Organização política e social
Algumas sociedades africanas antigas formaram grandes reinos. Outras eram agrupamentos muito pequenos de caçadores e coletores, que plantavam visando apenas ao sustento do grupo. No entanto, todas se organizavam com base na fidelidade ao chefe e nas relações de parentesco.
Os casamentos tinham a função de garantir e consolidar as alianças entre os grupos. Quanto mais mulheres os homens tivessem, mais amplos seriam os laços de solidariedade e fidelidade. Quanto mais pessoas um chefe tivesse sob sua dependência e proteção, mais sólida seria sua posição e maiores o seu poder e o seu prestígio.
A forma mais comum de organização das sociedades eram as aldeias. Todos os integrantes eram subordinados ao chefe da aldeia, ainda que cada família do povoado tivesse seu próprio líder. O chefe era o responsável pelo bem-estar de todos os que viviam na aldeia. Para isso, recebia parte do que os habitantes produziam. Ele era auxiliado por um conselho composto pelos líderes de cada família. Várias aldeias podiam estar articuladas umas às outras, formando uma espécie de confederação, que prestava obediência a um conselho de chefes.
Além das confederações de aldeias, havia reinos, que eram sociedades com uma capital, na qual morava um chefe ainda mais poderoso, com autoridade sobre todos os outros chefes. Nas capitais havia concentração de riqueza e poder, de pessoas, de oferta de alimentos e serviços.
LEGENDA: O Central Park, em Nairóbi, no Quênia, é um importante ponto de recreação da população da capital. Foto de 2015.
FONTE: Eitan Simanor/Alamy/Glow Images
E existiam ainda sociedades organizadas em cidades, mas não chegavam a formar um reino. Por trás de seus muros, funcionavam os mercados, moravam os comerciantes e os vários chefes, que tinham diferentes atribuições e viviam em torno do rei.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. p. 31-32. (Adaptado.)
2. Reino de Axum
Os primeiros habitantes do reino de Axum, no território da atual Etiópia, eram originários do sul da península Arábica. No século VII a.C., já dominavam a agricultura e a criação de bois, ovelhas, cabras e cavalos. Provavelmente conheciam o arado e tinham uma escrita de caracteres semíticos.
Com o passar dos séculos, seus primeiros acampamentos e aldeias cresceram e se transformaram em centros comerciais. A cidade de Adúlis, no litoral do mar Vermelho, por exemplo, tornou-se um movimentado porto.
Mas foi na cidade de Axum, no planalto etíope, onde se desenvolveu um intenso comércio de marfim, plumagens variadas, obsidiana, ouro e sal no início da Era Cristã. A atividade comercial levou a cidade a enriquecer e a se expandir, conquistando territórios vizinhos. Inicialmente, ao se constituir como reino, ocupava cerca de 48 mil quilômetros quadrados. Com o processo de expansão, Axum dominou territórios na península Arábica: logo passou a controlar o tráfico de mercadorias do interior para o litoral do mar Vermelho e o comércio entre o vale do rio Nilo e a cidade de Adúlis. Sua prosperidade cresceu a tal ponto que, na segunda metade do século III, os axumitas começaram a cunhar moedas de ouro, prata e cobre.
Glossário:
Semítico: relativo a semita. Semita é um grupo étnico e linguístico originário da Ásia ocidental, que compreende os hebreus, assírios, aramaicos, fenícios e árabes. O termo semita é também usado como sinônimo de judeu. Daí vem a expressão antissemita para designar o preconceito contra os judeus.
Fim do glossário.
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Professor(a), discutir a religiosidade afro-brasileira em uma sociedade normalmente eurocêntrica e regida pela fé judaico-cristã pode ser bastante desafiador. Por isso, antes que os alunos façam as atividades a seguir, busque reforçar o papel da História como disciplina que nos leva a conhecer e compreender as diversas sociedades e culturas. Nesta coleção, vamos conhecer os aspectos religiosos de diversas sociedades (romana, grega, germânica etc.) e é nesse contexto que essa atividade se insere. Além disso, é preciso respeitar a diversidade religiosa e praticar a tolerância.
