Dos primeiros humanos ao renascimento manual do professor gislane azevedo



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ORGANIZANDO AS IDEIAS

(p. 78)


1. Os pesquisadores acreditam que o atual território da China começou a ser ocupado por volta de 7000 a.C., com o surgimento das primeiras aldeias às margens de rios, principalmente na região do vale do rio Amarelo. Nessa área, os grupos humanos começaram a praticar a agricultura, o que possibilitou o crescimento desses povoados e, aos poucos, o surgimento de pequenos Estados, cujo poder era transmitido por laços familiares. Por volta de 2200 a.C., um dos chefes, Yü, o Grande, tornou-se rei, unificando esses pequenos Estados e dando origem à dinastia Xia.

2. O período entre 618 e 907 é conhecido como a Idade de Ouro da história chinesa. Esse período, que teve início com a rebelião que levou a dinastia Tang ao poder em 618, foi marcado pela reunificação do poder imperial, pela expansão da economia e pelo desenvolvimento da metalurgia, com a abertura de fundições de cobre, ferro e prata. Além disso, foi um período de grande prosperidade na agricultura e no comércio com outros povos, o que estimulou o desenvolvimento urbano. Esse período terminou com uma rebelião camponesa em 907, que provocou a queda da dinastia Tang e a divisão da China em diversos reinos.

3. Pode-se destacar como algumas das principais heranças deixadas pela civilização chinesa a técnica de fabricação da seda a partir dos casulos do bicho-da-seda, a filosofia de Confúcio, os monumentos históricos, como a Grande Muralha, instrumentos de medição da direção dos ventos, o sismógrafo, conceitos matemáticos, a bússola, o relógio de sol e de água, as técnicas de fabricação do papel, as práticas de medicina milenar, como a acupuntura, etc.

4. O Império Mongol formou-se após a unificação, em 1206, das diversas tribos mongóis de pastores nômades que viviam nas estepes asiáticas. Cada tribo reunia vários clãs, sob a liderança de um chefe que recebia o nome de Khan. Com a unificação, o líder guerreiro Temudjin foi aclamado chefe de todos os mongóis com o título de Gêngis Khan (khan dos khans), dando início à expansão territorial e à conquista mongol de um imenso império no continente asiático. Esse extenso domínio, porém, duraria relativamente pouco tempo: em fins do século XIII, teve início o declínio do império, com a morte do neto de Gêngis Khan, Kublai Khan.

INTERPRETANDO DOCUMENTOS: TEXTO

(p. 78)


a) O texto apresenta uma série de orientações e padrões de comportamento que deveriam ser buscados pelos praticantes do confucionismo. Pode-se dizer que esse modelo de comportamento estava assentado na ideia de harmonia e ordem. Por isso, o texto defende que o homem moral é aquele que sabe se adaptar às circunstâncias da vida. É por meio dessa adaptação que ele não vai desejar nada que está além dele e poderá alcançar uma vida harmoniosa.

b) O confucionismo defendia um modelo de comportamento que auxiliasse na criação de uma sociedade harmoniosa e justa e na qual todos poderiam praticar o bem com o próximo. Por isso, o documento explica que o homem moral não pode tiranizar seus subordinados, tampouco buscar favores dos seus superiores. Na relação com os outros, o confucionismo também defendia o princípio de equilíbrio e ordem, por isso as queixas devem ser evitadas e deve-se



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buscar uma vida assentada na harmonia consigo mesmo, evitando a dependência dos outros, já que esse era o caminho de praticar o bem e a justiça com todos.

c) Espera-se que os alunos relacionem os padrões de conduta propostos no texto com as turbulências políticas do período. Diante das incertezas provocadas pelas disputas políticas entre diferentes reinos chineses, os princípios de equilíbrio e harmonia que orientam o modelo de comportamento do documento podem ser vistos como uma forma de evitar a dependência e o sofrimento. Aquele que conseguisse viver de acordo com o modelo do homem moral não teria de se preocupar com a perda de suas posses ou títulos que poderiam ocorrer por causa das disputas políticas. Assim, o indivíduo poderia se bastar por si mesmo e se adaptar às diferentes situações que ele teria de enfrentar num contexto social tão turbulento.

