Samantha James Alana, a Bruxa



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Capítulo XX

Estou gerando um bastardo.

Horas depois, durante a noite, as palavras ainda o assom­bravam. O humor de Alana continuou melancólico e, quan­do ela enfim adormeceu, Merrick saiu da cama em silêncio. Vestiu-se e desceu até o hall.

O espaço estava deserto, o que lhe serviu muito bem. Sentou-se à mesa e degustou uma caneca de cerveja.

Estou gerando um bastardo.

A declaração de Alana não lhe dava trégua. A acusação ressoava em sua mente, sem parar. Sentia-se culpado, embo­ra não soubesse por quê. Ela partilhava seu lar, sua família. Daria à luz seu filho e partilharia sua vida e ele não a que­ria de outro jeito!

Como Alana podia ignorar tudo isso? Havia deduzido que a ela não importava o fato de não serem casados. Certamente sabia que ele não levaria nenhuma outra para cama. Também devia saber que a estimava mais do que qualquer mulher.

Na verdade, ele nem sequer se preocupara com o fato de que a criança não seria legítima. Afinal, o duque Guilherme era um bastardo... e agora se tornava o rei da Inglaterra.

Estava tão absorvido nesses pensamentos que, quando ergueu o rosto, deparou-se com sua irmã. Mas não a recebeu com um sorriso, pois desconfiava de que Geneviève ali se encontrava para lhe trazer um novo problema.

Ele enrijeceu ao toque gentil em seu ombro.

— O que há, irmão? Não consegue dormir?

— Tenho muito em que pensar.

— O quê? Não consegue pensar claramente com Alana a seu lado?

Apertando a caneca, ele a encarou. Geneviève ria, aumen­tando a frustração de Merrick ainda mais.

— Por que está rindo? Acha que sou engraçado?

— O que acho engraçado é ver um cavaleiro, tão forte e destemido como você, perdido por causa de uma linda don­zela saxã.

— Linda ela é, irmã. Mas donzela já deixou de ser...

— Graças a você, irmão.

— Não estou perdido. Tenho muitos problemas para resol­ver e eu lhe agradeceria se me deixasse em paz.

O sorriso de Geneviève se alargou.

— Case-se com ela, Merrick — declarou de pronto.

Embora tivesse levado um susto, ele nada disse. Apenas encarou a irmã com a expressão colérica.

— Por que nunca considerou a possibilidade, Merrick?

— Eu não disse que nunca a considerei.

— Você será pai antes de ser marido. Isso não o incomoda?

Ele praguejou.

— Geneviève, mais uma vez você está se metendo onde não deve!

— E você se demora onde não deveria! — ela rebateu. — Já não basta o povo saxão a taxar de bruxa? Precisam chamá-la de devassa? Ou de meretriz?

Merrick socou a mesa de madeira, respingando cerveja para o ar.

— Ela não é devassa. Tampouco é uma meretriz. E vou matar o primeiro que ousar nomeá-la assim!

Geneviève o observava atentamente.

— Diga-me uma coisa, irmão. Você só a quer em sua cama, mas não em seu coração?

O semblante de Merrick tornou-se austero. Mesmo teme­rosa, Geneviève o pressionou.

— E quanto à criança? Pretende assumir esse bebê como seu filho legítimo?

— Sim! — Ele ficou furioso por constatar que a irmã pen­sara o contrário. — Vou assumir. Aliás, já assumi!

Aliviada, Geneviève assentiu.

— Se quiser que os outros tratem Alana como igual, você deve ser o primeiro a fazê-lo. A mãe dela era uma campo­nesa, mas Alana tem o sangue de um nobre e provou ser tão orgulhosa quanto você, irmão.

— Que Deus me perdoe — ele murmurou. — Você acha que não sei disso?

— Você faria a seu filho ou sua filha o que Kerwain fez com Alana? — ela perguntou.

Estou gerando um bastardo.

Novamente, o rosto de Merrick ficou colérico. Não faria isso. Não podia.



Estou gerando um bastardo.

Queria que o filho fosse criado em Brynwald para ocu­par seu lugar por direito. Geneviève tinha razão. Não dese­java que seu primogênito passasse a vida como um excluído, sempre um proscrito.

Algo dentro de Merrick percebeu a realidade. As circuns­tâncias do nascimento de Alana não eram culpa dela, mas mesmo assim a jovem sofrera. Não muito tempo atrás, ele a observara enquanto ela assistia a uma festa na aldeia. O sem­blante adorável revelara a vontade de se juntar aos aldeões, mas Alana permanecera a distância. Sempre de lado. Sempre solitária. Sempre excluída.

Sempre dele.

A determinação o fez despertar. Deus, Alana era dele. Só dele. E assim continuaria. No entanto...

Merrick verbalizou sem atinar para o que dizia.

— Ela despreza tudo que é normando. Por Deus, duvido que queira um marido normando. — Ele sacudiu a cabeça. — E se Alana não me quiser?

— Seu filho cresce mais a cada dia, Merrick. É possí­vel que essa criança nasça antes de você esposar Alana. — Geneviève riu. — Se esperar mais, meu senhor, creio que ela não o desejará como marido.

Após um instante de hesitação, ela acrescentou:

— Sei que ela o odiou certa vez, mas agora não mais, Merrick. Nisso eu acredito piamente, embora Alana nada tenha me dito. E se nós, normandos, vamos mesmo criar raí­zes aqui, temos então de nos unir ao povo saxão. — Ela se inclinou e o beijou na testa. — Não vou dizer mais nada, irmão. Farei agora o que me pede. Vou deixá-lo sozinho para pensar.