A característica religiosa dominante do reino de Axum era o politeísmo (veja o boxe Crenças africanas) até o século IV, quando o rei Ezana foi o primeiro a se converter ao cristianismo. A partir de então, a população de Axum tornou-se predominantemente cristã. Alguns séculos depois, os muçulmanos (em processo de expansão), a pretexto de combater a pirataria no mar Vermelho, dominaram e destruíram o porto de Adúlis. Gradativamente, o reino de Axum se enfraqueceu até desaparecer, devido a novas invasões muçulmanas.
LEGENDA: Moeda de Axum, do século IV, com o reverso mostrando o perfil do rei da época, Aphilas.
FONTE: Bridgeman/Keystone
Crenças africanas
Embora diferentes entre si, as crenças dos povos africanos, desde tempos remotos, tinham em comum o culto a muitos deuses. Para eles, o ser humano era parte integrante da natureza. Animais, plantas e minerais tinham, quase sempre, caráter sagrado.
Mesmo politeístas, os povos africanos acreditavam na existência de um ser supremo, cujo nome variava de uma região para outra: Amma, Nyamê, Nzambe, Nyambê. Abaixo dele existiam deuses menores.
O culto às divindades era realizado nos templos, nas casas das famílias ou ao ar livre. O essencial dos ritos era o sacrifício, que transferia forças em benefício do sacrificante e do "espírito" a que se dirigia.
Eram muito comuns ações de magia benéfica ou maléfica. A benéfica era praticada por adivinhos-curandeiros, que procuravam obter, por exemplo, cura para alguma doença ou conselhos para uma decisão. A magia maléfica era obra de feiticeiros, marcada por rituais que incluíam sacrifícios humanos e antropofagia. Sua prática era severamente punida: depois de torturado, o feiticeiro era entregue às formigas ou queimado e lançado como pasto às hienas.
Muito da arte africana está relacionada à religião. Certas esculturas eram consideradas o suporte material de antepassados, já falecidos, que ajudavam seus parentes vivos a resolver problemas do cotidiano. Usadas por dançarinos que podiam ser possuídos pelos espíritos que invocavam, as máscaras também eram objetos ritualísticos.
Texto elaborado com base em: GIORDANI, Mário Curtis. História da África anterior aos descobrimentos. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997; PRIORE, Mary del; VENÂNCIO, renato Pinto. Ancestrais: uma introdução à história da África atlântica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004; LOPES, Nei. Bantos, malês e identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
DIÁLOGOS
As culturas iorubá e banto influenciaram bastante a cultura brasileira, seja pelo legado de importantes elementos artísticos e alimentares, seja por meio de práticas religiosas diversas. Nesse sentido, pode-se falar na existência de uma cultura afro-brasileira. Atualmente, existem muitos praticantes das religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda. No candomblé, por exemplo, cultuam-se os orixás, que são de origem iorubá. Em grupos, pesquisem as principais características das religiões afro-brasileiras praticadas em nosso país hoje em dia. Apresentem a pesquisa aos colegas e montem um mural com as informações encontradas.
LEGENDA: Escultura em madeira de um Nommo, figura mitológica africana que representa o filho do deus supremo Amma. A estátua de madeira patinada tem cerca de 25 cm e foi encontrada no Mali. A peça foi criada entre os séculos XVI e XX.
FONTE: Werner Forman/Glow Images
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ORGANIZANDO AS IDEIAS
ATIVIDADES
1. O continente africano pode ser dividido em duas regiões com características distintas. Explique quais são essas regiões e como se deu a formação de sociedades humanas diversas nesses espaços.
2. Os povos africanos criaram formas próprias de organização sociopolítica ao longo de sua história. Aponte as principais diferenças e semelhanças entre as formas de organização social e política desenvolvidas pelos grupos que habitavam o continente.
3. O reino de Axum surgiu na costa oriental do continente africano. Explique como se deu a expansão axumita ao longo dos séculos e descreva o seu processo posterior de desaparecimento.