ESQUEMA-RESUMO

(p. 84)


Espera-se que os alunos observem que as sociedades do Oriente antigo não eram idênticas ou homogêneas, porém, apesar das grandes diferenças, também tinham alguns pontos em comum (as rupturas e as permanências da História). Nesse caso, é possível destacar a importância dos rios, já que os povos que se instalaram tanto na atual região da China quanto na atual região da Índia dependiam de grandes rios para desenvolver seus povoados. Pode-se também destacar as disputas políticas que marcaram os governos dessas regiões, com períodos de fragmentação e de centralização política. Do ponto de vista econômico, foi a civilização chinesa que estabeleceu rotas comerciais que chegavam até o Ocidente, como é o caso das Rotas da Seda. Por outro lado, a civilização ariana foi responsável pela criação de diversas tradições religiosas, como o hinduísmo, o budismo e o jainismo. Outro ponto que diferencia essa civilização é seu rígido sistema de hierarquias sociais, baseado na divisão por castas de sua população. Também é possível destacar a importância dos samurais na sociedade japonesa, um grupo que tinha características militares, mas acabou assumindo o controle político da região.

ORGANIZANDO AS IDEIAS

(p. 85)


1. A primeira dinastia chinesa, chamada de dinastia Xia, teve início por volta de 2200 a.C. Seus governantes conseguiram organizar um exército equipado com armas de bronze e construir muralhas ao redor das cidades, além de garantir o domínio de um território de aproximadamente 1600 km². Essa dinastia permaneceu no poder até o século XVIII a.C., quando foi derrubada pela dinastia Shang. Essa ampliou o território chinês para uma área de 100 mil km²; houve no período um notável florescimento cultural, com a criação das primeiras expressões da escrita chinesa, o desenvolvimento do calendário com 365 dias, a criação da moeda e de instrumentos musicais e a invenção da técnica de fabricação da seda. A dinastia Shang governou até 1122 a.C., quando foi substituída pela dinastia Zhou. Porém, o poder real passou por um gradativo enfraquecimento, o que provocou, eventualmente, o período conhecido como o dos Reinos Combatentes, entre 475 a.C. e 221 a.C. Nesse momento, a China passou por um conturbado período político, no qual vários reinos entraram em luta pela hegemonia do território chinês. Esse período só chegou ao fim com a vitória do reino de Qin, sob a liderança de Ying Zheng, que estabeleceu uma nova dinastia, dando início à fase imperial chinesa. Ying Zheng imprimiu um caráter fortemente centralizador ao seu governo, entre 221 a.C. e 210 a.C. Padronizou o sistema de pesos e medidas e os diferentes tipos de escrita, criou um rígido conjunto de leis e construiu diversas estradas. Para defender o território de invasões, mandou construir a Muralha da China, com 4 200 km de extensão. Foram mobilizados nessa tarefa mais de 1 milhão de trabalhadores.

2. As cidades dos dravidianos possuíam avenidas largas e residências, feitas de tijolos de barro cozido, que contavam com um sistema de água e esgoto. Os dravidianos fabricavam e comercializavam produtos como joias, utensílios domésticos, brinquedos e roupas de algodão.

3. Os arianos eram povos nômades originários da região do Cáucaso (atuais Rússia, Geórgia, Azerbaijão e Armênia). Depois de instalados no vale do rio Ganges, eles passaram a viver como sedentários e incorporaram vários elementos das línguas dravidianas a seu idioma, o sânscrito.