Merrick permaneceu onde estava, mas, na verdade, não havia tanta necessidade de refletir ou ponderar mais.

Achara-se melhor que o povo dela. Contudo, era culpado por tê-la julgado também? Uma pergunta levava à outra. Se Alana tivesse nascido uma dama legítima, teria ele a possuí­do do jeito que fizera?

Não sabia. Que Deus o ajudasse, mas não sabia a resposta. Talvez Geneviève estivesse certa. Talvez não fosse melhor do que aqueles que a julgavam e condenavam.

Mas não podia libertá-la. Na verdade, não conseguia ima­ginar-se sem ela. Sim, Alana o tirava do sério. Mas também lhe trazia um prazer imensurável.

Queria a confiança dela, percebeu. Seu amor. Seu cora­ção. Porque Alana já havia capturado o dele.

Agora ele não precisava se perguntar mais nada.

Já era tarde quando Alana acordou na manhã seguinte. Escutou as janelas se abrirem pouco antes de os raios de sol invadirem o cômodo, banhando-o com seu brilho ama­relado.

Geneviève surgiu em seu campo de visão. Quando notou que Alana estava acordada, ela bateu palmas.

— Levante-se, mocinha! Apresse-se, pois seu banho está pronto.

Curiosa, Alana se sentou. Não era hábito Geneviève acordá-la, muito menos lhe preparar o banho.

A normanda agora se ocupava em despejar uma boa por­ção de óleo na água quente da banheira. Uma fragrância deliciosa de rosas invadiu o cômodo.

— Para a banheira. Agora! — ela ordenou. — O perfume não é adorável? Você gostou? É meu favorito!

Intrigada, Alana observava Geneviève, enquanto esta perambulava pelo quarto. Seria sua imaginação ou o ar de alegria da amiga não podia ser ignorado?

Geneviève continuou a falar:

— O dia está glorioso, não acha? E acredito que será inesquecível! Sim, um belo dia para... — Ela se calou e, de repente, sorriu.

E era um sorriso matreiro demais na opinião de Alana.

— Um belo dia para que, Geneviève? — ela indagou devagar.

Por mais incrível que parecesse, estava desconfiada da boa normanda. Geneviève era a mulher mais sincera que Alana conhecia. Logo, tamanha hesitação não combinava com ela.

— Oh, para fazer qualquer coisa. — Geneviève riu. — Caçar. Cavalgar. Dançar, festejar e comemorar tudo que o mundo tem a nos oferecer. — Ela segurou as mãos de Alana e a puxou. — Vamos! Seu banho está esfriando.

Alana permitiu que a amiga a ajudasse a se despir para então relaxar dentro da banheira. Por mais que Alana a inqui­risse para saber por que aquele dia era tão diferente dos outros, Geneviève sempre ria e nada respondia. Obviamente a mulher estava contente consigo mesma e com o mundo de modo geral.

A Alana, porém, restava invejá-la.

Por fim, levantou-se e enrolou uma toalha de linho no corpo molhado. Geneviève lhe mostrava um lindo vestido cor de púrpura.

— O que acha deste, Alana? — Ela não deu espaço para a resposta. — Sim, este é perfeito. É o traje ideal para...

Alana a encarou tão logo percebeu que Geneviève qua­se deixara escapar algo. Mas, novamente, a normanda ape­nas sorriu.

— Geneviève — ela pediu ao ver os olhos da amiga bri­lharem —, precisa me dizer o que está havendo. Por que está se comportamento desse jeito?

— De que jeito, Alana? Ora, estou contente. É só isso. Agora venha se vestir.

Alana suspirou. Havia aprendido tempos atrás que não valia a pena discutir com Geneviève quando a mulher teima­va com alguma coisa. Resignada, entregou-se às mãos capri­chosas da normanda.

Com esmero, Geneviève escovou os cabelos de Alana até vê-los brilhar. Preferiu deixá-los soltos a prendê-los com uma fita. Alana só protestou quando a mulher quis dispor um cinto prateado ao redor dos quadris.

— Geneviève! Não sei o que está pensando, mas não pos­so usar isto! É seu e...

— E não quero ouvir mais-nada, Alana. — Ela a fez calar-se com um gesto. — Use esse cinto hoje. Use-o e... veremos o que acontecerá.

Meneando a cabeça, Geneviève recusou-se a dizer mais, enquanto ajeitava um véu sobre os cabelos de Alana. Ela não entendia por que a amiga se esmerava tanto em sua aparên­cia e tampouco compreendia por que insistira para que usas­se aquele adereço tão fino.

Pouco depois, Geneviève avaliou Alana e bateu palmas, encantada.

— Você está radiante! Juro que está!

— Geneviève — Alana disse, confusa.

— Venha comigo. Do contrário, todos vão pensar que decidiu passar o dia na cama.

Mais uma vez, Alana suspirou, resignada. Aquela altura, não tinha motivos para insistir em explicações. De qualquer maneira, ainda lhe restava a dúvida de por que aquele dia era tão diferente dos outros.

Preocupada, ela desceu a escadaria com Geneviève. Quando finalmente atingiu o hall, um silêncio súbito se fez. Todos a olharam. Ela notou, surpresa, que os presentes usa­vam seus melhores trajes. Até os meninos que ajudavam na cozinha haviam lavado o rosto.

Moreno e garboso, Merrick se encontrava ao lado da larei­ra. E foi quem mais chamou a atenção de Alana... Merrick e o outro homem que estava ao lado dele.

Padre Edgar.

Ela voltou a fitar Merrick. Geneviève deu-lhe um empur­rão gentil.