NÃO ESCREVA NO LIVRO
Professor(a), veja no Procedimento Pedagógico deste capítulo uma proposta de Atividade de Inclusão que dialoga com as ideias tratadas pela escritora Chimamanda Adichie.
INTERPRETANDO DOCUMENTOS: TEXTO
ATIVIDADES
O texto a seguir é um trecho da palestra "O perigo de uma única história", feita em 2009 pela escritora nigeriana Chimamanda Adichie. Na sua fala, a escritora tratou das formas de narrarmos nossas histórias e como isso afeta a maneira de culturas diferentes relatarem suas próprias experiências. Leia atentamente o texto e, em seguida, responda ao que se pede.
Eu sou uma contadora de histórias e gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que eu gosto de chamar "o perigo de uma história única." Eu cresci num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que eu comecei a ler com 2 anos, mas eu acho que 4 é provavelmente mais próximo da verdade. Então, eu fui uma leitora precoce. E o que eu lia eram livros infantis britânicos e americanos.
Eu fui também uma escritora precoce. E quando comecei a escrever, por volta dos 7 anos, histórias com ilustrações em giz de cera, que minha pobre mãe era obrigada a ler, eu escrevia exatamente os tipos de histórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na neve. Comiam maçãs. [Risos] E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter aparecido, [risos] apesar do fato de que eu morava na Nigéria (eu nunca havia estado fora da Nigéria), nós não tínhamos neve, nós comíamos mangas. E nós nunca falávamos sobre o tempo porque não era necessário.
Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre porque as personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não tinha a mínima ideia do que era cerveja de gengibre. [...]
A meu ver, o que isso demonstra é como nós somos impressionáveis e vulneráveis diante de uma história, principalmente quando somos crianças. Porque tudo o que eu havia lido eram livros nos quais as personagens eram estrangeiras, eu convenci-me de que os livros, por sua própria natureza, tinham de ter estrangeiros e tinham de ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Bem, as coisas mudaram quando eu descobri os livros africanos. Não havia muitos disponíveis, e eles não eram tão fáceis de encontrar quanto os livros estrangeiros. Mas, devido a escritores como Chinua Achebe e Camara Laye, eu passei por uma mudança mental em minha percepção da literatura. Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos de cavalo, também podiam existir na literatura. Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma única história. Disponível em: http://tinyurl.com/gswkbec. Acesso em: 28 nov. 2015.
a) Com base na leitura do texto, o que você entende pela expressão "o perigo de uma história única"?
b) Por que a escritora afirma que quando escrevia seus textos infantis todos os seus personagens eram brancos e de cultura estrangeira àquela em que vivia?
c) De acordo com a palestrante, por que escritores africanos são importantes para combater a "história única" sobre a África?
d) A literatura africana está presente nas aulas de literatura de sua escola? Discuta essa questão com seus colegas e redija uma pequena dissertação tratando da importância de a população brasileira ler literatura africana nas escolas.
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3. Reinos do Sahel
O Sahel é a faixa de terra na África entre o deserto do Saara, ao norte, e a floresta tropical úmida, ao sul. Os primeiros assentamentos ali ocorreram entre 600 a.C. e 200 a.C., junto a oásis e rios. Surgiram depois aldeias, cidades, e o comércio se expandiu. Essas comunidades se tornaram mais complexas com o tempo e se transformaram em Estados governados por um rei. O desenvolvimento comercial permitiu que alguns desses Estados se tornassem mais ricos e poderosos e passassem a dominar seus vizinhos mais fracos, dando origem a reinos como Gana e Mali.
O ouro de Gana
Localizado onde hoje se situa a Mauritânia, o reino de Gana surgiu por volta do século IV e ficou conhecido em razão de sua produção de ouro. Nessa região, a extração aurífera era tão grande que, ao longo da Idade Média, Gana se tornou o principal fornecedor do metal ao mundo mediterrâneo. Esse posto só foi perdido no século XVIII, quando começou a chegar à Europa o ouro do Brasil.
