor da pele, pois cada vez que se encontravam o ar tornava-se carregado como a fúria de um trovão.

Certa manhã, sozinha no cômodo, Alana permaneceu na cama, amamentando Geoffrey. Traçou a curva minúscula da orelhinha. Um sorriso tocou seus lábios. Eleja se assemelha­va muito ao pai e em temperamento também. Era exigente e queria tudo a sua maneira. Mas cresceria para se transformar em um homem garboso, forte, valente e orgulhoso.

Um som nas proximidades a alertou da presença de mais alguém. Merrick achava-se à soleira da porta, tão alto e impo­nente que lhe roubou o ar. Contudo, Alana sentiu um aperto no coração, porque nunca o vira tão indiferente como naque­le momento.

Por instinto, cobriu os seios com o lençol. Com aquela postura distante, ela não se sentia à vontade para se expor diante dele.

De semblante enrijecido, Merrick não perdeu tempo em ir direto ao ponto.

— Planejo passar o dia caçando, saxã. Sugiro que apro­veite esse tempo a fim de empacotar suas coisas. Você e Geoffrey partirão para Londres amanhã.

Alana o encarou, espantada.

— Londres? Você também irá?

— Não.


Uma dor imensa a assolou.

— Por que vai me mandar embora?

— Os aldeões a temem, Alana — Merrick respondeu, impaciente. — Quero garantir sua segurança.

— Minha segurança! Está mentindo, Merrick. No fundo, quer se livrar de mim. — O grito soou como uma mistura de ultraje e medo. Ela fez menção de se levantar, mas lembrou-se de que Geoffrey ainda estava em seus braços.

— Não vai ficar sozinha — ele comunicou. — Geneviève a acompanhará. — O tom de voz determinado foi evidente. Merrick se virou e saiu.

Alana, porém, não aceitaria a decisão tão humildemente. Levantou-se e acomodou Geoffrey no berço. Embora o bebê começasse a chorar, ela correu atrás de Merrick, como se Satã em pessoa a perseguisse.

Ela o alcançou no pátio, pouco antes de ele montar em seu cavalo negro.

— Merrick, e quanto aos dinamarqueses? Precisa acredi­tar em mim. Sei que eles virão e logo! Tem de preparar os soldados para a batalha...

— Pare com essa encenação, Alana! Está bancando a tola — ele explodiu.

Por trás dela, alguém escarneceu.

— Não ligue, senhor. É apenas um truque. A bruxa quer nos cegar para a verdade: ela matou padre Edgar. E agora tenta nos confundir, dizendo que os dinamarqueses virão.

Furiosa, Alana se virou.

— Zombem quanto quiserem, todos vocês! Mas estou cer­ta de que eles virão. E lamentarão não terem se preparado.

— Está louca — o homem ao lado do primeiro comentou.

— Uma bruxa louca!

Merrick deu um passo à frente.

— Basta! Não quero ouvir mais nada! — Ele encarou os dois com tamanha ira que os homens recuaram. Quando se voltou para Alana, agarrou-a pelo braço e a conduziu para o hall, onde podiam conversar em particular.

— Merrick, eu lhe imploro. Não faça isso. Não me man­de para Londres.

Ele a encarou sem emoção.

— Pede com tanta ternura, querida, que me deixa curio­so. Por que está tão determinada a permanecer em Brynwald? Não suportaria ficar longe de mim? Ou seria de seu charmo­so saxão?

Alana enrijeceu o corpo. Maldito!, pensou. Naquele ins­tante, quase o odiou. Odiou a arrogância, o poder que tinha sobre seu destino.

— Está enganado a meu respeito — ela declarou. — E também se engana em relação a Radburn. Aliás, parece ter esquecido que ele defendeu sua irmã...

— Ele também a defendeu, querida — Merrick rebateu. — Não nos esqueçamos disso.

Ela o segurou pelo braço.



Como pode fazer isso?, gritou em silêncio. Sempre será você... somente você... não sabe que eu o amo?

Mas nada disso seria verbalizado. Alana também não der­ramaria lágrimas, não suplicaria ou apelaria. Não valia a pena. Merrick não a amava, percebeu com pesar. Logo, nun­ca acreditaria que ela o amava.

E, pelo que tudo indicava, ele tampouco a queria.

Lágrimas marejaram seus olhos. Preservando a pouca dignidade que lhe restava, ergueu o queixo.

— Já lhe ofereci toda segurança que eu podia, Merrick. Tenho sido fiel a você de todas as maneiras. Nunca o traí, embora pense o contrário. Vou, então, pedir-lhe mais uma vez. Não me mande para Londres.

— É em você que estou pensando, saxã. As pessoas estão desconfiadas demais. Alguns problemas não se resolveram ainda e a hostilidade aumentou.

— E quanto a você? Acredita que matei padre Edgar?