4. a) O hinduísmo é um conjunto de doutrinas e práticas religiosas decorrentes do contato entre os arianos e os dravidianos que passou a reger, praticamente, todos os aspectos da vida cotidiana da população que vivia na região da atual Índia. Os fundamentos do hinduísmo estão registrados no Rig Veda, ou "livro do conhecimento".

b) Os sacerdotes brâmanes se destacaram entre as lideranças políticas e religiosas dos árias (ou arianos), criando complexos rituais religiosos e valorizando demasiadamente as suas funções, o que lhes garantiu respeito e reconhecimento da população e dos próprios líderes políticos. Eles criaram diversas regras que se tornaram fundamentais para a maior parte da sociedade hindu, como as que estabeleceram um rígido sistema de castas na Índia. O sistema de castas era um tipo de estratificação social caracterizado por grupos sociais fechados e ligados às mesmas profissões ou funções sociais. Não era possível a mobilidade de uma casta para a outra, pois o nascimento definia o lugar social dos indivíduos. Na origem do bramanismo, as castas mais importantes eram formadas pelos árias. Os sacerdotes (os brâmanes) estavam no topo da



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hierarquia social, seguidos pelos xátrias (nobres, guerreiros e administradores) e pelos vaixás (comerciantes). Entre os não arianos, vinham os sudras (artesãos ou trabalhadores manuais) e os párias, pessoas excluídas da sociedade e que estavam proibidas de estudar, ouvir os hinos religiosos e viver nas cidades.



5. Em linhas gerais, o budismo e o jainismo afirmavam que cabia ao indivíduo realizar seu próprio destino, sem a necessidade de adorar deuses e praticar complexos rituais, como afirmavam os sacerdotes brâmanes. Essas novas religiões contrariavam, portanto, o sistema de castas e os privilégios que os sacerdotes desfrutavam numa organização social rígida e hierarquizada como era a sociedade védica.

6. Os samurais eram guerreiros que lideravam clãs provinciais no Japão antigo. Obedeciam a um rigoroso código de ética, pautado pela coragem, pela honra e pela lealdade, e tinham diversos privilégios, como receber grandes extensões de terra do imperador. Isso lhes garantia poder e riquezas, além do respeito dos diversos setores sociais que compunham a sociedade japonesa daquela época. Durante a dinastia Heian (794-1185), o imperador concedeu a um dos chefes guerreiros, o samurai Minamoto Yoritomo, o título de xogum, que significa "grande general, supremo conquistador dos bárbaros". A partir de então, o verdadeiro governante passou a ser o xogum, escolhido sempre entre os chefes guerreiros. Essa transferência de poder transformou o imperador em uma figura praticamente decorativa, já que o xogum passou a ser o governante de fato.

INTERPRETANDO DOCUMENTOS: TEXTO E IMAGEM

(p. 85)


1. a) Não. O texto afirma que o governante que agisse "de acordo com as suas próprias ideias" impediria o povo de prosperar. De acordo com o documento, a forma correta de se governar era respeitando os conselhos dos ministros, já que eles preservavam o conhecimento dos monarcas perfeitos e, portanto, eram capazes de garantir a prosperidade do povo.

b) A decadência do povo ocorreu em virtude da decisão do novo governante de não seguir os conselhos de seus ministros. Ao contrário do que eles lhe recomendaram, o governante não deu propriedade aos necessitados. Pode-se entender esse trecho como a recomendação em ajudar os mais pobres, evitando que a pobreza crescesse.

c) Sim. O budismo criticava os privilégios dos brâmanes e condenava o sistema de castas existente na Índia. Uma das consequências do sistema de castas era que os elementos mais pobres da sociedade não tinham ajuda ou assistência para melhorar sua condição. Por isso, pode-se dizer que as críticas ao governante que não ajudou os mais pobres, provocando a decadência de seu povo, também é uma crítica ao sistema de castas e à manutenção dos privilégios existentes na sociedade indiana de então.