— Vá — sussurrou.

O coração de Alana disparou. Mais imponente que nunca, Merrick percorreu a distância que os separava. O corpo más­culo de guerreiro se destacava entre os demais.

De um minuto para o outro, ela começou a tremer como uma folha em meio à tempestade. Não, pensou, atordoada. Aquilo não era o que parecia. Tinha medo de acreditar. Deus, tinha medo até de pensar!

— Merrick... — ela murmurou quase sem fala. Ele lhe estendeu a mão.

— Creio que precisamos de um padre, saxã.

Um padre. Alana simplesmente o encarou, muda. Os joe­lhos bambearam. Como conseguia permanecer em pé não sabia. Tudo parecia um sonho, mas sem o medo excessivo.

Seu peito explodiria a qualquer momento, dadas as bati­das descompassadas do coração.

— Por quê? — ouviu-se dizer a distância. — Por que está fazendo isso? — Sem perceber, tocou a barriga protuberante. — Por causa do bebê?

Merrick ainda lhe estendia a mão.

— Sim, quero meu filho. — Ele fez uma breve pausa. — E também quero você, saxã.

Alana quis chorar de alívio. Mal conseguia falar, pois sua garganta travava.

— E vai se casar comigo? — perguntou em um murmúrio. Tinha de ouvir a resposta em voz alta porque somente assim acreditaria que era real e não um sonho desesperado dos con­fins de seu ser.

Embora ele sorrisse, o semblante estava solene.

— Vou — Merrick jurou. — Quero esposá-la. Hoje. Por Deus, esta noite e todas as outras que vierem.

Alana buscou no rosto de Merrick e nas profundezas de seu coração, que agora batia alucinadamente. Era o que que­ria. Acima de tudo, almejava que seu filho nascesse com o nome do pai. O fato de Merrick ser normando não importava mais. Ele não a abandonaria. Na verdade, ele acreditara nela quando ninguém mais o fizera.

Mas tudo ainda lhe parecia irreal. Ela fechou os olhos e respirou fundo. Quando voltou a abri-los, Merrick continua­va diante dela, alto e forte, tão charmoso quanto antes.

— Não é de meu feitio suplicar, saxã. Por isso vou apenas perguntar: quer se casar comigo?

Alana estremeceu. Ah, ele não mudaria nunca! Sem dúvi­da, não suplicava ou pedia, ele simplesmente comandava. Então Merrick fez algo que ela não esperava.

— A escolha é sua saxã. — Ele a fitou com ternura.— Diga sim ou não, mas responda agora.

A cabeça de Alana rodopiava. Santo Deus, ele queria se casar com ela!

Dessa vez, não podia pedir mais, tampouco fazer mais.

— Sim — ela respondeu, sôfrega. — Quero me casar com você, Merrick.

Tímida, pousou a mão sobre a dele. A palma calejada a puxou e, em um instante, Alana se viu ao lado de Merrick, atravessando o hall.

Agora que o tempo estava a favor deles, padre Edgar começou a ficar nervoso. Quando Merrick o chamou, o cléri­go se aproximou e sussurrou:

— Perdoe minha franqueza, senhor. Mas tem certeza de que é isso o que quer? — Ele agora fitava Alana com explí­cita desaprovação.

Ela ficou tensa. Merrick assentiu e a encarou. Alana abai­xou o rosto.

Padre Edgar cerrou os lábios.

— Essa mulher...

Merrick o segurou pelo colarinho sagrado.

— Ela será em breve minha esposa e senhora de Brynwald — ele declarou. — Então não diga mais nada, a menos que deseje se arrepender até o fim de seus dias, o que pode ser antes do que imagina, padre.

Padre Edgar ficou lívido de medo.

— Claro. O senhor é quem manda.

Quando adentraram a capela, Alana estava com os ner­vos à flor da pele. As pessoas presentes no hall os seguiram. Todos silenciaram, enquanto os aldeões também se aglome­ravam no templo cristão. Alana lutou contra o pânico.

Estariam ali para ver o senhor de Brynwald se casar? Ou tinham vindo apenas para observá-la?

Depois de clarear a voz, padre Edgar tomou seu lugar no altar. Merrick se ajoelhou e indicou que Alana fizesse o mes­mo a seu lado. Desse momento em diante, ela não atinou para quase nada. Enfim, o padre fez o sinal da cruz e lhes conferiu a bênção final. Então Merrick a ajudou a se levantar. A ceri­mônia tinha acabado, Alana percebeu.

Voltou os olhos para Merrick. Ele expressou um sorriso estranho, mas fitava-a com intensidade.

Uma onda de emoções a assolou, tão poderosa que quase a sufocou. Deus misericordioso, Merrick da Normandia ago­ra era seu marido!...

De súbito, Alana sorriu com tanta alegria que o homem a seu lado perdeu o fôlego ao ver tamanha radiação. Tomando-a pela mão, Merrick se virou para a assembléia.

— A senhora de Brynwald — ele anunciou.

A multidão se aproximou. Alana colou em Merrick por­que não sabia o que esperar. Mas não houve acusações mordazes. As pessoas riam e os parabenizavam. Alana sentiu que um a cumprimentava, depois outro e outro.

Então ela se virou e viu o rosto pálido de Sybil. A raiva insana que na irmã despontou foi tão fugidia que Alana sen­tiu como se houvesse levado um golpe na cabeça. Mas assim que passou ela deduziu que imaginara as sensações.

Sybil beijou-lhe o rosto.

— Você cuidou de si mesma, irmã — ela sussurrou.

Em seguida, veio Geneviève. Ela a abraçou com carinho.