Por um instante, ela temeu que Merrick não fosse respon­der ou talvez não desejasse escutar a resposta.

— Não. Não acredito — ele finalmente disse.

— Então, responda à outra pergunta. Os outros me acham louca. Você concorda com eles? Sou uma bruxa louca?

Merrick permaneceu em silêncio. Nesse ínterim, Alana percebeu a amarga verdade. Viu nos olhos dele o que jamais pensou em ver, algo que não conseguiria suportar. A dúvida.

A postura continuava inflexível, porém, quando ele se manifestou, disse o que ela não esperava ouvir.

— Talvez seja. Meu Deus, eu não sei de mais nada! Só sei que esses sonhos não fazem sentido.

Quando Alana fez menção de contestar, Merrick a impediu.

— Não, saxã! Tenho de lembrá-la de sua tolice? Em seu sonho eu empunho a espada para matá-la. No entanto, eu jamais a machucaria! Está protegida em meu domínio. — Ele comprimiu os lábios. — Não acredito que seus sonhos prevejam o futuro.

A fria declaração a dilacerou. Ciente de que Merrick a observava, Alana respirou fundo e engoliu a dor.

— Não importa o que pensa de mim, Merrick. Só sei que meu sonho previu um evento importante. Brynwald está sob a ameaça de um ataque. Não ignore isso.

— Conversaremos mais a esse respeito quando eu voltar, saxã. Nesse meio tempo, sugiro que arrume seus pertences para a viagem a Londres.

Os ombros de Alana penderam. Então era verdade. Merrick também a julgava louca, como os demais. Seu coração come­çou a despedaçar. Como conseguiria conter as lágrimas, ela não sabia. Podia suportar a condenação de todos que conhe­cera a vida toda, mas não de Merrick.

Ele se virou e saiu. Nem sequer se dignou a olhar para trás. Deixou-a sozinha, mais solitária do que nunca.

Raoul devia ser o único a não duvidar da predição de Alana quanto ao ataque dos dinamarqueses.

Escondido em um canto escuro, sorriu ao escutar a briga entre ela e Merrick. Esfregou as mãos, animado. Lembrou-se do exato momento quando, dias atrás, concebera seu pla­no mirabolante.

Merrick lhe ordenara que levasse uma mensagem a Robert, um camarada normando que administrava um feudo enorme a norte de Brynwald. Após cumprir a missão, resolvera pas­sar a noite em uma cervejaria antes de retornar ao castelo.

Enquanto jantava, notou um jovem a sua frente. Ele usava chapéu, botas e um traje que Raoul não reconhecera. O rapazola se aproximou de soldados normandos que ocupavam a mesa ao lado. O garoto movia a cabeça, parecendo escutar muito atentamente.

Tal comportamento despertou a desconfiança de Raoul. Momentos depois, quando o jovem se retirou da cervejaria, Raoul o seguiu.

— Espere, rapaz! — gritou do lado de fora. O jovem parou e se virou.

— Quem é você? — Raoul perguntou.

Os olhos do garoto brilharam, mas ele nada disse.

— Eu o vi com aqueles soldados — acusou-o. — Agora me responda! — Ao notar que o rapaz permaneceria calado, Raoul se irritou e arrancou o chapéu do jovem. Cabelos cor de palha tombaram em todas as direções. — Maldição! Você é dinamarquês?

Novamente, o rapazola não disse nada. Sem paciência, Raoul segurou-lhe o braço e o torceu nas costas do supos­to dinamarquês.

— Se valoriza sua vida, diga-me quem é — ameaçou. — E não finja que não me entende, porque sei que fala meu idioma. Do contrário, não estaria aqui.

O garoto se curvou de dor.

— Meu nome é Dagnor, filho de Rasmus, o Justo.

Raoul não o soltou.

— E por que está aqui? Para espionar?

— Sim! Meu pai me enviou para descobrir quem são os senhores ricos da região.

Os olhos de Raoul começaram a cintilar. Permitiu que o dinamarquês se erguesse, mas não soltou o braço dele.

— Vai reencontrar seu pai agora? Dagnor assentiu.

— Quero que me leve até ele, garoto.

— Por quê? Raoul riu.

— Porque posso ajudá-lo a encontrar o que procura. Um senhor rico e... sua vida, menino.

Relembrar aquela noite originou uma potente satisfação. Ele sorriu, ansioso. Tudo o que sonhara agora estava prestes a obter. Brynwald e Alana.

Na verdade, conquistaria seus desejos naquele mesmo dia.

Mesmo quando o sol despontou no céu azul, o humor de Alana continuava depressivo. Com a ajuda de Geneviève, passou a maior parte do dia se preparando para a jornada.

Embora quisesse, no fundo, desafiar o marido, sabia que Merrick faria tudo a seu modo, a despeito dos desejos da esposa.