Ao contrário de outros impérios, o Reino de Gana não tinha fronteiras delimitadas. A força de um reino não era estabelecida pela extensão de seu território, mas pela quantidade de pessoas, grupos humanos, aldeias e cidades que estivessem sob seu controle, que pagassem tributos ao soberano e fornecessem soldados e funcionários à corte.
O reino dispunha de duas capitais. Em Koumbi Saleh, no sudeste da Mauritânia, ficavam os mercadores muçulmanos do norte da África; na outra - ainda não encontrada pelos arqueólogos -, viviam o rei e sua corte. Segundo relatos de viajantes do século XI, o ouro aparecia com abundância nas pulseiras e colares do gana (o soberano), nas espadas e escudos dos soldados e até nas coleiras dos cães de guarda do palácio real.
No início do século XII, fatores como a desertificação do Sahel, consequência da prática intensiva do pastoreio, e o surgimento de novas zonas auríferas fora do domínio de Gana contribuíram para o enfraquecimento do reino, que acabou conquistado por outros povos africanos.
LEGENDA: Máscara de ouro do século XVIII, provavelmente afixada no trono do chefe de um dos Estados que formavam a Confederação Ashanti. Essa confederação, também conhecida como Império Ashanti ou Império Asante, começou a ser formada no início do século XVI. Ocupava regiões centrais de Gana e estendia-se até o Togo e a Costa do Marfim atuais. Seu território era rico em ouro.
FONTE: Wallace Collection, Londres/Werner Forman Archive/Imageplus
Boxe complementar:
LIVRO
Leia o livro Amkoullel, o menino fula, de Amadou Hampâté Bá. Editora Casa das Áfricas/ Palas Athena. Compilação de recordações de infância e juventude do autor malinês, que se especializou em narrativas orais.
Fim do complemento.
Mali: um reino muçulmano
Na época em que Gana perdia sua influência sobre os povos da África ocidental, começava a ganhar importância o reino de Mali. Até o século XII, o povo mandinga que habitava a região permaneceu vassalo do Reino de Gana. Por volta de 1230, um guerreiro conhecido como Sundiata Keita reuniu sob seu comando diversos clãs vizinhos e se estabeleceu como soberano do Mali, adotando o título de mansa (rei).
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Ao expandir seu território, o Mali passou a dominar áreas que iam desde o Atlântico (onde hoje ficam Senegal e Gâmbia) até o rio Níger. Controlava, assim, grandes jazidas de ouro e importantes rotas transaarianas de comércio.
Seguidores do islamismo, os soberanos do Mali faziam peregrinações a Meca, cidade sagrada dos muçulmanos. Por causa dessas viagens, houve várias trocas culturais entre o povo de Mali e os do Oriente Próximo. Aproximadamente em 1320, no governo do mansa Kankan Musa, a cidade de Tombuctu era considerada um centro de estudos islâmicos e muitos estrangeiros se mudaram para lá (reveja o mapa dos reinos africanos, da página 190).
Após a morte do mansa Musa, em 1337, o reino sofreu invasões e entrou em declínio. Quando os portugueses ali chegaram, no final do século XV, o Mali em nada lembrava a importância que tivera no passado.
LEGENDA: Malineses fazem as orações de sexta-feira na mesquita Djinguereber, no centro de Tombuctu, Mali. Foto de 2013.
FONTE: Benoit Tessier/Reuters/Latinstock
4 Civilização iorubá
O termo iorubá refere-se a vários povos subsaarianos unidos por laços linguísticos e culturais - efãs, ijexás, egbás, entre outros. De acordo com evidências arqueológicas, os ancestrais iorubás ocupavam, desde a Pré-História, a confluência entre a zona da floresta e a bacia do rio Níger, onde hoje fica o sudoeste da Nigéria e a divisa entre Benin e Togo (veja a seção Passado presente na página seguinte).
Nessa região, os iorubás criaram uma civilização caracterizada pela articulação de diversas cidades e aldeias, que formavam reinos independentes, com seu próprio oba (chefe) e suas tradições religiosas. O aspecto comum a todos os iorubás era a crença de que tinham a mesma origem divina. Segundo a tradição oral, o deus supremo era Olorum (ou Olodumaré).