2. a) A primeira imagem mostra um grupo de samurais atacando uma fortaleza ou propriedade, a qual é defendida por outros samurais. Eles utilizam vestimentas de combate e também estão armados com espadas e lanças. Na segunda imagem, vemos um samurai ajoelhado diante de outro homem. Pela posição da cena, é possível formular a hipótese de que se trata de um samurai diante de seu mestre ou senhor. Nessa representação, os indivíduos não se encontram trajados para combate. Assim, pode-se dizer que as duas cenas representam ações diferentes dos samurais.

b) Espera-se que o aluno relacione o código de conduta dos samurais com aquilo que foi representado nas duas imagens. É possível destacar, por exemplo, que a primeira imagem representa a importância da coragem e da honra em combate, na medida em que os samurais precisam assumir uma postura de bravura para derrotar seus inimigos e alcançar seus objetivos (seja a conquista da fortaleza, seja sua defesa). Já a segunda imagem apresenta aspectos ligados à questão da honra e da lealdade, ressaltando a obediência do samurai a seus mestres ou senhores.



TESTE SEU CONHECIMENTO

(p. 87)


1. E

2. A

3. Apenas as afirmativas II e III estão corretas; assim, a alternativa correta é a letra B. O erro da primeira afirmativa é indicar que a invenção de Bi Sheng, que possibilitou o aperfeiçoamento das técnicas de impressão xilográfica, ocorreu durante a dinasita Han. Na realidade, essa invenção ocorreu durante a dinastia Song. Já o erro da quarta afirmativa é apontar que, durante a dinastia Tang, ocorreu uma fragmentação do território chinês. Na realidade, esse período ficou conhecido como a Idade de Ouro da China. Apenas em 907 a dinastia Tang foi derrubada por causa de uma rebelião camponesa.

4. Todas as afirmativas estão corretas, então a alternativa correta é a letra D.

5. E

HORA DE REFLETIR

(p. 89)


O desenvolvimento do conceito de "cidade educadora" liga-se a experiências desenvolvidas nos últimos anos, sobretudo na cidade de Barcelona (Espanha). Tem por princípio o alargamento das fronteiras da educação para além da instituição escolar, com base na corresponsabilização dos cidadãos para que, em conjunto, de forma organizada e participativa, remodelem o uso do espaço público e da vida comunitária.

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Estimule os alunos a refletir sobre o sentido de uma cidade educadora e lembre-os de que a educação é algo que vai muito além da mera assimilação de conteúdos, por isso é possível pensar na existência de inúmeras possibilidades educativas que estão além da escola. Vale destacar que o momento de discussão coletiva, no qual os alunos apresentarão os aspectos mais importantes da discussão, é especialmente relevante nesse tipo de atividade, já que é uma forma de socializar as ideias e estimular a reflexão coletiva de todos. A seguir, para subsidiar o trabalho do professor, destacamos um trecho adaptado do livro A cidade como projeto educativo, organizado pelos autores espanhóis Carmen Gómez-Granell e Ignácio Vila. Além do texto de apoio, outra sugestão de material complementar para refletir sobre esse tema é o documentário "A educação proibida". O filme, dirigo por German Doin em 2012, discute experiências educativas que vão além do espaço tradicional de educação e pode fornecer muitas ideias para se pensar no ideal de uma sociedade educativa que ocupe e utilize espaços públicos para a transformação social e a resolução dos problemas urbanos.