Ao final da tarde, depois de amamentar Geoffrey, Alana o colocou no berço e chamou uma criada para ficar com ele.

Precisava afastar-se do mundo que dela judiava. Logo, resolveu refugiar-se onde sempre encontrava a solidão neces­sária: nas rochas da praia.

Enquanto lá caminhava, sentia o vento marítimo soprar em seus cabelos, saias e rosto. Pensava em Merrick e tudo o que havia entre eles...

E em tudo o que não havia.

O som de seu nome a despertou do devaneio desespera­do. Imaginando que poderia ser Merrick, ela se virou, espe­rançosa.

Infelizmente, era Raoul. Ele parou diante de Alana, com as mãos na cintura, uma postura de suprema arrogância.

— Deixe-me passar — ela ordenou, endireitando os ombros.

— Acho que não, meu amor.

— Não sou seu amor, Raoul — Alana retrucou.

— Mas vai ser.

O sorriso que ele expressou foi tão selvagem, que Alana sentiu um arrepio gélido percorrer sua coluna. Mas antes que pudesse decifrar o presságio, Raoul sorriu ainda mais.

— Lamento dizer, mas sua predição estava incorreta, meu amor. Os dinamarqueses não vão chegar — declarou, seguro de si. — Eles já estão aqui.

Um por um, meia-dúzia de homens surgiu atrás de Raoul. Os cabelos estavam sujos e despenteados e as barbas obscureciam o rosto deles. Vestindo peles de animais, para os olhos espantados de Alana, eles pareciam gigantes.

Tomada pelo pavor excessivo, ela emitiu um grito sem som. Se ao menos seus sonhos a tivessem enganado... Se seus olhos também a ludibriassem...

Raoul não mentia. Eram mesmo os dinamarqueses.

Embora Merrick adorasse caçar, não conseguia se entu­siasmar com o esporte naquele dia. A bem da verdade, estava enervado com a orgulhosa saxã que esposara. Ela testava sua paciência e o provocava como ninguém mais.

Foi então que se viu obrigado a encarar a dura realida­de: não era com Alana que estava bravo. Era consigo mesmo porque não conseguia esquecer a mágoa explícita nos olhos grandes e verdes. A acusação infundada ainda martelava em sua mente.



Talvez seja louca.

Um peso amargo enegreceu seu coração. A consciência o atormentava. Havia magoado Alana imensamente. Deus, não sabia o que acontecera consigo próprio! Seu humor andava péssimo, como se o diabo em pessoa o assombrasse.

Nunca deveria tê-la abrigado em sua casa. Ou dormi­do com ela. Ou tocado aquele corpo. Ou a amado tão inten­samente. Mas ele não conseguia imaginar nenhuma outra mulher em sua vida.

Em seu coração.

Uma dor dilacerante o invadiu. Tinham um filho que os uniria pela eternidade. Não duvidava de que Alana amasse Geoffrey. Contudo, desejaria ela que o bebê fosse do garboso saxão?

Merrick bufou, grato por Simon ter saído para pegar o coelho que ele matara.

Desprezava a dúvida que o atormentava. Não suportava sequer pensar em Alana com Radburn. A amargura tomava conta de sua alma. Lamentaria ela tudo que a levara aos seus braços? A sua cama?

Lembrou-se de como os lábios rosados roçavam os dele, como os quadris se moviam no calor da paixão. Ora, Alana não responderia com tamanho ardor, se estivesse pensando em outro homem. Claro que não.

Merrick olhou a distância, onde os desfiladeiros tomba­vam no mar tempestuoso. Uma brisa forte trazia a essên­cia de sal. A predição de Alana o importunava. Invasões dos dinamarqueses não eram raras naquela costa da Inglaterra, mas ninguém seria tolo a ponto de enfrentar o mar bravio no início do inverno.

Simon se aproximou, exibindo o prêmio. Foi nesse momento que uma estranha sensação o assolou. Algo estava errado, Merrick pensou. Algo estava muito errado.

— Simon, temos de voltar a Brynwald!

Ao ver a expressão feroz do tio, Simon assentiu. Uma nuvem de terra se formou atrás deles.

Merrick ficou atento ao horizonte. A noite chegaria em breve. Desejava mais do que nunca estar enganado. Enquanto se aproximavam rapidamente do castelo, rezou para que tudo estivesse como antes. As criadas começariam a preparar o hall para a ceia da noite. Alana se acharia no quarto, amamentando o faminto Geoffrey.

Mas não encontrou o que esperava em Brynwald. O caos reinava com supremacia. As pessoas em pânico corriam em todas as direções. Merrick desceu do cavalo e começou a avaliar aquele frenesi.

O leiteiro da aldeia se ajoelhou aos pés dele.