LEGENDA: Representação, em bronze, de três funcionários do tribunal. A peça foi produzida no Benin, entre os séculos XVI e XVII.
FONTE: Coleção particular/The Bridgeman/Keystone
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Professor(a), veja no Procedimento Pedagógico deste capítulo uma proposta de Atividade Alternativa que trabalha com a questão dos estereótipos sobre a África.
PASSADO PRESENTE
A diversidade da África
O continente africano é hoje composto por 56 países com diferentes hábitos, fenótipos e línguas distintas, mas, para muita gente, Nigéria, Níger e Moçambique são a mesma coisa, ou seja, a África é um país. Para combater essa ideia, um grupo de estudantes afrodescendentes que moram nos Estados Unidos lançou, em 2013, a campanha "A verdadeira África: combata o estereótipo". São fotos que trazem estudantes ou ex-estudantes afrodescendentes do Ithaca College (uma universidade do estado de Nova York, nos Estados Unidos) apresentando bandeiras de países africanos. Para cada foto, os jovens produziram uma frase que respondesse aos comentários estereotipados e ofensivos que estão acostumados a escutar sobre o continente. Veja algumas frases e imagens a seguir.
FONTE DAS FOTOS: Thiri Mariah Boucher/Ithaca College
"Os africanos não são todos parecidos." - Bandeira do Mali.
A África possui maior diversidade genética do que todos os habitantes do resto do mundo juntos.
"Os líderes africanos não são todos ditadores. A democracia não é nova na África." - Bandeira de Botswana.
Foi graças a grandes líderes, como o sul-africano Nelson Mandela e o ganês Kwame Nkrumah, que a África se libertou do domínio colonial.
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FONTE DAS FOTOS: Thiri Mariah Boucher/Ithaca College
"África não é um país." - Bandeira de Uganda.
A África é um continente formado por 56 países.
"A África não está desesperada." - Bandeira da Nigéria.
A economia africana está crescendo mais rapidamente do que a de qualquer outro continente do mundo.
"Eu não falo 'africano' porque 'africano' não é uma língua." - Bandeira do Zimbábue.
Estima-se que na África sejam falados mais de dois mil idiomas, entre línguas oficiais e dialetos.
LEGENDA: Textos elaborados com base em: A ÁFRICA não é um país, diz slogan de campanha. Disponível em: http://tinyurl.com/huwj6rq. Acesso em: 8 dez. 2015.
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As cidades iorubás contavam com grandes centros de artesanato, onde trabalhavam tecelões, marceneiros, oleiros, ferreiros, etc. Conhecedores da metalurgia, os iorubás utilizavam metais para fabricar ferramentas e instrumentos de uso diário. Por séculos, seus habitantes controlaram importantes rotas de comércio entre o litoral e o interior do continente africano.
O centro da civilização iorubá era Ilê Ifé, cujas origens remontam ao século VI, onde vivia o oni, o obá mais poderoso da região, que era chefe religioso e governante. Os obás eram considerados descendentes de Oduduá, filho de Olorum, e por isso tinham uma origem divina. De modo geral, os obás governavam com o auxílio de um conselho composto por chefes das principais famílias e por representantes de mercadores.
Escolhida por Olorum para ser o berço da humanidade, segundo a mitologia iorubá, Ilê Ifé era reconhecida por esses povos como a cidade mais sagrada e a mais elevada na hierarquia. Outras importantes cidades iorubás eram Oyó e Benin.
No final do século XVIII, depois de conflitos, guerras e derrotas, muitos iorubás foram escravizados e levados para as Américas, principalmente para a Bahia (onde eram chamados nagôs) e para Cuba. Em ambos os lugares, sua cultura e religião, mescladas a outras influências, mantêm-se vivas até hoje (veja a seção Você sabia? a seguir).
LEGENDA: Egungun se apresenta durante uma cerimônia vodu em 2014, na cidade de Ouidah, no Benin. Os egunguns são dançarinos mascarados que representam os espíritos ancestrais iorubás.