— Estou tão feliz, Alana. Vocês serão muito felizes. Sei disso. Sinto no fundo de minha alma.

O povo de Brynwald estava sempre disposto a deixar de lado a labuta para dançar e festejar. Logo, o casamento do senhor feudal pareceu-lhes a ocasião ideal. Vinho e cerve­ja foram servidos ao longo do dia e da noite. Quando enfim chegou a hora dos recém-casados se recolherem, Alana subiu a escada, seguida de Geneviève.

Foi sua cunhada, portanto, quem a ajudou a tirar a rou­pa e vestir uma combinação branca de linho. Ela escovou os cabelos dourados e a acomodou na cama. Alana se ajeitou entre os travesseiros, à espera do que a noite pudesse lhe trazer.

Tão logo Geneviève se retirou, Merrick apareceu. Ele fechou a porta e se deteve à entrada. Naquele momento, parecia tão poderoso quanto os deuses, o tórax amplo como o oceano.

Um tremor a invadiu. Ele nunca lhe parecera tão lindo... Alana nunca sentira tanto medo! Suas emoções eram um emaranhado de sentimentos. Tentou se convencer de que aquela noite seria como as outras, mas...

Jamais o esperara como esposa.

E agora, por um momento interminável, sentiu o peso dos olhos azuis sobre si. O olhar desejoso percorria os lábios, os seios, o ventre protuberante.

De uma só vez, Alana se desesperou. Queria que aque­la noite fosse mesmo diferente. Queria estar magra, leve e orgulhosa para ir até seu marido. Mas estava gorda, inchada e a barriga parecia explodir a cada dia que passava.

Esse, certamente, não era o caso de Merrick.

Ele a fitava com extrema lentidão. As chamas da lareira cintilavam nos cachos dourados, acrescentando um brilho inusitado ao rosto angelical. Alana parecia jovem demais naquele traje de linho branco.

Uma emoção poderosa implodiu dentro dele. Estivera certo ao mantê-la consigo. Lembrou-se de como ela o fitara ao perceber que se casariam: os olhos grandes haviam cintilado, o rosto adorável embevecera-se. Agora ela era sua esposa. Deus, sua esposa.

E, em breve, daria à luz seu filho. Se Deus quisesse, haveria outros. Alana partilhava seu lar. Agora partilharia sua vida.

Mas havia algo errado. Os olhos verdes transmitiam afli­ção. Alana contorcia tanto os dedos que já estavam esbranquiçados. Ela se mostrava tão tímida e incerta que parecia estar diante de um animal assustador.

Merrick se sentou na beirada da cama. Então, segurou as mãos dela.

— Esta noite não será diferente das outras que já passa­mos juntos.

— Não — Alana despejou. — É diferente.

— Como?


— Não éramos casados.

— E agora somos casados. Não está feliz?

— Estou... — Ela lutou para se desvencilhar, mas Merrick não permitiu.

— Não se afaste de mim, saxã. Quero saber o que a abor­rece.

Alana nunca se sentira tão impotente... tão tola! Deveria dizer a verdade?, perguntou-se, agoniada. Então percebeu que deveria, sim. Afinal, Merrick a obrigaria a revelar o que pensava de qualquer jeito.

— É diferente porque... estamos casados e eu queria me entregar a você como uma noiva deveria, virgem e magra. — As acusações de Sybil emergiram em sua mente pouco antes de as palavras saírem. — Mas não posso porque estou gorda como uma porca e... eu não queria estar assim.

Alana pensou que ele fosse concordar ou, pelo menos, rir e zombar dela. Porém, para sua perplexidade, Merrick jogou as cobertas de lado e a tomou nos braços.

— Você só foi tocada por mim, saxã — ele sussurrou, afe­tuoso. — E essa realidade me agrada muito. — Merrick aca­riciou a barriga gigante. — Não tenho palavras para lhe dizer a satisfação de saber que meu filho cresce dentro de você, querida. E isso também me agrada sobremaneira. Para mim, está mais atraente e desejável que nunca. Possui uma beleza inigualável. Não quero nenhuma mulher. Não terei nenhuma outra. Somente você.

A expressão era tão solene e intensa que fez Alana emo­cionar-se. As palavras ditas transmitiam exatamente o que ela queria e precisava escutar.

Com um soluço de alívio, ela o abraçou. Por um longo momento, Merrick. simplesmente a manteve nos braços até o tremor cessar. Então tirou a mechas de cabelos do pescoço alvo e beijou-lhe a nuca. Em seguida, beijou os lábios trêmu­los que ela lhe oferecia, um beijo tão doce que levou lágri­mas aos olhos de Alana.

Por fim, ele se afastou para que pudesse ver o rosto lindo de sua esposa. Os olhos verdes brilhavam e um sorriso since­ro curvou os lábios carnudos.

Somente um pensamento ocupava a mente de Merrick. Minha, pensou, maravilhado. Ela é minha... a sensação de posse o invadiu, juntamente com uma poderosa onda de paixão.

Com um gemido, apertou-a contra si. Beijou-a com ardor até que resolveu se levantar para, impaciente, descartar as próprias roupas. Ele também a despiu com pressa, embora tomasse mais cuidado por causa da barriga.

Enfim, deitaram-se na cama, nus e desprendidos. Alana corou quando os olhos de Merrick percorreram o que não deveriam, mas não tentou se esconder. O calor que via nos olhos azuis era excitante. A fome por ela era eletrizante. A evidência do desejo erigia-se diante de Alana. Nunca fizera amor com ela de forma tão terna. Merrick beijou o lugar onde o filho deles dormia e riu um pouco ao sentir o bebê esticar-se. Com os lábios, explorou a cavidade entre os seios para em seguida provocar os mamilos já túrgidos. Ainda mais ousado, empreendeu carícias abrasadoras na região feminina, fazendo-a clamar seu nome no auge do êxtase.