— Meu senhor — ele gritou. — Meu filho avistou barcos dinamarqueses chegando à praia a norte de Brynwald. Temos de nos defender!

— Sim! — outro berrou. — Deveríamos ter escutado sua senhora, porque ela estava certa. Que Deus a proteja!

— Se fosse mesmo uma bruxa — uma jovem criada disse —, ela faria apenas maldades a nós. Mas lady Alana tentou nos alertar... ela quis nos salvar!

— Pensei muito no que o senhor disse certa vez — a lavadeira ponderou. — Lady Alana nunca fez mal a ninguém. Acho que erramos ao julgá-la com tanta severidade!

Merrick os ouvia, mas sua mente estava ocupada com outro assunto. No espaço de um segundo, olhou diretamen­te para Radburn próximo à porta da cozinha. Aquela invasão seria um mero ardil? Uma armadilha saxã para apanhar os normandos conquistadores?



Não, refletiu. Sua intuição dizia que não estavam men­tindo. Estavam corretos. Os dinamarqueses não tinham vin­do em missão de paz. Tinham vindo para saquear e incitar uma guerra.

Ele ergueu o braço e chamou um de seus homens.

— Você! Prepare os cavalos! — Merrick continuou a ditar ordens, mas, ao mesmo tempo, sua mente trabalhava sem ces­sar e seus olhos vistoriavam a multidão à procura de Alana.

Onde ela está? Jesus cristo, onde ela está? Alguém o segurou. Era Geneviève.

— Onde está Alana? Você a viu, irmã?

— Não, Merrick! — Geneviève estava apavorada. — Eu a procurei em todos os lugares. Ela deixou Geoffrey com uma criada e foi caminhar na praia. Mas isso foi há horas. Mandei um homem atrás dela, mas ele não a viu! — Ela soltou um soluço. — Oh, Merrick! Alana não deixaria Geoffrey sozinho por tanto tempo. Aconteceu alguma coisa, eu sei!

Merrick foi incapaz de dar voz a seu medo mais profundo: que Alana poderia ter caído nas garras dos dinamarqueses.

— Vou encontrá-la. — Ele apertou as mãos da irmã. — Prometo. Agora vá para dentro, onde é mais seguro.

Geneviève correu para o hall. Merrick, entretanto, não viu o olhar expressivo que ela trocou com Radburn. Quando se virou, o cavaleiro saxão estava diante dele, alto e orgulhoso.

— Entregue-me uma espada, homem. — Radburn o fitou nos olhos. — Vou lutar por... Brynwald. Pela Inglaterra. Por todos nós. E os demais também irão. — O cavaleiro apontou um grupo de saxões reunidos atrás dele. — Somos soldados bem treinados como os seus homens. Se combinarmos nossas forças, conseguiremos derrotar os dinamarqueses.

A decisão de Merrick foi tomada em um instante. Ele cha­mou Simon.

— Dê uma arma a este homem — ordenou. — E aos outros saxões também.

— Eles chegaram! — alguém gritou. — Os dinamarque­ses pagãos chegaram!

Tudo cessou. O mundo inteiro pareceu prender a respira­ção por um brevíssimo instante. Então, trazido pelo vento, um grito de guerra reverberou no ar.

Mesmo ao puxar a espada, um medo acre fluiu em suas veias. Em silêncio, Merrick entoava repetidas vezes a mesma oração. Rezava para que Alana estivesse viva e segura.

Ele rezou com fervor.

O estrondo que se deu foi vicioso e sanguinário. Logo no início, a sorte parecia estar contra Merrick. Quando um dina­marquês caía, outro surgia para tomar seu lugar.

Mas os normandos e, sim, os saxões estavam determina­dos a não sucumbir aos invasores bárbaros do norte. Pelo ar da noite ecoavam os sons da batalha. Gritos dissonantes e guturais saíam das gargantas de todos os que lutavam, jun­to com o impiedoso estampido do choque de espadas, lanças e machados.

Tarde da noite houve um período de calmaria. Os berros diminuíram. Normandos e saxões recuperavam o orgulho de guerreiro e renovavam suas forças. Sobre seu corcel negro, Merrick limpou o suor da testa. Sob o elmo, seu olhar esqua­drinhava o combate. A vitória era iminente. Podia senti-la em seus ossos.

Fechou os olhos e permitiu que a mente se conectasse ape­nas aos sentidos. Como se uma força desconhecida o guiasse de longe, abriu os olhos e virou a cabeça.

Foi do mesmo jeito que acontecera antes. Cedric estava sentado a poucos metros, movendo o rabo, orgulhoso e alti­vo como sempre.

Enredado por aquela força desconhecida, Merrick esporeou o cavalo. Parou diante do gato e se inclinou sobre a crina do animal.

— Cedric — disse em voz baixa. — Leve-me até sua dona.