FONTE: Francois Galland/Godong/Godong/Corbis/Latinstock
Boxe complementar:
VOCÊ SABIA?
A África no Brasil
Escravizados e trazidos para o Brasil durante vários séculos, os iorubás e os bantos são povos que ajudaram a formar a cultura e a sociedade do Brasil.
Devido aos iorubás, hoje se pratica o culto aos orixás do candomblé, como Xangô (deus dos Trovões e dos Raios) e Iemanjá (deusa do Mar). Deles, herdamos instrumentos musicais, como o atabaque e o agogô; na culinária, introduziram pratos como o vatapá e o acarajé.
Os bantos também nos legaram inúmeras manifestações culturais. Por exemplo: congadas, maracatus, jongos, sambas de umbigada, lundus, simpatias, mezinhas, rezas, diversas palavras e ritmos.
LEGENDA: Desfile de grupos de Maracatu Rural, durante o Carnaval de 2015 em Olinda, Pernambuco.
FONTE: Hans Von Manteuffel/Pulsar Imagens
Fim do complemento.
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5. Cultura banto
O termo banto tem conotação linguística, não étnica, pois designa diversos povos africanos cujas línguas têm uma origem comum.
Segundo especialistas, eles seriam originários das terras da atual fronteira entre Camarões e Nigéria. No fim do século XIII, os bantos ocupavam cerca de dois terços do continente africano, distribuindo-se por áreas que vão da atual África do Sul até um pouco acima da linha do equador.
Viviam da caça, da pesca e da coleta de alimentos; domesticavam animais e praticavam a chamada agricultura de coivara (técnica que consiste em limpar o terreno por meio do fogo). Quando se esgotavam os recursos do lugar onde se encontravam, os bantos se mudavam para outra região.
Em certos lugares, os bantos permaneceram organizados em comunidades independentes e, em outros, estabeleceram Estados. Com essas andanças, os bantos povoaram áreas muito extensas do continente africano. Um Estado banto que se destacou foi o Grande Zimbábue, surgido por volta de 1300, no atual Zimbábue. Ali, os bantos se tornaram artesãos, pastores, agricultores e comerciantes, que levavam ouro e marfim da região para vender na costa oriental do continente. Outro reino de destaque surgiu no início do século XV, na atual região do Congo: o Manicongo. Era organizado em províncias e chegou a controlar outros povos.
Entre 1500 e 1889 (período da colônia e do império no Brasil), milhões de bantos foram escravizados e trazidos para nosso país. Assim como ocorreu com a cultura iorubá, muitas características da cultura banta encontram-se na base da cultura brasileira (veja a seção Você sabia? na página 198).
Boxe complementar:
ENQUANTO ISSO...
Ibn Battuta, um andarilho
No século XIV, na mesma época em que alguns reinos se estabeleciam na África, um viajante percorria o continente disposto a conhecer terras novas. Era o marroquino Ibn Battuta, considerado o maior viajante árabe de seu tempo. Nascido em 1304, aos 25 anos ele fez uma peregrinação a Meca. De lá, iniciou um périplo pelo mundo que só terminou 29 anos mais tarde.
Em suas viagens, Battuta passou pelo Oriente Médio, China, Índia e África, tendo percorrido mais de 180 mil quilômetros. Ao morrer, em 1369, deixou como legado relatos de viagem ditados a um jovem escritor. Hoje, essas narrativas tornaram-se uma importante fonte de informações a respeito dos povos e lugares que conheceu. Em sua homenagem, uma das crateras da Lua recebeu o nome de Ibn Battuta.
LEGENDA: Gravura do século XIX representando ilusionistas chineses, conforme descritos pelo viajante marroquino Ibn Battuta, nos seus relatos do século XIV. No centro, um homem escala uma corda para o céu; à esquerda, partes de seu corpo estão separadas. Após a união das partes do seu corpo, o homem volta à vida.
FONTE: The Granger Collection, Nova York, Estados Unidos/Other Images
Fim do complemento.
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ESQUEMA-RESUMO
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