— Merrick — Alana gritou. — Merrick...

Ofegante e quase a ponto de atingir o clímax, posicionou-se sobre ela. Apoiou-se nos próprios braços a fim de poupar o precioso fardo que ela carregava.

Emocionada, Alana acariciou os músculos dos braços, amando a sensação que o gesto originava. Suas mãos subi­ram ainda mais até atingir os ombros largos.

— Por favor, Merrick — ela suplicou em um murmúrio.

Ele a penetrou. Com um gemido seus lábios selaram os dela. As respirações de ambos se fundiram. Merrick parecia tocar a alma de Alana, seu centro.

Aquela união foi diferente das anteriores. Estavam liga­dos por uma força mais poderosa que o ato em si, uma liga­ção entre espírito e alma.

Marido e esposa.

Senhor e senhora.



Eu o amo, ela pensou. Eu o amo tanto. A certeza já havia se instalado mesmo antes de as palavras surgirem em sua mente.

Merrick fez uma última investida. Ao sentir sua semen­te invadindo-a, Alana atingiu o clímax em seguida. O alívio emergiu como uma onda de luz brilhante e arrebatadora.

Alana percebeu vagamente que ele a virou. Sorriu quando o braço forte a puxou para junto do corpo viril. Sentiu então o torso quente e macio em suas costas. Merrick riu e beijou-lhe a face.

Assim, eles adormeceram, as mãos entrelaçadas sobre o ventre avantajado.



Capítulo XXI

Os dias passaram e o verão se foi. O bebê crescia dentro da barriga que aumentava e arredondava.

Para Alana, chegava a hora de encarar a amarga verdade. Merrick estava sempre solícito, atencioso, carinhoso e fazia tudo o que ela pedia. De fato, o apoio do marido representa­va uma bênção para o tumulto ao redor, pois não se passava uma semana sem que um bezerro ou uma ovelha não fosse mutilado.

E ninguém havia descoberto o motivo para aquelas mor­tes. Alana odiava os comentários sussurrados, as expressões de desconfiança quando achavam que ela não estava olhan­do. Certo dia, no pátio, escutou um menino que trabalhava no estábulo cochichar com o colega.

— Minha mãe disse que é ela que está matando os bichos. Disse que é melhor tomarmos cuidado, senão seremos os próximos.

Mortificada, Alana fugiu dali. O que ela não havia perce­bido foi que Merrick também escutara a conversa. Mais tar­de, naquele mesmo dia, Geneviève contara-lhe que o irmão havia pegado o menino pelo pescoço e ameaçado castigá-lo, caso ele voltasse a falar mal da senhora de Brynwald.

À noite, aconchegada nos braços de Merrick, Alana achou estranho que aquele homem, que outrora havia jurado ser seu senhor e conquistador, agora se tornava seu defensor mais fervoroso.

Não, não podia mais esconder a verdade de si mesma.

Ela o amava. Amava-o desesperadamente. E o amaria para sempre.

A idéia de que Merrick talvez nunca retribuísse esse amor era devastadora. Sim, ele lhe transmitia sua paixão, seu pra­zer. Mas ela temia que não fossem além, que Merrick lhe entregasse o corpo e nunca o coração.

Para piorar, os sonhos haviam voltado a assombrá-la e também escarnecê-la. Muitas eram as noites em que acordava apavorada ao ver a imagem de Merrick erguendo sua espada acima dela. A sensação de medo tão acre que até podia senti-la na boca ao acordar.

Entretanto, naquela noite, o sonho foi diferente porque Sybil estava lá, de mãos na cintura e olhos escuros cintilan­tes. Alana se via recostada na cama, amamentando um bebê enrolado em um cobertor...

Não importa o fato de ele ter se casado com você Sybil destilava seu veneno. Seu bebê continuará sendo um bastardo. Sim, um bastardo como a mãe.

Não Alana murmurava. Não!

Sim, Alana, sim! Aliás, é provável que o bebê tenha nascido com sua maldição ela zombou como fizera certa vez. Há sempre um jeito de eliminar o problema, sabia? ela murmurou. Posso lhe mostrar...

Então Alana se viu a distância, como se tivesse sido puxa­da para trás.

Não! ouviu-se gritar. Não chegue perto de meu bebê! Não toque nele.



Sybil soltou uma gargalhada. Continuou rindo e rindo e rindo quando, de repente, fez menção de pegar o bebê.

— Alana! Meu Deus, você vai se machucar. Pare de se debater. Escutou? Pare de lutar contra mim!

Ela abriu os olhos e enxergou o rosto assustado de Merrick. Somente então percebeu que estivera esperneando como louca.

Quando Merrick a empurrou gentilmente, ela se acomo­dou novamente nos travesseiros. Levou as mãos à barriga. O bebê estava vivo e bem, ainda se mexia bastante dentro dela. Murmurou uma prece de agradecimento e tentou, em vão, sorrir.

— Foi só um sonho, saxã — Merrick disse, acariciando os cabelos loiros. — O mesmo sonho que você teve nos últi­mos meses e que não aconteceu. E nunca irá acontecer por­que agora é minha esposa, querida. Não deixarei que nada a magoe.

À medida que ele falava, a intensidade da paixão explí­cita no tom de voz a comovia. Alana rezou novamente para que Merrick estivesse certo. Não podia sequer pensar que seu amado seria capaz de esquartejá-la.