Os desafios da sociedade contemporânea exigem o envolvimento de toda a sociedade e a introdução de modificações em nossas cidades que reformulem comportamentos, hábitos e espaços de interação para favorecer a educação integral e cidadã, assumindo o importante papel de cidades educadoras. [...] O conceito de comunidade educativa aparece em nossa sociedade atual como uma necessidade sentida pelas próprias instituições escolares, que reconhecem a sua incapacidade para assumir sozinhas os atuais conceitos de educação integral. Os educadores constatam a inutilidade de seus esforços para transmitir alguns valores e atitudes educativas que, se forem contraditórios com o contexto, nunca chegarão a fazer parte da vida de seus alunos. [...] Assim, não faz sentido manter em nossas salas de aula um discurso bem-intencionado sobre a poluição e a reciclagem de matérias-primas enquanto as crianças veem seus vizinhos jogarem lixo na rua. Nossa sociedade não pode encomendar dos educadores o trabalho, condenado ao fracasso, de pregar em suas aulas valores e atitudes que a comunidade não assume como próprios. A conclusão é evidente: precisamos que nossas comunidades se envolvam na defesa dos valores educativos mais importantes, alguns deles vitais para sua própria manutenção. Não é possível continuar pensando em algumas cidades nas quais se exija de seus administradores que solucionem problemas tão importantes como o do transporte ou o da poluição enquanto os cidadãos continuam com seus hábitos não solidários, decididos a prosseguir pensando que tais problemas devem ser solucionados por "outros" para que se siga fazendo o de sempre [...].

GÓMEZ-GRANELL, Carmen; VILA, Ignácio (Org.). A cidade como projeto educativo. Porto Alegre: Artmed, 2003.



Texto complementar

A seguir, reproduzimos parte da introdução do livro Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente, de Edward Said, no qual o autor apresenta alguns preceitos de sua obra e comenta três definições, todas conectadas, para o que seria o orientalismo: um campo de estudos acadêmicos, um imaginário ocidental e um discurso que permitiu ao ocidente inteferir na vida política, econômica e social do oriente.



Numa visita a Beirute durante a terrível guerra civil de 1975-6, um jornalista francês escreveu com pesar sobre a área deserta no centro da cidade que "ela outrora parecia pertencer [...] ao oriente de Chateaubriand e Nerval". Ele tinha razão sobre o lugar, é claro, e especialmente no que dizia respeito a um europeu. O oriente era praticamente uma invenção europeia e fora desde a Antiguidade um lugar de episódios romanescos, seres exóticos, lembranças e paisagens encantadas, experiências extraordinárias. Agora estava desaparecendo; num certo sentido, já desaparecera, seu tempo havia passado. Talvez parecesse irrelevante que os próprios orientais tivessem alguma coisa em jogo nesse processo, que mesmo no tempo de Chateaubriand e Nerval os orientais tivessem vivido ali, e que agora fossem eles que estavam sofrendo; o principal para o visitante europeu era uma certa representação europeia - compartilhada pelo jornalista e por seus leitores franceses - a respeito do oriente e de seu destino atual. [...]

O oriente não é apenas adjacente à Europa; é também o lugar das maiores, mais ricas e mais antigas colônias europeias, a fonte de suas civilizações e línguas, seu rival cultural e uma de suas imagens mais profundas e mais recorrentes do outro. Além disso, o oriente ajudou a definir a Europa (ou o ocidente) com sua imagem, ideia, personalidade, experiência contrastantes. Mas nada nesse oriente é meramente imaginativo. O oriente é uma parte integrante da civilização e da cultura material europeia. O orientalismo expressa e representa essa parte em termos culturais e mesmo ideológicos, num modo de discurso baseado em instituições, vocabulário, erudição, imagens, doutrinas, burocracias e estilos coloniais. [...]

O orientalismo é um estilo de pensamento baseado numa distinção ontológica e epistemológica feita entre o "oriente" e (na maior parte do tempo) o "ocidente". Assim, um grande número de escritores, entre os quais poetas, romancistas, filósofos, teóricos políticos, economistas e administradores imperiais, tem aceitado a distinção básica entre o leste e o oeste como ponto de partida para teorias elaboradas, epopeias, romances, descrições sociais e relatos políticos a respeito do oriente, seus povos, costumes, "mentalidade", destino e assim por diante. Esse orientalismo pode acomodar Ésquilo, digamos, e Victor Hugo, Dante e Karl Marx. [...]