Merrick podia jurar que uma mensagem silenciosa passou entre eles. Cedric ficou em pé, enquanto o fitava com inten­sidade. No minuto seguinte, o gato disparou em direção aos penhascos.

Determinado, Merrick galopava logo atrás dele.

Horas se passaram desde que Alana fora capturada. Depois de amarrá-la com cânhamo, Raoul a colocou em uma caver­na pequena com um dinamarquês gigantesco para vigiá-la. Então ele e os outros se foram.

A aliança entre Raoul e os bárbaros a enojava sobrema­neira. Mas, a despeito do ódio por Raoul, Alana temia muito mais por aqueles a quem amava.

O som da batalha ainda podia ser escutado ao longe.

Gelada até os ossos, tentou conter o desespero. O combate vinha acontecendo havia horas. Tremia só de pensar naque­les que caíam com o golpe de uma espada ou da lâmina de um machado. Estaria Geoffrey em segurança? E Geneviève e Sybil? Oh, a boa normanda ficaria arrasada se algum mal ocorresse a Simon!

E Merrick? Ainda estaria vivo? O coração de Alana sangrava.

Oh, Deus, por favor, proteja-o...

— Pensou que eu a tivesse esquecido?

Raoul tinha voltado. Estava em pé à entrada da caver­na com um sorriso nos lábios finos. Alana o encarou com desprezo.

— Ora, pare com isso, amor. Vamos tirar essas amarras. Ele se ajoelhou. Alana repudiou o toque de Raoul, mas ficou grata com a dose de raiva que aquecia suas veias.

— Você levou os dinamarqueses a Brynwald, não?

— Oh, tive muita sorte com a chegada deles. Mas devo admitir que, quando me reuni com o líder dinamarquês, Rasmus, dias atrás, precisei convencê-lo de que Brynwald valia sua atenção.

Quando o cânhamo cedeu, Alana esfregou os pulsos;

— O que espera ganhar, Raoul?

— Muitas coisas, amor. — Ele riu. — Muitas coisas mesmo.

— Você traiu seu povo — Alana o acusou. Ficou tão furiosa que a voz falhou. — Os dinamarqueses são bárbaros. Não pouparão ninguém. Irão atear fogo em qualquer coisa...

— Não, amor.

— Que tipo de negociação você fez com eles? — Alana indagou, desconfiada.

— Rasmus fará o que eu jamais ousaria: matar Merrick. Na verdade, seu marido já deve estar morto. Depois vão pilhar e saquear quanto quiserem, mas não importa. Os dinamarqueses se satisfazem com pouco. Na verdade, têm mais fome de sangue que de riquezas. Roubarão algumas bugigangas e partirão.

— E deixarão um rastro de sangue por onde passarem. Raoul deu de ombros.

— Depois que forem embora, Brynwald será só meu. — Ele acariciou o rosto de Alana. — E você também, amor.

— Seu patife! — Ela o repudiou. — Arderá no inferno...

— Chega! — ele ordenou. —- Não farei nada além do que Merrick fez a seu pai e o duque Guilherme à Inglaterra. Tomarei o que os fracos não conseguem defender. — Raoul se levantou e a puxou com força. — Está na hora de nos jun­tarmos aos vitoriosos.

Ele a arrastou. Alana tropeçava e quase caiu algumas vezes, enquanto atravessavam a trilha rochosa dos penhascos.

O odor de chuva invadiu o ar. O vento começou a asso­biar e nuvens cinzentas se formavam no céu. Um trovão fez a terra estremecer.

Raoul só parou quando chegaram a uma pequena colina, próxima aos portões. A batalha se expandia para além das paliçadas de Brynwald. Arrasada, Alana se jogou no chão, ao ver corpos caindo como estacas sob uma tempestade.

Pouco à frente, Raoul assistia à trágica cena que ocor­ria logo abaixo. Um gosto amargo invadiu a boca de Alana. Lutava contra a sensação de impotência a cada grito que reverberava pelo ar.

De repente, algo caiu em seu colo, uma bola de pelos ama­relos. Cedric! Os olhos sagazes do gato a fitaram. Foi estra­nho, mas algo pareceu acender entre ambos. Cedric pulou e correu. Então parou e olhou para trás, como se a chamasse.

Com o coração em disparada, Alana se levantou deva­gar. Começou a recuar, sem tirar os olhos das costas de Raoul. Suas pernas tremiam. Quando se viu a uma distância considerável, de onde ele não poderia escutá-la, virou-se e correu, como se fosse perseguida por demônios.

E talvez os demônios a perseguissem mesmo, porque Alana havia subestimado Raoul. Ouviu um grito insano atrás de si. Olhou por sobre o ombro e o viu puxar a espada.

O terror a consumia. Por um instante, ficou paralisada...