Merrick tinha razão, pensou para se acalmar. Algo tão horrendo não aconteceria. Claro que não. Mesmo assim, ela estremeceu.

Atento ao tremor súbito, ele a envolveu. Aconchegada no peito másculo, Alana soltou um longo suspiro.

— Por que está tremendo? Tem de acreditar em mim. Eu jamais ergueria minha mão contra você.

— Eu sei e, acredite, não é de você que tenho medo.

— Então de que tem medo? Conte-me, querida.

Alana piscou algumas lágrimas. Em breve, estaria dando à luz. Sabia disso porque a barriga, além de pesada, come­çava a cair. Almejava o dia em que carregaria seu bebê, mas não conseguia banir seu pavor secreto tão facilmente. Como contar a Merrick tudo o que guardava dentro de si?

— Estou... com medo.

— De quê?

O rosto de Sybil emergiu como no sonho. O aviso cruel ecoava em sua cabeça até que Alana tapou os ouvidos com as mãos.

— Fale comigo, saxã.

Merrick não desistiria e ela sabia disso.

— Sybil diz que este bebê talvez nasça com minha maldi­ção — confessou em voz baixa e escondeu o rosto no tórax peludo.

Irritado, Merrick soltou uma imprecação.

— Se ela não fosse sua irmã, eu a expulsaria de Brynwald. Sybil está sempre criando problemas. Por tudo que é sagra­do, aquela mulher tem uma língua que eu adoraria cortar. E, para finalizar, não tem nenhuma maldição sobre si, saxã, exceto ter Sybil como irmã.

A garganta de Alana se apertou. O fato de ele a defender com tanto afinco a comovia. Se Merrick pudesse amá-la com a mesma intensidade...

Após algum tempo, ela adormeceu outra vez, colada ao corpo do marido. Chegou a despertar levemente quando ele acordou ao amanhecer. Sentiu um beijo nos lábios, mas logo voltou a dormir com a lembrança do carinho suave em sua consciência.

Acordou horas depois e, ao esforçar-se para levantar, sen­tiu uma dor aguda nas costas. Aquele incômodo a vinha per­turbando sem cessar nos últimos dias.

Tinha acabado de escovar os cabelos e ajeitar o vestido quando escutou um estrondo vindo do pátio. Correu o máxi­mo que lhe foi possível e chegou no hall a tempo de ver as pessoas se precipitando para a capela.

Um arrepio súbito a percorreu. Atraída por uma força que não podia controlar, foi atrás dos outros.

De repente, alguém soltou um grito de pavor.

— Ele está morto. Que Deus tenha misericórdia, padre Edgar está morto!

— Foi assassinado! Ele foi assassinado!

Alana tinha acabado de chegar à entrada da capela. Com o coração em disparada, seguiu em frente, como se estives­se em transe. Vários soldados recuaram, proporcionando a ela uma visão ampla do altar.

Sentiu o corpo gelar. Deus, era verdade! Padre Edgar se achava caído perto do altar. Seu rosto, em uma piscina de sangue, estava voltado para o chão.

O mundo começou a rodopiar. Alana ficou zonza. Totalmente pálida, levou a mão aos lábios.

— Não pode ser — sussurrou. — Não pode ser.

Um por um, todos os presentes se viraram. Para Alana foi como se toda a cristandade a encarasse. As expressões faciais passaram da furiosa acusação ao terror evidente.

— Quem ousaria matar um representante de Deus? — as pessoas começaram a se perguntar.

Um homem ao lado do corpo ergueu o punho e apontou para Alana.

— Foi ela! — ele gritou. — Ela matou padre Edgar por­que o clérigo não queria vê-la casada com Merrick!

— Isso mesmo! — outro apoiou. — Ela é a mão do diabo!

— Foi ela que matou nossos animais como sacrifício ao demônio!

Alana começou a tremer.

Merrick abriu caminho em meio à multidão.

— Não vou mais tolerar essas tolices! — ele anunciou. — Alana ficou comigo a noite toda. Ontem também e todas as noites antes dessa. Portanto, chega de acusações!

Atrás dele, Alana sentiu uma dor repentina e aguda dentro da barriga. Segundos depois, outra surgiu, ainda mais violen­ta que a primeira. Com um gemido, ela caiu de joelhos, segu­rando o ventre avantajado.

Geneviève, que estava por perto, assistia, horrorizada, a tudo que ocorria a sua frente. Mas tão logo percebeu o sofrimento de Alana, correu para socorrê-la. Aflita, abaixou-se ao lado da cunhada.

— Alana, o que foi? Está na hora?

— Não sei — ela balbuciou, apavorada. — Mas acho que pode ser.

Geneviève a abraçou.

— Calma e não se desespere. Já ajudei muitas crianças a virem para este mundo e esteja certa de que meu sobrinho é quem eu mais quero conhecer — ela brincou.

Tão aflito quanto a irmã, Merrick se ajoelhou ao lado da esposa.

— O que houve? É o bebê?

Alana assentiu e tentou sorrir, mas o sorriso logo se trans­formou em uma máscara de dor.

Sem mais palavras, Merrick carregou-a nos braços e a levou para o quarto.

Como Alana logo descobriu, ter um bebê não foi uma tarefa simples. Na verdade, o trabalho de parto levou horas, o que representou uma tortura porque as dores não começa­ram lentamente, como Geneviève lhe garantira. A dor des­locou-se para a frente, provocando espasmos em seu ventre com crescente intensidade.