Tomando o final do século XVIII como ponto de partida aproximado, o orientalismo pode ser discutido e analisado como a instituição autorizada a lidar com o oriente - fazendo e corroborando afirmações a seu respeito, descrevendo-o, ensinando-o, colonizando-o, governando-o: em suma, o orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o oriente. Achei útil neste ponto empregar a noção de discurso de Michel Foucault, assim como é descrita por ele em Arqueologia do saber e em Vigiar e punir.

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Minha argumentação é que, sem examinar o orientalismo como um discurso, não se pode compreender a disciplina extremamente sistemática por meio da qual a cultura europeia foi capaz de manejar - e até produzir - o oriente política, sociológica, militar, ideológica, científica e imaginativamente durante o período do pós-Iluminismo. Além disso, o orientalismo tinha uma posição de tal força que ninguém escrevendo, pensando ou agindo sobre o oriente poderia fazê-lo sem levar em consideração as limitações ao pensamento e à ação impostas por ele. Em suma, por causa do orientalismo, o oriente não era (e não é) um tema livre para o pensamento e a ação. Isso não quer dizer que o orientalismo determina unilateralmente o que pode ser dito sobre o oriente, mas que consiste numa rede de interesses inevitavelmente aplicados (e assim sempre envolvidos) em toda e qualquer ocasião em que essa entidade peculiar, o "oriente", é discutida. Este livro tenta mostrar de que maneira isso acontece. Ele também tenta mostrar que a cultura europeia ganhou força e identidade ao se contrastar com o oriente, visto como uma espécie de eu substituto e até subterrâneo.

SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (Edição eletrônica, sem paginação.)



Sugestões de livros

FAIRBANK, John King; GOLDMAN, Merle. China: uma nova história. Porto Alegre: L&PM, 2006.

· Esta ousada obra dos sinólogos John Fairbank e Merle Goldman oferece um vasto panorama da história da China, desde a Antiguidade até o século XXI. O livro, escrito em linguagem bastante acessível, se propõe a ser uma interpretação dedicada aos leitores que não conheçam os meandros da história desse país que ocupa, atualmente, posição fundamental no jogo das relações internacionais.

FONTANA, Josep. Introdução ao estudo da história geral. Tradução de Heloísa Reichel. Bauru, SP: Edusc, 2000.

· O livro do historiador Josep Fontana apresenta uma proposta de história geral temática. Assim, em vez da divisão tradicional de conteúdos, essa introdução ao estudo da história geral se norteia por eixos temáticos, como agricultura, comércio, indústria, sociedade, Estado e nação, violência e poder, crenças e religiões, ciência e cultura.

LEVENSON, Claude B. Budismo. Tradução de Rejane Janowitzer. Porto Alegre: L&PM, 2009.

· A pesquisadora francesa Claude B. Levenson se dedica, neste livro de introdução, ao tema do budismo, esclarecendo as origens dessa filosofia e religião e comentando alguns de seus principais preceitos, como a não violência, a compaixão e o desprendimento material.

LOVELL, Julia. Grande Muralha: a China contra o mundo. Rio de Janeiro: Record, 2008.

· O livro de Julia Lovell trata da história da China antiga por meio da construção da Grande Muralha, um de seus mais famosos símbolos. O enfoque da obra recai sobre os projetos de construção da muralha e as empreitadas dos imperadores, assim como sobre os trabalhadores que atuaram nas obras.

SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

· A obra de Edward Said, publicada pela primeira vez em 1978, converteu-se em um dos maiores clássicos no que se refere ao tema das relações entre Ocidente e Oriente, mostrando que muito do que imaginamos sobre essas duas grandes regiões são elaborações discursivas e fruto de dominação colonialista.

SPENCE, Jonathan D. Em busca da China moderna: quatro séculos de história. Tradução de Pedro Maia Soares e Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

· O livro de Jonathan D. Spence, um dos maiores especialistas ocidentais em história chinesa, mesmo que não trate diretamente do período antigo, apresenta passagens importantes para quem quer conhecer e entender a China.


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