Tudo ao redor havia enegrecido. Parecia ainda mais negro que as profundezas do inferno. Sombras disformes se moviam a esmo e tentavam agarrá-la com longos dedos agourentos.

Ela sentiu... alguma coisa. Algo demoníaco. Uma nítida sensação de perigo, tão pesada e espessa quanto as sombras, pairava no ar.

O vento soprava sua fúria. Raios cruzavam o céu, labaredas de luzes avermelhadas. Um trovão reverberou, fazendo o solo estremecer sob os pés dela. Gigantescas poças de sangue emergiam na terra. O ar estava empestado com o forte odor de sangue coagulado e destruição.

Desesperada, ela corria. Seu coração batia freneticamente. Passos a perseguiam.

Corria às cegas, cercada pela escuridão, dominada pelo perigo. Sombras monstruosas a espreitavam. O espectro da morte perscrutava. Aproximava-se tanto que ela mal conse­guia respirar...

Mas de repente emergiu um vulto. Das sombras eles vie­ram... Homem e animal. Cavaleiro e corcel.

De espada em punho e coberto pela armadura, ele galo­pava sobre o grande cavalo negro. Não tinha rosto, uma vez que seus traços se escondiam atrás do elmo. No céu, os raios luminosos maculavam a negritude; era como se o homem se fundisse à prata.

Lentamente ele ergueu o elmo. Em choque, ela prendeu a respiração. A pálida expressão do cavaleiro mostrou-se tão fria quanto gelo. Atingiu-a tal qual uma punhalada. Então, vagarosamente ele levantou a espada. A arma, apontada para o céu, lá permaneceu por alguns segundos.

Merrick. Seu amor. Sua vida.

Foi então que Alana percebeu o que acontecia. Era seu sonho. Seu sonho agora se tornava realidade.

Uma certeza arrebatadora a dominou. Repreendeu-se por ter sido tão tola, tão cega! Merrick viera não como seu inimi­go, mas sim como seu salvador.



Capítulo XXIV

Raoul ainda estava atrás dela. Quando Merrick a ultrapassou, Raoul avançou sobre ele com um grito de fúria, olhos avermelhados e o desejo insa­no de matar.

A espada de Merrick brandiu e brandiu, rasgando o pei­to de Raoul.

Alana fechou os olhos. Virou de costas e cambaleou, certa de que agora suas pernas cederiam. Quando voltou a abrir os olhos, enxergou Merrick sobre ela com o rosto sujo de terra e molhado de suor.

Em prantos, Alana se jogou nos braços dele. Merrick a envolveu e escondeu o rosto de sua amada para que ela não visse o corpo destroçado.

— Raoul está morto?

— Está — Merrick respondeu, acariciando os cabelos loiros.

Alana finalmente ergueu o rosto.

— Foi ele quem trouxe os dinamarqueses, Merrick. Raoul planejou o ataque a Brynwald. O líder dos bárbaros preten­dia matar você. Quando partissem, Raoul tencionava tomar posse de Brynwald.

— Suspeitei de que algo assim pudesse acontecer quan­do notei que Raoul não estava mais entre meus soldados — Merrick contou.

Lágrimas rolavam nas faces de Alana, mas nem sequer as percebeu.

— Merrick, foi como em meu sonho. Você surgiu na escu­ridão, brandindo sua espada. Perdoe-me. Todo esse tempo, pensei que sua intenção fosse me matar... — A emoção a impediu de continuar.

Merrick tirou as luvas e, com a ponta dos dedos, enxugou as lágrimas. Quando terminou, segurou-lhe as mãos, solene.

— Sou eu quem deve implorar seu perdão porque esta­va certa quanto aos dinamarqueses. Duvidei de você e essa foi minha maior idiotice. — Ele a fitava com gentileza. — Nunca mais cometerei o mesmo erro, querida.

Alana podia jurar que ternura em abundância cintilava naqueles olhos azuis, ternura e algo mais que ela temia nomear. Merrick tocou-lhe o queixo e se inclinou.

O beijo que partilharam foi longo e suave. Alana nem sequer ligou para a armadura que lhe pressionava o peito. Deleitou-se com os braços que a apertavam, como se Merrick nunca mais fosse soltá-la. Quando ele ergueu o rosto, ela se sentiu como um falcão flutuando entre as nuvens.

Somente nesse momento perceberam que os sons de luta haviam cessado. Merrick montou em seu corcel e ergueu Alana para acomodá-la na sela. Recostada no tórax amplo, soltou um suspiro de alívio.

Antes de se aproximarem dos portões, o último dos dina­marqueses já havia fugido. O povo de Brynwald não perdeu tempo em declarar sua vitória. Gritos de triunfo foram ouvi­dos durante horas. Exclamações de alegria ecoaram quando Merrick apareceu com a esposa.