Então de um momento para o outro as dores cessaram. Durante duas horas, tudo permaneceu calmo. Ela ficou tão aliviada quanto frustrada. Já que tinha chegado a hora, o que mais queria era segurar seu bebê. Mas, quando se conforma­ra em esperar mais, o trabalho de parto recomeçou.

E, dessa vez, foi mais forte e difícil que o anterior. Alana não conseguia sufocar o grito que se formava em sua gargan­ta, porque a pressão dentro de si aumentava de tal forma que parecia rompê-la ao meio.

Quando a escutou gritar, Merrick invadiu o quarto.

Geneviève, que estava ao pé da cama, levantou-se.

— Merrick! — ela manifestou o desagrado. — Não pode ficar aqui.

-— Por que não?

— Porque... porque não é assim que se faz. O trabalho cabe às mulheres...

Ela se calou ao ver que Merrick não lhe dava a menor atenção. Ele, na verdade, postou-se à cabeceira da esposa que, pálida, sorriu assim que a última contração enfraque­ceu.

Embora Geneviève cacarejasse, resmungasse e o olhas­se com reprovação, Merrick nem sequer ligou. Assustado demais, sua atenção estava focada somente na esposa. Segurou-lhe as mãos delicadas quando sentiu um medo ter­rível engolfá-lo.

Mãe de Deus, se a perdesse... Não! Recusava-se a pensar que algo tão trágico pudesse acontecer.

Contudo, seu coração se apertava a cada espasmo que contraía violentamente a barriga de Alana. Os esforços para expelir a criança reverberavam nele, pois nunca a vira tão abatida e fraca. Se pudesse, pegaria as dores para si a fim de poupá-la. Mas infelizmente não podia. Só podia ficar ao lado dela e lhe oferecer conforto.

Quando ele chegou à conclusão de que não mais suporta­ria, Geneviève riu.

— Lá vem o bebê! Não vai demorar muito, prometo. Agora faça força, Alana!

Apoiada nos braços, Alana fez um esforço enorme para, em seguida, tombar nos travesseiros, exausta. Lágrimas ofus­cavam-lhe a visão.

— Não consigo — gemeu. — Que Deus me ajude, mas não agüento mais!

Agoniado, Merrick se inclinou. Com extrema ternura, removeu as mechas que caíam sobre os olhos verdes. Embora estivesse lívido por causa do nervosismo, falou com firmeza:

— O que é isso, mulher? Não me casei com você só para vê-la desistir antes de meu filho nascer. Os saxões são tão fracos assim?

Um brilho de vida cintilou nos olhos de Alana. Ela respi­rou fundo e se preparou para rebater a ofensa quando outra contração a abateu mais uma vez. Agarrou-se a Merrick com tanta força que chegou a furar-lhe a palma da mão com as unhas.

Geneviève soltou um grito de alegria.

— Sim, Alana! Já estou vendo a cabeça! Oh, que cabelei­ra é essa, meu amor, e é... sim, tão negro quanto a noite!

Agora ansiosa e convencida de que a longa espera estava no fim, Alana arqueou tanto as costas que a musculatura do pescoço enrijeceu. Cerrou os dentes, buscou o que lhe resta­va de energia e fez força para o bebê nascer.

A criança saiu de dentro dela de uma só vez. Um choro agudo reverberou pelo ar. Alana se sentou, aliviada e zonza.

Merrick segurou seu rosto e a beijou nos lábios.

— Acabou, saxã. Acabou e agora temos um filho lindo para exibir. Sim, é como eu havia previsto: um lindo normando, querida.

Alana abriu os olhos. Tentou repreendê-lo, mas não havia meios de refutar Merrick. Ele riu e a presenteou com outro beijo ardente.

Geneviève ocupava-se em limpar o bebê sonolento. A criança chorava a plenos pulmões, revelando que a tarefa não lhe agradava. Merrick observava o filho, ansiosamente ins­pecionando aquele novo ser.

Com um sorriso estranho nos lábios, Geneviève espiou o irmão. Havia um anseio lânguido nos olhos dele, um anseio que conhecia muito bem e que Merrick expressava de modo vivido.

Quando a irmã depositou o filho, agora envolto na manta, em seus braços, ele sentiu o coração palpitar. Engoliu em seco, tomado pelo orgulho humilde. Fios negros cobriam a cabecinha do bebê. A criança trazia seu colorido normando, mas a testa e a prega da boca eram da mãe.

Uma emoção inusitada o invadiu, quase o derrubando de joelhos. Aquele momento era muito mais do que havia ima­ginado. Tinha feito um bebê saudável e lindo e casara-se com uma beldade que sem dúvida o tornaria o homem mais inve­jado do reino.

Alana... sua vida.

Alana... seu amor.

Ela partilhava seu lar, gerara seu filho. Originava em Merrick uma fome sem igual. Ele não teria feito de outro jei­to. Deus, não poderia ser de outro jeito.

Porém, enquanto o orgulho enchia-lhe o peito, um deses­pero consumia sua alma. Por um momento, questionou se Alana havia mesmo superado o ódio que sentia por ele. Algum dia sentiria afeto por ele? Chegaria a amá-lo?

Ele devolveu o bebê a Geneviève e se aproximou da cama. Ajoelhou-se, antes de segurar a mão de Alana. Sussurrou o nome dela.

Os olhos verdes se abriram. Dedos frios envolveram os dele. Alana sorriu. O gesto foi tão sereno e doce que uma nova emoção tomou conta de Merrick. Ela fechou os olhos novamente e, pelo movimento suave do peito, ele dedu­ziu que a esposa havia adormecido. Beijou-lhe os dedos, os lábios e saiu do quarto.