— Ela está viva! — alguém berrou, maravilhado. — Graças a Deus, a senhora do castelo está sã e salva!

Várias pessoas festejaram. Alana ficou boquiaberta. Virou-se, surpresa, para encarar Merrick.

— Santa mãe de Deus, eles devem estar doentes! Merrick sorriu.

— Eu lhe disse, querida. Estava certa quanto aos bár­baros dinamarqueses. Finalmente, o povo percebeu que, embora seja diferente, você não é motivo de chacota ou medo.

O cavalo se deteve diante do grande hall. Alana ainda estava perplexa quando Merrick a ajudou a descer. Ele riu e a beijou nos lábios.

A cabeça de Alana girava quando o marido a levou para dentro. Mas assim que entraram, Merrick se deteve. Ela sen­tiu a tensão dominá-lo. Então, ao ver para onde os olhos furiosos do marido miravam, prendeu a respiração.

Geneviève estava nos braços de Radburn.

Alana pôde sentir a raiva fluir dentro de Merrick.

— Por Deus, vou mandar esse patife para o inferno!

— Merrick, não! — Ela gritou quando viu a mão do guer­reiro pegar a espada. — Geneviève o ama! Escutou? Ela o ama. E Radburn também a ama.

— Não! Uma união como essa não é possível!

— E, sim, irmão. — Finalmente Geneviève os notou. Ela abraçou Alana e voltou a fitar o irmão. Radburn permaneceu onde estava, cauteloso.

— Sugiro que se explique, Geneviève — Merrick ordenou.

Sempre digna, a normanda ergueu o queixo.

— Não há muito o que explicar. Amo Radburn e ele decla­rou seu amor por mim. Pensou em me pedir em casamento, mas o orgulho obstinado o impediu. Aliás — o tom foi cur­to —, já que será o senhor Brynwald, Merrick, ele agora não vai mais trabalhar no campo.

— O quê? — Merrick explodiu. — Ela quer se casar com o homem? Minha irmã com um marido saxão? Não mesmo!

A paciência de Geneviève começou a se esgotar.

— Você se casou com uma saxã — ela apontou. — Além do mais, a decisão não é sua.

Enquanto Merrick a fitava, pasmo, Geneviève prosseguiu:

— Certa vez, eu lhe perguntei se aceitaria Alana em sua cama e não em seu coração. E agora lhe faço a mesma per­gunta. Prefere que eu receba o homem que amo em minha cama e não em meu coração?

Merrick não respondeu. Olhou para Alana.

— Você sabia disso?

— Sabia. — Ela sorriu, sem-graça.

— Radburn é digno de meu amor — Geneviève disse. — Ele também é digno de seu respeito, porque lutou bravamen­te esta noite para que pudéssemos viver. E eu o quero como marido.

Merrick ergueu as mãos, agastado.

— Que assim seja! Vai fazer o que bem entende, a despei­to do que eu disser.

— Vou, sim. — Ela se virou para Radburn, transformada. A felicidade que irradiava ao jogar-se nos braços do amado foi tão cintilante quanto o sol.

Mas antes que Alana pudesse dizer qualquer coisa, um grito agudo de dor ecoou atrás deles.

— Não! Não pode ser! Ele jurou que a mataria. Ele jurou que a mataria.

Era Sybil. Alana e Merrick a divisaram à soleira da por­ta, transtornada.

Em questão de meros segundos, as peças se encaixaram na mente de Alana. Sybil e Raoul. Raoul e Sybil. Deus mise­ricordioso, Raoul e Sybil.

— Não — ela murmurou, pálida. — Oh, Sybil, não...

Merrick ficou rígido. Pelo jeito, havia chegado à mesma conclusão.

— Quem? — ele quis saber. — Foi Raoul? Você e ele planejaram a morte de Alana também?

— Sim — Sybil confessou.

— Raoul está morto — Merrick anunciou. — Eu o matei. — Ele teria prosseguido, mas Alana começou a ofegar.

— Sybil — ela sussurrou. — Você é minha irmã! Como pode me querer tão mal?

Os olhos de Sybil queimavam de ódio.

— Por que não? Você sempre reivindicou o que deve­ria ser meu, Alana. Como sua mãe reclamou o que deve­ria ser de minha mãe! Você, a filha bastarda, era a favorita de papai. Eu odiava quando ele me dizia que eu devia ser gentil e doce como você. Oh, como a desprezei todos esses anos! Então quando os normandos vieram, pensei que seria colocada em seu devido lugar, servindo a mim, enquanto eu, enfim, tomaria o que é meu por direito, o lugar de senhora de Brynwald!

Sybil encarou Merrick.

— Você não é diferente de meu pai — ela vociferou.