O anoitecer se anunciava quando Alana acordou outra vez. Os últimos raios de sol penetravam no cômodo. O lamento de um bebê emergiu de um canto. Ela se virou imediatamen­te em direção ao som.

Geneviève já estava de prontidão, tirando o bebê do berço. Com destreza e segurança, trocou a fralda. De longe, Alana contou os dedos dos pés e das mãos. O choro diminuiu, mas quando Geneviève o tomou nos braços novamente, ele come­çou a gritar de novo.

— Uma mãe impaciente — Geneviève brincou, levando-o a Alana. — E um jovem senhor impaciente. — Ela lhe entre­gou o bebê. — Pronto, querido sobrinho, agora os dois terão o que tanto querem.

Segurando o filho pela primeira vez, Alana expressou um sorriso largo de felicidade. Com a ajuda da cunhada, soltou o vestido para oferecer o seio ao rebento. O bebê se agarrou ao mamilo com uma ferocidade que machucou a mãe, mas Alana continuava a sorrir mesmo assim.

Com a ponta do dedo, traçou as sobrancelhas diminutas e então beijou as cabelos negros que cobriam a cabecinha do filho. Sentiu-se plena de um contentamento inacreditável.

O filho nascera como herdeiro legítimo do senhor de Brynwald, algo que a satisfazia plenamente. Não suportaria pensar que aquele bebê inocente pudesse enfrentar o mesmo sofrimento que ela vivera.

Um dia ele ocuparia seu lugar como senhor de Brynwald. Seria alto e forte e justo, como o avô e o pai. Normandos e saxões o reverenciariam e respeitariam...

Alana acordou do devaneio ao escutar uma voz grave e profunda.

Merrick.


Ela o viu à soleira da porta, mas Merrick não permane­ceu onde estava, como ditava a regra. Atravessou o cômo­do e se abaixou ao lado da esposa. Alana sentiu-se corar. O seio, agora inchado de leite, achava-se nu e exposto porque não esperava que ninguém a perturbasse. Percebeu então que Geneviève tinha se retirado para que a nova família ficasse sozinha.

De repente, Alana teve a nítida sensação de que algo esta­va diferente. Os gestos pareciam mais espontâneos. Merrick não mais se assemelhava ao guerreiro frio e impiedoso que a prendera na floresta. Havia, na verdade, um brilho terno nos olhos azuis, uma emoção nova que fez o coração de Alana bater mais rapidamente.

— Quero lhe agradecer por meu filho, saxã — Merrick murmurou, fitando os lábios da esposa.

— Você gostou dele? — ela indagou, insegura e também cheia de esperança.

Mais uma vez, aquele brilho terno cintilou nos olhos dele. Merrick a segurou pela nuca e a beijou lenta e gentilmente. Alana sentiu que o calor daquele beijo se instalou como uma marca. Ela o puxou pela túnica a fim de que os corações se fundissem em apenas um.

Um grito infantil os assustou. Separam-se, aparvalhados. Então perceberam, rindo, que o bebê havia perdido o que sugava com tanta fúria. Embora estivesse incerta quanto a Merrick vê-la amamentar, Alana tampouco queria que ele saísse. Posicionou o bebê no outro seio, como Geneviève lhe ensinara. Ele voltou a mamar com avidez.

Ainda atenta ao filho, ela acariciou o rostinho minúsculo.

— Aubrey me disse que eu teria um menino — confessou. Merrick ficou surpreso.

— Nunca me disse que Aubrey era como você...

— Ele não era, mas falou com tanta certeza que não pude acreditar que estivesse enganado. Na verdade, eu sentia den­tro de mim que Aubrey estava certo.

— E estava mesmo — Merrick concordou com um sorri­so lânguido. — E agora, querida, devo alertá-la de que preci­samos escolher um nome para esse jovem. — Ele a encarou. — Pensei em... Geoffrey.

Dessa vez, foi Merrick quem se mostrou hesitante. Alana sorriu com tanta alegria que ele quase perdeu o fôlego.

— Que seja Geoffrey.

Mas a alegria durou pouco. O pequeno Geoffrey adormeceu pendurado ao seio. Merrick pegou o bebê e o acomodou no berço. Quando voltou à cama, estranhou o olhar angustiado de Alana.

— O que é, querida? Sente-se mal?

— Estou bem, mas não consigo parar de pensar em padre Edgar. Quero saber como ele morreu.

Preocupado, Merrick segurou as mãos de Alana. Por um instante, ela achou que ele não lhe contaria nada.

— Uma facada no coração.

Alana encarou as mãos que envolviam as dela. Uma estra­nha dor a consumia. Agora era a senhora de Brynwald. Mas, no fundo, nada havia mudado.

— Como podem pensar que eu cometeria um crime des­se? — perguntou com a voz embargada. — Nunca machuquei uma alma em toda minha vida.

Alana tremia. Angustiado, Merrick a segurou pelos ombros.

— Alana, não se preocupe com isso.

— Acho que não consigo, Merrick. Estou apavorada. Por que alguém cometeria atos tão horríveis? Quem está fazendo isso? Para que esfaquear um padre?...

— Não deixarei que nada aconteça a você ou a Geoffrey — Merrick jurou. Então a abraçou com força até que o tre­mor se foi e ela adormeceu em seus braços.

Mas estava tão perturbado quanto Alana. Lembrou-se das carcaças de animais mutilados que encontrara no pasto. Que ser perverso havia concebido tamanha tortura? Que mão poderia cometer tais atrocidades por livre vontade?

Um arrepio percorreu-lhe a espinha. De fato, a pergunta mais difícil de responder não era por quê.

Mas quem!


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