— Levou essa vagabunda para a cama, quando poderia ter ficado comigo. Mas jurei não padecer da mesma vergonha que minha mãe suportou anos a fio, sabendo que o homem que desejo foi fisgado por alguém como ela! — Apontou Alana, desdenhosa. — Eu tinha certeza de que a rejeitaria, se acreditasse que Alana era uma bruxa.

Um pensamento pecaminoso despontou na mente de Alana, algo que não podia ser verdade. Mas, infelizmente, era. O rosto de Sybil tornou-se maléfico.

— Oh, foi fácil porque todos vocês são muito estúpidos! Eu mutilei os animais e todos acreditaram que Alana era a culpada. — Ela soltou uma gargalhada cruel.

A fúria de Merrick era quase incontrolável.

— Você também matou padre Edgar?

— Matei! — Sybil berrou. — Não foi diferente de cortar a garganta de um bezerro. Aliás, ele me deu menos trabalho que aquelas criaturas.

O sorriso de Sybil era descomunal. Os olhos estavam estatelados. Alana sentiu náusea. Ela recuou, pois aquela mulher era uma estranha, uma estranha demoníaca.

Sybil percebeu o movimento de Alana.

Raoul pode estar morto, mas eu não estou. E agora, querida irmã, é sua vez!

Tudo aconteceu muito rapidamente. Sybil puxou um punhal que escondia sob a manga. Tão logo divisou o bri­lho da lâmina, Merrick avançou e, ao mesmo tempo, empur­rou Alana para livrá-la do perigo. A mão poderosa agarrou o pulso de Sybil.

Os olhos de Sybil quase saltaram para fora. Merrick foi impiedoso. Massacrou o pulso da mulher até o punhal cair no chão. Um grunhido vil saiu da boca de Sybil.

Quando ele fez menção de chutar o punhal, Sybil mergu­lhou no chão.

Alana assistiu a tudo como se estivesse em transe. Sybil apanhou o punhal, ergueu-o e o cravou no próprio peito.

Sem nenhum som, ela tombou morta no hall.

Havia sido uma noite repleta de emoções dissonantes. Terror. Alívio. Gratidão. Dor. O coração de Alana estava em frangalhos. Merrick a abraçava, enquanto ela chorava a morte de Sybil, o ódio, a traição e tudo mais que ocorrera naquele dia.

Por sua vez, Merrick assustara todos ao anunciar que, se Radburn estivesse disposto a jurar fidelidade a Guilherme, ele, em troca, pediria ao futuro rei que presenteasse Radburn e sua noiva normanda com um pequeno feudo não muito longe de Brynwald...

E mais ainda estava por vir.

A noite quase terminava quando finalmente se recolhe­ram. Merrick insistiu em carregá-la escada acima. Alana aceitou, pois estava cansada demais para protestar. Assim que abriu a porta do quarto, ele a colocou no chão. Mas antes de deixá-la se afastar, ele a tomou nos braços.

— Houve um momento esta noite em que temi nunca mais abraçá-la outra vez, querida — ele confessou.

— Também senti o mesmo — Alana disse, tímida. — Tive medo de nunca mais ver você e Geoffrey... — Para sua ver­gonha, lágrimas ofuscaram-lhe a visão.

— Alana, querida, por que está chorando?

— Sempre acreditei que meus sonhos fossem uma mal­dição, porque, no fundo, eu não queria prever o futuro. Mas agora eu gostaria de ter esse dom a meu dispor para ver o que se passa em seu coração. Oh, Merrick, como eu queria que me amasse do jeito que o amo! — As palavras se liberta­ram finalmente do coração de Alana.

Ela virou o rosto, envergonhada, mas Merrick a obrigou a fitá-lo.

— Eu te amo, Alana — sussurrou, apaixonado, e roçou os lábios nos dela. — Eu a amo com cada fibra de meu ser. Você é dona de meu coração.

Tudo dentro dela se iluminou. Alana recomeçou a chorar, mas dessa vez de felicidade.

Ela o enlaçou pelo pescoço e o beijou com ardor. Merrick a carregou até a cama e lá, com o corpo e a alma, provou a veracidade de suas palavras.

Já amanhecia quando o fogo da paixão esfriou. Sonolenta e contente, Alana aconchegou-a ao marido. Merrick, pensativo, acariciava o ombro nu da esposa.

— Lembra-se daquele primeiro dia na floresta? — ele indagou. — O dia em que me deparei com você e Aubrey rodeados por meus soldados?

— Claro que me lembro. Como poderia esquecer? — ela brincou. — Você exigiu minha rendição e proclamou-se meu senhor e conquistador. Meu senhor normando.

— É verdade. — Merrick riu com os olhos repletos de carinho. — Mas agora, amor, agora sou sua espada e seu pro­tetor. E eu a amo, minha bela bruxa saxã. Vou amá-la para sempre.

E ele cumpriu a palavra.



FIM


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